quarta-feira, 31 de agosto de 2016

O Globo: Entre os Bens, Helicóptero, Avião e Imóveis 06 05 1994

Além de piloto, Senna também era empresário





Leonardo, irmão de Ayrton Senna, afirma que o piloto não fez testamentos e seguro de vida pessoal

O GLOBO: Ayrton fez testamentos?
LEONARDO SENNA: Não, meus pais são os herdeiros de tudo.

O GLOBO: Ayrton tinha seguro de vida pessoal?
LEONARDO SENNA: Só tinha seguro de vida feito pela Williams, o normal para pilotos.

Fonte: Jornal o Globo, 26/05/1994.


Ninguém está preparado para a morte aos 34 anos de vida em pleno vigor e saúde



FONTE PESQUISADA

O Globo, 06 de Maio de 1994, Matutina, Esportes, página 26.

ALVES, Milton. Sem perdão para os cartolas da F-1. 26 de Maio de 1994, Matutina, Esportes, página 31












terça-feira, 30 de agosto de 2016

A Inspiração de Hamilton em Senna (Vídeo)


Victor Martins fala sobre inspiração de Hamilton em Senna e analisa 'corrida de recuperação'

ESPN - 29/08/2016 - 22h14










segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Acordar no Paraíso


Jornalista e escritor britânico Tom Rubython, autor da excelente biografia de Ayrton Senna, The Life of Senna (A Vida de Senna, 2004), traz novas revelações em seu novo livro “Fatal Weekend (Fim de Semana Fatal), lançado no final de 2015. No capítulo quatro da obra, por exemplo, ele conta detalhes sobre o resort Quinta do Lago, o complexo luxuoso no Algarve, em Portugal, onde Ayrton vivia com Adriane Galisteu e que foi sua última residência. 

Leia o capítulo na íntegra em uma tradução livre para o português:

CAPÍTULO 4

Acordar no Paraíso

O Algarve - Manhã - quinta-feira, 28 de abril de 1994

Ayrton Senna contemplando o sol no último dia na mansão do Algarve, na manhã de quinta-feira do dia 28 de abril de 1994. 

Quinta-feira, 28 de abril de 1994, foi como qualquer outro dia de início da primavera na Quinta do Lago, no Algarve Português, para seu mais famoso residente, Ayrton Senna, que acordou em sua casa ao som de sua governanta portuguesa, Juraci, espremendo o suco de laranja e fazendo o café na cozinha.

O sol brilhava como sempre acontecia no Algarve nesta época do ano. Senna saiu da cama, pegou seu short e uma camiseta e foi direto para fora para uma corrida pela manhã ao redor das dunas de areia do resort e campos de golfe. Ele preferia correr ao meio-dia no calor escaldante, mas como ele estava saindo em uma hora não tinha escolha, para fazer o seu exercício quando podia, naquele dia. Em 1994, ele era sem dúvida o piloto em melhor forma da grelha (grid) depois de um inverno (europeu, verão no Brasil) de treinamento intensivo comandado, em sua casa de praia no Brasil, pelo seu treinador, Nuno Cobra. Enquanto corria fora de casa, ele deixou seu irmão mais novo Leonardo na cama, ainda dormindo.

Senna amava sua casa portuguesa quase tanto quanto sua casa de praia em Angra. Quinta do Lago era seu paraíso europeu e ainda um segredo bem guardado, tanto quanto Senna zelava (sua privacidade). A mansão de paredes brancas e quatro quartos assentada no seu próprio terreno, protegida por muros altos e portões elétricos, dentro de um resort dos sonho de cerca de 2.000 acres. Com campos de golfe de um lado e uma praia do outro, intercaladas por lagos, Senna tinha comprado a casa alguns anos antes e tinha a reformado completamente durante o último inverno.

A casa era gerida por uma mulher conhecida apenas como Juraci, e até mesmo Senna não sabia se ela tinha mais nomes. Ela era um poço de energia permanente na residência e suas funções eram cozinhar, limpar e dirigir (motorista). Ela fazia todas elas admiravelmente.

A Quinta do Lago resort foi inaugurada em dezembro de 1971 por André Jordan, um desenvolvedor de ascendência polonesa misturada com brasileira. O local original tinha 550 acres e era uma fazenda, e a antiga casa sede da fazenda foi reconstruída como um restaurante. A propriedade na orla marítima tinha sido de posse da família Pinto de Magalhães por 300 anos e Jordan contratou um arquiteto talentoso brasileiro chamado Júlio Neves para projetar grande parte da infra-estrutura e transformá-la em um prazeroso paraíso. Somente as pessoas que tinham estado na Quinta do Lago compreendem a atmosfera única e clima. O resort dispõe de um hotel de cinco estrelas, quatro campos de golfe, uma infinidade de bons restaurantes e até mesmo seu próprio clube noturno.

