Em entrevista a ZH, ex-piloto diz que jamais abriria
para o companheiro se recebesse ordem de equipe e fala sobre o filho Pedro, que
mira a F-1
Por: Leandro Becker
10/09/2016 - 05h07min | Atualizada em 11/09/2016 -
14h23min
Conhecido pela grande habilidade na pista e pelas
declarações polêmicas, o tricampeão de F-1 Nelson Piquet critica, em entrevista
a ZH por telefone, a formação de pilotos no Brasil, mas entende que talento e
personalidade ainda pesam mais na hora de as equipes escolherem os seus
pilotos.
Por que o Brasil decaiu na F-1?
O principal motivo é não ter um automobilismo de
base forte. Além disso, os autódromos foram se degradando, as verbas do governo
ficaram difíceis, e, nas federações, são poucos que se dedicam de coração. Sem
contar que, se você é ótimo e há um cara melhor, ferrou. Rubinho e Massa
correram na Ferrari, mas tinha o Schumacher.
Até que ponto Massa e Rubinho terem aberto passagem
aos companheiros piorou a relação entre torcida e F-1 no Brasil?
Vai de cada um. Se você quer dinheiro, não tem
condições de ser campeão e o time pede, tem cara que faz, até para não perder o
emprego. Mas se quiser ganhar, é diferente. O (Max) Verstappen (da Red Bull)
tem 18 anos e não admite ser ultrapassado. O episódio do Rubinho virou piada
nacional. Sobre o Massa, repito o que falei após o acidente dele, em 2009, de
que seria difícil voltar a ser um piloto de ponta. Quando me acidentei, bati a
cabeça e perdi a profundidade, nunca mais fui o mesmo.
Você abriria passagem para o companheiro, se o time
pedisse?
De jeito nenhum.
Como vê o futuro de Nasr?
É difícil fazer algo quando se está em um carro
ruim. Se você entra na F-1 pela porta dos fundos, só por ter dinheiro, há uma
opção: pararem quatro ou cinco caras em um mesmo ano e sobrar vaga. Aí você
pode entrar e mostrar algo. Caso contrário, é bem complicado.
O seu filho Nelsinho chegou bem à F-1, mas saiu de
cena após bater de propósito para ajudar Fernando Alonso, em 2008. O que houve
de errado com ele?
Foi uma cagada. Os caras pressionaram, e ele
(Nelsinho) aceitou. Eu enlouqueci. A sorte é que contei tudo ao Charlie Whiting
(diretor de corridas da F-1) ainda naquele ano, e ele disse que, se eu falasse,
ferraria todo mundo. No meio de 2009, a Renault queria tirar o Nelsinho para
botar um francês no lugar (Romain Grosjean). Não aceitei. Disse que, se
tirassem o Nelsinho, eu tiraria o (Flávio) Briatore (chefe da Renault). Sair da
F-1 no meio da temporada é o mesmo que se suicidar (Nelson denunciou o caso à
FIA, Nelsinho foi demitido, e Briatore, banido da F-1).
O Pedro, teu outro filho, ganhou 19 de 26 corridas
na F-3 Brasil. Na F-3 europeia, nem foi ao pódio. O nível é mais alto?
A F-3 é competitiva no Brasil. O motor é mais
potente, e o carro fica muito mais no chão do que na F-3 europeia. Quando ele
estava no Brasil, eu dizia para dar uma volta rápida atrás da outra, sem medo,
porque na Europa tem de andar todas como se fosse classificação.
Nelson Piquet venceu 23 corridas na F-1 e foi
tricampeão mundial, em 1981, 1983 e 1987
Foto: divulgação / divulgação
O que mudou em relação à tua experiência na F-3
Britânica?
Eu treinava o tempo que quisesse. Hoje, é restrito.
O Pedro só tem uma hora e 20 minutos por corrida. É pouco para aprender a
pista. Dos 22 pilotos, 15 estão no segundo ano de F-3. O Pedro precisa do
segundo ano para melhorar. Se não render e tiver cinco melhores do que ele, aí
o jeito é voltar para casa, estudar e fazer outra coisa.
Há interesse de que ele ingresse em uma escola de
pilotos para abrir portas para a F-1?
Tem muito piloto que paga uma banana de dinheiro
para entrar nas escolas. Eu cheguei lá, ganhei todas na F-3 Britânica e fui
para a F-1. Se você ganha, eles te chamam. É o talento que abre portas.
Dá para imaginar quando o Brasil voltará a vencer?
Hoje, a gente não tem ninguém com chance. Tem de ter
sorte e o carro certo. Em um horizonte próximo, a perspectiva não é boa, não.
Por que é tão difícil conseguir patrocínio e apoio?
Teria mais chance se o Ministério do Esporte
facilitasse. Se houvesse uma lei destinando parte do dinheiro da produção de
carros para incentivo, que fosse 0,25%, a situação era outra. Teríamos mais
pilotos lá fora e muitas chances.
Por que você, pelo prestígio que tem, não se envolve
mais?
Não gosto de me misturar com isso aí. Administrei
autódromo em Brasília por 10 anos. Fazíamos muito, mas havia tanta briga... Aí tiraram
da minha mão. Hoje, está abandonado. Há bons exemplos como o Giovanni Guerra,
da Federação do Maranhão, mas ele é um só.
FONTE PESQUISADA
BECKER, Leandro. "É o talento que abre
portas", diz Nelson Piquet sobre seca de vitórias e futuro do Brasil na
Fórmula-1. Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/esportes/velocidade/noticia/2016/09/e-o-talento-que-abre-portas-diz-nelson-piquet-sobre-seca-de-vitorias-e-futuro-do-brasil-na-formula-1-7413912.html>.
Acesso em: 05 de novembro 2016.
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