24/03/2016 06h30 - Atualizado
em 24/03/2016 06h30
Globo Esporte - globoesporte.globo.com
Coordenador da McLaren conta
que Ayrton escondeu falha no câmbio. Segundo na corrida, Patrese diz: "Se
soubesse dos problemas duas voltas antes teria vencido"
Por Livio Oricchio
Nice, França
Ayrton Senna sempre teve sonhos na F1. Primeiro era ser campeão do mundo. Depois, igualar ou mesmo superar o ídolo, Juan Manuel Fangio, com seus cinco títulos, e tornar-se o maior da história. Outro era vencer o GP do Brasil, em especial o disputado em Interlagos, na sua cidade, São Paulo. Mais: ganhar uma corrida com uma volta de vantagem para Alain Prost, o companheiro na McLaren-Honda, em 1988 e 1989. Em 1988, em sua primeira grande chance, apesar de dispor de um supercarro, o lendário MP4/4-Honda, quebrou o trambulador do câmbio antes do início da prova. Passou para o carro reserva depois do horário limite e largou. Mas a direção de prova o obrigou a parar. Em 1989, Senna se envolveu num acidente na primeira curva com Riccardo Patrese, Williams, e Gerhard Berger, Ferrari. Os dois GP foram realizados em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.
Pelo desgaste físico de
correr voltas finais com uma marcha, Senna teve dificuldades para erguer o
troféus (Getty Images)
Ayrton Senna GP do Brasil 1991
Em 1990, Senna ajudou a
definir o novo traçado de Interlagos, de volta ao calendário da F1. Quando
parecia que desta vez realizaria outro dos seus sonhos – já havia sido campeão
do mundo em 1988 - eis que surge na sua frente o ex-companheiro de Lotus, o
japonês Satoru Nakajima, ainda na Lotus, retardatário. Era a volta 42 de um
total de 71. Senna, líder, foi ultrapassá-lo no Bico do Pato, Nakajima não viu
e danificou o aerofólio dianteiro da McLaren. Com o pit stop extra para
substituí-lo Senna terminou em terceiro. Nessas quatro edições Senna havia
largado na pole position.
1991. Dia 24 de março. O GP
do Brasil era o segundo da temporada. Senna desembarcou em São Paulo depois de
ganhar a etapa de abertura do campeonato, em Phoenix, nos Estados Unidos. A
Williams havia construído um carro mais veloz que o da McLaren, mas por ser
inovador precisaria de um tempo para ser desenvolvido. Seu projetista viria a
se tornar uma lenda na F1, Adrian Newey.
FEITO INCRÍVEL
É sobre a extraordinária
história desse evento em Interlagos, em que Senna realizou mais um dos seus
sonhos, de forma dramática, que nos debruçamos agora. O texto corre solto, vai
longe. Apresentá-lo hoje tem todo sentido: faz exatos 25 anos daquele domingo
único na carreira do piloto. “Não foi a minha maior vitória, mas a mais
sofrida. Ficará guardada na minha memória para o resto da minha vida”, afirmou
Senna anos depois. Os profissionais da F1 a colocam dentre as maiores das suas 41
vitórias.
Ayrton Senna no GP do Brasil
de 1991 (Foto: Getty Images)
O GloboEsporte.com ouviu dois
personagens chave daquele fim de semana único em Interlagos, onde Senna daria
mais uma demonstração de sua capacidade, ao pilotar as últimas sete voltas
apenas com a sexta marcha. O primeiro é o italiano Riccardo Patrese, piloto da
Williams. Na 61ª volta da corrida, a dez da bandeirada, era o segundo colocado,
nada menos de 40 segundos atrás de Senna, líder. Cruzaria a linha de chegada
apenas 2s 991 depois do brasileiro.
“Se soubesse dos problemas de
Senna duas voltas antes talvez pudesse vencer”, afirmou Patrese ao
GloboEsporte.com. “Mas Senna era um piloto não apenas muito rápido como dotado
de grande senso de estratégia. Escondeu o quanto pôde suas dificuldades”. Seu
relato é dos mais interessantes.
O outro personagem é o mexicano
Jo Ramirez, o coordenador da equipe de Senna, a McLaren, consciente do drama do
piloto com o câmbio. “Embora sem conhecer sua extensão, pois Ayrton não nos
contou no rádio ser tão grave”, disse ao GloboEsporte.com. Ramirez torcia para
Patrese não ultrapassá-lo, queria ver o amigo comemorar sua primeira vitória no
GP do Brasil. “Sabia quanto aquilo era importante para Ayrton”. Ramirez
revelará detalhes pouco conhecidos da conquista.
