Entrevista para o Programa Show Business 2009
João Doria Jr: Adriane, Ayrton Senna. Nós não podemos deixar
de citar o Ayrton Senna. Ele foi tão importante na sua vida. Eu conheci você
logo após a morte do Ayrton, e em um momento difícil da sua vida também. Como
foi o encontro, o primeiro encontro, o primeiro olhar com Ayrton Senna?
Adriane Galisteu: Quanto tempo eu não respondo essa
pergunta. Eu preciso até lembra aqui... Porque na verdade eu não me esqueço de
nada, eu tenho uma memória muito boa. Mas tem coisas que dói tanto que a gente
evita falar e pensar nelas sempre. Mas o Ayrton me conheceu talvez num dos
piores momentos. Foi numa época que me irmão estava muito doente, muito doente
(interrompida)
João Doria Jr: Já em estagio terminal, não?
Adriane Galisteu: Ainda não, mas ele estava no auge do
vicio. Ele estava super viciado, não conseguia ficar sem droga de jeito nenhum.
Ele era um cara doce, mas quando ele não tinha droga ele ficava super
agressivo, apesar de nunca ter encostado a mão na gente. Ele sempre foi um cara
muito difícil, com personalidade muito forte. Claro que a gente ficava apavorado eu minha mãe. A gente entrava em pânico. Com medo disso acontecer.
João Doria Jr: Ainda que não tivesse batido, em qualquer
momento poderia agredi-las...
Adriane Galisteu: Pois é... A gente tinha muito medo disso.
E eu conheci o Ayrton em um momento difícil, muito difícil da minha vida. Eu
fui trabalhar lá no autódromo, pra Shell Eu me lembro perfeitamente.
Segurando o guarda-chuva, brava de estar lá, brava. Porque eu não queria estar
lá de jeito nenhum.
João Doria Jr: Grande Premio Brasil
Adriane Galisteu: Grande Premio Brasil, não gostava de
corrida.
João Doria Jr: Mas pagava bem...
Adriane Galisteu: Mas pagava bem.
João Doria Jr: Um dinheiro para quem precisava...
Adriane Galisteu: Eu brinco até hoje, esse é um lema da
minha vida: “Onde pinga não seca” minha gente, sem medo, sem medo de ser feliz,
onde pinga não seca.
João Doria Jr: hahahahaha
Adriane Galisteu: Então lá vou eu segurar o guarda-chuva,
mas eu achava chaaato a corrida. Então, porque eu gosto de me divertir
trabalhando. Então, quando você está fazendo uma coisa que não se identifica ali... Eu falei: “Ai meu Deus, to aqui só segurando o guarda-chuva.”
João Doria Jr: Era a primeira vez que você estava fazendo o
Grande Premio Brasil?
Adriane Galisteu: Primeira vez, é... E aí o Ayrton me olhou,
eu não dei a menor bola. Sem esnobar o nosso ídolo, mas eu juro que não dei a
menor bola. No segundo momento que o vi, quando ele me chamou para conversar
com ele, eu falei para ele: “A minha avó adora você”. A minha avó era muito fã
dele, a minha avó assistia todas as corridas.
João Doria Jr: Isso já tinha tido olho no olho aí.
Adriane Galisteu: Já, mas eu nunca imaginei que esse homem
podia estar me dando algum tipo de bola e se estivesse seria só para uma
“rapidinha” e nada mais... Porque ele podia ter a mulher que ele quisesse, até
a minha mãe ele podia ter. (risos). Alias eu nunca vi um homem, que pudesse
conquistar tanto as mulheres e com tanta timidez. Porque ele era um cara muito
tímido. Muito doce, muito tímido. Então a gente começou a conversar, eu
totalmente na minha, profissional e ele tímido. Mas depois que eu entendi e
conheci ele melhor eu vi que ele não estava tímido, ele estava me catando
mesmo... Só que na época, não achava isso. E nem achava que isso podia
acontecer.
João Doria Jr: O Ayrton sempre foi uma pessoa tímida. Nunca
foi expansivo.
Adriane Galisteu: Quem teve total culpa entre aspas, dessa
situação, quem entrou no meio e me ajudou, foi o Braga. O doutor Antonio Carlos
de Almeida Braga, que continua sendo o meu anjo da guarda. E será sempre, foi a
pessoa que mais me ajudou. Que mais me estendeu a mão.
João Doria Jr: Alias pra onde você foi depois da morte do
Ayrton pra Portugal...
Adriane Galisteu: Eu fui viver na casa dele. Se tem um cara,
ele e a Luiza a esposa dele, ele pode ligar pra mim, a qualquer hora, do dia ou
da noite. Só enquanto eu estiver fazendo o meu programa ao vivo eu não vou
poder lagar. Tirando o meu programa ao vivo, eu faço qualquer coisa por eles,
qualquer. Eu sou muito grata ao que ele fez. Ele foi o primeiro a entrar no meio e falar
assim: “Po garotinha, conversa com o Ayrton.” Porque eu conversava e saia de
perto. Eu falava: “Eu não tenho muito o que conversar com ele.” Morrendo de
medo daquela situação. E aí passou o Grande Premio, no final de semana seguinte
eu trabalhava na Elite. Ele descobriu que eu trabalhava na Elite e foi até lá
pessoalmente.
João Doria Jr: Foi até lá?
Adriane Galisteu: Aí eu lembro que as Bookers falava: “Não é
possível, o Ayrton Senna está na porta. Tem um carro preto aí na porta e ele
está sozinho procurando por Adriane Galisteu. Eu gelei...
João Doria Jr: E procurando por Adriane Galisteu?
