Sócio da fazenda diz que trabalhadores não tinham asseio. Para MPT (Ministério Público do Trabalho), condições
de trabalho eram as piores possíveis
Ayrton Senna e Ubirajara
Guimarães, o Bira, amigo da família e um dos sócios do pai de Ayrton, Milton da
Silva
Por Lúcio Lambranho
Congresso em Foco - congressoemfoco.ig.com.br
06/02/2008
O contraste entre o
trabalho social do Instituto Ayrton Senna e as condições de trabalho na
fazenda, que tem um patrimônio avaliado em mais de R$ 11 milhões, é colocado
de forma contundente pelos fiscais do Grupo Móvel do Ministério do Trabalho,
conforme relato feito na ação civil pública:
"O odor no local era
insuportável. Devido à sujeira e às condições do local, os trabalhadores, em
sua maioria, utilizavam o mato para fazer suas necessidades fisiológicas de
excreção, ficando expostos ao ataque de animais peçonhentos."
As condições de trabalho
dispensadas aos trabalhadores, atestam os fiscais, "eram as piores
possíveis". Situação semelhante, segundo a ação, também foi encontrada
no refeitório da fazenda.
"O local para preparo
dos alimentos era totalmente inadequado. Não havia iluminação apropriada e o
calor no ambiente era extremo. Os trabalhadores responsáveis pela manipulação
dos alimentos não usavam equipamento de proteção".
Nutricionistas
A versão de Ubirajara
Guimarães, o Bira, um dos sócios do empreendimento rural, é de que o local
visitado pelos fiscais do grupo móvel era o único que não se enquadrava nos
padrões do Ministério do Trabalho e que, por isso, estava prestes a ser
reformado.
O empresário, que vive em
São Paulo, atribui a má conservação do local e os problemas encontrados pelos
fiscais aos próprios trabalhadores temporários da fazenda.
"Os trabalhadores que
estavam lá não têm muito asseio. Lá é um lugar espetacular e não temos como
dar conta disso. Lugar 100% você nunca vai encontrar. Não se pode tomar conta
se a pessoa vai ou não tomar banho", argumenta.
"Nós do Instituto
Ayrton Senna atendemos milhões de crianças", completou o empresário
tentando comparar as ações dos sócios do empreendimento rural com o trabalho
social da família Senna.
Em entrevista à revista Dinheiro
Rural, Bira faz questão de destacar a capacidade da fazenda para atender as
necessidades dos funcionários. "A fazenda possui quatro refeitórios, que
podem fornecer até 1.200 refeições diárias preparadas sob acompanhamento de
nutricionistas. Nesse período, matamos um boi por dia para alimentar o
pessoal”.
A descrição feita pelos
fiscais do grupo móvel que fizeram a autuação, no entanto, deixaria
estarrecido qualquer nutricionista:
"Os alimentos eram
manipulados sem qualquer cuidado ou higiene. Os utensílios de cozinha
encontravam-se espalhados, amontoados pelos cantos e no chão. O almoço e o
jantar eram preparados a um só tempo, pela manhã, e os alimentos preparados
ficavam nas próprias panelas, em temperatura ambiente alta, sujeitos à
deterioração."
Pulverização por aviões
Apesar de ter uma das
maiores produções de grãos da região de Barreiras, a fazenda Campo Aberto tem
mesmo é o algodão como principal cultura. Segundo as informações dos sócios
publicadas na revista Dinheiro Rural, 95% da produção foram exportados em
2006. Para dar conta dos 2,5 mil hectares de algodão e de outros
Como conseqüência da
exposição aos agrotóxicos, segundo a denúncia, alguns trabalhadores
reclamaram durante a fiscalização de incômodos na garganta, mal-estar e
cansaço respiratório. "O empregador não fornecia aos trabalhadores
qualquer informação ou treinamento sobre agrotóxicos", diz a denúncia.
"Que é a lei, não
é?"
Os fiscais do MTE descrevem
a situação dos trabalhadores da Campo Aberto como "um quadro humano
estarrecedor" e também afirmam, reproduzindo depoimentos, que havia
restrição à liberdade dos contratados.
Um dos exemplos citados é o
do lavrador José de Jesus. Ele diz que só podia sair da fazenda no primeiro
sábado após o dia 5 de cada mês. "Que é a lei, não é?", emenda o
trabalhador. "Gostaria, se pudesse, de (sic) sair outras vezes da
fazenda, mas não havia como, pois é muito longe e não há transporte",
completa José de Jesus.
Segundo o relatório do MPT,
mesmo se pudessem deixar a fazenda, os trabalhadores "tinham que
aguardar até que, conforme o arbítrio do empregador, fosse disponibilizado o
transporte até a cidade de Luís Eduardo Magalhães (BA), centro urbano mais
próximo da fazenda Campo Aberto".
Como a cidade fica a cerca
de
Ainda segundo a denúncia,
os trabalhadores da fazenda eram aliciados ilegalmente pelos intermediadores
de mão-de-obra, os chamados “gatos”. No ato da contratação, de acordo com a
acusação, os empresários faziam com o que os trabalhadores assinassem
documentos em branco e contratos de trabalho que traziam diferentes valores
para o pagamento do serviço.
"Como se vê, estando
na fazenda, a centenas de quilômetros da civilização, essa parafernália de
padrões remuneratórios é a fórmula perfeita para impedir que o empregado,
pessoa de poucas luzes, tenha a mínima condição de discutir com o apontador
(fiscal de campo) os preços deste ou daquele hectare roçado", dizem os
fiscais do MTE.
Com base nesses fatos, o
procurador do Trabalho classifica o negócio capitaneado pela família Senna
como um "projeto patronal ilícito e imoral, de redução de custos com
pessoal a cifra de milhões".
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FONTE PESQUISADA
LAMBRANHO, Lúcio. “Lugar 100% você nunca
vai encontrar”. Disponível em: <http://congressoemfoco.ig.com.br/Noticia.aspx?id=20898>.
Acesso em: 29 de dezembro 2015.
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