Matéria Escrita por Lívio
Oricchio, que estava no hospital onde Senna foi Levado Depois do Acidente.
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no Youtube: http://www.youtube.com/user/sennavivefeature=mhee)
Lívio Oricchio
Foto: Reprodução
Foto: Reprodução
Ayrton Senna vence pela primeira vez um GP Brasil, foto de 1991
Foto: Genaro Joner /Agencia RBS
O capuchinho Vittorio
Zuffa, então com 72 anos, conhecido pelo nome religioso de padre Amadeo, havia
se tornado capelão do hospital Maggiore um ano antes, depois de três décadas à
frente da paróquia bolonhesa de San Giuseppe. Ele assistia à corrida pela
televisão, no décimo-segundo andar do hospital. E soube, pela tevê, que Senna seria
internado um andar abaixo do seu.
Ao descer as escadas, padre
Amedeo encontrou tanta gente e tanto tumulto, que teve até dificuldade de
entrar na UTI.
'Sou o Padre Amadeo.
Vim para dar a extrema-unção a Senna.
Hoje, 1º de maio, é dia de
São José da Boa Morte, protetor dos moribundos e
desejava lhe oferecer a alma
de Senna.'
No dia 1º de maio do ano seguinte 1995, o mesmo padre Amadeo (Vittorio Zuffa) rezou uma missa no local do impacto da Williams, na curva Tamburello, mas pelo lado de fora do
autódromo, para celebrar a
passagem do primeiro ano da morte do piloto.
Voltando aquele trágico domingo, 01/05/1994, o padre estava acompanhado de outra pessoa que não quis se identificar. Ele falou me: 'Estou aqui apenas para acompanhar o padre, que não pode dirigir e se deslocar sem alguém para assessorá-lo', explicou-me. Tão logo o padre me disse o que estava fazendo no hospital, esse cidadão começou a falar também.
Ele esteve junto do padre no
centro de recuperação.
- 'Senna estava sozinho, numa
sala dotada de muitos equipamentos, típica desses centros de recuperação.
Ficamos profundamente chocados com o que vimos', disse ele.
Depois prosseguiu:
- 'Senna estava nu, apenas com uma toalha pequena sobre a genitália. Para se ter uma idéia do que estou dizendo, nós, eu e o padre, não o reconhecemos. Soubemos que era Senna porque um médico nos disse que aquele era o paciente que procurávamos. Seu rosto estava irreconhecível. Sua cabeça ficou do tamanho de uma bola de basquete.
Enquanto o corpo não
apresentava nenhuma lesão aparente e estava branco, branco, sua cabeça
tinha a cor quase negra e estava desfigurada.'
Mais tarde, conversando com o doutor Servadei, ele me explicou que quando o traumatismo craniano é profundo, como no caso de Senna, em geral há o rompimento das camadas nervosas que envolvem o tecido nervoso.
Como entre essas camadas correm liquor, líquido cefalorraquiano, e ele mantém-se sob elevada pressão entre essas camadas, quando ocorrem lesões nelas o seu extravasamento gera um edema
generalizado, desfigurando
qualquer superfície da sua forma original. Isso foi o que se passou com
Senna. Como a perícia técnica apurou que a barra push-rod da suspensão da
Williams perfurou o seu frontal, pressionando a cabeça contra a parte de
trás do cockpit e causando a fratura de toda base craniana, Senna teve
desde lesões ósseas genéricas a danos amplos e irreversíveis no tecido
nervoso. Esse quadro justificou sua aparência irreconhecível já minutos depois
do impacto da Williams no muro da curva Tamburello.
Lívio Oricchio
Estadão 27 de agosto de 2006
FONTE PESQUISADA
ORICCHIO, Lívio. Ayrton Senna Especial –
Introdução. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/livio-oricchio/ayrton-senna-especial-introducao/>.
Acesso em: 25 de dezembro 2011.
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ELE MORREU NA PISTA
Encontrei uma legista no IML de Bolonha. Ela descreveu o estado da cabeça de Senna, contou que colocou uma rosa na sua mão antes de fecharem o caixão, falou sobre legistas, seus professores. E me revelou que o laudo iria concluir que ele morreu na pista. Foi uma grande matéria. Minha última na Folha, manchete do jornal no dia seguinte, 4 de maio.
Os brasileiros, que
desfilaram como um rio silencioso na frente do caixão de Senna, na Assembléia
Legislativa, não poderiam imaginar outra farda no piloto que não fosse o
macacão e o capacete amarelo. Dentro do caixão, no entanto, ele estava vestido
como qualquer morto comum: terno preto, gravata cinza e camisa branca.
FONTE PESQUISADA
SCARDUELLI, Paulo. Ayrton Senna, o herói da mídia.
1º Edição. São Paulo: Brasiliense, 1995.