Nomeado
para Hall da Fama da tradicional revista inglesa Motor Sport, tetracampeão
admite que competição com o rival brasileiro o fez atingir outro nível na
Fórmula 1
Show de Ayrton Senna ofuscou vitória de Alain Prost no GP de
Mônaco de 1984 (Getty Images)
Monte Carlo, 3 de junho de
1984. O palco da mais famosa e tradicional prova da Fórmula 1 amanheceu
encharcado. Os 20 pilotos que compunham o grid de largada estavam preocupados
com as condições hostis do circuito de rua, mas a organização optou por
prosseguir com a realização o GP de Mônaco. A forte chuva provocou um atraso de
45 minutos no início da corrida. E, quando finalmente começou, a disputa foi
logo tomada por uma enxurrada de abandonos, quebras e batidas. Largando da 13ª
posição, o novato Ayrton Senna aproveitou o cenário desastroso para
mostrar seu talento.
No cockpit de uma pouco
consistente Toleman, o brasileiro de 24 anos começou a ganhar posições, fez uma
ultrapassagem inacreditável no então bicampeão Niki Lauda, da McLaren, e
passou a ameaçar o pole position e líder Alain Prost, também da escuderia
britânica. Quando já era o segundo, Senna diminuía consideravelmente a distância
em relação ao francês, e acelerava fundo rumo à sua primeira vitória na
categoria. Mas a chuva não deu trégua e fez o ex-piloto e diretor da prova
Jacky Ickx optar pelo cancelamento da corrida, de forma controversa, ao final
da volta de número 32.
Naquele domingo chuvoso de
1984, Alain Prost, vice-campeão do ano anterior, faturava a primeira de quatro
vitórias em Mônaco. E também tomava conhecimento do incrível talento do jovem
Ayrton, que viria a se tornar, pouco tempo depois, seu maior adversário nas
pistas da principal categoria do automobilismo. A relação explosiva entre os
dois rendeu episódios polêmicos, como as decisões dos campeonatos de 1989 e
1990, ambas no Japão. Quase 20 anos após a morte do brasileiro, Prost voltou a
falar sobre a marcante rivalidade, e admitiu que a competição o ajudou a
atingir um nível inédito na carreira.
- Eu acredito que a
competição que enfrentei naquela época me fez ser um piloto melhor, embora eu
só tenha realmente compreendido o significado da minha rivalidade com Ayrton
depois que me aposentei. Nossos duelos realmente beneficiaram a Fórmula 1 e elevaram
a disputa para um outro nível, mais humano. Nós tivemos personalidades
diferentes, uma forma contrastante de pilotar e uma abordagem distinta sobre o
esporte. Mas depois que parei de correr, entendi que o jeito de Ayrton foi
muito mais claro, e preciso agradecê-lo, porque 50% do meu sucesso se devem a
ele - discursou Prost, na cerimônia que marcou sua inclusão no Hall da Fama da
tradicional revista inglesa “Motor Sport”.
Parceria amistosa em 1988 acabou definitivamente na
temporada seguinte (Foto: Getty Images)
Após um convívio amistoso na
temporada de 1988, que marcou a estreia de Ayrton na McLaren, a relação do
brasileiro com o francês, que à época era dono de dois títulos mundiais com a
escuderia de Woking, azedou de vez durante o GP de San Marino de 1989, segunda
etapa do campeonato. Senna ignorou um acordo firmado com o companheiro ao
ultrapassá-lo após a segunda largada da corrida disputada no circuito de Ímola.
A partir daí, um clima de inimizade latente tomou conta dos dois pilotos. No
entanto, um cumprimento entre os eternos rivais no pódio do GP da Austrália de
1993, que encerrou a temporada e também assinalou a aposentadoria do já
tetracampeão Prost, mostrou que os ressentimentos haviam sido superados.
Alain Prost com o filho Nicolas na cerimônia de premiação do
Hall da Fama da revista Motorsports (Foto: Divulgação)
O desfecho amigável para a
relação explosiva de Senna e Prost ficou ainda mais evidente no fatídico GP de
San Marino de 1994. Pouco antes da largada, o brasileiro, que se esforçou para
superar os problemas de sua Williams e garantir a pole, mencionou o
antigo adversário em uma mensagem de rádio para uma emissora de TV francesa,
que tinha o tetracampeão como comentarista para aquela corrida: “Um alô
especial para nosso querido amigo Alain. Nós sentimos sua falta, Alain”, disse
Senna. Prost, por sua vez, ficou muito abalado com o acidente fatal do rival
das pistas e esteve presente no enterro do brasileiro, em São Paulo.
Alain Prost e Ayrton Senna fazem as pazes no GP da Austrália
de 1993 (Foto Getty Images)
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