sexta-feira, 30 de junho de 2017

Uma Marcha, Blefe, Dança Com Pelé... Por Trás Da 1ª Vitória De Senna No Brasil

24/03/2016 06h30 - Atualizado em 24/03/2016 06h30
Globo Esporte - globoesporte.globo.com

Coordenador da McLaren conta que Ayrton escondeu falha no câmbio. Segundo na corrida, Patrese diz: "Se soubesse dos problemas duas voltas antes teria vencido"

Por Livio Oricchio
Nice, França



Ayrton Senna sempre teve sonhos na F1. Primeiro era ser campeão do mundo. Depois, igualar ou mesmo superar o ídolo, Juan Manuel Fangio, com seus cinco títulos, e tornar-se o maior da história. Outro era vencer o GP do Brasil, em especial o disputado em Interlagos, na sua cidade, São Paulo. Mais: ganhar uma corrida com uma volta de vantagem para Alain Prost, o companheiro na McLaren-Honda, em 1988 e 1989. Em 1988, em sua primeira grande chance, apesar de dispor de um supercarro, o lendário MP4/4-Honda, quebrou o trambulador do câmbio antes do início da prova. Passou para o carro reserva depois do horário limite e largou. Mas a direção de prova o obrigou a parar. Em 1989, Senna se envolveu num acidente na primeira curva com Riccardo Patrese, Williams, e Gerhard Berger, Ferrari. Os dois GP foram realizados em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Pelo desgaste físico de correr voltas finais com uma marcha, Senna teve dificuldades para erguer o troféus (Getty Images)
Ayrton Senna GP do Brasil 1991

Em 1990, Senna ajudou a definir o novo traçado de Interlagos, de volta ao calendário da F1. Quando parecia que desta vez realizaria outro dos seus sonhos – já havia sido campeão do mundo em 1988 - eis que surge na sua frente o ex-companheiro de Lotus, o japonês Satoru Nakajima, ainda na Lotus, retardatário. Era a volta 42 de um total de 71. Senna, líder, foi ultrapassá-lo no Bico do Pato, Nakajima não viu e danificou o aerofólio dianteiro da McLaren. Com o pit stop extra para substituí-lo Senna terminou em terceiro. Nessas quatro edições Senna havia largado na pole position.

1991. Dia 24 de março. O GP do Brasil era o segundo da temporada. Senna desembarcou em São Paulo depois de ganhar a etapa de abertura do campeonato, em Phoenix, nos Estados Unidos. A Williams havia construído um carro mais veloz que o da McLaren, mas por ser inovador precisaria de um tempo para ser desenvolvido. Seu projetista viria a se tornar uma lenda na F1, Adrian Newey.

FEITO INCRÍVEL

É sobre a extraordinária história desse evento em Interlagos, em que Senna realizou mais um dos seus sonhos, de forma dramática, que nos debruçamos agora. O texto corre solto, vai longe. Apresentá-lo hoje tem todo sentido: faz exatos 25 anos daquele domingo único na carreira do piloto. “Não foi a minha maior vitória, mas a mais sofrida. Ficará guardada na minha memória para o resto da minha vida”, afirmou Senna anos depois. Os profissionais da F1 a colocam dentre as maiores das suas 41 vitórias.


Ayrton Senna no GP do Brasil de 1991 (Foto: Getty Images)

TESTEMUNHAS


Riccardo Patrese, em 1991, na Williams (Foto: Divulgação/Williams)

O GloboEsporte.com ouviu dois personagens chave daquele fim de semana único em Interlagos, onde Senna daria mais uma demonstração de sua capacidade, ao pilotar as últimas sete voltas apenas com a sexta marcha. O primeiro é o italiano Riccardo Patrese, piloto da Williams. Na 61ª volta da corrida, a dez da bandeirada, era o segundo colocado, nada menos de 40 segundos atrás de Senna, líder. Cruzaria a linha de chegada apenas 2s 991 depois do brasileiro.

“Se soubesse dos problemas de Senna duas voltas antes talvez pudesse vencer”, afirmou Patrese ao GloboEsporte.com. “Mas Senna era um piloto não apenas muito rápido como dotado de grande senso de estratégia. Escondeu o quanto pôde suas dificuldades”. Seu relato é dos mais interessantes.