A grande sacada de Jordan havia sido o de construir uma ponte para ligar a praia a propriedade. Ele então convidou o famoso arquiteto William F. Mitchell para projetar um campo de golfe. O resultante foi um sucesso tão grande que em 1976 o Open Português (torneio anual de golf) foi realizado na Quinta do Lago, pela primeira vez.

Em 1987, sentindo uma recessão próxima, Jordan vendeu a Quinta do Lago para o empresário britânico, David Thompson, obtendo um enorme lucro. Thompson havia vendido o seu negócio de alimentos por atacado no ano anterior e tinha o dinheiro e recursos para concluir o desenvolvimento de um padrão muito elevado. Thompson ficou encantado quando Senna comprou uma casa no resort, e ele redobrou (seus esforços) para suprir as suas necessidades.

Sempre que Thompson apresentava (a propriedade) a um potencial cliente, a primeira coisa que mencionava era de que Ayrton Senna possuía uma casa no resort. Parecia adicionar pelo menos 10 por cento ao preço das moradias.

Quinta do Lago deu a Senna o anonimato que ele desejava. Ele nunca foi incomodado lá, e assim era exatamente como ele gostava. Era o único lugar no mundo fora do Brasil que ele se sentia em casa. Foi um completo bônus que muitas das pessoas também falavam sua língua nativa, português.

O logotipo colorido do Resort Quinta do Lago na entrada principal do complexo residencial

Senna se sentia bem a cada vez que passava pelo monumento do logotipo 'Q' com as cores do arco-íris que girava lentamente dentro de uma fonte na entrada principal do complexo. Ele sentia que estava entrando em um ambiente único onde a natureza estava em completa harmonia com seu projeto para um estilo de vida brasileiro na Europa. Seu jardim era uma vista de tirar o fôlego de plantas tropicais exóticas: palmeiras e bananeiras; hibiscus gigantes; acácias; paredes inteiras de buganvílias; e laranjeiras, limoeiros e abacateiros. A área, protegida legalmente desde 1987, era um habitat natural único para mais de 200 aves residentes e migratórias, incluindo um número de espécies raras e ameaçadas. Os lagos eram um repositório rico para crustáceos e outras espécies marinhas.


Entrada da Mansão de Ayrton Senna na Quinta do Lago

Quando queria, ele podia andar de jet-ski ou fazer windsurf nos lagos e correr por horas ao longo das trilhas naturais ou na praia. O clima maravilhoso e belas paisagens faziam a sua rotina fitness mais suportável. E quando precisava de uma vida social ele ia ao clube de golfe, onde os moradores locais e residentes o conheciam, mas, mais importante, sabiam que não deveriam incomodá-lo. Nos restaurantes e discotecas do complexo, as mesmas regras se aplicavam. Senna considerada a empresa de segurança que cuidava do lugar como a sua própria pessoal, e eram tão eficazes para garantir a sua privacidade e segurança que pequenos crimes na Quinta do Lago tornaram-se praticamente inexistentes.

Quando Senna voltou de sua corrida depois de meia hora, ele tomou banho, vestiu-se e arrumou uma pequena mala de viagem para as três noites que ele ia passar em Castel San Pietro, perto de Bolonha. Ele colocou (na mala) um paletó e gravata para um dia de trabalho que tinha pela frente, mas não houve jantares formais ou compromissos naquele fim de semana, por isso, as suas necessidades de roupas eram mínimas. Mas havia uma pequena irritação em sua vida naquela manhã gloriosa. Seu irmão, Leonardo, estava hospedado até domingo e estaria vindo com ele para Imola. Leonardo estava em uma missão de sua família para tentar persuadir Senna a desistir de sua namorada, Adriane. Por várias razões, a família, com exceção de sua mãe, Neyde, que amava o que ele amava, detestava Adriane.


Não foi surpresa que, em 1994, pela primeira vez em sua vida, Senna havia planejado passar a temporada inteira na Quinta do Lago e não voltaria ao Brasil até a temporada terminar.

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Waking Up in Paradise

The Algarve - Morning -Thursday 28th April 1994

Thursday 28th April 1994 was just like any other early spring day at Quinta do Lago in the Portuguese Algarve as its most famous resident, Ayrton Senna, woke in his house to the sound of his housekeeper, Juraci, squeezing orange juice and brewing coffee in the kitchen.

