segunda-feira, 17 de junho de 2013

O que deu errado no FW16 ?

Os fatores técnicos, políticos e comerciais que levaram a Williams a se perder no projeto do FW16.


Fevereiro de 1994. o mundo da Fórmula 1 aguarda ansiosamente a estréia de Ayrton Senna no carro azul da Williams Renault. Todos aguardam uma temporada monótona, com Ayrton Senna vencendo corrida atrás de corrida sem rivais à altura, já que Alain Prost tinha encerrado a carreira na última corrida da temporada anterior.

A Williams era a melhor equipe do mundo na época e tinha o melhor projetista do mercado - Adrian Newey. Além de dispor do melhor orçamento, tinha a máquina mais sofisticada da F1. A FIA, preocupada com o possível domínio avassalador da equipe de Grove, decidiu banir todos os recursos eletrônicos embarcados nos carros. Com isso, ficava proibido os freios ABS, os sistemas de aceleração eletrônica fly-by-wire, os câmbios automáticos e as famosas suspensões ativas comandadas por sensores eletrônicos.

Com o banimento de todos os recursos eletrônicos, a Williams se viu sem suas principais armas para a construção do novo carro. Seus dois últimos carros vencedores, o FW14b e o FW15c, na verdade eram evoluções aerodinâmicas do FW14 de 1991. Se compararmos os carros de 1991, 1992 e 1993 notaremos poucas diferenças. O que difere um carro do outro é exatamente a eletrônica embarcada.

 Williams FW14 – 1991


Williams FW14b – 1992



 Williams FW15c – 1993

O carro de 1991 era muito bom aerodinamicamente, muito baixo, dotado de câmbio semi-automático, dificultou ao máximo o título conquistado pela McLaren. Esse carro ainda não possuía a suspensão ativa, então em circuitos muito ondulados, o carro não tinha a mesma força aerodinâmica, já em circuitos lisos, com o perfil baixo, o carro era mais rápido nas retas e principalmente nas curvas.

O carro de 1992 aparentemente não possuía nenhuma alteração, mas dotado de sofisticados recursos eletrônicos e principalmente com uma suspensão ativa perfeita, o carro se tornou imbatível. Com freios ABS, aceleração eletrônica, câmbio automático e suspensão ativa, Adrian Newey junto de Patrick Head, conseguiram construir um carro à prova dos erros de Nigel Mansell. Título fácil de pilotos e construtores.

O complexo sistema de suspensão ativa da Williams FW14b



Em 1993, o carro teve pequenas alterações aerodinâmicas mas que não prejudicaram o desempenho do carro. Com os mesmos recursos eletrônicos e a tendência do bico e chassi baixo, o carro contava com um potente v10 Renault que em retas conseguia impor velocidade aos v12 Ferrari e os v8 da Ford.

O ERRO

Durante a temporada de 1993, a FIA decide banir os recursos eletrônicos para a temporada seguinte. Adrian Newey e Patrick Head tiveram que começar um projeto praticamente do zero.

A Contratação de Ayrton Senna e o alto investimento dos novos patrocinadores (leia-se Rothmans) pressionaram ainda mais a cúpula técnica da equipe a não errar.


Adrian Newey e Ayrton Senna em 1994

Adrian Newey trouxe o conceito do carro baixo desde os seus tempos de March. Aplicou o mesmo conceito no Williams, que junto dos recursos eletrônicos, resultaram numa máquina quase perfeita. 

Com um perfil baixo e com as suspensões ativas trabalhando, o carro mantinha em todos os circuitos do Mundo, a mesma distância do chão (carro-solo). O downforce produzido nas retas e curvas eram praticamente os mesmos, e consequentemente, a velocidade era maior. Além do mais, o carro era mais preso ao chão por causa do grip elevado dos pneus.

Em circuitos onduladíssimos como Interlagos, Kyalami na Africa do Sul ou Hungaroring, seus carros eram dóceis, diferentemente dos carros com suspensões tradicionais, que pulavam a cada ondulação, fazendo com que o carro ficasse arisco e perigoso.

A Williams teve muito pouco tempo para inventar um carro praticamente do zero, então construiram o FW16 com base nos dois carros anteriores, o FW14b e o FW15c.

O grande agravante foi que construiram um carro de conceito baixo sem os recursos eletrônicos, então o Williams perdeu sua principal eficácia, a força aerodinâmica. O FW16 tinha nascido errado.



 
Senna e Frank Williams - Ayrton demonstrou pouca alegria em 1994.


 
O sonho de pilotar a Williams tornava-se um pesadelo para Ayrton.

Quando Ayrton Senna sentou pela primeira vez no FW16, ele percebeu que o carro não tinha nascido bem. É notório pelas imagens da câmera do carro do brasileiro a dificuldade de se fazer as curvas rápidas. Senna saiu preocupado do carro.

O carro que ele tanto sonhara era inguiável nas suas próprias palavras. Tinha um ótimo motor mas nas curvas era incontrolável.

O Circuito do Estoril possuía algumas ondulações, e essas mesmas demonstraram a Ayrton Senna o quão errático tinha nascido o FW16.