O outro personagem é o mexicano Jo Ramirez, o coordenador da equipe de Senna, a McLaren, consciente do drama do piloto com o câmbio. “Embora sem conhecer sua extensão, pois Ayrton não nos contou no rádio ser tão grave”, disse ao GloboEsporte.com. Ramirez torcia para Patrese não ultrapassá-lo, queria ver o amigo comemorar sua primeira vitória no GP do Brasil. “Sabia quanto aquilo era importante para Ayrton”. Ramirez revelará detalhes pouco conhecidos da conquista.


Jo Ramirez foi confidente de Ayrton Senna na Fórmula 1 (Foto: Reprodução / Twitter)

LEÃO, O MAIOR RISCO

A corrida se desenvolvia dentro do programado por Senna. Largar na pole position e manter-se em primeiro o tempo todo, como gostava de conduzir a competição. Mas a exemplo do demonstrado na abertura do Mundial duas semanas antes, o modelo FW14-Renault V-10 da Williams representava um passo adiante em relação do MP4/6 Honda V-12 da McLaren. Nigel Mansell ultrapassou o companheiro de Williams, Patrese, na largada e na 20ª volta estava apenas 7 décimos de segundo atrás de Senna.

Outra vez parecia ser possível Senna não comemorar a tão sonhada vitória em casa. Já havia sido campeão do mundo em 1988 e no ano anterior àquele prova, 1990, mas não conseguira ainda vencer diante da sua torcida, de quem não era mais ídolo, mas herói. Se Mansell ultrapassasse Senna, é provável que pudesse ser mais rápido.


Nigel Mansell em ação com a Williams no GP do Brasil de 1991 (Foto: Divulgação)

Mas aí entrou em cena a primeira das “ajudas do céu”, segundo o próprio Senna falou, mais tarde. Mansell entrou nos boxes na 26ª volta, de um total de 71, para o primeiro pit stop. O trabalho da Williams foi desastroso. O “Leão” permaneceu parado 14 segundos. Perdeu não apenas o segundo lugar para Patrese, como o terceiro para Jean Alesi, da Ferrari.

Em seguida ao pit stop de Senna e Patrese o inglês da Williams se encontra 7 segundos atrás de Senna, sempre líder. Como antes da parada, Mansell voa na pista, assume o segundo lugar e se coloca, na 46ª volta, a 4s1 de Senna. O ataque parecia iminente.

Hora de Senna contar com os acontecimentos favoráveis que não teve nas edições anteriores do GP do Brasil. Na 50ª volta, o Leão vai surpreendentemente para os boxes de novo. Motivo: pneu furado. Senna não acredita. Começa a imaginar que finalmente vai comemorar a vitória em Interlagos. Ao regressar à pista, Mansell está, na passagem seguinte, 51ª, a 34s8 de Senna. Nessa hora começou a chover levemente na área do autódromo.

O DRAMA DO CÂMBIO

O que apenas Senna sabia era que a quarta marcha estava escapando. Comunicou apenas "dificuldade" com o câmbio. Senna revelaria depois da bandeirada: “Faltando 20 voltas para o final (nessa hora, portanto), perdi completamente a quarta marcha. Foi quase o fim para mim. Eu precisava mudar as marchas sem passar pela quarta, tinha de fazer um esforço tremendo com o braço. Com isso, além de perder tempo, comecei a ter um desgaste (físico) maior do que teria já com o acumulado da corrida”.

Mansell dá voltas seguidas que, na média, o permitem descontar pouco mais de 2 segundos por volta em relação a Senna. Como restavam 20 voltas e a diferença era de 34 segundos, o Leão provavelmente ultrapassaria o herói da torcida e o impediria, mais uma vez, de ganhar em Interlagos. Na volta 57, o inglês estava a 21 segundos cravados de Senna. E restam 14 voltas. Patrese, a essa altura resignado com a superioridade dos dois primeiros na corrida, seguia em terceiro, a 20 segundos de Mansell.


Riccardo Patrese, em 1991, na Williams (Foto: Getty Images)

Os problemas de Senna se multiplicam exponencialmente. “Comecei a ter dores no pescoço, ombro e nos braços. De repente fiquei sem a quinta e a terceira marchas, nada funcionava.” E Mansell se aproximando, para a aflição dos 65 mil espectadores nas arquibancadas lotadas.

Volta de número 59, Mansell passa na linha de chegada a 18s9 décimos de Senna. Mais uma vez o piloto da McLaren conta com a ajuda divina. Ele citaria Deus no fim. O Leão roda no S do Senna. Na realidade, a perda de controle da Williams foi motivada pela quebra do câmbio semiautomático do modelo FW14. Mansell abandona. A Ferrari havia lançado essa complexa tecnologia em 1989 e a Williams, em 1991, a adotou.

