segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Prost agradece por rivalidade com Senna: 'Me fez ser um piloto melhor'

Nomeado para Hall da Fama da tradicional revista inglesa Motor Sport, tetracampeão admite que competição com o rival brasileiro o fez atingir outro nível na Fórmula 1



Por Rio de Janeiro

Show de Ayrton Senna ofuscou vitória de Alain Prost no GP de Mônaco de 1984 (Getty Images)


Monte Carlo, 3 de junho de 1984. O palco da mais famosa e tradicional prova da Fórmula 1 amanheceu encharcado. Os 20 pilotos que compunham o grid de largada estavam preocupados com as condições hostis do circuito de rua, mas a organização optou por prosseguir com a realização o GP de Mônaco. A forte chuva provocou um atraso de 45 minutos no início da corrida. E, quando finalmente começou, a disputa foi logo tomada por uma enxurrada de abandonos, quebras e batidas. Largando da 13ª posição, o novato Ayrton Senna aproveitou o cenário desastroso para mostrar seu talento.

No cockpit de uma pouco consistente Toleman, o brasileiro de 24 anos começou a ganhar posições, fez uma ultrapassagem inacreditável no então bicampeão Niki Lauda, da McLaren, e passou a ameaçar o pole position e líder Alain Prost, também da escuderia britânica. Quando já era o segundo, Senna diminuía consideravelmente a distância em relação ao francês, e acelerava fundo rumo à sua primeira vitória na categoria. Mas a chuva não deu trégua e fez o ex-piloto e diretor da prova Jacky Ickx optar pelo cancelamento da corrida, de forma controversa, ao final da volta de número 32.

Naquele domingo chuvoso de 1984, Alain Prost, vice-campeão do ano anterior, faturava a primeira de quatro vitórias em Mônaco. E também tomava conhecimento do incrível talento do jovem Ayrton, que viria a se tornar, pouco tempo depois, seu maior adversário nas pistas da principal categoria do automobilismo. A relação explosiva entre os dois rendeu episódios polêmicos, como as decisões dos campeonatos de 1989 e 1990, ambas no Japão. Quase 20 anos após a morte do brasileiro, Prost voltou a falar sobre a marcante rivalidade, e admitiu que a competição o ajudou a atingir um nível inédito na carreira.

- Eu acredito que a competição que enfrentei naquela época me fez ser um piloto melhor, embora eu só tenha realmente compreendido o significado da minha rivalidade com Ayrton depois que me aposentei. Nossos duelos realmente beneficiaram a Fórmula 1 e elevaram a disputa para um outro nível, mais humano. Nós tivemos personalidades diferentes, uma forma contrastante de pilotar e uma abordagem distinta sobre o esporte. Mas depois que parei de correr, entendi que o jeito de Ayrton foi muito mais claro, e preciso agradecê-lo, porque 50% do meu sucesso se devem a ele - discursou Prost, na cerimônia que marcou sua inclusão no Hall da Fama da tradicional revista inglesa “Motor Sport”.

Parceria amistosa em 1988 acabou definitivamente na temporada seguinte (Foto: Getty Images)


Após um convívio amistoso na temporada de 1988, que marcou a estreia de Ayrton na McLaren, a relação do brasileiro com o francês, que à época era dono de dois títulos mundiais com a escuderia de Woking, azedou de vez durante o GP de San Marino de 1989, segunda etapa do campeonato. Senna ignorou um acordo firmado com o companheiro ao ultrapassá-lo após a segunda largada da corrida disputada no circuito de Ímola. A partir daí, um clima de inimizade latente tomou conta dos dois pilotos. No entanto, um cumprimento entre os eternos rivais no pódio do GP da Austrália de 1993, que encerrou a temporada e também assinalou a aposentadoria do já tetracampeão Prost, mostrou que os ressentimentos haviam sido superados.


Alain Prost com o filho Nicolas na cerimônia de premiação do Hall da Fama da revista Motorsports (Foto: Divulgação)


O desfecho amigável para a relação explosiva de Senna e Prost ficou ainda mais evidente no fatídico GP de San Marino de 1994. Pouco antes da largada, o brasileiro, que se esforçou para superar os problemas de sua Williams e garantir a pole, mencionou o antigo adversário em uma mensagem de rádio para uma emissora de TV francesa, que tinha o tetracampeão como comentarista para aquela corrida: “Um alô especial para nosso querido amigo Alain. Nós sentimos sua falta, Alain”, disse Senna. Prost, por sua vez, ficou muito abalado com o acidente fatal do rival das pistas e esteve presente no enterro do brasileiro, em São Paulo.

Alain Prost e Ayrton Senna fazem as pazes no GP da Austrália de 1993 (Foto Getty Images)



Nenhum comentário:

Postar um comentário