Richard Williams
Quarta-feira, 30 de abril de
2014 11,53 BST
The Guardian - www.theguardian.com
TRADUÇÃO LIVRE
A morte do brasileiro há 20
anos levou mais segurança para a Fórmula 1 e um aumento na popularidade de um
esporte que ainda se recupera da perda de um homem complexo e brilhante
Quando vieram para erguer um
memorial a Ayrton Senna em frente ao lugar onde ele morreu, o pessoal de Imola
fixou uma estátua que ele se apresenta não em um momento de triunfo no pódio em
um circuito onde ele havia vencido três GPS (Senna venceu três vezes em Ímola),
mas em uma pose mais contemplativo, sentado no muro dos boxes vestindo seu
macacão de corrida com a cabeça baixa, como se estivesse perdido em
pensamentos.
Milhares passaram um momento
em silêncio na frente da estátua neste fim de semana, pessoas que lotaram o
circuito para recordar a tragédia no Grande Prêmio de San Marino, há 20 anos,
mas nem todos apreciaram o trabalho do escultor. Muitos brasileiros ficaram
desapontados que, apesar de produzir uma excelente semelhança, falhou em não refletir
a alegria vividas que as vitórias de Senna os trouxera. Outros, no entanto,
sentem que evoca as qualidades mais profundas e mais incomuns do tricampeão, trazidas
por ele para um esporte em que um dom para a introspecção não havia
anteriormente avaliado entre os atributos necessários de um grande piloto.
Senna tinha tudo que seria
necessário para criar o herói dos sonhos de Hollywood. Mas ele tem algo
mais, algo mais misterioso, que cativou não só os fãs que continuam a
reverenciar sua memória, mas gerações posteriores de pilotos a quem ele
representa um ponto de referência permanente.
"Somos feitos de
emoções", disse ele certa vez, e sua própria emoção estava no show não
apenas em momentos de triunfo ou traição nas pistas, mas na forma como ele pilotava, geralmente
no limite, cada vez que ele lutou por uma de suas 65 pole positions ou 41
vitórias, encarando sem temor seus rivais mais próximos,
o pequeno grupo de homens que compunham uma geração notável de campeões: Nelson
Piquet, Alain Prost, Nigel Mansell.
Senna, Prost, Mansell e Piquet no GP de Portugal na temporada de Fórmula 1 de 1986
Então, também, houve a volta
de qualificação em Mônaco em 1988, quando ele conquistou a pole position com
uma volta e um segundo e meio mais rápido do que seu adversário mais próximo,
durante o qual ele percebeu que ele não estava mais no controle do carro, na trajetória
normal. "Eu estava em uma dimensão diferente", disse ele. "Isso
me assustou porque eu estava bem além de minha compreensão, do meu
consciente."
Senna pensou muito sobre o
que ele fez e o que significava, ele nunca teve medo de compartilhar suas
conclusões. Não muitos de seus antecessores como campeão do mundo, teria dito
ao mundo que, na última curva em Suzuka em 1988, quando se preparava para levar
a bandeira quadriculada e seu primeiro título mundial junto com ela, ele viu o
rosto de Deus.
Sua fé era de natureza
pessoal, difícil de explicar e ainda mais difícil de compreender, mas sua
existência não estava em dúvida. "Eu sou capaz de experimentar a presença
de Deus na Terra", disse ele, embora um ritual religioso parecia ter pouco
a ver com isso. "Se eu vou a uma igreja", ele explicou, "Eu vou
do meu jeito e eu gostaria de estar lá sozinho. Eu encontro mais paz dessa
maneira."
Apesar de ser católico, Senna não gostava de missas, e preferia ir na igreja com o templo vazio para fazer suas orações
Aqueles que observaram sua ascensão
frequentemente procuravam uma explicação para sua supremacia, mas para ninguém parecia
mais difícil compreender do que para o próprio Senna. "Às vezes eu acho
que sei algumas das razões por que eu faço as coisas da maneira que eu faço em
um carro e às vezes eu não sei o por que", disse ele. "Há momentos em
que parecem ser o instinto natural, que tem em mim. Se eu nasci com ele, ou se
esse sentimento cresceu em mim, mais do que em outras pessoas, eu não sei, mas
está dentro de mim e que ocupa uma grande quantidade de espaço e intensidade."
As características menos atraentes
de sua carreira despertaram uma resposta ambivalente entre as que encontramos
que é difícil conciliar um homem de tal humanidade evidente e sensibilidade com
o concorrente que, na verdade transformou a Fórmula 1 em um esporte de contato.