O carro não tinha mais a tradicional alavanca de câmbio, acionada com a mão direita, enquanto a esquerda controlava o volante, como faziam os demais pilotos. Mansell e Patrese, bem como Alain Prost e Jean Alesi, na Ferrari, dispunham de uma pequena alavanca atrás do volante para trocar as marchas. E tampouco precisavam acionar o pedal da embreagem. Aquilo tudo, porém, era novo e demoraria algumas etapas para Mansell começar a vencer sem parar naquela temporada.

Na 60ª volta o Leão está fora e Patrese, segundo colocado, na 61ª volta, a impressionantes 40s4 décimos de Senna. O brasileiro já não sabe o que fazer para se manter na pista. Mas ninguém conhece seu drama em detalhes, nem seus engenheiros. Estava sem a quarta, quinta e terceira marchas, pilotando um carro com um motor V-12, de 700 cavalos de potência e pneus com mais de 30 voltas no asfalto abrasivo de Interlagos naquela época.

BOM ATOR




Patrese vê a diferença para Senna cair, mas diante de o piloto não comunicar nada de mais sério a sua equipe, ninguém deu nenhuma demonstração nos boxes de apreensão, o que certamente levaria o pessoal da Williams a comunicar Patrese que Senna deveria ter algo sério no carro. O italiano descreve aquele momento da prova: “Eu via as placas que meu time mostrava, a diferença estava caindo, mas pensei que Senna administrava a enorme vantagem que tinha”.

Patrese diz, ainda: “Eu não acelerei mais porque, como falei, achei que Senna poderia ser mais rápido, se precisasse, e eu também tinha meus problemas com o nosso novo câmbio semiautomático. Poucos sabem que eu tinha apenas cinco das seis marchas. Era um problema do carro. Fomos para Interlagos com uma relação de marchas que era uma segunda quinta marcha, não a sexta propriamente. O projeto do câmbio precisava ser revisto na fábrica”.

Mesmo assim, Patrese tinha cinco marchas, e Senna, apenas uma, a sexta, na 63ª volta, como explicou: “Faltando oito voltas para o final, a única marcha que entrou foi a sexta. Quando eu tentava mudar entrava o ponto morto. Coloquei a sexta e fui em sexta as sete voltas que faltavam. Na reta tudo bem, mas nas curvas lentas era quase impossível guiar o carro. O esforço que eu tinha da fazer para segurar o volante era maior ainda porque o motor empurrava o carro para fora das curvas lentas. Além desse problema, o motor ficava com numa RPM (rotação) muito baixa, não tinha potência”.

Ramirez lembra desse instante, a 63ª volta: “Confiávamos na capacidade de Ayrton improvisar, vimos que ele mudou a sua forma de pilotar. Essa era outra das grandes qualidades de Ayrton, se adaptava a cada condição nova que se apresentasse. Se fosse hoje, mesmo sem Ayrton nos contar o que se passava, ao menos em detalhes, nós saberíamos do que se tratava e poderíamos, dos boxes, provavelmente ajudá-lo. Naquela época o piloto tinha de encontrar as respostas sozinho”.

O ALERTA, TARDE DEMAIS

Duas voltas mais tarde, na 65ª, a equipe Williams entra no rádio para falar com Patrese. “Eles me disseram que Senna não estava administrando a vantagem, tinha sérios problemas. Não sabíamos o que era. Eu pensei, então, que era motor. A diferença entre os nossos tempos de volta não indicavam mais que Senna poderia voltar a exigir do carro”.

É possível quantificar o que Patrese descreveu. Na 65ª volta Senna registrou 1min28s3, enquanto o piloto da Williams, 1min21s9. E Gerhard Berger, companheiro de Senna na McLaren, 1min21s6. Senna havia sido mais de 6 segundos mais lento que Patrese. A diferença entre eles ficou em 20 segundos e 6 décimos.