Jo Ramirez foi confidente de
Ayrton Senna na Fórmula 1 (Foto: Reprodução / Twitter)
LEÃO, O MAIOR RISCO
A corrida se desenvolvia
dentro do programado por Senna. Largar na pole position e manter-se em primeiro
o tempo todo, como gostava de conduzir a competição. Mas a exemplo do
demonstrado na abertura do Mundial duas semanas antes, o modelo FW14-Renault V-10
da Williams representava um passo adiante em relação do MP4/6 Honda V-12 da
McLaren. Nigel Mansell ultrapassou o companheiro de Williams, Patrese, na
largada e na 20ª volta estava apenas 7 décimos de segundo atrás de Senna.
Outra vez parecia ser
possível Senna não comemorar a tão sonhada vitória em casa. Já havia sido
campeão do mundo em 1988 e no ano anterior àquele prova, 1990, mas não
conseguira ainda vencer diante da sua torcida, de quem não era mais ídolo, mas
herói. Se Mansell ultrapassasse Senna, é provável que pudesse ser mais rápido.
Nigel Mansell em ação com a
Williams no GP do Brasil de 1991 (Foto: Divulgação)
Mas aí entrou em cena a
primeira das “ajudas do céu”, segundo o próprio Senna falou, mais tarde.
Mansell entrou nos boxes na 26ª volta, de um total de 71, para o primeiro pit
stop. O trabalho da Williams foi desastroso. O “Leão” permaneceu parado 14
segundos. Perdeu não apenas o segundo lugar para Patrese, como o terceiro para
Jean Alesi, da Ferrari.
Em seguida ao pit stop de
Senna e Patrese o inglês da Williams se encontra 7 segundos atrás de Senna,
sempre líder. Como antes da parada, Mansell voa na pista, assume o segundo
lugar e se coloca, na 46ª volta, a 4s1 de Senna. O ataque parecia iminente.
Hora de Senna contar com os
acontecimentos favoráveis que não teve nas edições anteriores do GP do Brasil.
Na 50ª volta, o Leão vai surpreendentemente para os boxes de novo. Motivo: pneu
furado. Senna não acredita. Começa a imaginar que finalmente vai comemorar a
vitória em Interlagos. Ao regressar à pista, Mansell está, na passagem
seguinte, 51ª, a 34s8 de Senna. Nessa hora começou a chover levemente na área
do autódromo.
O DRAMA DO CÂMBIO
O que apenas Senna sabia era
que a quarta marcha estava escapando. Comunicou apenas "dificuldade"
com o câmbio. Senna revelaria depois da bandeirada: “Faltando 20 voltas para o
final (nessa hora, portanto), perdi completamente a quarta marcha. Foi quase o
fim para mim. Eu precisava mudar as marchas sem passar pela quarta, tinha de
fazer um esforço tremendo com o braço. Com isso, além de perder tempo, comecei
a ter um desgaste (físico) maior do que teria já com o acumulado da corrida”.
Mansell dá voltas seguidas
que, na média, o permitem descontar pouco mais de 2 segundos por volta em
relação a Senna. Como restavam 20 voltas e a diferença era de 34 segundos, o
Leão provavelmente ultrapassaria o herói da torcida e o impediria, mais uma
vez, de ganhar em Interlagos. Na volta 57, o inglês estava a 21 segundos
cravados de Senna. E restam 14 voltas. Patrese, a essa altura resignado com a
superioridade dos dois primeiros na corrida, seguia em terceiro, a 20 segundos
de Mansell.
Riccardo Patrese, em 1991, na
Williams (Foto: Getty Images)
Os problemas de Senna se
multiplicam exponencialmente. “Comecei a ter dores no pescoço, ombro e nos
braços. De repente fiquei sem a quinta e a terceira marchas, nada funcionava.”
E Mansell se aproximando, para a aflição dos 65 mil espectadores nas
arquibancadas lotadas.
Volta de número 59, Mansell
passa na linha de chegada a 18s9 décimos de Senna. Mais uma vez o piloto da
McLaren conta com a ajuda divina. Ele citaria Deus no fim. O Leão roda no S do Senna.
Na realidade, a perda de controle da Williams foi motivada pela quebra do
câmbio semiautomático do modelo FW14. Mansell abandona. A Ferrari havia lançado
essa complexa tecnologia em 1989 e a Williams, em 1991, a adotou.
