sábado, 19 de agosto de 2017

"Senna Era Muito Difícil, Quase Não Falava Com Ninguém" - Nuno Cobra, Preparador Físico e Mental de Ayrton Senna

Entrevista: Nuno Cobra, preparador físico



"Dava aula para um pedra"

Erika Klingl,
Do “Correio Braziliense”

03 de junho de 2004

Poucas pessoas eram tão próximas a Ayrton Senna como o preparador físico Nuno Cobra, com quem o piloto conviveu intimamente nos últimos dez anos de sua vida. Nuno não disfarça o orgulho de ter participado das vitórias. Ele lembra que, ao chegar a seu consultório pela primeira vez, em São Paulo, Ayrton era um homem tímido e fechado. "Dava aula para uma pedra", confessa, ao destacar que Senna foi um dos casos mais difíceis da sua carreira de quase 50 anos.

Nuno conta que o segredo das conquistas de Senna está ligado à descoberta do prazer de viver. Com o treinamento baseado em respiração, alimentação adequada e condicionamento físico, o piloto superou um suposto problema cardíaco e deixou de ser chamado de "franzino Ayrton Senna". O apelido era odiado pelo ídolo, segundo conta o preparador físico, que também treinou Mika Hakkinen e Christian Fittipaldi.

Todo método de Nuno Cobra está resumido no livro "A Semente da Vitória", da Editora Senac. Na publicação de sucesso, o treinador explica que não existe segredo no resgate das raízes de um vencedor. Formado em educação física em São José de Rio Pardo, no interior paulista, ele defende que o corpo, a mente e o espírito devem ser trabalhados em conjunto. E garante que quem é feliz não adoece.

Nuno conversou com o Correio na semana em que a morte de Senna completa dez anos.

O bate-papo aconteceu depois de mais uma palestra sobre qualidade de vida, proferida para funcionários do Banco do Brasil, em Brasília.

CORREIO BRAZILIENSE
­– Como foi trabalhar com Senna?
NUNO COBRA
­– Foi uma experiência luminosa na minha vida. Admito que não foi o meu caso mais emocionante. Foi, sem dúvida, o mais notório. Os trabalhos mais emocionantes de toda minha carreira foram com presidiários e com excepcionais, há mais de 40 anos.

CORREIO ­– Senna era uma pessoa fácil de trabalhar?
COBRA
­– Ao contrário. Ele era muito difícil, quase não falava com ninguém. Era como dar aula para uma pedra.

CORREIO ­– Essa imagem é muito diferente do que passava para o público aqui no Brasil.
NUNO
­– Mas acredite. Algumas vezes eu ficava até quatro horas com Senna, trabalhando a auto-estima dele, e o máximo que eu ouvia era um "oi" atravessado no início do encontro. Em outros momentos, ele só me observava com o canto dos olhos e não falava uma palavra. Se tivesse aparecido na minha vida antes, eu não teria feito esse trabalho com ele. Não estaria pronto para alcançar um bom resultado.

CORREIO ­– O senhor pensou em desistir?
NUNO
­– Eu não, mas meu filho ficava arrasado. Ele era meu ajudante na época e depois de horas de trabalho com Senna chegava em casa e chorava. Ficava realmente arrasado. Nós dois crescemos muito com o trabalho com Senna.

CORREIO ­– Como vocês se conheceram?
NUNO
­ – Ele me procurou na Universidade de São Paulo (USP). Veio por um jornalista que conhecia meu trabalho com outros atletas, principalmente de tênis e vôlei. O Ayrton tinha lido algumas entrevistas minhas e me procurou.

CORREIO ­– Ele queria melhorar o condicionamento físico quando te procurou?
NUNO
­– Na verdade ele achava que tinha problemas graves no coração, porque ainda no início da carreira, quando corria na Fórmula 3, ele desmaiava no fim das provas. Ele era muito fraquinho, sem massa muscular.

CORREIO ­– Mas ele tinha problemas cardíacos?
NUNO
­– Não. A primeira coisa que verifiquei foi o coração dele. Depois de vários anos confirmei que ele não tinha nada mesmo. Nesse momento, tive minha primeira conversa franca com ele. Contei para o Ayrton que ele tinha coração de passarinho, que bate, bate mas não manda sangue suficiente para todo o corpo.

CORREIO ­– E como ele superou isso?
NUNO
­– Ele se envolveu muito no treinamento. Uma dedicação máxima que eu nunca tinha visto igual. Por exemplo, era comum o Ayrton estar acordado ainda às 2 da manhã. Aos poucos fomos mudando seus hábitos. Mas, para chegar ao ponto de ir para cama à meia-noite, demorou meses. Me lembro que em um dia, em 1991, liguei para ele em Angra antes de 21 horas e ele já estava dormindo. No dia seguinte, ele me contou que tinha descoberto o enorme prazer de dormir cedo e bem.

CORREIO ­– O que o treinamento fez com ele?
NUNO
­– Quando ele começou na Fórmula 1, Ayrton era frágil e se irritava porque os jornais o chamavam de franzino Ayrton Senna. Ele odiava isso. Em dez anos, o consumo máximo de oxigênio de Senna subiu de 34ml para 80ml. Isso possibilitou que ele corresse mais, se movimentasse mais e ganhasse massa muscular. Senna ficou mais aberto, comunicativo e carinhoso. Ayrton descobriu o prazer de viver, de mastigar bem os alimentos e sentir o gosto da comida. 



Fonte: correioweb.com.br, 03 de junho de 2004.


Leonardo Senna sobre o temperamento fechado do irmão : "Ele é imprevisível, nunca sabemos (ele, Leonardo Senna e família) se está aborrecido ou alegre." 
(jornal O Globo em 13 de janeiro de 1990).


"Ayrton Senna era uma pessoa muito difícil de relação", diz Nelson Piquet, rival dentro e fora das pistas do piloto paulista.



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"O momento mais feliz da vida do Senna com uma pessoa foi quando ele conheceu a Adriane Galisteu. Ele estava apaixonadérrimo, ele estava feliz da vida, ele fazia tudo para ficar com ela'." - Nuno Cobra


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"Alegre, ele estava, quando ele conheceu Adriane Galisteu. Ele ficou outra pessoa. Mais alegre, mais falante, mais solto, dava para perceber uma diferença no Ayrton." - Walderez Zanetti (Amiga e Cabeleireira de Ayrton Senna)

Assista: 



Documentário "Ayrton Senna do Brasil" do programa "Esporte Espetacular" da TV Globo, ano 2014.

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Ayrton Senna Diz Que é Muito Feliz Com Adriane Galisteu 

Assista:


Vídeo de 1993

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FONTES PESQUISADAS

KLINGL, Erika. Entrevista: Nunco Cobra, preparador físico. Disponível em: <http://www.correioweb.com.br/hotsites/senna/entrevista.htm>. Acesso em: 19 de agosto 2017.

BERNARDO, A.A., 1998. Efeito Tamburello: um estudo antropológico sobre as imagens de Ayrton Senna. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. Santa Catarina. Brasil.


DE MORAES, Marcelo. Férias com a família e muito esporte à beira-mar. O Globo, 13 de Janeiro de 1990, Matutina, Esportes, página 26

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