Enquanto o pai de Ayrton,
Milton da Silva, foi processado por pratica de trabalho escravo, Senna tratava e cuidava muito
bem de todos os seus empregados. Como revelado por muitos deles depois de
sua morte.
Leia também:
O doutor da F1, Sid Watkins, também falecido, contou uma história muito tocante: em certa ocasião Ayrton e
Sid pescaram muitos peixes e o campeão teve a gentileza de leva-los para
os trabalhadores de sua fazenda.
Na fazenda de Tatuí
Em março de 1993, na
quinta-feira antes dos treinos para o Grande Prêmio do Brasil de Interlagos,
convidou-me para ir pescar na sua fazenda, que ele adorava. Encontrei-me com
ele no circuito após a inspeção médica e ele levou-me de helicóptero, com uma
pequena parada no terraço do seu escritório. Uma vez chegados à fazenda deu-me
o seu próprio quarto para eu dormir nessa noite. Tinha mandado repovoar o lago
em frente da fazenda há uns anos e pescamos com canas, linha fixa (sem carretos)
e grãos de milho como isca. E não parávamos: em cerca de uma hora já tínhamos apanhado
uns trinta peixes de bom tamanho. Mandamos embrulhá-los para serem levados para
a aldeiazinha onde viviam os seus trabalhadores.
Nessa noite houve uma grande
tempestade e ficamos sem eletricidade e sem telefone. Eu tinha de telefonar
para casa, de modo que fomos a uma cidade a alguns quilômetros. Pegando num
jeep de tração às quatro rodas lá ia Ayrton contentíssimo e acelerando nas
entradas enlameadas. Sessenta quilômetros adiante chegamos a uma cidadezinha e
tentamos uma cabina telefônica sem sucesso. Tínhamos uma garagem perto é o mecânico
reconheceu Ayrton, mas não nos deixou fazer uma chamada intercontinental. Senna
foi muito simpático e, com a sua habitual humildade, não tentou puxar dois galões.
Pedi a Ayrton para explicar que podia usar meu cartão da British Telecon, e
assim a garagem não teria despesas. Desta forma conseguimos falar. Quando saímos
havia já uma grande quantidade de jovens pedindo autógrafos, que Senna assinou
debaixo de um candeeiro. Voltamos para a fazenda e Ayrton contou ao pai, com
alguma admiração:
– Sid tem um cartão ótimo com um número, e pode-se
falar com ele para todo o mundo.
Eu julgo que tínhamos uma relação
pouco usual. Quando vinha a Londres, vinha ao East End, para almoçarmos num dos
restaurantes chineses locais, perto do hospital. A clientela nunca conseguiu
assegura-se se era ou não Senna. Havia uns olhares curiosos de tempos a tempos –
mas não era possível que fosse Senna comendo num modesto restaurante nas ruelas
estreitas de East End, no bairro mas pobre de Tower Hamlets. Ou seria?
Ayrton Senna e Adriane Galisteu em tarde romântica na fazenda Tatuí no interior de São Paulo
Não há nada que possa
acrescentar ao que já foi escrito sobre ele como piloto. Como homem era tão dedicado
a sua pilotagem e ao seu esporte que enfurecia e alienava muita gente no mundo
da F1 – pilotos, funcionários e imprensa. Mas ele tinha esta outra face que eu
conhecia tão bem.
Senna segura os milhos plantados em sua fazenda. Ele adorava tomar café da manhã com esses milhos e manteiga, também produzida em sua fazenda
Senna e dr. Sid Watkins
FONTE PESQUISADA
SANTOS, Francisco. Ayrton Senna Saudade. Edição Brasileira. São Paulo: EDIPROMO, 1999.
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