AFLIÇÃO

Percebendo que o carro era inguiável, Ayrton Senna logo demonstrou sua insatisfação com o novo carro. O cockpit era diferente de todos os carros que Ayrton tinha pilotado até então.

O volante ficava dentro do carro, diferentemente dos Toleman, Lotus ou McLaren, cujo o volante ficava para fora do habitáculo, apenas protegido por uma película de plástico duro.

Com isso, a mão raspava nas laterais do carro causando desconforto. Além do cockpit ser bastante apertado.


A falta das suspensões ativas e as ondulações do circuito de Interlagos mostraram ao Mundo que o carro da Williams não era o mais acertado.

Ainda refletindo a ótima fase de 1993, Ayrton Senna conseguiu a pole-position graças a sua extrema habilidade. Na corrida sofreu com o assédio do Benetton de Schumacher, acabou rodando após voltar atrás do alemão nas paradas dos boxes, e abandonou a corrida.

MUDANÇAS

Senna não estava satisfeito. Seu abandono no GP do Brasil foi um balde de água fria. Ayrton estava incisivo quanto as alterações no carro.

Pediu que o volante fosse colocado mais para frente para que suas mãos não raspassem nas laterais do carro. Já que a equipe não teve tempo hábil para uma mudança estrutural, porém pressionada e preocupada com os pedidos de Senna, buscou na solda da barra de direção uma solução eficaz.

Feito a solda, a barra foi ampliada e o volante ficou mais próximo do piloto, evitando que suas mãos raspassem nas laterais. Erro fatal.

Além dos pedidos técnicos, Ayrton tentava motivar a equipe. Ele notara que a equipe Williams tinha um "ar" diferente da McLaren. Era uma equipe mais fechada e "fria" nos relacionamentos. Senna pediu empenho à equipe e prometeu que a situação iria melhorar.

 A solda mal feita - erro provocado pela pressão por mudanças?

DESCONFIANÇA

Todos sabiam que Adrian Newey tinha errado a mão no projeto, então todos na equipe estavam correndo contra o tempo. Mas Ayrton Senna confidenciou aos seus amigos mais íntimos o que mais lhe incomodava. Não era o inguiável Williams, e sim, o fora-da-lei Benetton B194 de Michael Schumacher.

 Benetton B194, Senna desconfiava que o carro possuía recursos eletrônicos.

Para Ayrton, o carro da Benetton era dotado de sistema de controle de tração escondido, recursos eletrônico proibido pela FIA para 1994. Schumacher largou mal no Brasil e muito bem no Japão, e a velocidade da Benetton pegou todos de surpresa.

Não era apenas esse recurso que Ayrton desconfiava. Para ele, outros recursos estavam escondidos dentro do B194. Ayrton chegou a confidenciar sua desconfiança para membros da Williams, mas os ingleses decidiram não apelar junto a FIA, deixando Ayrton ainda mais tenso.

O fator político falou mais alto na FIA. Era interessante um carro que pudesse fazer frente ao Williams de Senna, mesmo que esse carro tenha algum recurso proibido pela FIA escondido.


HILL QUASE CAMPEÃO

Após a morte de Ayrton Senna em Ímola, a Williams seguiu traumatizada seu trabalho de reestruturação. Continuaram os trabalhos no FW16, e baseados nos pedidos feitos anteriormente por Ayrton Senna, repaginaram o FW16 para as etapas européias.

O crescimento da Williams durante a temporada é notório. Damon Hill, limitado tecnicamente, começa a fazer frente ao Benetton de Schumacher.


Williams FW16 - inicio da temporada

 
Williams FW16b - carro repaginado




Graças ao banimento de Schumacher de duas corridas, punição por bandeira preta, Damon consegue encostar na classificação geral.

Após belíssima vitória no GP do Japão, Williams e Damon Hill conseguem chegar para a última etapa do campeonato atrás apenas 1 ponto para o líder Michael Schumacher e seu Benetton B194 Ford. 

O título ficou com o alemão Schumacher mas fica a pergunta, depois do notório crescimento do FW16 nas etapas européias, o que poderia ter feito Ayrton Senna com o repaginado FW16b ? Isso é algo que nunca se saberá.



3 comentários:

  1. Pura verdade, sempre acreditei no potencial de Senna, a solda feita para que fosse alongada a barra de direção do volante foi a causa da morte do tricampeão, é tanto que tem um vídeo na internet do Discovery Channel que mostra uma referência de um botão amarelo que faz um movimento circular permanente e segundos antes do acidente o botão direito faz um movimento vertical para baixo indicando que a barra do valante havia quebrado, a Williams jamais assumiria a responsabilidade pois ela era uma equipe campeã e a indenização pela morte de Ayrton Senna seria estratosférica, ordem de "zilhões".

    ResponderExcluir
  2. Porque a familia nao recorreu da decisão do juiz? Tudo se passou de forma muito tranquila quanto a decisão do juiz de nao condenar os culpados, que claramente foram identificados.....

    ResponderExcluir
  3. Até aonde eu sei, não pôde ser afirmado se a barra de direção rompeu antes do acidente, sendo sua causa, ou depois do acidente devido ao impacto a 300km/h... O que me estranha é uma equipe do porte da Williams na época soldar uma peça tão barata em vez de mandar usinar uma nova...

    ResponderExcluir