O carro não tinha mais a tradicional
alavanca de câmbio, acionada com a mão direita, enquanto a esquerda controlava
o volante, como faziam os demais pilotos. Mansell e Patrese, bem como Alain
Prost e Jean Alesi, na Ferrari, dispunham de uma pequena alavanca atrás do
volante para trocar as marchas. E tampouco precisavam acionar o pedal da
embreagem. Aquilo tudo, porém, era novo e demoraria algumas etapas para Mansell
começar a vencer sem parar naquela temporada.
Na 60ª volta o Leão está fora
e Patrese, segundo colocado, na 61ª volta, a impressionantes 40s4 décimos de
Senna. O brasileiro já não sabe o que fazer para se manter na pista. Mas
ninguém conhece seu drama em detalhes, nem seus engenheiros. Estava sem a
quarta, quinta e terceira marchas, pilotando um carro com um motor V-12, de 700
cavalos de potência e pneus com mais de 30 voltas no asfalto abrasivo de
Interlagos naquela época.
Patrese vê a diferença para
Senna cair, mas diante de o piloto não comunicar nada de mais sério a sua
equipe, ninguém deu nenhuma demonstração nos boxes de apreensão, o que
certamente levaria o pessoal da Williams a comunicar Patrese que Senna deveria
ter algo sério no carro. O italiano descreve aquele momento da prova: “Eu via
as placas que meu time mostrava, a diferença estava caindo, mas pensei que
Senna administrava a enorme vantagem que tinha”.
Patrese diz, ainda: “Eu não
acelerei mais porque, como falei, achei que Senna poderia ser mais rápido, se
precisasse, e eu também tinha meus problemas com o nosso novo câmbio
semiautomático. Poucos sabem que eu tinha apenas cinco das seis marchas. Era um
problema do carro. Fomos para Interlagos com uma relação de marchas que era uma
segunda quinta marcha, não a sexta propriamente. O projeto do câmbio precisava
ser revisto na fábrica”.
Mesmo assim, Patrese tinha
cinco marchas, e Senna, apenas uma, a sexta, na 63ª volta, como explicou:
“Faltando oito voltas para o final, a única marcha que entrou foi a sexta.
Quando eu tentava mudar entrava o ponto morto. Coloquei a sexta e fui em sexta
as sete voltas que faltavam. Na reta tudo bem, mas nas curvas lentas era quase
impossível guiar o carro. O esforço que eu tinha da fazer para segurar o
volante era maior ainda porque o motor empurrava o carro para fora das curvas
lentas. Além desse problema, o motor ficava com numa RPM (rotação) muito baixa,
não tinha potência”.
Ramirez lembra desse
instante, a 63ª volta: “Confiávamos na capacidade de Ayrton improvisar, vimos
que ele mudou a sua forma de pilotar. Essa era outra das grandes qualidades de
Ayrton, se adaptava a cada condição nova que se apresentasse. Se fosse hoje,
mesmo sem Ayrton nos contar o que se passava, ao menos em detalhes, nós
saberíamos do que se tratava e poderíamos, dos boxes, provavelmente ajudá-lo.
Naquela época o piloto tinha de encontrar as respostas sozinho”.
O ALERTA, TARDE DEMAIS
Duas voltas mais tarde, na
65ª, a equipe Williams entra no rádio para falar com Patrese. “Eles me disseram
que Senna não estava administrando a vantagem, tinha sérios problemas. Não
sabíamos o que era. Eu pensei, então, que era motor. A diferença entre os
nossos tempos de volta não indicavam mais que Senna poderia voltar a exigir do
carro”.
É possível quantificar o que
Patrese descreveu. Na 65ª volta Senna registrou 1min28s3, enquanto o piloto da
Williams, 1min21s9. E Gerhard Berger, companheiro de Senna na McLaren, 1min21s6.
Senna havia sido mais de 6 segundos mais lento que Patrese. A diferença entre
eles ficou em 20 segundos e 6 décimos.
