Os fatores técnicos, políticos e comerciais que levaram a
Williams a se perder no projeto do FW16.
Fevereiro de 1994. o mundo da Fórmula 1 aguarda ansiosamente
a estréia de Ayrton Senna no carro azul da Williams Renault. Todos aguardam uma
temporada monótona, com Ayrton Senna vencendo corrida atrás de corrida sem
rivais à altura, já que Alain Prost tinha encerrado a carreira na última
corrida da temporada anterior.
A Williams era a melhor equipe do mundo na época e tinha o
melhor projetista do mercado - Adrian Newey. Além de dispor do melhor
orçamento, tinha a máquina mais sofisticada da F1. A FIA, preocupada com o
possível domínio avassalador da equipe de Grove, decidiu banir todos os
recursos eletrônicos embarcados nos carros. Com isso, ficava proibido os freios
ABS, os sistemas de aceleração eletrônica fly-by-wire, os câmbios automáticos e
as famosas suspensões ativas comandadas por sensores eletrônicos.
Com o banimento de todos os recursos eletrônicos, a Williams
se viu sem suas principais armas para a construção do novo carro. Seus dois
últimos carros vencedores, o FW14b e o FW15c, na verdade eram evoluções
aerodinâmicas do FW14 de 1991. Se compararmos os carros de 1991, 1992 e 1993
notaremos poucas diferenças. O que difere um carro do outro é exatamente a
eletrônica embarcada.
Williams FW14b – 1992
O carro de 1991 era muito bom aerodinamicamente, muito
baixo, dotado de câmbio semi-automático, dificultou ao máximo o título
conquistado pela McLaren. Esse carro ainda não possuía a suspensão ativa, então
em circuitos muito ondulados, o carro não tinha a mesma força aerodinâmica, já
em circuitos lisos, com o perfil baixo, o carro era mais rápido nas retas e
principalmente nas curvas.
O carro de 1992 aparentemente não possuía nenhuma alteração,
mas dotado de sofisticados recursos eletrônicos e principalmente com uma
suspensão ativa perfeita, o carro se tornou imbatível. Com freios ABS,
aceleração eletrônica, câmbio automático e suspensão ativa, Adrian Newey junto
de Patrick Head, conseguiram construir um carro à prova dos erros de Nigel
Mansell. Título fácil de pilotos e construtores.
O complexo sistema de suspensão ativa da Williams FW14b
Em 1993, o carro teve pequenas alterações aerodinâmicas mas
que não prejudicaram o desempenho do carro. Com os mesmos recursos eletrônicos
e a tendência do bico e chassi baixo, o carro contava com um potente v10
Renault que em retas conseguia impor velocidade aos v12 Ferrari e os v8 da
Ford.
O ERRO
Durante a temporada de 1993, a FIA decide banir os
recursos eletrônicos para a temporada seguinte. Adrian Newey e Patrick Head
tiveram que começar um projeto praticamente do zero.
A Contratação de Ayrton Senna e o alto investimento dos
novos patrocinadores (leia-se Rothmans) pressionaram ainda mais a cúpula
técnica da equipe a não errar.
Adrian Newey e Ayrton Senna em 1994
Adrian Newey trouxe o conceito do carro baixo desde os seus
tempos de March. Aplicou o mesmo conceito no Williams, que junto dos recursos
eletrônicos, resultaram numa máquina quase perfeita.
Com um perfil baixo e com as suspensões ativas trabalhando,
o carro mantinha em todos os circuitos do Mundo, a mesma distância do chão
(carro-solo). O downforce produzido nas retas e curvas eram praticamente os
mesmos, e consequentemente, a velocidade era maior. Além do mais, o carro era
mais preso ao chão por causa do grip elevado dos pneus.
Em circuitos onduladíssimos como Interlagos, Kyalami na
Africa do Sul ou Hungaroring, seus carros eram dóceis, diferentemente dos
carros com suspensões tradicionais, que pulavam a cada ondulação, fazendo com
que o carro ficasse arisco e perigoso.
A Williams teve muito pouco tempo para inventar um carro
praticamente do zero, então construiram o FW16 com base nos dois carros
anteriores, o FW14b e o FW15c.
O grande agravante foi que construiram um carro de conceito
baixo sem os recursos eletrônicos, então o Williams perdeu sua principal
eficácia, a força aerodinâmica. O FW16 tinha nascido errado.
Senna e Frank Williams - Ayrton demonstrou pouca alegria em
1994.
O sonho de pilotar a Williams tornava-se um pesadelo para
Ayrton.
Quando Ayrton Senna sentou pela primeira vez no FW16, ele
percebeu que o carro não tinha nascido bem. É notório pelas imagens da câmera
do carro do brasileiro a dificuldade de se fazer as curvas rápidas. Senna saiu
preocupado do carro.
O carro que ele tanto sonhara era inguiável nas suas
próprias palavras. Tinha um ótimo motor mas nas curvas era incontrolável.
O Circuito do Estoril possuía algumas ondulações, e essas
mesmas demonstraram a Ayrton Senna o quão errático tinha nascido o FW16.
