Piloto faleceu após acidente
no GP de San Marino, em 1994
Ayrton Senna em 1994
POR O GLOBO
12/07/2015
8:44 / ATUALIZADO 12/07/2015 10:36
Ayrton Senna bate no muro da curva Tamburello, em Ímola,
durante o GP de San Marino, na Itália
Ricardo Leoni / Arquivo
Nunca houve um domingo como
aquele 1º de maio de 1994, quando O GLOBO testemunhou, no circuito de Ímola, no
GP de San Marino, a morte do tricampeão mundial de Fórmula-1 Ayrton Senna, em
um acidente trágico com sua Williams na curva Tamburello.
A morte de Senna em plena
ação lhe conferiu a aura de um mártir. Atualmente com 75 anos, 50 deles
dedicados ao jornalismo, o colunista de F-1 do GLOBO, Celso Itiberê, na época
ia a todas as provas do esporte que cobre há praticamente quatro décadas. Ele
estava em Ímola, na Itália, naquele domingo.
Itiberê lembra que aquele
fora um fim de semana trágico, a começar pelo acidente com o brasileiro Rubens
Barrichello no treino de sexta-feira. Embora sem ferimentos graves, ele não
pôde disputar a corrida. No treino de classificação, no sábado, a morte de
Roland Ratenberger causara profunda comoção no paddock, a ponto de o próprio
Senna, que procurou ver de perto o que ocorrera com o austríaco, ter cogitado
não correr. Somente à noite, provavelmente pressionado pela equipe e por toda a
cúpula da categoria, resolveu competir.
Até hoje, nos GPs de F-1, os
repórteres de jornal assistem às provas na sala de imprensa, onde há dezenas de
TVs.
— Todos nós jornalistas
estávamos tensos. Eu estava ao lado de um velho amigo, o italiano Nestore
Morosini. Quando houve o acidente de Senna, ele, muito compenetrado, bateu no
meu ombro e disse: “Foi muito grave" — lembra Itiberê. — Saí correndo da
sala, tentando chegar à Tamburello. Quando me aproximei, já havia um cerco na
curva, e encontrei o fotógrafo italiano Angelo Orsi, da “Autosprint”, que
também era muito amigo de Senna. Ele vinha voltando e me disse: “Não vai lá. Eu
estava parado naquele curva e fiz toda a sequência de fotos do que aconteceu.
Senna se machucou muito feio, e o estado dele é gravíssimo. Vai para o
hospital. Não sei se vai sobreviver”.
Consciente de que, a partir
dali, a corrida não teria mais o menor interesse para o público brasileiro, o
jornalista do GLOBO foi para o hospital, onde uma neurologista italiana disse
que era impossível fazer cirurgia porque houvera uma fratura craniana
generalizada, e que o piloto brasileiro já havia sofrido morte cerebral.
— Ela acrescentou que a
partir dali era o caso de esperar o coração dele parar, o que demoraria muito,
porque ele era muito forte — relembra Itiberê a respeito do brasileiro, o
último piloto a ter morrido num acidente de F-1.
Trabalho de toda a redação
Em seguida, o jornalista
retornou à sala de imprensa do circuito.
— Eu chorava muito, e me
emociono até agora, falando nisso — admite Itiberê, com a voz embargada. — Na
sala de imprensa, escrevi vários textos para O GLOBO, com a cabeça a mil por
hora. Escrevi chorando o tempo todo, a emoção tomou conta de mim. Na Itália,
houve uma comoção, com as pessoas fazendo fila na Tamburello para depositar
flores. Sem dúvida, foi a cobertura mais marcante da minha carreira.
À época, a seleção brasileira
de futebol vivia um jejum de títulos de Copa do Mundo que vinha desde 1970 e só
seria quebrado naquele mesmo 1994, na Copa dos EUA. A autoestima brasileira
andava em baixa, mas Senna, quando vencia, fazia questão de exibir a bandeira e
exaltar o país. Em sua coluna do dia 2 de maio, Itiberê deu ao texto o título
“O nosso Batman".
— Senna era um herói. Era o nosso
Batman, porque vingava os brasileiros (de todos os problemas enfrentados na
época). O Batman levava a paz a Gotham City, e ele levava para o mundo a nossa
nacionalidade — compara Itiberê, ainda emocionado.
Enquanto Celso Itiberê, em
lágrimas, escrevia suas reportagens em Ímola, no Rio, quem comandava a equipe
na produção de um caderno especial de 26 páginas era o então editor de Esportes
César Seabra, que trabalhou no jornal de 1985 a 1997. Atualmente, ele é diretor de
redação de esportes da Rede Globo, em São Paulo. O caderno foi indicado ao Prêmio Esso
de Jornalismo.
— Eu nunca havia visto as
pessoas trabalharem tanto e com tanta tristeza — afirma, recordando que a
tragédia causou uma união nunca vista. — Todo mundo se uniu. Colegas das
editorias de Economia, Rio, Mundo, Segundo Caderno, e todas as outras
colaboraram conosco. As pessoas chegavam espontaneamente, se apresentavam a mim
e perguntavam o que havia para ser feito. Foi um caderno não planejado, que
começamos a fazer por volta das 11h da manhã de 1º de maio e alguns de nós só
saímos da redação às 5h da manhã do outro dia. Aquela cobertura não foi feita
apenas pela editoria de Esportes, mas por toda a redação do GLOBO.
FONTE PESQUISADA
Ayrton Senna: União e tristeza na morte de
um ídolo. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/esportes/ayrton-senna-uniao-tristeza-na-morte-de-um-idolo-1-16739936>.
Acesso em: 13 de julho 2015.
Fotos Acidente Fatal Ayrton Senna
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