Família de Senna quer provar na Justiça que o piloto não teve uma filha com a ex-modelo Marcella Praddo
MARTHA MENDONÇA
A novela já dura seis anos. Como personagem central, tem-se um mito, Ayrton Senna, o maior piloto de Fórmula 1 de todos os tempos. Como convém a uma boa trama, envolve herança estimada em US$ 300 milhões. O desfecho pode estar próximo ou, quem sabe, ainda reservará grandes surpresas. No dia 4 de novembro, o pai de Senna, Milton Guirardo da Silva, entrou no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro com a ação de negação de paternidade de Victória de Barros Gonçalves, de 6 anos. A menina é filha de Edilaine de Barros Gonçalves, 32, mais conhecida como Marcella Praddo.
Este era o pseudônimo da modelo que estampou capas de revistas masculinas e reforçou a lista de namoradas do piloto. Edilaine - ou Marcella - há anos afirma ter mantido um longo romance com o tricampeão mundial de F 1. A relação, segundo ela, teria começado no período de ascensão de Senna e durado até um ano e meio antes de sua morte, ocorrida num acidente na Itália, em 1994. Do affair nascera Victória. Se a versão de Edilaine for real, a menina, que nasceu e cresce no Rio, é a única filha e herdeira de toda a fortuna deixada pelo piloto.
Ao processo aberto na 5a Vara de Família, a família Senna anexou documentos. Busca comprovar que o romance não passou de um episódio fugaz, muito anterior ao nascimento de Victória. Reconstituir o passado não é missão fácil: Senna está morto e Marcella escondeu-se no ostracismo. A partir de 1994, abandonou o pseudônimo, deixou as passarelas e, hoje, trabalha numa revendedora de telefones. Aparentemente, leva vida simples e já teria desistido de pedir que os Senna reconheçam Victória.
O processo, no entanto, despertou antigas mágoas e Edilaine partiu para o ataque. Seu advogado, Emmanuel Viegas, já tem em mãos um dossiê que reúne fotos do casal, bilhetes de amor e reservas de hotéis feitas em nome de ambos. "As datas mostram que o romance durou nove anos, com interrupções", diz Viegas. Na segunda-feira 22, o advogado entrará com pedido de investigação de paternidade, requerendo exame de DNA.
Procurados por Época, os irmãos de Senna - Viviane, hoje o grande nome da filantropia nacional, e Leonardo, próspero empresário - silenciaram. Nos tribunais, estão sendo representados por João Luiz Aguiar de Medeiros, advogado do conhecido escritório Pinheiro Neto. Aguiar Medeiros, que há tempos cuida do império dos Senna, limita-se a dizer que o processo corre sob sigilo. Se a Justiça decidir que o exame de DNA deve ser feito, a rigor o corpo do piloto teria de ser exumado. Opção menos traumática seria a família ter em casa um fio de cabelo do tricampeão. Técnicas avançadas também permitem que o teste seja feito com o DNA dos irmãos, no caso, Viviane ou Leonardo. Resta outra alternativa. Nas investigações sobre o acidente fatal na curva Tamburello, no circuito de Ímola, na Itália, foi feita a necrópsia do corpo de Senna. Laboratórios na Europa teriam, guardados, pedaços de pele e até sangue.
Ao mover o processo, os Senna tiraram Edilaine da inércia. Desde a morte do piloto, em 1o de maio de 1994, a ex-modelo havia desistido de qualquer pedido na Justiça. "Na semana seguinte ao acidente, ela passou no meu escritório e pediu que eu parasse com tudo. Bastava-lhe ter a filha", lembra o advogado Michel Assef, que a assistia. Assef tinha em mãos o mesmo dossiê que hoje está com Viegas. Preparava-se para argüir Senna nos tribunais. "Nunca entendi porque ela desistiu da ação. Era certo que ganharia", garante. Amigos dela contam que a família Senna chegou a oferecer US$ 5 milhões para um acordo. Proposta recusada.
Edilaine hoje trabalha nos balcões de uma loja de telefones, num shopping da Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Ali recebe um salário de R$ 300 fixos, fora comissões - que lhe renderiam outros R$ 500. Recebe pensão judicial do ex-marido, o empresário carioca Rogério da Silva Oliveira, pai do filho mais velho, Luís Felipe, de 8 anos. Graças à ajuda, consegue morar num apartamento de dois quartos no Jardim Oceânico - trecho chique da Barra. Somando ganhos, paga a escola dos filhos e aulas de balé para a menina. Recentemente, a revista Contigo publicou uma das raras fotos da criança, indo para o colégio.
"Edilaine leva vida simples", afirma o amigo Eduardo Homem de Carvalho, padrinho de casamento do apresentador de TV Fernando Vanucci com Marcella Praddo. O casamento aconteceu em 1988 e durou menos de dois anos. Eduardo esteve ao lado da modelo no dia da morte de Senna. "Ela urrava de tristeza. Rezava diante da foto do piloto, que ficava na parede, junto ao berço de Victória", recorda. Edilaine nasceu em uma família de classe média do Rio e cresceu no subúrbio. No início de 1993, de olho no estrelato, exibiu as formas sensuais em ensaios fotográficos e não foram poucas as vezes em que desfilou, como destaque, no Carnaval carioca. O romance com Senna jamais foi assumido, embora amigos digam que ela freqüentava a casa do piloto em Angra dos Reis. Os dois também foram vistos, juntos, em treinos da F 1. Quando engravidou, Marcella teria avisado, por telefone, que o filho era seu. Senna reagiu mal e preferiu sepultar o assunto.
Marcella virou Edilaine e a mulher sensual, uma evangélica fervorosa. Hoje freqüenta a Assembléia de Deus e as roupas provocantes do passado foram substituídas por saias compridas. "Ela estuda teologia", diz a ex-modelo Isabel Stasiak. Confirma-se a informação: Edilaine está se preparando para ser pastora. Sobre a ação movida pela família do piloto, disse à Época: "Eu e Deus sabemos quem é minha filha. Isso basta. Que Jesus esteja com vocês". Sua mãe, Damiana Gonçalves, reza pelo mesmo catecismo. Prefere que a neta tenha a liberdade do anonimato que a fortuna dos Senna. "Ela sabe que é filha de Ayrton e quando conta sua história aos colegas de escola é alvo de gozação. O único benefício do reconhecimento seria livrá-la das brincadeiras", diz a avó. Se a sina do nome for confirmada, Victória ainda poderá dar o troco.
Revista Epoca
Victoria Hoje
Com o Irmao Felipe