Adriane Galisteu: É... Aí eu saí, aí ele falou: “Eu queria te
convidar para ir almoçar.” Nós fomos num rodeio. Eu nem sabia que ele almoçava
num rodeio. Eu falei: “Gente como ele pode almoçar num rodeio?” Bom a gente
conversou bastante, eu contei um pouco da minha vida pra ele e falei: “Eu não
sou um bom partido para você, eu preferia ser sua amiga. Porque depois se a
gente sair só” (Interrompida)
João Doria Jr: A primeira vez que estou ouvindo essa
historia, olha que eu te conheço bem e conheci bem o Ayrton, que foi meu amigo.
Adriane Galisteu: E eu falei isso para ele: “Se eu sair só
com você, só dar uma saidinha. Eu vou perder a chance de ser sua amiga. Eu
prefiro que você namore por aí, que a gente se divirta. Mas eu quero ser sua
amiga, eu gostei de você. E a gente ria muito, porque eu falava umas coisas para
ele, que acho que mulher nenhuma falava. Depois eu pensava: “Meu Deus, olha o
que eu falei pra ele.” Perguntei coisas absurdas para ele. E ele foi me
respondo naturalmente e eu fui contando a minha historia. Até que ele foi na
minha casa na Lapa, conheceu o meu irmão , ele conheceu a minha mãe. Ele viu
como eu vivia.
João Doria Jr: Naquela mesma semana?
Adriane Galisteu: Naquela mesma semana. E ele me pediu em
namoro formalmente para a minha mãe. E a minha mãe quase caiu na cadeira,
porque para ela eu não deveria entrar nessa relação. Ela não apoiou essa
relação. Ela falou: “Você vai sofrer minha filha. São duas vidas tão
diferentes. Você tem uma vida que...”
João Doria Jr: “Ela talvez tivesse a imagem que você tinha
antes. Um momento fulgaz e nada mais..”
Adriane Galisteu: Pois é... Ela não queria, pensa que a
minha mãe ficou feliz com esse namoro... Ela não ficou feliz da vida com esse
namoro. Ela só começou a ficar feliz da vida com esse namoro, depois dos 6
meses, que aí eu fui morar com ele. Aí ela viu que realmente tinha sentido o
namoro, que era serio, e que não era uma brincadeira dele comigo.
João Doria Jr: Quanto tempo durou o namoro?
Adriane Galisteu: 1 ano e meio. Depois dos primeiros 6 meses
nos fomos morar juntos. E aí eu tenho certeza que eu emprestei para ele muito
da minha jovialidade, eu tinha 19 anos e ele 33 na época. Então eu fiz ele rir
muito. Eu tenho certeza que eu fiz muito bem a ele. Assim como ele fez muito
bem a mim. As pessoas duvidam muito dessa relação, alias de uma maneira geral,
o ser humano tem uma tendência a duvidar do amor. Principalmente de duas
situações tão diferentes.
João Doria Jr: De pessoas tão distintas do ponto de vista...
Adriane Galisteu: Financeiro, familiar...
João Doria Jr: Estrutura de vida...
Adriane Galisteu: Pois é... A gente se deu muito bem, isso
você pode perguntar pra qualquer amigo do Ayrton. Ele riu como ele nunca riu.
Eu lembro das historias e me divirto, porque eu era uma menina. Então para mim
tudo era uma conquista. Eu me lembro, a gente num Grande Premio em Mônaco. Um
jantar gente, chique, mas chique, chique mesmo.
João Doria Jr: Com Grande Hotel?
Adriane Galisteu: É... Todo mundo elegante, Niki Lauda...
Estavam mulheres espetaculares. E eu não tinha roupa para ir. E eu morria de vergonha
de falar para o Ayrton que eu não tinha roupa para ir. Eu falava: “Não vai que
ele pensa que estou com ele por causa do dinheiro e me dá um pé na bunda. Não
vou querer dinheiro dele, de jeito nenhum.” Então eu não deixava ele me comprar
um presente, ele não me dava nada. Porque eu não deixava. Então ele tinha que
armar situações para me dar alguma coisa. Porque realmente eu era muito brava,
muito mais brava do que eu sou hoje.
João Doria Jr: Naquela noite como você fez?
Adriane Galisteu: Eu fui de Camisola. (risos)
João Doria Jr: Você foi de camisola
Adriane Galisteu: Uma camisola longa preta. Eu achei lindo.
E eu sai com a camisola, que era da minha mãe inclusive.
João Doria Jr: Num hotel de Paris de camisola?
Adriane Galisteu: Sabe aquelas camisolas de senhora assim,
cumpridona. Que tinha uma renda aqui (na altura do peito). Eu me lembro até
hoje dessa camisola, de seda. E um rapo de cavalo. Se uma jóia sem nada, obvio.
E um salto alto preto, porque toda a mulher, mesmo pobre, tem um salto alto
para ir. Era isso aquilo que eu tinha tinha. (risos)
João Doria Jr: hahahaha
Adriane Galisteu: Quando ele me olhou. Não sei se ele ficou
constrangido. Ele começou a rir. Eu não sei o que aconteceu, parecia que eu
estava fantasiada. Ele começou a rir e falou: “Não, eu não estou acreditando.
Você vai assim?” Eu falei: “Dá para perceber que é camisola.” Ele falou: “Bom,
eu percebi porque você dormiu com ela ontem. Porque você não me falou?” Eu
falei: “Não Ayrton eu estou me sentindo tão bem.” Não estava nada, mas eu
queria mostrar para ele que estava. Que eu não estava nem aí, que eu não
conhecia ninguém, e estava muito bom assim. Eu falei: “Está bom assim?”, ele
falou: “Bom, então vamos...”
João Doria Jr: hahahaha
Assista o vídeo com essa entrevista:
Muito lindooo!!!
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