The sun shone as it always did in the Algarve at this time of year. Senna got out of bed, grabbed his shorts and a t-shirt and went straight out for an early morning run around the resort’s sand dunes and golf greens. He preferred to run at midday in the heat of the sun but as he was leaving in an hour he had no choice but to take his exercise when he could that day. In 1994, he was arguably the fittest driver on the grid after a winter of highly regimented intensive exercise at his beach house in Brazil under his trainer, Nuno Cobra. As he ran out of the house he left his younger brother Leonardo in bed, still asleep.

Senna loved his Portuguese home almost as much as he did his beach house at Angra. Quinta do Lago was his European paradise and was still a well-kept secret as far as Senna was concerned. The four-bedroomed white-walled villa sat in its own grounds, protected by high walls and electric gates, in a dream resort of around 2,000 acres. With golf courses on one side and a beach on the other, interspersed with lakes, Senna had bought the house a few years earlier and had it completely renovated during the previous winter.

The house was managed by a woman known only as Juraci, and even Senna didn’t know if she had any more names. She was a one-woman powerhouse in permanent residence and her duties were to cook, clean and chauffeur. She did them all admirably.

The Quinta do Lago resort had been opened in December 1971 by André Jordan, a developer of mixed Polish and Brazilian parentage. The original 550-acre site was a farm, and the old farmhouse was rebuilt as a restaurant. The beach-lined estate had been owned by the Pinto de Magalhães family for the previous 300 years and Jordan commissioned a talented Brazilian architect called Júlio Neves to design much of the infrastructure and to turn it into a pleasure paradise. Only people who had been to Quinta do Lago understood the unique atmosphere and climate. The resort had a five-star hotel, four championship golf courses, a multitude of good restaurants and even its own night club.

Jordan’s genius had been to build a footbridge to connect the beach to the estate. He then asked famous architect William F. Mitchell to design a golf course. The resulting course was such a success that in 1976 the Portugese Open was held in Quinta do Lago for the first time.

In 1987, sensing a recession just around the corner, Jordan sold Quinta do Lago to British entrepreneur David Thompson for a huge profit. Thompson had sold his food wholesaling business a year earlier and had the money and resources to complete the development to a very high standard. Thompson was delighted when Senna bought a house on the resort, and he bent over backwards to accommodate his needs.

Whenever Thompson showed a potential client around, the first thing he always mentioned was that Ayrton Senna owned a house on the resort. It seemed to add at least 10 per cent to the price of the villas.

Quinta do Lago gave Senna the anonymity he craved. He was never bothered there, and that was exactly how he liked it. It was the only place in the world outside Brazil that he felt at home. It was a complete bonus that many of the people also spoke his native language, Portuguese.

Senna felt good every time he drove past the rainbow-coloured ‘Q’ logo statue that rotated slowly inside a fountain at the main entrance to the complex. He felt he was entering a unique environment where nature was in complete harmony with his design for living a Brazilian lifestyle in Europe. His garden was a breathtaking vista of exotic tropical plants: palms and banana trees; giant hibiscus; vivid yellow mimosa; whole walls of bougainvillea; and orange, lemon and avocado trees. The area, legally protected since 1987, was a unique natural habitat for more than 200 resident or migratory birds, including a number of rare and endangered species. The lakes were a rich repository for shellfish and other marine life.

When he wanted, he could jet-ski or windsurf on the lakes and run for hours along the nature trails or the beach. The wonderful climate and beautiful surroundings made his fitness regime more bearable. And when he needed a social life he went to the golf club, where the locals and residents knew him but, more importantly, knew not to bother him. At the restaurants and nightclubs on the complex, the same rules applied. Senna regarded the security firm that looked after the site as his own personal one, and it was so effective in ensuring his privacy and security that petty crime in Quinta do Lago became virtually non-existent.

When Senna returned from his run after half an hour, he showered, dressed and packed a small overnight bag for the three nights he was going to spend in Castel San Pietro near Bologna. He put a jacket and tie on for the day’s work he had ahead, but there were no formal dinners or commitments that weekend, so his clothing needs were minimal. But there was a small irritation in his life that glorious morning. His brother, Leonardo, was staying until Sunday and would be coming with him to Imola. Leonardo was on a mission from his family to try and persuade Senna to give up his girlfriend, Adriane. For all sorts of reasons, the family, with the exception of his mother, Neyde, who loved what he loved, detested Adriane.


It was no surprise that in 1994, for the first time in his life, Senna planned to spend the entire season at Quinto do Lago and not return to Brazil until the season was over.

