domingo, 25 de abril de 2021

Senna não inclui Lotus de Piquet entre os favoritos de 89

 D-2 ESPORTES – Sexta-feira, 18 de novembro de 1988.

Folha de S. Paulo

Da Reportagem Local

Senna dá entrevista em Cumbica com uma garota da Marlboro ao fundo, contratada pelo patrocinador da McLaren

Ayrton Senna não considera a Lotus como uma das equipes com chances de vencer o Mundial de Formula 1 em 89. O campeão de 88 desembarcou anteontem no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos (município da Grande São Paulo), vindo de Buenos Aires, Argentina, em voo fretado, Senna chegou às 22h30 e concedeu uma entrevista coletiva no aeroporto. Questionado sobre quais seriam seus adversários principais no ano que vem ele respondeu: "Os mesmos de sempre.” Depois pensou e detalhou citando a Ferrari, Wiliams, Benetton e March. A Lotus de Nelson Piquet e Satoru Nakajima não foi includa na lista. 

Antes de começar a entrevista, Senna tentou encontrar os torcedores que esperavam por ele no saguão de desembarque. Eram cerca de 300 pessoas, segundo avaliação da assessoria de imprensa da Infraero. O encontro não foi possível. Quando o piloto apareceu através do vidro que divide o saguão da sala de bagagens, os torcedores invadiram a alfandega, causando correria entre os fiscais aduaneiros e os policiais federais que estavam no local. Senna voltou correndo e os torcedores tentaram alcança-lo até a entrada do "Free-Shop". Nessa hora os policiais se reagruparam e organizaram contra-ofensiva para limpar a sala.

Antes de ser "devorado" pelos fãs, Ayrton preferiu enfrentar a imprensa. Ele começou a entrevista pedindo desculpas pela falta de atenção com os repórteres em 88. "Foi um ano que exigiu muito do meu esforço", e disse também que só conseguiu ter a noção efetiva de que era o novo campeão quando chegou na Austrália.

Ayrton não tem planos para o período que vai ficar no Brasil. Segundo ele, tudo vai se resumir em descansar. "Em 15 dias tenho que pegar no batente de novo" disse. Senna participa dos testes coletivos que a maioria das equipes vai realizar na Espanha, em Jerez de la Frontera, nos primeiros dez dias de dezembro.

Sobre a temporada do ano que vem, Senna comentou que "o melhor desafio vai ser dos técnicos". São eles que devem fazer os carros de acordo com o novo regulamento, segundo o piloto. Nessa hora, Ayrton comentou o potencial do novo motor aspirado da Honda. Por conta do bom desempenho do equipamento nos testes realizados em Imola, antes do GP do Japão, Senna acha que a McLaren será muito competitiva em 89.

O campeão mundial evitou comentários polêmicos sobre seu companheiro Alain Prost e também sobre a McLaren e a Honda. Todas as vezes que os jornalistas citavam alguma declaração do francês para ouvir a opinião do brasileiro ele se esquivava. Em geral dizia: "Prefiro não acreditar que essa declaração seja verdadeira". Quando o assunto passou a ser as acusações contra a Honda ou a McLaren pelo fato suspeito de favorecimento desigual aos pilotos. Ayrton procurou ser enfático. Disse que considera uma ofensa para as duas empresas qualquer dúvida quanto à honestidade e ao profissionalismo de seu trabalho.

Mesmo elogiando o profissionalismo de sua equipe, Senna fez críticas a ela. Elas aconteceram quando o campeão foi consultado sobre a reação dos Ingleses aos acidentes sofridos por ele em Mônaco e Monza. Ayrton disse que a McLaren chamou sua atenção em Mônaco, porque ele não voltou aos boxes para explicar o acidente que o tirou da prova a 11 voltas do final, indo direto para a sua casa a 500 metros do local da batida. "Mas isso aconteceu", retomou. "Eles também falharam comigo no GP do Rio, que era importante para mim e eu fiquei com a alavanca de câmbio na mão, na hora da largada" completou Senna. A importância do GP do Brasil foi ressaltada por ele mais uma vez: "Talvez agora meu maior desejo seja ganhar aqui", revelou. Senna comentou também a possibilidade de a Fórmula 1 voltar a Interlagos. Para ele, a pista paulista tem todas as condições de sediar uma prova do Mundial, e isso só não acontece por "motivos políticos".

No fim da entrevista Senna reclamou de alguns veículos de imprensa que "não foram leais" a ele durante o ano. "A folha de S. Paulo é um exemplo puro" desses veículos, disse Ayrton.

Patrocinador contrata torcida

Os patrocinadores do campeão mundial de Fórmula 1 de 88 armaram um mini-evento para recebê-lo, ontem à noite no aeroporto de Cumbica. Até torcedores contratados estiveram lá. A entrevista coletiva foi realizada no primeiro andar do prédio da Infraero. Pela avaliação da assessoria de Imprensa do Piloto "mais de 500 pessoas compareceram ao local".

Foi uma recepção típica: até o beijoqueiro José Alves de Moura compareceu para se juntar a um público bastante eclético: membros da TAS, Torcida Organizada Ayrton Senna, funcionários do aeroporto, fãs avulsos, 20 bateristas da escola de samba Nenê de Vila Matilde, jornalistas e membros de uma "torcida" do Banco Nacional, patrocinador pessoal de Senna.

Além dos ritmistas de Vila Matilde, os que faziam mais barulho era os torcedores do Nacional. Um deles Aldo Dellore, 17, disse que os 50 "torcedores", 25 rapazes e 25 moças, foram contratos por uma agência de publicidade para a recepção. Cada um recebeu Cz$ 6 mil e uma camiseta pelo serviço, segundo Dellore, Todos usavam um boné com o nome do banco mas, segundo disseram, o boné teria que ser devolvido.

A assessoria de imprensa do piloto admitiu que "havia pessoas" contratadas pelos "patrocinadores" e disse que isso é normal na F-1. O responsável pela área de promoção do Nacional, Carlos Souza, foi procurado pela reportagem da Folha, até o fechamento desta edição mas, segundo sua secretária, estava em reunião.


FONTE PESQUISADA

SOLO, Lourdes. Senna não inclui Lotus de Piquet entre os favoritos de 89. Folha de S. Paulo, 18 de novembro de 1988, D-2 Esportes.


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