“Na volta seguinte (66ª),
ficou claro para mim que eu poderia, talvez, vencer. Fui muito mais rápido que
Senna”, disse Patrese. De fato, percorreu os 4.325 metros de Interlagos (hoje o
traçado tem 4.309 metros) em 1min22s3 e Senna, 1min28s6, reduzindo a diferença
para 14s3. “Nessa hora entendi que, como falei, talvez desse para ganhar, mas
também eu precisaria ter descoberto que Senna tinha problemas umas duas voltas
antes”
CHEGAR É UMA COISA, PASSAR É
OUTRA
O pessoal da McLaren
compreende que a escuderia pode não vencer a segunda etapa do campeonato e
Senna, pela primeira vez em casa. Ramirez descreve o ambiente nos boxes: “A
diferença nos tempos de volta cresceu muito. Mas mesmo assim Ron (Dennis, sócio
e diretor da McLaren), todos nós sabíamos do que Ayrton era capaz, não havia
ninguém como ele. Eu, pessoalmente, por conhecê-lo bem, e entender o valor
daquela vitória para ele, tinha certeza de que não deixaria Patrese
ultrapassá-lo diante da sua torcida. De repente o nosso carro iria ficar largo,
largo”.
Volta 67. Restam quatro.
Patrese com a palavra: “Meu time seguia me estimulando para dar tudo, acelera,
acelera, podemos vencer, diziam”. Tempo do italiano, 1min21s4. Senna, 1min25s8.
Diferença entre ambos: 9s9. Na volta 68, Patrese cruza a 5s4 décimos de Senna.
Na 69, a 4s1.
O piloto da McLaren,
exaurido, faz de tudo para não ser alcançado pelo piloto da Williams. “Eu via o
Patrese chegando, chegando. Procurei mudar meu estilo de guiar para manter as
RPM mais em cima, mas para isso eu tinha de ir mais forte para as curvas,
segurar o volante ainda mais nos braços, literalmente”, disse na época.
Hora para outra providência
dos céus, lembrando que restavam apenas duas voltas. De novo uma chuva fina
molha levemente o asfalto. O desafio de Senna cresce ainda mais, por estar com
apenas a sexta marcha. Ele contou: “Começou a garoar, quase passei reto na reta
dos boxes, sem poder trocar as marchas, sem poder fazer nada. Quase foi tudo
(embora) ali”.
Pela primeira vez, restando
menos de duas voltas, Senna vê a possibilidade de poder não vencer, o que não
quer dizer não tentaria até a última instância. Estava na 70ª volta. Teria de
completá-la e a seguinte, a da bandeirada. O público em Interlagos estava de
pé, acompanhando cada passo da empolgante luta.
“Eu achei que não ia ganhar
nas duas voltas finais com o problema no câmbio nas últimas 7 voltas. Eu
falei... se der vai ser no grito. Aí eu pensei comigo, eu lutei tanto esses
anos para chegar nisso e hoje lutei tanto... eu falei vai ter que dar, vai ter
que dar”, contou, emocionado, Senna na ocasião.
Com o asfalto úmido, mesmo
com todas as dificuldades de Senna com a McLaren apenas em sexta marcha, seu
tempo de volta na penúltima passagem, 70ª, foi excelente, 1min25s1. Patrese é
somente um pouco mais rápido, 1min24s7 (4 décimos de segundo). O público
acredita mais, agora, na vitória. E vibra nas arquibancadas, muitos sem se
importar com a leve chuva.
PRESSÃO PARA FIM DA PROVA
Mihaly Hidasy, o diretor de
prova, vê Senna apontar o céu nas últimas voltas. Desejava que ele antecipasse
o fim da corrida, alegando condições perigosas, decorrente da chuva. Com 69
voltas, mais de 75% de competição, ele receberia a pontuação integral, 10
pontos, uma novidade naquele ano, em vez dos 9 tradicionais. E não haveria
mais, ainda, a partir de 1991, o descarte dos 4 ou 5 piores resultados,
dependendo do número de etapas, como acontecia desde a origem da F1, em 1950.
Hidasy não atende Senna.
No asfalto seco Patrese
conseguia ser bem mais rápido. Na chuva, ao contrário do que se poderia
esperar, não. A garoa de São Paulo se mostrou decisiva para Senna completar a
71ª volta e receber a tão merecida bandeirada em primeiro lugar, 2s991 na
frente de Patrese, realizando outro grande sonho. Pela reação da torcida, sonho
dela também.
Senna falou mais tarde sobre
como se sentia, no cockpit, naquele instante crucial da prova: “Disse (a si
próprio), hoje vou ter que chegar em primeiro porque Ele é maior de todos e Ele
vai me dar essa corrida depois de tudo e foi isso mesmo, Deus me deu essa
corrida. Valeu. Estou feliz demais, a emoção foi muito grande”.
Logo em seguida a cruzar a
linha de chegada Patrese sentiu o chamado gosto amargo na boca. “Senti, sim. A
Williams me avisou muito tarde, mas foi mérito do Ayrton também. Seu senso
tático fez com que percebêssemos seus problemas muito tarde. Duas voltas antes
e eu teria provavelmente vencido.”