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FONTE PESQUISADA

RUBYTHON, Tom. Fatal Weekend. 1º Edição. Great Britain: The Myrtle Press, 12 de novembro de 2015.

domingo, 28 de agosto de 2016

Braga Tentou Levar Adriane Galisteu a Bolonha Para Último Encontro Com Ayrton Senna

Braga, grande amigo de Ayrton Senna, sabia que Senna estava morrendo e queria que eles se vissem pela última vez



Trecho extraído do livro “Fatal Weekend”, em português "Fim de Semana Fatal", escrito pelo jornalista e escritor britânico Tom Rubython, lançado em novembro de 2015


TRADUÇÃO LIVRE

Antônio Braga tinha tomado a seu cargo os arranjos familiares imediatos e estava particularmente preocupado quanto a levar Adriane para Bolonha. Ele sabia que Senna gostaria dela a seu lado.
Braga quebrava a cabeça, uma vez que não ia ser fácil conseguir um vôo de Faro ou Lisboa diretamente para Bolonha em um domingo à tarde. Ele pensou em solicitar ao Capitão O'Mahoney (piloto do jato de Senna) voar para Faro para buscá-la, mas seria uma viagem de sete horas. Finalmente, Braga usou o telefone no motorhome da McLaren para chamar sua esposa Luíza, que estava em sua casa em Sintra, perto de Lisboa, com as suas filhas adolescentes, Joanna e Maria. Como todo mundo, Luíza tinha assistido a corrida na televisão e queria notícias. Depois de Braga dizer-lhe o que sabia, ele disse pra ela telefonar para Adriane e dizer que ela teria que ir a Bolonha, o mais rápido possível. Eles decidiram que a melhor opção era fretar um avião em Faro para trazê-la para Bolonha. A esta altura, Braga tinha quase certeza de que Senna estava morrendo, mas pensou que não haveria tempo para ela dizer adeus.
Assim que desligou o telefone, Luíza ligou para Quinta do Lago. Ela disse para Adriane: "Braga me telefonou de Imola. É extremamente grave. Você tem que ir pra lá imediatamente." Adriane respondeu: " Luíza, venha comigo. Não me deixe sozinha."

Braga e Senna



IDIOMA ORIGINAL

Just after four o’clock, with the noise of the race still in their ears, Leonardo Da Silva, Betise Assumpcao and Josef Leberer were waiting at the track heliport for Bernie Ecclestone’s helicopter to take them to San Maggiore hospital in Bologna, 35 kilometres away.
Antonio Braga had taken charge of the immediate family arrangements and was particularly concerned about getting Adriane to Bologna. He knew Senna would want her at his bedside.
Braga racked his brains as it was not going to be easy to get a flight from Faro or Lisbon directly to Bologna on a late Sunday afternoon. He thought about asking Captain O’Mahoney to fly to Faro to pick her up, but that would have been a round trip of seven hours. Finally, Braga used the phone in the McLaren motorhome to call his wife Luiza, who was in their house in Sintra near Lisbon with their teenage daughters, Joanna and Maria. Like everyone, Luiza had been watching the race on television and wanted an update. After Braga told her what he knew, he told her to phone Adriane and tell her she had to get to Bologna as soon as possible. Between them, they decided the best option was to charter a plane in Faro to bring her to Bologna. By this time, Braga was almost certain that Senna was dying but thought there would be time for her to say goodbye.
As soon as she put down the phone to her husband, Luiza called Quinta do Lago. She told Adriane: “Braga called me from Imola. It’s extremely serious. You have to go there immediately.” Adriane replied: “Luiza, come with me. Don’t leave me alone.”




FONTE PESQUISADA

RUBYTHON, Tom. Fatal Weekend. 1º Edição. Great Britain: The Myrtle Press, 12 de novembro de 2015.








sábado, 27 de agosto de 2016

Marido de Viviane Senna, Flávio Lalli, Trata Adriane Galisteu Com Frieza Após Morte de Ayrton

Quando Ayrton Senna morreu, Adriane Galisteu foi totalmente ignorada pela família dele.

Adriane muito abalada no enterro do companheiro

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De volta a Sintra, Adriane subitamente foi sentindo uma indiferença da família Senna, em São Paulo. Tanto na segunda quanto na terça-feira, ela tentou telefonar para os pais de Senna. Ela foi informada pela empregada da família que ambos estavam sob sedação e não podiam ser incomodados. Depois de um tempo isso a incomodou (chateou), e ela se perguntou o que tinha feito, especialmente porque ela havia compartilhado sua dor com Neyde (mãe de Ayrton) no domingo.

