sábado, 5 de novembro de 2016

"É o Talento Que Abre Portas", Diz Nelson Piquet Sobre Seca de Vitórias e Futuro do Brasil na Fórmula-1

Em entrevista a ZH, ex-piloto diz que jamais abriria para o companheiro se recebesse ordem de equipe e fala sobre o filho Pedro, que mira a F-1

Por: Leandro Becker
10/09/2016 - 05h07min | Atualizada em 11/09/2016 - 14h23min


Conhecido pela grande habilidade na pista e pelas declarações polêmicas, o tricampeão de F-1 Nelson Piquet critica, em entrevista a ZH por telefone, a formação de pilotos no Brasil, mas entende que talento e personalidade ainda pesam mais na hora de as equipes escolherem os seus pilotos.

Por que o Brasil decaiu na F-1?
O principal motivo é não ter um automobilismo de base forte. Além disso, os autódromos foram se degradando, as verbas do governo ficaram difíceis, e, nas federações, são poucos que se dedicam de coração. Sem contar que, se você é ótimo e há um cara melhor, ferrou. Rubinho e Massa correram na Ferrari, mas tinha o Schumacher.

Até que ponto Massa e Rubinho terem aberto passagem aos companheiros piorou a relação entre torcida e F-1 no Brasil?
Vai de cada um. Se você quer dinheiro, não tem condições de ser campeão e o time pede, tem cara que faz, até para não perder o emprego. Mas se quiser ganhar, é diferente. O (Max) Verstappen (da Red Bull) tem 18 anos e não admite ser ultrapassado. O episódio do Rubinho virou piada nacional. Sobre o Massa, repito o que falei após o acidente dele, em 2009, de que seria difícil voltar a ser um piloto de ponta. Quando me acidentei, bati a cabeça e perdi a profundidade, nunca mais fui o mesmo.

Você abriria passagem para o companheiro, se o time pedisse?
De jeito nenhum.

Como vê o futuro de Nasr?
É difícil fazer algo quando se está em um carro ruim. Se você entra na F-1 pela porta dos fundos, só por ter dinheiro, há uma opção: pararem quatro ou cinco caras em um mesmo ano e sobrar vaga. Aí você pode entrar e mostrar algo. Caso contrário, é bem complicado.

O seu filho Nelsinho chegou bem à F-1, mas saiu de cena após bater de propósito para ajudar Fernando Alonso, em 2008. O que houve de errado com ele?
Foi uma cagada. Os caras pressionaram, e ele (Nelsinho) aceitou. Eu enlouqueci. A sorte é que contei tudo ao Charlie Whiting (diretor de corridas da F-1) ainda naquele ano, e ele disse que, se eu falasse, ferraria todo mundo. No meio de 2009, a Renault queria tirar o Nelsinho para botar um francês no lugar (Romain Grosjean). Não aceitei. Disse que, se tirassem o Nelsinho, eu tiraria o (Flávio) Briatore (chefe da Renault). Sair da F-1 no meio da temporada é o mesmo que se suicidar (Nelson denunciou o caso à FIA, Nelsinho foi demitido, e Briatore, banido da F-1).

O Pedro, teu outro filho, ganhou 19 de 26 corridas na F-3 Brasil. Na F-3 europeia, nem foi ao pódio. O nível é mais alto?
A F-3 é competitiva no Brasil. O motor é mais potente, e o carro fica muito mais no chão do que na F-3 europeia. Quando ele estava no Brasil, eu dizia para dar uma volta rápida atrás da outra, sem medo, porque na Europa tem de andar todas como se fosse classificação.

Nelson Piquet venceu 23 corridas na F-1 e foi tricampeão mundial, em 1981, 1983 e 1987
Foto: divulgação / divulgação

O que mudou em relação à tua experiência na F-3 Britânica?
Eu treinava o tempo que quisesse. Hoje, é restrito. O Pedro só tem uma hora e 20 minutos por corrida. É pouco para aprender a pista. Dos 22 pilotos, 15 estão no segundo ano de F-3. O Pedro precisa do segundo ano para melhorar. Se não render e tiver cinco melhores do que ele, aí o jeito é voltar para casa, estudar e fazer outra coisa.

Há interesse de que ele ingresse em uma escola de pilotos para abrir portas para a F-1?
Tem muito piloto que paga uma banana de dinheiro para entrar nas escolas. Eu cheguei lá, ganhei todas na F-3 Britânica e fui para a F-1. Se você ganha, eles te chamam. É o talento que abre portas.

Dá para imaginar quando o Brasil voltará a vencer?
Hoje, a gente não tem ninguém com chance. Tem de ter sorte e o carro certo. Em um horizonte próximo, a perspectiva não é boa, não.

Por que é tão difícil conseguir patrocínio e apoio?
Teria mais chance se o Ministério do Esporte facilitasse. Se houvesse uma lei destinando parte do dinheiro da produção de carros para incentivo, que fosse 0,25%, a situação era outra. Teríamos mais pilotos lá fora e muitas chances.

Por que você, pelo prestígio que tem, não se envolve mais?
Não gosto de me misturar com isso aí. Administrei autódromo em Brasília por 10 anos. Fazíamos muito, mas havia tanta briga... Aí tiraram da minha mão. Hoje, está abandonado. Há bons exemplos como o Giovanni Guerra, da Federação do Maranhão, mas ele é um só.












FONTE PESQUISADA

BECKER, Leandro. "É o talento que abre portas", diz Nelson Piquet sobre seca de vitórias e futuro do Brasil na Fórmula-1. Disponível em: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/esportes/velocidade/noticia/2016/09/e-o-talento-que-abre-portas-diz-nelson-piquet-sobre-seca-de-vitorias-e-futuro-do-brasil-na-formula-1-7413912.html>. Acesso em: 05 de novembro 2016.        





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