quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Sónia Ito recorda Ayrton Senna na semana do regresso da F1 a Portugal

Por Joel Ribeiro -22 de Outubro, 2020

GAZETA DAS CALDAS - gazetadascaldas.pt

Sónia Ito acompanha Ayrton Senna numa das conferências de imprensa de um Grande Prémio do Japão, em Suzuka | DR

Caldense é tradutora-intérprete no automobilismo nipónico e trabalhou com o astro brasileiro, a quem atribuiu grande parte da responsabilidade do gosto que ganhou pela atividade que mantém

O grande circo da Fórmula 1 regressa este fim de semana a Portugal, mais de 24 anos após a última presença em solo luso. O brasileiro tricampeão do mundo Ayrton Senna é, ainda hoje, uma das grandes figuras do desporto e uma caldense teve a oportunidade de trabalhar com ele de perto.

A luso-japonesa Sónia Ito é natural de Lisboa e caldense adotiva, mas aos 13 anos partiu para Nagoya, no Japão, com os pais. Formada em Antropologia, trabalhar no automobilismo, e mais precisamente na categoria rainha, foi algo que surgiu por acaso.

Nagoya é relativamente perto do circuito de Suzuka, propriedade da Honda, e em 1986 estava a pedir tradutores em part-time. Sónia Ito tinha, então, 17 anos e viu oportunidade para ter algum contacto com pessoas de outras nacionalidades, o que não era comum naquela região, na altura. “Seria giro e ainda ganharia algum dinheiro”, recorda.

Foi escolhida para trabalhar como tradutora, fazer o apoio no contacto entre os media estrangeiros e a organização japonesa dos eventos, “porque poucos japoneses falavam Inglês nessa altura”, conta.

Um ano depois, em 1987, Suzuka voltou a receber o Grande Prémio do Japão de Fórmula 1, após um hiato de 10 anos. “Na altura o Ayrton Senna era só mais um entre os pilotos”, recorda. O então jovem brasileiro corria pela Lotus Honda, mas só no ano seguinte atingiria todo o seu potencial ao volante do mítico McLaren Honda MP4/4.

É nessa altura que Ayrton Senna se torna um fenómeno global, e muito em especial no Japão. “A Honda gostava muito dele e todos os espetadores japoneses o admiravam. Era uma pessoa com muita garra, que tinha um sonho e sabia o que tinha que fazer para lá chegar”, descreve.

É também a partir dessa altura que Sónia Ito teve um contacto mais próximo e frequente com o piloto, que visitava muitas vezes o país para testes e visitas à fábrica do construtor japonês.

“Tive a oportunidade de conhecer as duas facetas que ele tinha”, diz Sónia Ito. Por um lado, o competidor feroz, por outro a pessoa sensível e “muito humana”.

Nos cinco anos de ligação entre a McLaren, a Honda e Ayrton Senna, o brasileiro conquistou três títulos, numa altura em que a corrida japonesa era uma das últimas do calendário e na qual muito se decidiu. Sónia Ito lembra as festas no final das corridas em que venceu, num bar que existia no autódromo. “Foram grandes festejos, com karaoke, juntava-se toda a gente, conversava-se e ele divertia-se”, recorda. E lembra também, em 1989, que “estava furioso” após o incidente com Alain Prost e a decisão da FIA em retirar-lhe a vitória e a hipótese de lutar pelo título.

Em 1994, ano da morte do piloto, houve duas corridas no Japão e Sónia Ito esteve com Ayrton Senna no Grande Prémio do Pacífico, uma semana antes do acidente que o vitimou, em Ímola. E até tem um episódio curioso. “Tinha comprado uma câmara, o Ayrton tinha um fotógrafo que era meu amigo e ele ficou com a minha câmara para nos tirar fotografias. Não as revelei logo e deu-se o acidente. Curiosamente, todas as fotografias em que ele está estão tremidas, como se fosse uma premunição”, conta.

Sónia Ito diz que o brasileiro foi um dos responsáveis pelo gosto que ganhou pela atividade, que mantém até aos dias de hoje. E em todo o seu percurso na Fórmula 1 diz que não encontrou outro piloto como o brasileiro. “Tinha um carisma, uma presença, que nunca mais vi em nenhum piloto. E trabalhei com grandes campeões, como o Schumacher, o Vettel e o Hamilton”, sublinha. É isso que faz com que, ainda hoje, seja um dos pilotos mais admirados, muito particularmente no Japão, onde Senna passou a ser nome próprio.

“Nas corridas de promoção já começam a aparecer jovens japoneses com esse nome”, sublinha.


“A” Ayrton Senna

Sónia Ito tem duas histórias curiosas e que são mais dois pontos na ligação estreita que teve com Ayrton Senna.

A primeira passou-se em 1994, quando o piloto foi homenageado em Suzuka. “A irmã, Viviane, foi representá-lo e quando nos vimos exclamámos que somos mesmo parecidas, talvez fosse um pouco por isso que se sentia tão em casa aqui”, conta Sónia Ito.

O outro é que Sónia se desloca de forma frequente de mota e, com o capacete posto, como só se vêem os olhos, muitas vezes os japonenses lhe chamavam a Ayrton Senna. “Ficava toda feliz”, exclama Sónia Ito.

A caldense com Masashi Yamamoto, responsável pelo programa de unidades de potência da Honda na F1 atual | DR


Um dos hóbis de Sónia Ito é o surf | DR


FONTE PESQUISADA

RIBEIRO, Joel. Sónia Ito recorda Ayrton Senna na semana do regresso da F1 a Portugal. Disponível em: <https://gazetadascaldas.pt/sociedade/sonia-ito-recorda-ayrton-senna-na-semana-do-regresso-da-f1-a-portugal/>. Acesso em: 22 de outubro 2020. 

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