Menos de uma semana antes, Adriane tinha voado para Portugal cheia de expectativa (esperança) para o futuro. Agora ela voltava ao Brasil com uma grande incerteza. Ela também estava insegura quanto a reação da família. Ela não havia falado com ninguém desde a morte de Senna, exceto Flavio Lalli, o marido de Viviane (Senna, irmã de Ayrton), que a tratou com frieza.

Fonte: Livro Fatal Weekend, escrito pelo jornalista e escritor britânico Tom Bubython, ano 2015.

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Todos aqueles dias tentei desesperadamente estar junto da Zaza, mãe, do seu Milton, o pai, dos irmãos, Viviane e Léo. Ligava para a família. A empregada da fazenda atendia:

- Dona Neide, como está? - perguntava eu, com certa  formalidade.

- Ela foi medicada, está deitada - resumia a Ednéia.  

- E o senhor Milton?

- Também medicado e dormindo.

Liguei várias vezes, sempre era a mesma coisa. Queria estar próxima, fosse como fosse. Impossível. Até  que um dia perguntei:

- E quem mais está  aí?

- O Cristiano e o  Jacir.

Dois amigos do Ayrton (Jacir era o Gordinho, como o chamavam; Cristiano tinha o apelido de Criminoso, por causa de um acidente em Angra, brincadeira deles). Dois amigos nossos, pensei.

- Deixa eu falar com eles - pedi.  

- Eles não estão aqui agora.

- Pede então para eles me ligarem, no Braga, em  Portugal - falei, com naturalidade.

Nada, nenhum telefonema, silêncio total. Comecei a estranhar: talvez eu seja uma lembrança muito viva do Ayrton, uma imagem fortemente ligada à dele, eles queiram evitar.

Luiza me desencorajava:

- Pára de ligar pra lá, Adriane.

No dia seguinte, ainda tentei o Lalli (Flávio Lalli,  marido da Viviane). Deixei recado. Ele me ligou.

- Como está todo mundo, Lalli? - perguntei,  inocentemente.

- Pô, Adriane, como está todo mundo?! Todo  mundo está um horror!
Ele estava nervoso, agitado, mas eu insisti:

- Fala qualquer coisa. Da Zaza, do senhor Milton, da Viviane... Qualquer coisa...

Ele me contou que a situação estava difícil, mesmo para ele, impossível estabelecer qualquer conversa com os pais.

Totalmente por impulso, eu me decidi:

- Já sei. Vou para aí já, ficar com eles.

Lalli foi reticente:

- A gente não sabe ainda o que fazer. Talvez leve a  Zaza e o senhor Milton de volta para a fazenda, talvez  não...

No dia seguinte, quarta-feira, passei a ligar para a fazenda de Tatuí. Estavam todos lá. E a mesma história: medicados, sedados, ninguém podia atender. Braga, sim, lá de Bolonha, dava notícias de cinco em cinco minutos. O corpo só seria liberado após a autópsia. Norma italiana. Parece que a Viviane, em nome da família, tinha tentado evitar, com o argumento "Já mataram uma vez, querem matar duas". Paciência. Percebendo que eu estava ansiosa e meio xarope, Luiza soube que a Juraci estava voltando para o Brasil, aquela noite, e me perguntou se eu não queria acompanhá-la:

- De jeito nenhum, eu vim com ele, vou com ele. E com vocês.

Minha sorte foi que o Braga apareceu, finalmente. Sorte minha, azar dele - que, moído, exausto, arrebentado em mil caquinhos física e emocionalmente, ainda teve de se submeter ao meu detalhado interrogatório:

- Qual era o estado de ânimo do Béco antes da prova?

-  Excelente, ótimo humor. Fomos juntos para a pista. Conversou muito com o Nick Lauda. Até com o Prost ele  brincou. E me falou de você.

- Mas, os outros, como estava todo mundo?

-  O  clima da Fórmula 1 naquele dia estava pesado admitiu o Braga, do alto de seus anos e anos de janela. - Mas você sabe como é: o piloto está lá, o que ele tem de fazer é correr.

Comentei com o Braga a longa conversa que o Béco e eu tínhamos tido, na madrugada de sábado, depois da morte do austríaco Roland Ratzenbergen De seu desânimo, de seu choro convulsivo:

- Sei de tudo, garotinha.

