Bruno Thadeu e Marcelo Freire
Do UOL, em São Paulo
25/03/2014
- 06h00Do UOL, em São Paulo
Johnny Cecotto,
primeiro companheiro de Senna na F1, seguiu carreira nos campeonatos de turismo. Foto: Divulgação
Há exatos 30 anos, Ayrton
Senna estreava na Fórmula 1 a
bordo de um Toleman-Hart no GP do Brasil, em Jacarepaguá. Então com 24 anos,
Senna chegava com status de revelação após ter sido campeão, nos anos
anteriores, das categorias 1600 e 2000 da F-Ford e também da F-3 Inglesa.
Do outro lado dos boxes da
Toleman estava o venezuelano Johnny Cecotto, de 28 anos, o primeiro
sul-americano a conquistar um título no Mundial de Motovelocidade – foi campeão
da extinta categoria 350cc em 1975. Cecotto havia migrado das motos para os
carros no início da década de 1980 e faria sua segunda (e última) temporada na
F1.
Segundo Cecotto, Senna já
chegou à Toleman assinando como primeiro piloto. O venezuelano foi contratado
pela equipe depois do brasileiro, após ter conquistado um ponto em seu ano de
estreia na F1, em 1983, pela pequena Theodore. De acordo com o ex-piloto, a
relação esfriou bastante durante o ano, por um motivo que ele diz não saber ao
certo.
Ayrton Senna e Johnny Cecotto na Toleman em 1984
"A princípio a relação
era boa, próxima, andávamos juntos. Depois, testamos o mesmo carro uma vez, em
Donington, e eu fui um pouco mais rápido. Ele não ficou contente e, mesmo sendo
o primeiro piloto, a partir deste dia a relação ficou mais difícil", conta
Cecotto ao UOL Esporte.
O venezuelano recorda que
Senna, como primeiro piloto, contava com equipamento atualizado, ao contrário
do carro guiado por Cecotto. O ex-piloto ri ao lembrar da dedicação de Senna em
contar com o melhor equipamento possível – o que era natural dos competidores
que sonhavam com o título da F1, de acordo com Cecotto.
"Ele queria todas as
melhores condições para ele [risos]. Ele tinha o motor novo, do ano, com
injeção eletrônica – a minha era mecânica, do ano anterior. Ele fazia todos os
testes, eu nunca testava. Havia diferença de potência e velocidade, que eram
menores no meu carro. Tudo girava em torno dele. Era sua forma de ser, queria a
equipe para ele. Mas creio que, para um piloto que quer ser campeão, é [um
comportamento] bastante normal."
Ayrton Senna e Johnny Cecotto na Toleman em 1984
Mesmo incomodado na época,
Cecotto diz que a Toleman não tinha condições financeiras de fornecer carros
rápidos para os dois pilotos. E enquanto Senna conquistou três pódios e 13
pontos para a equipe em 1984, Cecotto terminou apenas duas das nove corridas
que largou naquele ano – foram ao menos cinco abandonos por problemas
mecânicos.
A relação entre os dois, que
já era distante, terminou definitivamente após um acidente de Cecotto nos
treinos do GP da Inglaterra de 1984, em Brands Hatch. Ele quebrou as pernas na
batida, que encerrou sua carreira na F1, e nunca mais teve contato com o
brasileiro.
"Não me visitou, não
mandou mensagem. Eu creio que meu acidente o impressionou um pouco e não
entendo... pelo menos uma saudação ele poderia ter enviado."
"Mas não importa. Depois
de alguns anos, ele declarou em uma entrevista que eu fui o companheiro mais
difícil que ele enfrentou. Fiquei surpreso e senti isso como uma prova de
respeito comigo. Pode ser que essa rivalidade tenha tornado ele mais
distante."
Diferentemente da relação
fria com Ayrton Senna, Johnny Cecotto ficou amigo do outro tricampeão mundial
brasileiro, Nelson Piquet. Com um McLaren GTR, Cecotto, Piquet e o britânico
Steve Soper venceram as Mil Milhas Brasileiras, em Interlagos, em 1997.
"Sempre tive uma boa amizade com Nelson, desde os tempos de F1", diz
o venezuelano, que não quis fazer comparações entre os dois brasileiros.
O ex-piloto segue no
automobilismo, agora trabalhando na carreira do filho, Johnny Cecotto Jr., que
disputa a GP2, categoria de acesso à F1. Ele informa que a falta de
patrocinadores dificulta o ingresso do filho à principal categoria do
automobilismo.
"A Venezuela enfrenta um
momento difícil politicamente. Com Hugo Chávez havia maior apoio aos
esportistas locais, mas agora estamos tendo grande dificuldade para obter apoio
para o desenvolvimento da carreira na GP2", afirmou.
QUEM É JOHNNY CECOTTO
O venezuelano Alberto
"Johnny" Cecotto começou na velocidade em cima das motos, fazendo
várias provas no Brasil no início dos anos 70. Em 1975, já no Mundial de
Motovelocidade, sagrou-se campeão da 350cc com apenas 19 anos e quebrou a
sequência de sete títulos consecutivos do italiano Giacomo Agostini nessa
categoria. Primeiro sul-americano a conquistar um título no Mundial de
Motovelocidade, Cecotto também foi o primeiro da região a vencer a tradicional
prova americana das 200
Milhas de Daytona, em 1976. No começo dos anos 80,
migrou para os carros e foi vice-campeão da F2 em 1982. Depois da passagem sem
sucesso pela F1, disputou categorias de turismo em países como Inglaterra e na
Alemanha. Cecotto também se destacou em corridas de longa duração, ganhando
provas como as 24 Horas de Daytona de 1990 e as Mil Milhas Brasileiras de 1997,
onde correu ao lado de Nelson Piquet.
ESTREIA DE SENNA NA F1 COMPLETA 30 ANOS
Durou apenas oito voltas a
estreia de Ayrton Senna na Fórmula 1, no GP do Brasil de 1984. Com um problema
mecânico, o jovem brasileiro de 24 anos abandonou a prova disputada em
Jacarepaguá. "Parece que o turbo quebrou. Eu não estou decepcionado. Quebrou,
quebrou, fica para a próxima", disse Senna à TV Globo ainda durante a
corrida. Na "próxima", em Kyalami (África do Sul), veio o primeiro
ponto, com um sexto lugar. Seriam outros 12 naquela temporada, que teve como
principal destaque a segunda posição no GP de Mônaco (foto), debaixo de um
temporal. A corrida foi interrompida com 31 voltas, quando Senna se aproximava
do então líder Alain Prost. O brasileiro ainda foi terceiro colocado nos GPs da
Inglaterra e de Portugal no ano de estreia, terminando em nono no Mundial de
Pilotos, com 13 pontos. Em 1985, Senna seguiu para a Lotus, onde conquistaria
suas primeiras seis vitórias na F1. Em 1988, estreou na McLaren e venceu o
primeiro de seus três títulos mundiais.
FOTOS SENNA NA TOLEMAN
FOTOS SENNA NA TOLEMAN
FONTE PESQUISADA
THADEU, Bruno; FREIRE, Marcelo. Primeiro
companheiro de Senna na F1 revela mágoa com o brasileiro. Disponível em: <http://esporte.uol.com.br/f1/ultimas-noticias/2014/03/25/primeiro-companheiro-de-senna-na-f1-revela-magoa-com-o-brasileiro.htm>.
Acesso em: 25 de março 2014.
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