ESTA MATÉRIA TEVE UM UPDATE
NO DIA 20/09.2017 ÀS 9h15m.
por Ialdo Belo
terça-feira, 19 de setembro de 2017
formulai.us
Maria Beatris Assumpção Head,
ou simplesmente Betise Assumpção, como é conhecida no mundo esportivo
internacional, é uma mulher que se destaca pela franqueza e pelo espírito de
liderança. Bonita de corpo e de alma, Betise possui um lindo sorriso contagiante,
mas, não se engane, na hora do "vamos ver" essa mulher resoluta traz
à tona toda a sua força. Não poderia ser diferente, afinal ela foi a ungida da
família Senna da Silva para domar o temperamento arredio do seu membro mais
famoso no trato sempre difícil com a imprensa.
O que a própria Betise, nem
ninguém, poderia imaginar é que, devido à circunstâncias trágicas, ela seria
testada até o seu extremo limite, tendo que enfrentar o impensável, como
veremos a seguir.
Ialdo Belo: Você conheceu Ayrton
através de um amigo da sua irmã, foi isso?
Betise Assumpção: Não, na realidade eu já
havia entrevistado ele algumas vezes quando ele ainda corria de F-Ford inglesa
e vinha se destacando. Eu era "foca" (repórter iniciante) na seção de
esportes do Estadão e eles passavam essas matérias consideradas Esporte Amador
pra gente. Depois eu estava trabalhando na Placar e o Ayrton foi indicado para
o prêmio de "Desportista do Ano", foi a primeira vez que um atleta
que não era de futebol foi indicado e ele venceu, então, me encarregaram de
fazer a matéria. Fui lá, entrevistei, conheci a família, etc...
Um dia eu estava em Londres,
na casa da minha irmã e o Paulo, um amigo em comum dele e dela, ligou e
perguntou se o Ayrton poderia estacionar o carro na vaga da casa dela para ir
ao torneio de tênis Wimbledon. Quando Ayrton chegou lá e me viu, perguntou o
que eu estava fazendo ali. Expliquei que tinha deixado o Brasil e estava
tentando conseguir trabalho na Inglaterra. Ele me convidou para jantar no dia
seguinte.
Ialdo Belo: Foi um "date"
(encontro)?
Betise Assumpção: Nãoooo... Era um jantar
de comemoração com a Honda, estavam juntos o Paulo e mais um seis japoneses.
Ayrton não me contou nada, depois soube que ele estava levando a Honda para
McLaren com ele.
Ialdo Belo: E o convite para
trabalharem juntos?
Betise Assumpção: Veio mais ou menos um ano
e meio depois. O pai dele me ligou e aceitei.
Ialdo Belo: A família dele se fazia
muito presente, né?
Betise Assumpção: Sim, eles não confiavam
em ninguém.
Ialdo Belo: Outro dia li uma matéria
numa publicação inglesa que dizia que Senna tinha vindo de uma família
milionária. Achei estranho...
Betise Assumpção: Eles eram de classe
média, da Zona Norte de São Paulo, mais conservadores.
Acho que o pai dele tinha uma
indústria de autopeças.
Ialdo Belo: Não sei... E como foi no
início do trabalho?
Betise Assumpção: Uma loucura! Na época,
nenhum piloto tinha um assessor de imprensa. Comecei acompanhando Ayrton nos
finais de semana de corridas, chegava na quinta-feira e ficava até
segunda-feira.
Era uma bagunça, não existia
essa organização de hoje. Os repórteres apareciam e iam perguntando o que
queriam, depois publicavam o que não tinha sido dito... Os da TV se achavam
mais importantes do que os outros, tinha empurra-empurra e até briga. Cheguei e
fui logo botando ordem na casa! "Você é da TV? Ótimo, seu lugar é ali.
Mídia impressa? Por aqui." Então estabelecia coisas como "cada um tem
direiro a duas perguntas, em inglês ou português." e gravava tudo, sempre.
Se publicasse o que não foi dito, nunca mais teria uma entrevista com o Ayrton.
A gente saía do autódromo lá pelas cinco e meia da tarde e se não dava para
atender todo mundo eu anotava o nome e depois retornava. O Ayrton não gostava,
mas eu dizia pra ele que era importante, que havia prometido.
Sempre gravando as
entrevistas de Senna
IB: Na verdade você implantou
a sistemática que a F1 adotou e utiliza até hoje... E como era ele no
dia-a-dia?
BA: Muito ativo, sempre.
IB: Quais eram os verdadeiros
amigos dele?
BA: Braguinha, Galvão e o
Marquinhos do Banco Nacional, mas Braguinha era o único pra quem ele contava
tudo.