E de muito mais. Senna tinha no Braga um amigão do peito. Os dois estiveram juntos, poucos dias antes, 20 de abril, em Paris, noite em que a Seleção Brasileira disputou uma partida com o Paris Saint-Germain, o time do Raí. Senna foi convidado a dar o chute inicial. Em pleno Parc des Princes. Os franceses aplaudiram em delírio. Tanto que ele, com o Braga, esticou depois do jogo - coisa rara na vida dele - até o La Coupole, feliz de ter sido festejado por um público que em princípio ele julgava pertencer, de corpo e alma, ao seu rival Alain Prost.

Braga conhecia o Béco e sabia o que se passava no fundo de seu coração. O ídolo é um alvo fácil para a intriga, o veneno, a inveja, o medo dos que gravitam em torno dele, a insegurança de quem tenta inutilmente controlá-lo. Braga sabia que Ayrton estava sob pressão - e que a Benetton e Michael Schumacher não eram as únicas coisas do mundo a atormentarem seu sono. Mas sabia da integridade do amigo, da força de sua determinação e da sinceridade de seus sentimentos.
Posto o que, encerrado o interrogatório, ele me botou sob sua generosa asa:

- Vamos nos arrumar para viajar amanhã para o Brasil, e você vai desembarcar conosco, garotinha.

Você pode aprender muitas coisas, de uma hora para  outra - para o bem ou para o mal. Até nunca mais ver, inocência! Naquele momento, eu gostaria de já ter em mãos a frase que uma amiga desconhecida, porém amiga, me mandou depois, numa carta afetuosa: "Sossega, meu coração: já enfrentaste coisa pior do que  isso".

Citação de um poeta grego, não me lembro mais quem. Se esta frase atravessou tantos séculos, é porque ela traz  a essência de uma sabedoria. Isso mesmo: o pior, para  mim, tinha sido a perda definitiva do meu amado. Os  tormentos posteriores, o enterro, a despedida, até mesmo as incompreensões, eu cheguei disposta a enfrentar sem o menor medo.

Fonte: Livro Caminho das Borboletas de Adriane Galisteu, lançado no final de 1994.

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FONTE PESQUISADA

GALISTEU, Adriane. Caminho das Borboletas. Edição 1. São Paulo: Editora Caras S.A., novembro de 1994. 

RUBYTHON, Tom. Fatal Weekend. 1º Edição. Great Britain: The Myrtle Press, 12 de novembro de 2015.







sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Família de Ayrton Senna Tentou Reescrever a História e Excluir Adriane Galisteu da Vida do Piloto, Diz Livro

Senna e Adriane em Sidney na Austrália

Trecho extraído do livro “Fatal Weekend”, em português "Fim de Semana Fatal", escrito pelo jornalista e escritor britânico Tom Rubython, lançado em novembro de 2015

TRADUÇÃO LIVRE

Ao lado da sepultura, um dossel branco protegia a família e amigos do sol escaldante do meio-dia. Na frente, algumas cadeiras temporárias tinham sido arrumadas. Mais uma vez, Assumpção (assessora de Ayrton) tinha ido em frente e direcionava tudo. Na primeira fileira, estava a família: Milton e Neyde da Silva, Leonardo da Silva, Viviane Lalli e seu marido Flavio com sua filha Bianca. Na segunda fileira estavam Adriane Galisteu e Xuxa Meneghel, ex-namorada de Senna. Xuxa Meneghel era uma apresentadora de televisão e uma celebridade popular no Brasil.

Xuxa já tinha tomado seu assento, e quando Adriane tomou seu lugar designado ao lado dela, Xuxa imediatamente se levantou e mudou-se para outro lugar. Isso foi levemente notado por Adriane, mas tinha sido insensível ao colocar as duas mulheres juntas. Parecia que Xuxa tinha sido designada pela família Da Silva como viúva não oficial de Senna, mesmo que ela não tinha visto ou se comunicado com Senna por mais de dois anos. Ela havia viajado para o funeral com eles e foi embora com eles. Em sua dor, a família estava tentando reescrever a história e excluir Adriane da vida de seu filho.

Isto refletia toda a frieza que sentiam em relação a Adriane, o que só foi descongelado um pouco por Neyde da Silva (mãe de Ayrton), que claramente não concordou com a posição da família, mas foi forçada a aceitar.

Se Ayrton Senna estivesse olhando os acontecimentos daquele dia, ele ficaria extremamente triste - assim como ele ficou com a atitude de sua família direcionada a Adriane, semanas antes de sua morte. Mas ninguém, muito menos Adriane, queria causar qualquer problema. Ela aceitou o que estava acontecendo e, de certa forma entendeu. Foi uma postura extremamente madura e encantou para sempre os brasileiros comuns. Ela concentrou todos os seus sentimentos em seu namorado morto, sabendo que esta seria a última vez que ela estaria perto dele.


