Postado por Diogo Mourão | jul 9, 2021
É possível traçar um paralelo entre as histórias de Gabriel Medina e Ayrton Senna. Ambos ficaram mais felizes, mas suas escolhas não foram bem recebidas pelas famílias.
Todo este barulho em volta do casal, motivou-me a escrever sobre algo que venho pensando desde que a briga de Medina com a família virou assunto nacional. Guardemos devidas proporções, por favor, mas tracei um paralelo entre as histórias Yasmin & Medina e Ayrton Senna & Adriane Galisteu. Adriane parecia levar ao tricampeão mundial de Fórmula-1 a leveza que ele nunca tinha mostrado antes. Desde que começara a namorar a então modelo, Senna aparentava estar mais feliz, mais sorridente.
O mesmo ocorre com Medina na atual temporada ao lado de Yasmin. O bom astral aparece nos resultados espetaculares, que inclusive o garantiram nas finais mundiais (WSL Finals), além da espontanedade antes nunca vista, durante as entrevistas após baterias. Um Medina menos contido, sem medir tanto as palavras.
Não havia as redes sociais para Senna e Galisteu compartilharem momentos de amor e felicidade com todos, como fazem hoje Medina e Yasmin. Era uma época de observações nas corridas e nos momentos que Senna passava em sua casa de Angra dos Reis (RJ), por exemplo.
Como setorista de F-1, muitas e muitas vezes fui mandado até Portogalo, onde ficava a casa do piloto, para fazer um plantão na esperança de que ele falasse com a imprensa, o que deve ter acontecido uma, no máximo duas vezes, em anos sentado numa pedra. Geralmente com três, quatro palavras, sem responder nada e apenas mostrar um bilhete pedindo para que o deixassem em paz, apesar de ele saber que ídolos não têm paz.
De longe, era possível ver alguns cômodos da casa e o jardim grande. Invariavelmente, Senna passava alguns momentos se divertindo no mar, na maioria das vezes esquiando. Maravilha para os fotógrafos, já os repórteres não tinham nada o que comemorar, apenas a tradicional parada numa churrascaria na volta.
Atenção aos detalhes
No jornalismo, observar os detalhes é importante, pois pode ser que os detalhes só venham a ser usados lá na frente. É no “lá na frente”, que peguei um tubo (túnel) do tempo para traçar o paralelo entre os ídolos e suas respectivas paixões, Yasmin e Galisteu.
Senna nunca chegou a romper com a família como Medina, mas passou a usar seu tempo livre para namorar, roubando sua presença dos encontros familiares. Quando estava em Angra com Adriane, normalmente ficavam sozinhos, sem parentes por perto, e ele gastava menos tempo na água, para desespero dos fotógrafos. Minha opinião era que, pela primeira vez, Senna estava gostando mais de ficar com a namorada do que entre motores (mesmo que de lanchas), velocidade e adrenalina.
Ao que parece, Yasmin não foi bem recebida pela família do bicampeão mundial de surfe. A família do tricampeão de F-1 nunca fez barulho, mas era claro que não gostavam muito da mulher que poucos anos trabalhava como modelo de feiras e eventos. Preferiam a namorada anterior, ninguèm mais, ninguém menos que Maria da Graça Xuxa Meneghel.
Senna e Adriane ficaram juntos por pouco mais de um ano, até o fatídico acidente na curva Tamburello, em 1 de maio de 1994. Impressionante como até hoje, só de lembrar, me embrulha o estômago.
Fui designado para ir a São Paulo acompanhar os funerais. Uma das coberturas mais cansativas e emocionantes que fiz. Passei a noite na Assembleia Legislativa, acompanhando o velório. Mais uma vez, minha principal atividade era observar. Ver quem passava por lá, como eram recebidos, quem ficava mais tempo, etc. No dia seguinte, mais observações, desta vez no cemitério, onde ocorreria o sepultamento, em local sem acesso à imprensa.
Muita atenção aos detalhes
Tive a ajuda do fotógrafo Daniel Augusto Jr, fundamental para juntar as peças e escrever uma das matérias mais comentadas do dia seguinte, na qual mostramos a forma diferente com que Xuxa e Adriane foram tratadas pela família do piloto morto.
Para montar o quebra-cabeça, entraram informações da época da pedrinha em Portogalo e muito do que observei nos funerais, além do que Daniel, que estava dento no cercadinho do sepultamento, me contou.
No velório, o encontro das duas foi evitado com passagens em momentos diferentes, embora separados por poucos minutos. Já foi possível perceber um tratamento diferente e mais frio para Adriane, mas nada assim que valesse registro. Porém, no enterro, tudo ficou mais evidente.
Xuxa chegou no segundo carro da comitiva, logo atrás ao veículo que trazia a família, enquanto Adriane, num dos últimos. Durante o sepultamento, como me relatou o repórter fotográfico Daniel, Xuxa sentou-se ao lado do irmão de Senna, Leonardo, enquanto Adriane ficou numa fila mais distante. Na saída, o fato mais marcante, decisivo para a publicação da matéria e que transcrevo exatamente como foi publicado em 1994.
“Na saída, o momento de maior constrangimento para Adriane. Depois de se despedir de todos os pilotos, ela se dirigiu ao carro que levaria a família até o aeroporto. Foi breve: entrou e saiu em menos de um minuto. Fez todo o percurso até a saída do cemitério a pé. Lá fora, embarcou no ônibus reservado para os amigos da família”
“Antes de deixar o local do enterro, Xuxa se abaixou, pegou uma flor no chão, a beijou e depois a devolveu ao solo. Caminhou então para o carro da família, acompanhada por Viviane, a irmã de Senna”.
De volta ao surfe
Bom, vamos sair desta viagem por dentro do deste tubo do tempo e voltar para Yasmin e Medina. Da minha parte, fica a torcida para que ele consiga botar uma pedra no assunto e concentrar-se em ir buscar uma medalha na estreia do surfe nas Olimpíadas. Pelo que conhecemos do fenômeno, as possibilidades são enormes, mesmo com esse turbilhão de coisas ao redor.
Boa sorte, Medina!
FONTE PESQUISADA
MOURÃO, Digo. Dilema de Gabriel e Yasmin gera comparação inevitável com Ayrton e Adriane. Disponível em:<https://origemsurf.folha.uol.com.br/2021/07/09/dilema-gabriel-yasmim-gera-comparacao-com-ayrton-e-adriane/>. Acesso em: 11 de julho 2021.
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