quarta-feira, 28 de março de 2018

Há 25 anos, Senna era erguido pelo povo após vencer em Interlagos

No dia 28 de março de 1993, tricampeão mundial aproveitava temporal e conquistava épica vitória no Grande Prêmio do Brasil, mesmo contra o favoritismo absoluto da Williams


Por Fred Sabino, Rio de Janeiro
28/03/2018 08h00  Atualizado há 10 horas
GE - Globo Esporte - globoesporte.globo.com

O dia 28 de março de 1993, há exatos 25 anos, ficou marcado pelo momento da comunhão sublime entre Ayrton Senna e seu povo. A vitória épica no Grande Prêmio do Brasil, a segunda do tricampeão em Interlagos, teve ingredientes tão incríveis que, lembrados hoje, parecem ter recebido a bênção divina.

O que era para ser um passeio do rival Alain Prost na Williams "de outro planeta" virou um concerto do maestro das águas Senna, com direito a batida do francês, drible antológico em Damon Hill, sorte para o carro não quebrar, audiência monstruosa na TV, e até mesmo comemoração com Pelé.


O GP do Brasil era o segundo do campeonato de 1993. Na primeira prova, na África do Sul, Prost venceu, mas Senna surpreendeu ao ficar em segundo depois de quase conquistar a pole e dar um calor no francês no começo da corrida. De qualquer forma, Kyalami era uma pista mais travada. Em Interlagos, com pontos em subida e o trecho da Junção ao "S" do Senna em aceleração plena, era para o motor Renault V10 da Williams sobrar em relação ao Ford V8 da McLaren.

Prost e Hill formavam a dupla da Williams em 1993 (Foto: Getty Images) 

E nos treinos sobrou mesmo. Prost levou sua Williams FW15 cheia de eletrônica, com controle de tração e suspensão ativa plenamente desenvolvidos, a uma pole esmagadora. O francês foi 0s993 mais rápido do que o companheiro de equipe Damon Hill e ficou 1s831 à frente de Senna, o terceiro no grid. Ou seja, em condições normais, o passeio de Prost era uma formalidade.

- Interlagos exige talento do piloto. Senna está na segunda fila e não na primeira como ele pretendia, mas tem tudo para fazer uma boa largada. É claro que é muito difícil a tarefa do Senna, mas corrida é corrida! Numa dessa, alguma coisa pode acontecer - comentava Reginaldo Leme pouco antes da largada, de forma profética.

De fato, Senna largou bem e tomou o segundo lugar de Hill, enquanto Prost disparava. Ayrton se segurava como podia, mas no retão de Interlagos não havia como impedir a ultrapassagem da Williams-Renault de Damon Hill, o que aconteceu na 11ª volta de um total de 71.

Pior: na 24ª passagem, o tricampeão teve de ir aos boxes para cumprir uma punição de stop and go por uma ultrapassagem sobre o retardatário Eric Comas (Larrousse) sob bandeira amarela. Senna ficou possesso, e depois alegou que o francês tirou o pé e abriu deliberadamente, e não havia como evitar a ultrapassagem. De qualquer forma, Ayrton ficava longe, muito longe, dos três primeiros.

Senna ficou para trás nas primeiras voltas do GP do Brasil de 1993 (Foto: Getty Images)

Temporal de emoções

Aí veio a primeira intervenção divina.

Choveu, e choveu para valer, a partir da 27ª volta. Senna tomou primeiro a iniciativa de colocar os pneus de chuva, e acertou na mosca. Prost e a Williams hesitaram devido a uma falha de comunicação no rádio. Um erro fatal.

- Olha o Prost escorregando com pneu slick. Ele tem de tomar muito cuidado para que isso não vire um prejuízo definitivo para ele - previu Galvão Bueno na transmissão da Globo.