Então a família levantou-se a frente da pequena área do dossel e todos os enlutados (as pessoas que estavam de luto) se moveram para prestar suas últimas homenagens. Os enlutados não tinham pressa para sair, mas, gradualmente, um por um, retirou-se para os helicópteros e transportes (carros ou ônibus). Incisivamente, Xuxa Meneghel deixou o lugar em uma limousine oficial da família. Adriane Galisteu apareceu para tentar se juntar a outra das limousines da família, mas foi rejeitada. Mais tarde, ela negou que tivesse sido e disse que estava apenas dizendo adeus para a família. O que quer que tenha acontecido, Adriane não era bem-vinda no acolhimento da família após (o enterro), e ela foi embora no ônibus em que chegou para se juntar aos Bragas em sua fazenda. Muitas pessoas acharam que a brutal manifestação da família Da Silva nesse dia não tinha nenhum crédito. Mas foi o culminar (o ponto mais alto, o auge) do que tinha sido uma curta e amarga luta por Ayrton Senna. A família tinha perdido para Adriane nessa batalha e agora talvez eles estavam fazendo sua vingança. De algum modo estranho, eles pareciam culpá-la por sua morte. Ela simplesmente não era boa o suficiente para eles. Nada que pudesse fazer poderia mudar isso e, no final, ela aceitou graciosamente.

A aparente rejeição pareceu cruel, mas refletia a maioria da visão da família em relação a Adriane e pelo motivo da última conversa de Senna com seu irmão ter sido tão desagradável, algo que Leonardo da Silva terá que conviver pelo resto de sua vida.

IDIOMA ORIGINAL

At the graveside, a white canopy protected family and friends from the very hot midday sun. In front, some temporary chairs had been arranged. Once again, Assumpcao had gone ahead and was directing everything. At the front was the family: Milton and Neyde Da Silva, Leonardo Da Silva, Viviane Lalli and her husband Flavio and their daugther Bianca. In the second row were Adriane Galisteu and Xuxa Meneghel, Senna’s former girlfriend. Xuxa Meneghel was a television presenter and a popular celebrity in Brazil.

Xuxa had already taken her seat, and when Adriane took her designated place next to her, Xuxa immediately got up and moved to another seat. It was an extraordinary slight to Adriane, but it had been insensitive to put the two women together. It seemed as though Xuxa had been designated by the Da Silva family as Senna’s unofficial widow, even though she had not seen or communicated with Senna for over two years. She had travelled to the funeral with them and left with them. In their grief, the family were trying to rewrite history and paint Adriane out of their son’s life.

It reflected the coolness they all felt towards Adriane, which was only thawed a little by Neyde Da Silva, who clearly disagreed with the family’s stance but was forced to accept it.

If Ayrton Senna was looking down on events that day, he would have been mightily upset – just as he was with his family’s attitude towards Adriane in the weeks before his death. But no one, least of all Adriane, wanted to cause any fuss. She accepted what was going on and in some ways even understood it. It was a remarkably mature display and endeared her forever to ordinary Brazilians. She focused all her emotions on her dead boyfriend, knowing this was the last time she would be close to him.


Then the family stood up in front of the small canopied area and all the mourners filed by to pay their last respects. The mourners were in no hurry to leave, but gradually one by one withdrew to the helicopters and coaches. Pointedly, Xuxa Meneghel left in an official family limousine. Adriane Galisteu appeared to attempt to join another of the family limousines but was turned away. Later she denied that she had and said she was simply saying goodbye to the family. Whatever happened, Adriane was not welcome at the family reception afterwards, and she left in the bus in which she had arrived to join the Bragas at their farm. Many people thought that the brutal display by the Da Silva family that day did them no credit. But it was the culmination of what had been a short and bitter fight over Ayrton Senna. The family had lost out to Adriane on that battle and now maybe they were taking their revenge. In some strange way, they seemed to blame her for his death. She was simply not good enough for them. Nothing she could do could change that and, in the end, she accepted it gracefully.

The apparent rejection appeared cruel, but it reflected the majority of the family’s view of Adriane and the reason why Senna’s last conversation with his brother had been so adversarial, something Leonardo Da Silva would have to live with for the rest of his life.


FONTE PESQUISADA

RUBYTHON, Tom. Fatal Weekend. 1º Edição. Great Britain: The Myrtle Press, 12 de novembro de 2015.