IB: Conta uma história
engraçada.
BA: Uma vez ele estava com a
Adriane Galisteu no McDonald´s e o confundiram com Alain Prost (risos).
IB: E uma marcante?
BA: Quando o Piquet sofreu
aquele acidente na Indy, os pilotos da F1 pegaram um pôster e foram escrevendo
mensagens, um por um. Aí vieram me pedir para levar pro Ayrton escrever também.
Eu peguei e falei: "Ok! Esperem que tem que ser na hora certa."
Fiquei aguardando o momento propício e fui lá falar com ele, que olhou e fez
questão de ler cada mensagem. Tinha uma de um piloto italiano, o Nicola Larini.
Nela estava escrito: "Nelson, não se preocupe que a perna mais importante
é a do meio." Ayrton deu uma risada e disse: "Essa aqui é a que ele
vai gostar mais." Daí pegou a caneta e escreveu a mensagem dele. Senti que
foi de coração. Eles eram inimigos, ele poderia ter tido "não vou escrever
m#$% nenhuma!" Mas, realmente ele quis escrever.
IB: Eu estava no Brasil
quando Senna morreu e a Globo achou o Piquet lá em Santa Catarina e
foi entrevistá-lo. Não sei se você teve a oportunidade de ver isso depois,
Betise, mas eu nunca tinha visto o Nelson tão abalado...
BA: Acho que vi o tape
depois...
Com Rubinho e Senna
IB: O que você tem a dizer
sobre o acidente?
BA: Tudo o que eu tinha pra
dizer está lá no meu blog. Vai lá e lê.
IB: Eu li seu blog, mas
existem diversas versões na imprensa atribuídas a você. Essa história de
confundir "head" com "dead"...
BA: O Bernie foi muito seco.
Ele chamou o Leonardo (irmão de Ayrton) no motorhome e não queria me deixar
entrar. Então eu disse: "Mas ele não fala inglês." e ele teve que
permitir meu acesso. Simplesmente olhou pra mim e falou: "Senna está morto,
mas não vamos anunciar até o final da corrida." Só, mais nada! Então eu me
virei pro Leonardo e traduzi, pedindo para que ele avisasse a família. Ele
entrou em desespero, chorava muito. Pegou o telefone e ligou para o Brasil.
Depois entrou na sala o assessor de imprensa da FIA Martin Whitaker falando que
ele tinha dito à imprensa que Ayrton estava vivo, que tinha sofrido lesões na
cabeça e aí eu me revoltei porque o Leonardo já tinha avisado aos pais que ele
estava morto e o Martin continuava afirmando que não, que ele estava vivo. Daí
o Leonardo ligou de novo para o Brasil contando a nova versão.
IB: Se você sabia que era
mentira, por que não foi lá e contou pra imprensa brasileira?
BA: Porque não era meu papel.
Eu era assessora do Ayrton. Imagina minha situação, eu tendo que tirar a
esperança que tinha sido dada a família? Pra ser sincera, eu mesma comecei a
acreditar naquilo.
IB: Que situação terrível...
BA: Pura canalhice!
IB: E vocês foram para o
hospital.
BA: Sim e chegando lá eu
encontrei o Sid Watkins e exigi a verdade. Ele então disse que Ayrton realmente
havia morrido na pista, que pela gravidade dos ferimentos não seria possível
não ter morte cerebral, e eu com a família dele ao telefone lá do Brasil me
indagando, aí me virei pra ele e falei: "Você explica aqui a
situação." E passei o telefone pra ele.
IB: No Brasil, um monte de
gente vive dizendo que viu Senna morto. Quem realmente teve acesso ao corpo?
BA: Somente Berger e um padre
que chamaram. Aí eu estou lá e veio um brasileiro que trabalhava em rádio, não
lembro quem foi, me avisar: "Betise, o padre tá lá dando entrevista pra TV
dizendo que a cabeça do Senna tá do tamanho de uma melancia!" E lá fui eu
correndo pra ver o que estava acontecendo. O filho da mãe do padre dando
detalhes, um horror!
IB: E você tomou controle da
situação com respeito ao traslado do corpo, essas coisas?
BA: A parte burocrática ficou
com o Celso Melo. Dona Neide não queria que o traslado fosse feito na área de
carga do avião. Vieram juntos, na Executiva improvisada para transportar o
caixão, o Galvão, Reginaldo, eu e mais umas poucas pessoas. Os outros
jornalistas estavam na Turística.
IB: Aí houve o funeral no
Brasil e teve uma hora em que você teve que tomar a frente da história tipo
quem ia carregar o caixão, a Adriane Galisteu...
BA: Tá tudo lá no blog...
IB: E você ficou no Brasil?
