Rick Morris, Ayrton Senna e o mexicano Alfonso Toledano na Fórmula Ford 1600 em 1981
Por: Andrew van Leeuwen
12/04/2016
Muito antes das disputas com
Alain Prost, Ayrton Senna enfrentou uma grande rivalidade na Fórmula Ford.
Andrew van Leeuwen conversou com Rick Morris, este rival às vezes esquecido do
tricampeão de Fórmula 1
Você pode não ter ouvido
falar de Rick Morris. Um piloto de carreira na Fórmula Ford, Morris pode não
ser um nome familiar. Mas, de volta aos anos 1980, Morris foi um espinho para
Ayrton Senna.
O ano era 1981. Senna, que
havia mudado do Brasil para o Reino Unido para perseguir o seu sonho de
Fórmula, foi contratado como piloto de fábrica da Van Diemen para correr na
Fórmula Ford 1600.
Até então, o britânico Rick
Morris já havia se tornado parte da cena europeia da Fórmula Ford. O que
começou como uma corrida com a Motor Racing Stables levou Morris a comprar um
Formula Ford de 400 libras no início de 1970, antes que ele fosse convocado
para a equipe de fábrica Hawke, em 1975.
Após um breve período com a
PRS, Morris foi atraído para a Royale na temporada de 1980 para trabalhar ao
lado de jovem engenheiro Pat Symonds - hoje na Williams. Morris foi promovido
ao status de piloto de fábrica em 1981, com o objetivo principal de levar sua
experiência a Van Diemen e ao novato vindo do kart brasileiro, Ayrton Senna.
"Passei o ano lutando
com Alfonso Toledano e Senna", lembra Morris. "Meu carro era melhor
nos circuitos mais rápidos. Eu ganhei as corridas em Thruxton, venci duas das
corridas em Silverstone e eu bati Ayrton ambas as vezes em Brands".
"Nós tivemos um monte de
pegas. Ele era completamente autocentrado neste ano”
"Nós costumávamos
chamá-lo de Harry, porque seu mecânico Paddy, um lendário mecânico da Van
Diemen com cabelo muito longo, começou a chamá-lo de Harry".
Uma lição de determinação
De acordo com Morris, correr
contra Senna foi um esforço implacável. Entre o talento natural do brasileiro,
e seu compromisso com a arte, Senna não desistiu. E Morris teve que aprender a
jogar o jogo, se quisesse competir.
"Van Diemen tinha essa
coisa de eles (Senna e Toledano) poderem sempre usar o circuito de Snetterton
às 17h30, quando todos os outros já estavam em casa, e eles faziam isso por
meia hora ou 45 minutos. Então, eles ficavam dando voltas e voltas",
explica Morris.
"Mas isso me ensinou
muito. Havia a velha curva Russell; que era uma chicane flat-out com frenagem de
ambos os lados. Eu percebi que se o carro não estivesse muito rigidamente
saltado, você poderia passar por ela direto. Isso doía, porque o carro ficava
saltando sobre os freios, mas isso significava que eu poderia continuar na Van
Diemens".
"Eles sempre me deixavam
para trás no hairpin antes da ponte, particularmente Ayrton com a sua
experiência de kart. Ele era ótimo naquela curva, mas eu não conseguia fazer,
eu apenas não tinha a tração na Royale. Mas eu o acompanhava através de Coram,
me aproximava na Russell, então eu poderia ficar na sua cola para a reta".
"Ele me ensinou que há
sempre um caminho. Se você está determinado o suficiente, você vai encontrar um
caminho. "
Relacionamento
Embora tenha sido Senna o
melhor em 1981, (Morris: "Eu estava levando a maior parte do ano, então eu
tive um acidente que me complicou"), a rivalidade com o inglês deixou uma
gosto ruim na boca do brasileiro.
O que mais irritava Senna era
que Morris não era um profissional. Ele era um homem de família, com seus 20
anos, e com outro trabalho durante o dia. Senna, por sua vez, já estava
dedicando sua vida ao esporte a motor - e não tinha ainda sido levado ao limite
por um companheiro.
"Quando eu estava na
disputa com Ayrton, eu ganhei a rodada em Brands antes do Festival. Eu tinha
uma foto dele muito puto. Ele depois escreveu para mim e disse: 'Eu realmente
odiava tudo aquilo!", lembra Morris.
Uma vez que não estavam mais
competindo um contra o outro, no entanto, a relação de Morris e Senna mudou.