(O jornalista quis dizer que Senna era um homem tão humilde e sensível fora das
pistas, que era difícil conciliar seu jeito de ser ao piloto que ele se
transformava dentro das pistas. Senna se envolveu em diversos acidentes dentro
das pistas, ao colidir com seus adversários.). A única desculpa que pode ser
feito para as colisões controversas - com Prost e Mansell em particular - é a
sua crença de que ele estava com a razão: algo aparentemente perto de um
direito divino, em sua mente, que só tornou mais preocupante. Quando Schumacher
seguiu seu exemplo, foi com um cinismo mundano, ausente dos
ataques de Senna a seus rivais.
Senna se choca com Prost na temporada de 1990, e leva o mundial
A estátua em Ímola que
retrata uma figura pensativa me parece bastante apropriada já que surgiram
evidencias de sua confusão mental em 1 de maio de 1994. Ele estava
profundamente insatisfeito com seu carro, o que era conhecido por todos. Mas só
muito mais tarde se tornaria claro que a morte de Roland Ratzenberger 24 horas
antes, precedido por um acidente espetacular envolvendo seu compatriota Rubens
Barrichello, levou-o a uma reflexão séria sobre a aposentadoria, agravando um
estado de espírito já escurecido por conversas encolerizadas contra seu irmão,
Leonardo, que tinha sido enviado do Brasil pela família para dissuadi-lo de se
casar com Adriane Galisteu, sua namorada de 14 meses.
Estátua de Ayrton Senna em Ímola, lugar de sua morte
Tivera aquele domingo
continuado sem incidente desagradável, todas essas questões poderiam muito bem
terem sido resolvidas. Dentro de um mês, o Williams-Renault FW16B projetado por
Adrian Newey, tão imprevisível em seu comportamento durante as duas primeiras
corridas, daria Hill, o piloto número 2 de Senna (Senna era o piloto número 1 e Hill o número 2), o primeiro de suas seis vitórias nessa
temporada, tendo o inglês à beira de um título mundial, o que não aconteceu
únicamente por incorreção de Schumacher (o alemão bateu em Hill na última prova da temporada, para tira-lo da
disputa pelo título). Então tendo Senna sobrevivido, ele teria vencido seu
quarto campeonato naquele ano, talvez renasceria o apetite suficiente para
continuar a sua carreira com uma equipe, no caminho para recuperar sua antiga
posição dominante.
Então, com certeza, os títulos
conquistados por Schumacher, Hill e Jacques Villeneuve nos três anos seguintes,
teriam sido seus, fazendo dele sete vezes campeão mundial, na idade
relativamente jovem de 37 anos. E em algum momento, ele tinha se casado com Adriane (como eram seus planos, citado logo acima), sua família teria se reconciliado com
sua eleita (se reconciliado com Adriane, ou seja, teriam a aceitado definitivamente
na família).
Ayrton e Adriane
Em vez disso, temos a memória
de um herói cuja morte violenta levou a uma onda de popularidade de seu esporte
(Fórmula 1) em todo o mundo, enquanto esse esporte levou esforços bem-sucedidos
para garantir que outros pilotos não tivessem um destino semelhante. É uma imagem
que se recusa a desaparecer ou perder o seu apelo às emoções. Vinte anos
depois, e em uma idade mais científica, Ayrton Senna - um romântico, de
gladiadores, virtuoso complexo - ainda define o padrão.
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IDIOMA ORIGINAL
Ayrton Senna: the
gladiatorial virtuoso who still sets the standard
Senna in Suzuka 1990
Richard Williams
Wednesday 30 April 2014 11.53 BST
The Guardian - www.theguardian.com
The Brazilian's death 20
years ago led to improved safety in Formula One and a surge in popularity for a
sport still reeling from the loss of a complex and brilliant man
When they came to erect a
memorial to Ayrton
Senna opposite the place where he died, the people of Imola settled on
a statue that showed him not in a moment of triumph on the podium at a circuit
where he had won three grands prix, but in a more contemplative pose, sitting
on the pit wall in his racing overalls with his head bowed, as if lost in
thought.
Thousands will spend a silent
moment in front of that statue this weekend, thronging to the circuit to
commemorate the
tragedy at the San Marino Grand Prix 20 years ago, but not everyone
appreciated the sculptor's work. Many Brazilians were disappointed that,
although producing an excellent likeness, he had failed to reflect the
life-affirming joy Senna's victories had brought them. Others, however, felt it
evoked the deeper and more unusual qualities the triple champion brought to a
sport in which a gift for introspection had not previously rated highly among
the attributes required of a great driver.