“Na volta seguinte (66ª), ficou claro para mim que eu poderia, talvez, vencer. Fui muito mais rápido que Senna”, disse Patrese. De fato, percorreu os 4.325 metros de Interlagos (hoje o traçado tem 4.309 metros) em 1min22s3 e Senna, 1min28s6, reduzindo a diferença para 14s3. “Nessa hora entendi que, como falei, talvez desse para ganhar, mas também eu precisaria ter descoberto que Senna tinha problemas umas duas voltas antes”

CHEGAR É UMA COISA, PASSAR É OUTRA

O pessoal da McLaren compreende que a escuderia pode não vencer a segunda etapa do campeonato e Senna, pela primeira vez em casa. Ramirez descreve o ambiente nos boxes: “A diferença nos tempos de volta cresceu muito. Mas mesmo assim Ron (Dennis, sócio e diretor da McLaren), todos nós sabíamos do que Ayrton era capaz, não havia ninguém como ele. Eu, pessoalmente, por conhecê-lo bem, e entender o valor daquela vitória para ele, tinha certeza de que não deixaria Patrese ultrapassá-lo diante da sua torcida. De repente o nosso carro iria ficar largo, largo”.

Volta 67. Restam quatro. Patrese com a palavra: “Meu time seguia me estimulando para dar tudo, acelera, acelera, podemos vencer, diziam”. Tempo do italiano, 1min21s4. Senna, 1min25s8. Diferença entre ambos: 9s9. Na volta 68, Patrese cruza a 5s4 décimos de Senna. Na 69, a 4s1.

O piloto da McLaren, exaurido, faz de tudo para não ser alcançado pelo piloto da Williams. “Eu via o Patrese chegando, chegando. Procurei mudar meu estilo de guiar para manter as RPM mais em cima, mas para isso eu tinha de ir mais forte para as curvas, segurar o volante ainda mais nos braços, literalmente”, disse na época.

Hora para outra providência dos céus, lembrando que restavam apenas duas voltas. De novo uma chuva fina molha levemente o asfalto. O desafio de Senna cresce ainda mais, por estar com apenas a sexta marcha. Ele contou: “Começou a garoar, quase passei reto na reta dos boxes, sem poder trocar as marchas, sem poder fazer nada. Quase foi tudo (embora) ali”.

Pela primeira vez, restando menos de duas voltas, Senna vê a possibilidade de poder não vencer, o que não quer dizer não tentaria até a última instância. Estava na 70ª volta. Teria de completá-la e a seguinte, a da bandeirada. O público em Interlagos estava de pé, acompanhando cada passo da empolgante luta.

“Eu achei que não ia ganhar nas duas voltas finais com o problema no câmbio nas últimas 7 voltas. Eu falei... se der vai ser no grito. Aí eu pensei comigo, eu lutei tanto esses anos para chegar nisso e hoje lutei tanto... eu falei vai ter que dar, vai ter que dar”, contou, emocionado, Senna na ocasião.

Com o asfalto úmido, mesmo com todas as dificuldades de Senna com a McLaren apenas em sexta marcha, seu tempo de volta na penúltima passagem, 70ª, foi excelente, 1min25s1. Patrese é somente um pouco mais rápido, 1min24s7 (4 décimos de segundo). O público acredita mais, agora, na vitória. E vibra nas arquibancadas, muitos sem se importar com a leve chuva.

PRESSÃO PARA FIM DA PROVA

Mihaly Hidasy, o diretor de prova, vê Senna apontar o céu nas últimas voltas. Desejava que ele antecipasse o fim da corrida, alegando condições perigosas, decorrente da chuva. Com 69 voltas, mais de 75% de competição, ele receberia a pontuação integral, 10 pontos, uma novidade naquele ano, em vez dos 9 tradicionais. E não haveria mais, ainda, a partir de 1991, o descarte dos 4 ou 5 piores resultados, dependendo do número de etapas, como acontecia desde a origem da F1, em 1950. Hidasy não atende Senna.

No asfalto seco Patrese conseguia ser bem mais rápido. Na chuva, ao contrário do que se poderia esperar, não. A garoa de São Paulo se mostrou decisiva para Senna completar a 71ª volta e receber a tão merecida bandeirada em primeiro lugar, 2s991 na frente de Patrese, realizando outro grande sonho. Pela reação da torcida, sonho dela também.

Senna falou mais tarde sobre como se sentia, no cockpit, naquele instante crucial da prova: “Disse (a si próprio), hoje vou ter que chegar em primeiro porque Ele é maior de todos e Ele vai me dar essa corrida depois de tudo e foi isso mesmo, Deus me deu essa corrida. Valeu. Estou feliz demais, a emoção foi muito grande”.