"Nós eventualmente tornarmos
amigos, mas somente depois que a temporada de 1981 tinha acabado e Ayrton tinha
se mudado para FF2000”.
"A amizade veio através
de Maurício Gugelmin. Ele e eu éramos grandes amigos. Ele era muito talentoso
também, mas um temperamento completamente diferente de Ayrton”
"Ele estava vivendo com
Ayrton, eles tinham uma casa perto de Virginia Water no Reino Unido. Então, eu
passei muito tempo com Ayrton durante 1982; ele estava correndo da FF2000, e se
as corridas não coincidissem, ele acompanhava o Gugelmin nas corridas de 1600”.
"Ayrton ainda estava
começando a ir bem, mas as pessoas começaram a lhe dar coisas. Lembro que ele
ganhou uma corrida de Mercedes em algum lugar, e ganhou um 190 2.3 16 válvulas.
Ainda me lembro que ele veio até mim em Brands, quando estávamos correndo 1600,
e a alegria no rosto ... 'Rick, vem e olha para isto. Eles me deram isso. Você
tem que ver isso'".
"De qualquer forma, eu
tenho fotos do meu filho Stevie, que nasceu em 1981, sentado nos ombros do
Ayrton no paddock em 82. Ayrton tem um grande sorriso em seu rosto, ele gostava
de crianças."
Era óbvio, mesmo nessa fase,
o quão bom ele seria?
"Sim, mas você tinha
muitos destes garotos chegando", diz Morris. "Ele era, obviamente, o
melhor entre eles naquele momento, mas eu não sabia que ele iria se tornar a
lenda que foi."
Os bons velhos tempos
Depois de quatro décadas
desde que iniciou sua carreira, Morris ainda está correndo. Ele regularmente
viaja do Reino Unido para a África do Sul onde corre de Fórmula Ford
contemporânea, e ele recentemente viajou para a Austrália para competir em
Phillip Island em um grid de 50 carros históricos.
Mas ele também reconhece que
o mundo do automobilismo mudou.
O final dos anos 70 e começo
dos 80 eram dias inebriantes para um júnior. Categorias como Fórmula Ford não
tinham um chassi de controle, o que significava que os fabricantes realmente
tinham equipes de fábrica genuínas e empregavam jovens pilotos.
Foi uma corrida armamentista,
mas significava oportunidades genuínas para jovens talentos se desenvolverem
sem terem um grande orçamento.
"Nós costumávamos viver
com os carros", diz Morris. "Passei muito tempo como um piloto de
fábrica e desenvolvimento para Hawke, por PRS, por Reynard, e por Royale ... e
estávamos testando um par de vezes por semana".
"Não que eu nunca
fizesse isso em tempo integral. Eu costumava ter um emprego também, para pagar
a hipoteca. Era um pouco diferente".
"Naqueles dias, era tudo
sobre o talento. Você não poderia comprar um motor melhor, você não poderia
comprar um carro melhor. Os carros eram tão simples. A engenharia era muito
básica".
"Eu comecei sem nenhum
dinheiro. Mas a coisa boa era, se você provocasse um impacto, e se você fosse
visto como sendo potencialmente bom, os fabricantes tinham dinheiro entrando, e
os construtores de motores queriam emprestar os motores para que você pudesse
fazer o seu caminho"
Ayrton Senna e Rick Morris quando corriam pela Formula Ford 1600, Brands Hatch, 29 de setembro de 1981. Foto: Sutton.
Ayrton Senna e Rick Morris quando corriam pela Formula Ford 1600, Brands Hatch, 29 de setembro de 1981. Foto: Sutton.
Ayrton Senna, Rick Morris e o piloto mexicano Alfonso Toledano na posição de largada quando corriam pela Formula Ford 1600, Oulton Park, 27 de junho de 1981. Foto: Sutton.
RICK MORRIS HOJE:
Rick Morris no evento Phillip Island Classic Car Festival of Speed em 13 de março de 2016.
Foto: Herb Powell
Rick Morris no evento Phillip Island Classic Car Festival of Speed em 13 de março de 2016.
Foto: Herb Powell
Rick Morris no evento Phillip Island Classic Car Festival of Speed em 13 de março de 2016.
Foto: Herb Powell
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LEEUWEN, Andrew van. Britânico conta como
era ser rival de Senna na Fórmula Ford. Disponível em: <http://br.motorsport.com/f1/news/britanico-conta-como-era-ser-rival-de-senna-na-formula-ford-686611/>.
Acesso em: 12 de abril 2016.
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