BA: Fiquei até agosto. Aí
voltei para a Europa e fui pedir uma credencial para assistir ao GP em Spa. O Bernie se
recusou. Quem conseguiu pra mim foi o Jayme (Brito, responsável pelas
transmissões da F1 pela Rede Globo), ele me credenciou como se fosse uma
produtora da TV. Fui assistir nos boxes da Williams.
IB: E daí reencontrou Sir
Patrick Head...
Sir Patrick, o filho Luke e
Betise
BA: Sim e depois de uns meses
começamos a namorar. Ele já tinha me chamado para sair algumas vezes e eu havia
recusado, mas aí de repente veio a química e ficou complicado.
IB: Por quê?
BA: Porque eu havia mudado
para Paris no início de 1994. Queria uma mudança na minha vida. O Patrick
morava em Londres e depois de um tempo eu disse pra ele que teríamos que tomar
uma decisão e foi aí que nós casamos e voltei para a Inglaterra. Ficamos juntos
por treze anos, tivemos um casal de filhos e hoje estamos divorciados.
IB: Os brasileiros são muito
passionais, sabia que tem pessoas com raiva de você por ter se casado com Sir
Patrick, condenado por homicídio involuntário pela justiça italiana no caso da
morte do Senna, tipo "ela está dormindo com o inimigo?
BA: A minha relação com o
Ayrton era puramente profissional. com Patrick é pessoal. Ainda existe, pois
sou mãe de dois filhos dele.
O que aconteceu foi um
acidente, ninguém queria matar o Ayrton. Ele correu porque quis. O Sid Watkins
falou pra ele no sábado: "O Ratzenberger morreu na pista, esta corrida não
deveria acontecer. Não corra. Vá pra casa, vá pescar. Largue a F1, você não
precisa disso."
Ele quis correr assim mesmo.
Aconteceu, foi uma fatalidade.
IB: O Emerson me disse que
nunca pensou que o Senna pudesse morrer numa corrida e eu também pensava a
mesma coisa.
BA: Eu também.
IB: E seus filhos, gostam da
F1?
Os filhos, em foto de sete
anos atrás
BA: Detestam! O Luke ainda
tentou assistir umas duas vezes, mas não passou da largada. Acha tudo muito
chato. O negócio dele é participar de campeonatos de jogos no computador. Está
treinando para em dezembro participar de um com premiação de um milhão! Já
minha filha é roqueira, guitarrista de uma banda. Adora tocar uma música
chamada "Brazil", do Declan McKenna.
Betise e o filho Luke, The
Video Gamer
IB: E como é a sua vida hoje,
ainda ligada de alguma forma a F1?
Tempos felizes na F1 com as
então esposas de Montoya, Brito e Berger
BA: De jeito nenhum! Nunca
gostei da F1 antes de trabalhar com o Ayrton, achava chata! Passei a gostar
enquanto trabalhava com ele e depois quando acompanhava meu então marido. Hoje
está mais difícil para um brasileiro vencer, então, nem assisto mais. Não fui à
nenhuma corrida depois que me separei do Patrick.
Tenho uma empresa
especializada em marketing de imagem corporativa, não mais só assessoria de
imprensa. Realizamos trabalhos para as Olimpíadas de Londres e do Rio e para a
Copa do Mundo no Brasil, mas não somos restritos só ao esporte, temos clientes
de outros segmentos.
A honra de carregar a tocha
olímpica
Vou dar um exemplo do nosso
trabalho: imagine uma empresa de moda acertar com a Kim Kardashian para ela
usar um determinado colar. Isto vai ter um custo X. Mas temos na nossa equipe
pessoas que ficam só monitorando as redes sociais e aí elas descobrem que se
acertarmos com dez seguidores da Kim, formadores de opinião e com alta
credibilidade, teremos um alcance e uma resposta muito maiores pagando muito
menos, entendeu?
IB: Claro, também sou
publicitário e este é o marketing do século XXI.
Vou publicar seus contatos
aqui porque nada me faria mais feliz do que ver você fechar um contrato graças
ao Formula i.
BA: Eu também!
Ambos caem na gargalhada.
Twitter @betisehead
Instagram @betisehead
Blog
www.betisesportsworld.net
No conforto do lar em Londres
TODAS AS FOTOS SÃO DO ARQUIVO
PESSOAL DE M. BEATRIS ASSUMPÇÃO HEAD
FONTE PESQUISADA
BELO, Ialdo. Não gosto da F1 - diz em
entrevista exclusiva Betise Assumpção. Disponível em: <http://www.formulai.us/2017/09/odeio-formula-1-desabafa-em-entrevista.html?spref=fb>.
Acesso em: 20 de setembro 2017.
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