GOSTO RUIM NA BOCA


Ayrton Senna - GP do Brasil de 1991 (Foto: Getty Images)

Logo em seguida a cruzar a linha de chegada Patrese sentiu o chamado gosto amargo na boca. “Senti, sim. A Williams me avisou muito tarde, mas foi mérito do Ayrton também. Seu senso tático fez com que percebêssemos seus problemas muito tarde. Duas voltas antes e eu teria provavelmente vencido.”

O segundo lugar, disse o italiano, era um bom resultado para a Williams, por causa de o FW14 ser completamente novo e muito avançado, o primeiro do jovem Newey para a escuderia, depois de ter sido dispensado pelo japonês Akira Akagi, dono da March Leyton House, para quem projetava os carros. “Antes da largada tínhamos dúvida se conseguiríamos terminar o GP. Portanto o segundo lugar foi ótimo”, afirmou Patrese.

O coordenador da McLaren tomou um banho de champanhe, debaixo do pódio, com a explosão de alegria de Senna que mal podia se mover na cerimônia. “Gerhard Berger, terceiro colocado, em conversa informal com o repórter do GloboEsporte.com, no GP de Bahrein do ano passado, comentou nunca ter esperado tanto tempo para receber um troféu depois da corrida. Ele e Senna viriam a se tornar grandes amigos. Ramirez: "Eu, Ron, Neil (Neil Oatley, projetista do carro de Senna), todos estavam emocionados".

NOCAUTE FÍSICO



Senna percorria aos gritos a pista depois da bandeirada e parou na Reta Oposta para pedir a bandeira do Brasil a um comissário. Sua condição física havia atingido o limite. Precisou ser atendido pelo médico da FIA e seu amigo, Sid Watkins, ainda dentro do cockpit, em frente a arquibancada da Reta Oposta, com o público em festa com a impressionante vitória.

O piloto explica: “O motor parou (quando pediu a bandeira) porque não dava para engatar marcha nenhuma. A minha dor era absurda. Senti alguma coisa parecida na minha segunda corrida de F1, em 84, na Toleman (chegou em sexto no GP da África do Sul), eu tinha espasmo no corpo inteiro. Não que (agora) eu não esteja bem preparado fisicamente, estou, mas é que depois de um fim de semana inteiro de estresse enorme, pressão e as condições da corrida, hoje era mais do que eu podia. Só podia terminar assim, sem nada sobrando”.




Só muito depois da bandeirada Senna apareceu no pódio, cerca de 20 minutos, por causa do atendimento médico na pista. A imagem de Senna buscando as últimas forças para levantar o troféu do vencedor é uma das mais importantes da história de 44 GPs do Brasil de F1.

“Eu me lembro de tê-lo ajudado no pódio, não conseguia se mover”, disse Patrese. “E foi somente lá que eu soube que ele tinha problemas no câmbio, Ayrton me contou como tinha sido sua corrida. Eu o cumprimentei, então, ainda mais pela vitória.”

Se fosse hoje Senna não conseguiria proeza semelhante, diz Patrese. “Fez um belo trabalho, só com a sexta marcha, jogando com a embreagem. Nas curvas lentas deve ter sido muito difícil. Hoje são oito marchas, não existe a embreagem, ao menos como era, e o motor não tem potência nos regimes de giros baixos. Não daria. Mas naquele tempo nós pilotos é que tínhamos de resolver nossos problemas ali na hora, não a equipe, dos boxes, como é hoje".

TUDO QUEBRADO

A McLaren abriu o câmbio do carro de Senna quando os equipamentos chegaram em Woking, sua sede, ao sul de Londres, dois dias depois. Ramirez estava lá. “Havia anéis sincronizadores quebrados e faltavam dentes nas engrenagens”. Como Senna conseguiu concluir a prova representou quase um mistério para o time, segundo disse.

FESTA COM PELÉ

Mas teve festa naquele domingo à noite, em São Paulo. “Fomos a uma danceteria. E Pelé estava lá. Lembro de um grupo de pessoas, dentre elas Pelé, colocar o Ayrton nos ombros e andar com ele pela danceteria. Eu me senti um privilegiado por fazer parte da McLaren, acompanhar tudo o que se passou com o Ayrton no fim de semana e estar lá celebrando sua primeira vitória no Brasil”, contou Ramirez.



FONTE PESQUISADA


ORICCHIO, Livio. Uma marcha, blefe, dança com Pelé... Por trás da 1ª vitória de Senna no Brasil. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2016/03/uma-marcha-blefe-danca-com-pele-por-tras-da-1-vitoria-de-senna-no-brasil.html>. Acesso em: 01 de julho 2017.



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