Senna had everything it would
take to create the grand prix hero of Hollywood's dreams. But something else,
something more mysterious, captivated not just the fans who continue to revere
his memory but later generations of drivers to whom he represents a permanent
reference point.
"We are made of
emotions," he once said, and his own were on show not just at moments of
triumph or betrayal but in the way he drove, usually on the limit of control as
he fought for one of his 65 pole positions or 41 race wins, fending off the
challenge from his closest rivals, the small group of men who made up a
remarkable generation of champions: Nelson Piquet, Alain Prost, Nigel Mansell.
His greatest moments were
some of the finest ever witnessed in the sport: the long awaited first victory in
his home grand prix – in São Paulo, his birthplace – in 1991, battling
with a car stuck in sixth gear, and the mind-boggling first
lap in the rain and murk at Donington Park two years later, when he
went from fifth to first – past Michael Schumacher, past Karl Wendlinger, past
Damon Hill, past an astonished and helpless Prost – in the space of a minute
and a half of heart-stopping virtuosity and implacable willpower.
Then, too, there was the qualifying lap at
Monaco in 1988, when he took pole position with a lap a second and a half
faster than his nearest challenger, during which he realised that he was no
longer in control of the car in the normal way. "I was in a different
dimension," he said. "It frightened me because I was well beyond my
conscious understanding."
Senna thought hard about what
he did and what it meant, and he was never afraid to share his conclusions. Not
many of his predecessors as world champion would have told the world that, on the last corner at
Suzuka in 1988, as he prepared to take the chequered flag and his first
world title along with it, he saw the face of God.
His faith was personal in
nature, hard to explain and even harder to comprehend, but its existence was
not in doubt. "I am able to experience God's presence on earth," he
said, although religious ritual seemed to have little to do with it. "If I
go to a church," he explained, "I go on my own and I like to be there
alone. I find more peace that way."
Those who observed his rise
often sought an explanation for his pre-eminence but none looked harder than
Senna himself. "Sometimes I think I know some of the reasons why I do
things the way I do in a car and sometimes I don't know why," he said. "There
are moments that seem to be the natural instinct that is in me. Whether I have
been born with it, or whether this feeling has grown in me more than other
people, I don't know, but it is inside me and it takes over with a great amount
of space and intensity."
The less appealing features
of his career aroused an ambivalent response among those who found it hard to
reconcile a man of such evident humanity and sensitivity with the competitor
who in effect turned Formula
One into a contact sport. The only excuse that can be made for the
controversial collisions – with Prost and Mansell in particular – is his belief
that he was in the right: something seemingly close to a divine right, in his
mind, which only made it more troubling. When Schumacher followed his example,
it was with a worldly cynicism absent from Senna's assaults on his rivals.
That the statue at Imola
should depict a pensive figure has seemed particularly fitting since evidence
emerged of his mental turmoil on 1 May, 1994. He was deeply unhappy with his
car; that much was known. But not until much later would it become clear that
the death
of Roland Ratzenberger 24 hours earlier, preceded by a spectacular accident
involving his compatriot Rubens Barrichello, had led him to serious
consideration of retirement, worsening a mood already darkened by angry
conversations with his brother, Leonardo, who had been sent from Brazil by the
family to dissuade him from marrying Adriane Galisteu, his girlfriend of 14
months.
Had that Sunday continued
without untoward incident, all those issues might well have been resolved. Within
a month Adrian Newey's Williams-Renault FW16B, so unpredictable in its
behaviour during the first two races, would give Hill, Senna's No2, the first
of six grands prix wins that season, taking the Englishman to the verge of a
world title denied only by Schumacher's chicanery. So had Senna survived, he
would have won a fourth championship that year, perhaps reviving his appetite
enough to continue his career with a team on the way to recovering their former
dominance.
Then, surely, the titles that
fell to Schumacher, Hill and Jacques Villeneuve in the following three years
would also have been his, making him a seven-times champion at the relatively
early age of 37. And at some point, had he married Adriane, his family would
have reconciled themselves to his choice.
Instead we have the memory of
a hero whose violent death prompted a surge in his sport's popularity around
the world, while prompting successful efforts to ensure that others would not
meet a similar fate. It is an image that refuses to fade or lose its appeal to
the emotions. Twenty years later, and in a more scientific age, Ayrton Senna –
a romantic, gladiatorial, complex virtuoso – still sets the standard.
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FONTE PESQUISADA
WILLIAMS, Richard. Ayrton
Senna: the gladiatorial virtuoso who still sets the standard. Disponível
em:
<http://www.theguardian.com/sport/blog/2014/apr/30/ayrton-senna-death-formula-one-20-years>.
Acesso em: 01 de outubro 2014.
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