O segundo lugar, disse o
italiano, era um bom resultado para a Williams, por causa de o FW14 ser
completamente novo e muito avançado, o primeiro do jovem Newey para a
escuderia, depois de ter sido dispensado pelo japonês Akira Akagi, dono da
March Leyton House, para quem projetava os carros. “Antes da largada tínhamos
dúvida se conseguiríamos terminar o GP. Portanto o segundo lugar foi ótimo”,
afirmou Patrese.
O coordenador da McLaren
tomou um banho de champanhe, debaixo do pódio, com a explosão de alegria de
Senna que mal podia se mover na cerimônia. “Gerhard Berger, terceiro colocado,
em conversa informal com o repórter do GloboEsporte.com, no GP de Bahrein do
ano passado, comentou nunca ter esperado tanto tempo para receber um troféu
depois da corrida. Ele e Senna viriam a se tornar grandes amigos. Ramirez:
"Eu, Ron, Neil (Neil Oatley, projetista do carro de Senna), todos estavam
emocionados".
NOCAUTE FÍSICO
Senna percorria aos gritos a
pista depois da bandeirada e parou na Reta Oposta para pedir a bandeira do
Brasil a um comissário. Sua condição física havia atingido o limite. Precisou
ser atendido pelo médico da FIA e seu amigo, Sid Watkins, ainda dentro do
cockpit, em frente a arquibancada da Reta Oposta, com o público em festa com a
impressionante vitória.
O piloto explica: “O motor
parou (quando pediu a bandeira) porque não dava para engatar marcha nenhuma. A
minha dor era absurda. Senti alguma coisa parecida na minha segunda corrida de
F1, em 84, na Toleman (chegou em sexto no GP da África do Sul), eu tinha
espasmo no corpo inteiro. Não que (agora) eu não esteja bem preparado
fisicamente, estou, mas é que depois de um fim de semana inteiro de estresse
enorme, pressão e as condições da corrida, hoje era mais do que eu podia. Só
podia terminar assim, sem nada sobrando”.
Só muito depois da bandeirada
Senna apareceu no pódio, cerca de 20 minutos, por causa do atendimento médico
na pista. A imagem de Senna buscando as últimas forças para levantar o troféu
do vencedor é uma das mais importantes da história de 44 GPs do Brasil de F1.
“Eu me lembro de tê-lo
ajudado no pódio, não conseguia se mover”, disse Patrese. “E foi somente lá que
eu soube que ele tinha problemas no câmbio, Ayrton me contou como tinha sido
sua corrida. Eu o cumprimentei, então, ainda mais pela vitória.”
Se fosse hoje Senna não
conseguiria proeza semelhante, diz Patrese. “Fez um belo trabalho, só com a
sexta marcha, jogando com a embreagem. Nas curvas lentas deve ter sido muito
difícil. Hoje são oito marchas, não existe a embreagem, ao menos como era, e o
motor não tem potência nos regimes de giros baixos. Não daria. Mas naquele
tempo nós pilotos é que tínhamos de resolver nossos problemas ali na hora, não
a equipe, dos boxes, como é hoje".
TUDO QUEBRADO
A McLaren abriu o câmbio do
carro de Senna quando os equipamentos chegaram em Woking, sua sede, ao sul de
Londres, dois dias depois. Ramirez estava lá. “Havia anéis sincronizadores
quebrados e faltavam dentes nas engrenagens”. Como Senna conseguiu concluir a
prova representou quase um mistério para o time, segundo disse.
FESTA COM PELÉ
Mas teve festa naquele
domingo à noite, em São Paulo. “Fomos a uma danceteria. E Pelé estava lá.
Lembro de um grupo de pessoas, dentre elas Pelé, colocar o Ayrton nos ombros e
andar com ele pela danceteria. Eu me senti um privilegiado por fazer parte da McLaren,
acompanhar tudo o que se passou com o Ayrton no fim de semana e estar lá
celebrando sua primeira vitória no Brasil”, contou Ramirez.
FONTE PESQUISADA
ORICCHIO, Livio. Uma marcha, blefe, dança
com Pelé... Por trás da 1ª vitória de Senna no Brasil. Disponível em: <http://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/noticia/2016/03/uma-marcha-blefe-danca-com-pele-por-tras-da-1-vitoria-de-senna-no-brasil.html>.
Acesso em: 01 de julho 2017.
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