Dito e feito: na 30ª volta, Prost passou direto pela entarda dos boxes pela segunda vez. Uns 300 metros depois, na já alagada freada do "S" do Senna, o francês perdeu o controle da Williams e atingiu a Minardi de Christian Fittipaldi, que arriscara não trocar os pneus e também havia rodado.

Aí veio a segunda intervenção divina.

Aguri Suzuki estampou sua Footwork no muro da reta dos boxes e o safety car, uma novidade na época, foi acionado. Carros reagrupados e Ayrton, que chegara a dar uma escapada no "S" do Senna já com pneus de chuva, era o segundo, com apenas um carro (Derek Warwick, Footwork) entre ele e o novo líder Damon Hill. Senna tinha os batimentos cardíacos monitorados, e o coração estava a incríveis 195 bpm na hora da chuva.

Senna à frente de Schumacher após a relargada no GP do Brasil de 1993 (Foto: Paul-Henri Cahier/Getty Images) 

O safety car deixou a pista na abertura da 37ª volta e, naquele momento, a chuva já havia passado, com boa parte do traçado já secando. No fim da volta 40, Senna arriscou os pneus slicks e Hill fez a troca na passagem seguinte. Com os pneus já aquecidos, Ayrton deu um drible genial em Hill na freada para o Laranjinha e assumiu a liderança, mesmo mergulhando a McLaren fora do trilho seco. Com a pista ainda molhada em alguns pontos, Senna deixou Hill para trás e partiu para a vitória.

Aí veio a terceira, e definitiva, intervenção divina.

Já com grande vantagem no fim da prova, Senna controlava essa diferença, quando na última volta acendeu no cockpit a luz vermelha de queda de pressão do óleo no motor Ford. Com cuidado, Ayrton cruzou a linha de chegada e venceu pela segunda vez o GP do Brasil. Interlagos pulsou como nunca. E o motor Ford, sabe-se lá por que, só parou de funcionar na volta da vitória, menos de um quilômetro depois da linha de chegada.

Ayrton Senna no GP do Brasil de 1993 (Foto: Agencia Estado) 

Público invadiu a pista após a vitória de Senna em 1993 (Foto: Reprodução)

Com a McLaren de Senna parando na reta oposta, o público invadiu a pista e cercou o carro. Ayrton literalmente apanhou como nunca dos fãs, mas, como num épico, terminou carregado pelo seu povo. Senna voltou aos boxes no safety car e recebeu do pentacampeão Juan Manuel Fangio, seu grande amigo, o troféu pela vitória, a centésima da McLaren na F1.

Abre parêntese: além de Fangio e Senna, estavam no pódio o segundo colocado Damon Hill e o terceiro Michael Schumacher, numa união de 16 títulos mundiais. Fecha parêntese.

Senna e Fangio no pódio do GP do Brasil de 1993 (Foto: Getty Images)

Senna deixou o autódromo em seu helicóptero com Galvão Bueno, que fez entrevista exclusiva para o Fantástico no escritório do tricampeão. Aliás, o Ibope daquela corrida em São Paulo chegou a impressionantes 48 pontos, o equivalente a 2,8 milhões de TVs ligadas.


Depois de jantar com os pais, Senna comemorou a vitória na casa noturna Limelight. A festa teve simplesmente a presença de Pelé, e o champanhe rolou à vontade.

Em meio a tantas intervenções divinas, aquele 28 de março de 1993 acabou com dois mitos do nosso esporte reunidos. É ou não algo divino?



FONTE PESQUISADA

SABINO, Fred. OTD #2: Há 25 anos, Senna era erguido pelo povo após vencer em Interlagos. Disponível em: <https://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/blogs/f1-memoria/post/2018/03/28/otd-2-ha-25-anos-senna-era-erguido-pelo-povo-apos-vencer-em-interlagos.ghtml?utm_source=Twitter&utm_medium=Social&utm_content=Esporte&utm_campaign=globoesportecom>. Acesso em: 28 de março 2018.


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