 






quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A Despedida de Neyde Senna e Adriane Galisteu


Livro revela detalhes inéditos sobre o adeus de Neyde, mãe de Ayrton Senna, a Adriane Galisteu.



Trecho a seguir retirado do livro Fatal Weekend (Fim de Semana Fatal), lançado em 2015.

TRADUÇÃO LIVRE

Depois do funeral, a família Da Silva voltou para sua fazenda em Tatuí para começar a reconstruir suas vidas destroçadas. Os Braga e Adriane foram para a fazenda dos Braga em Campinas. Nada seria remotamente o mesmo novamente para qualquer um deles. Por esse pequeno grupo de talvez, 30 pessoas, entre família e amigos próximos no Brasil, as suas vidas nos últimos 10 anos tinham sido unicamente sobre Ayrton Senna - eles não conheciam nada além disso.

A família Da Silva teve um outro problema que, na realidade, só existia em suas mentes. Eles estavam com medo e preocupados de Adriane querer continuar a viver no apartamento de Senna na Rua Paraguai, isso era a última coisa que eles queriam. Neyde da Silva foi a única voz discordante do restante da família quando expressaram seus medos. Ela simplesmente disse-lhes: "Não, ela não vai," e ela estava certa.


Neyde da Silva decidiu que todos eles tinham tratado Adriane muito, muito mal e resolveu fazer algo a respeito. Na sexta-feira seguinte, levantou-se da cama cedo, antes do restante da família e chamou a seu motorista. Ela ordenou ao motorista para levá-la a fazenda de Antônio Braga, onde ela sabia que Adriane estava.


Adriane teve uma surpresa quando Neyde da Silva de repente chegou sem avisar na casa do Braga. Ela queria falar com as pessoas que passaram o tempo com seu filho em seus últimos dias de vida. Neyde e Adriane sentaram-se em um grande sofá na sala de estar do Braga e conversaram por um longo tempo. Antes de ir embora, Neyde planejou encontrá-la no apartamento de Senna onde tinham vivido juntos, para que Adriane pudesse recolher suas coisas. Adriane tinha um monte de coisas lá. Ela tinha vivido com Senna por um ano, e durante o último mês, ela estava sozinha no apartamento enquanto ele estava na Europa.


No portão (do prédio de Senna), enquanto Adriane entrava no carro, Neyde agradeceu Antônio Braga e Luiza por cuidarem dela e a pediu desculpas pela forma como o restante de sua família havia se comportado. Quando Neyde se foi, Braga virou-se para sua esposa e disse-lhe: "É daí que Beco [Ayrton] saiu (Braga quis dizer que Ayrton puxou a mãe)." Luiza assentiu (concordou). Ela não precisava perguntar o que seu marido quis dizer; ela soube instintivamente.

IDIOMA ORIGINAL

After the funeral, the Da Silva family went back to their farm at Tatui to start rebuild their shattered lives. The Bragas and Adriane went to the Braga farm in Campinas. Nothing would ever be remotely the same again for any of them. For that small group of maybe 30 family and close friends in Brazil, their life for the past 10 years had been solely about Ayrton Senna – they knew nothing else.

The Da Silva family had another problem that in reality only existed in their minds. They were scared and worried that Adriane would want to resume living at Senna’s apartment at Rua Paraguai, which was the last thing they wanted. Neyde Da Silva was the only dissenting voice as the rest of the family voiced their fears. She simply told them, “No, she won’t,” and she was right.


Neyde Da Silva decided they had all treated Adriane very, very badly and resolved to do something about it. The following Friday, she rose early before the rest of the family had got out of bed and called for her driver. She ordered the driver to take her to Antonio Braga’s farm where she knew Adriane was.


Adriane got a surprise when Neyde Da Saliva suddenly arrived without warning at the Braga house. She wanted to talk to the people who had spent time with her son in his last days. Neyde and Adriane sat down on a large sofa in the Braga sitting room and talked for a long time. Before she left Neyde arranged to meet her at Senna’s apartment where they had lived together, so that Adriane could collect her things. Adriane had a lot of stuff there. She had lived with Senna for a year, and for the last month she had been alone in the apartment whilst he was in Europe.


At the gate, as she got into her car, Neyde thanked Antonio Braga and Luiza for looking after Adriane and she apologised for the way the rest of her family had behaved. As she left, Braga turned to his wife and said to her: “That is where Beco [Ayrton] got it from.” Luiza nodded. She didn’t need to ask what her husband meant; she instinctively knew.


FONTE PESQUISADA

RUBYTHON, Tom. Fatal Weekend. 1º Edição. Great Britain: The Myrtle Press, 12 de novembro de 2015.