AFLIÇÃO
Percebendo que o carro era inguiável, Ayrton Senna logo
demonstrou sua insatisfação com o novo carro. O cockpit era diferente de todos
os carros que Ayrton tinha pilotado até então.
O volante ficava dentro do carro, diferentemente dos
Toleman, Lotus ou McLaren, cujo o volante ficava para fora do habitáculo,
apenas protegido por uma película de plástico duro.
Com isso, a mão raspava nas laterais do carro causando
desconforto. Além do cockpit ser bastante apertado.
A falta das suspensões ativas e as ondulações do circuito de
Interlagos mostraram ao Mundo que o carro da Williams não era o mais acertado.
Ainda refletindo a ótima fase de 1993, Ayrton Senna
conseguiu a pole-position graças a sua extrema habilidade. Na corrida sofreu
com o assédio do Benetton de Schumacher, acabou rodando após voltar atrás do
alemão nas paradas dos boxes, e abandonou a corrida.
MUDANÇAS
Senna não estava satisfeito. Seu abandono no GP do Brasil
foi um balde de água fria. Ayrton estava incisivo quanto as alterações no
carro.
Pediu que o volante fosse colocado mais para frente para que
suas mãos não raspassem nas laterais do carro. Já que a equipe não teve tempo
hábil para uma mudança estrutural, porém pressionada e preocupada com os
pedidos de Senna, buscou na solda da barra de direção uma solução eficaz.
Feito a solda, a barra foi ampliada e o volante ficou mais
próximo do piloto, evitando que suas mãos raspassem nas laterais. Erro fatal.
Além dos pedidos técnicos, Ayrton tentava motivar a equipe.
Ele notara que a equipe Williams tinha um "ar" diferente da McLaren.
Era uma equipe mais fechada e "fria" nos relacionamentos. Senna pediu
empenho à equipe e prometeu que a situação iria melhorar.
DESCONFIANÇA
Todos sabiam que Adrian Newey tinha errado a mão no projeto,
então todos na equipe estavam correndo contra o tempo. Mas Ayrton Senna
confidenciou aos seus amigos mais íntimos o que mais lhe incomodava. Não era o
inguiável Williams, e sim, o fora-da-lei Benetton B194 de Michael Schumacher.
Para Ayrton, o carro da Benetton era dotado de sistema de
controle de tração escondido, recursos eletrônico proibido pela FIA para 1994.
Schumacher largou mal no Brasil e muito bem no Japão, e a velocidade da
Benetton pegou todos de surpresa.
Não era apenas esse recurso que Ayrton desconfiava. Para
ele, outros recursos estavam escondidos dentro do B194. Ayrton chegou a
confidenciar sua desconfiança para membros da Williams, mas os ingleses
decidiram não apelar junto a FIA, deixando Ayrton ainda mais tenso.
O fator político falou mais alto na FIA. Era interessante um
carro que pudesse fazer frente ao Williams de Senna, mesmo que esse carro tenha
algum recurso proibido pela FIA escondido.
HILL QUASE CAMPEÃO
Após a morte de Ayrton Senna em Ímola, a Williams seguiu
traumatizada seu trabalho de reestruturação. Continuaram os trabalhos no FW16,
e baseados nos pedidos feitos anteriormente por Ayrton Senna, repaginaram o
FW16 para as etapas européias.
O crescimento da Williams durante a temporada é notório.
Damon Hill, limitado tecnicamente, começa a fazer frente ao Benetton de
Schumacher.
Williams FW16 - inicio da temporada
Williams FW16b - carro repaginado
Graças ao banimento de Schumacher de duas corridas, punição
por bandeira preta, Damon consegue encostar na classificação geral.
Após belíssima vitória no GP do Japão, Williams e Damon Hill
conseguem chegar para a última etapa do campeonato atrás apenas 1 ponto para o
líder Michael Schumacher e seu Benetton B194 Ford.
O título ficou com o alemão Schumacher mas fica a pergunta,
depois do notório crescimento do FW16 nas etapas européias, o que poderia ter
feito Ayrton Senna com o repaginado FW16b ? Isso é algo que nunca se saberá.
Pura verdade, sempre acreditei no potencial de Senna, a solda feita para que fosse alongada a barra de direção do volante foi a causa da morte do tricampeão, é tanto que tem um vídeo na internet do Discovery Channel que mostra uma referência de um botão amarelo que faz um movimento circular permanente e segundos antes do acidente o botão direito faz um movimento vertical para baixo indicando que a barra do valante havia quebrado, a Williams jamais assumiria a responsabilidade pois ela era uma equipe campeã e a indenização pela morte de Ayrton Senna seria estratosférica, ordem de "zilhões".
ResponderExcluirPorque a familia nao recorreu da decisão do juiz? Tudo se passou de forma muito tranquila quanto a decisão do juiz de nao condenar os culpados, que claramente foram identificados.....
ResponderExcluirAté aonde eu sei, não pôde ser afirmado se a barra de direção rompeu antes do acidente, sendo sua causa, ou depois do acidente devido ao impacto a 300km/h... O que me estranha é uma equipe do porte da Williams na época soldar uma peça tão barata em vez de mandar usinar uma nova...
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