domingo, 10 de março de 2013

Entrevista por Nice Ribeiro
No boxe da McLaren, consegui alguns minutos de Senna; sentamos sobre uma caixa metálica para nos protegermos do vento frio que vinha lá de fora. Se ele reconsiderasse sua decisão sobre a Coluna Marlboro, minha carreira e minha vida sofreriam uma reviravolta. Mas achei que não era o caso de insistir, pelo menos por enquanto. Preferi lhe perguntar como se sentira ao acordar no dia seguinte ao GP do Japão.
– Para falar a verdade, nem dormi – riu ele. – Assim que desci do pódio, começou uma maratona de entrevistas, reuniões, jantar com a equipe e... uma comemoração, digamos assim. Quando vi, já amanhecera.
– E então você teve consciência de que era campeão do mundo de Fórmula-1 com apenas 29 anos... O que sentiu?
– Tranqüilidade. O título era um sonho que eu acalentava havia muitos anos e implicava muita luta. Durante todo esse tempo, investi tudo para chegar a uma equipe que me desse chance, que me permitisse alcançar vitórias fazendo o que mais gosto de fazer...
– Dá para imaginar de quantas coisas você precisou abrir mão. Se eu, só para escrever, sem ganhar nenhum título, já tive de deixar tanta coisa de lado...
– Para quem você trabalha agora?
– Para a Quatro Rodas, para a Show do Esporte e para o jornal português Autosport. Sempre como frila. Ainda não consegui ser contratada por ninguém...
Fiz uma pausa, na esperança de que ele tocasse, por conta própria, no assunto da Coluna Marlboro. Isso não aconteceu, e retomei a entrevista:
– Sua primeira participação na temporada de 89 não foi das mais felizes...
– É, poderia ter sido melhor. Mas no ano passado também não ganhei no Brasil e fui campeão. Talvez seja um bom presságio...
– Os jornais disseram que você e o Berger queriam vencer a corrida na primeira volta...
– Existe muita gente metendo o nariz onde não deve. O que aconteceu foi que larguei mal. Coloquei a segunda marcha muito cedo e percebi que havia algo estranho com o motor. Com o canto dos olhos, eu controlava o Patrese, à esquerda, e pensei: “Ele vai fechar à direita na primeira curva; tenho de manter certa distância de seu caminho”. Naquele momento, o Berger apareceu, de repente, sob a sujeira. Diminuí a velocidade, mas não o suficiente. O Berger me apertou, o Patrese me fechou, e o nariz do carro voou. Se eu tivesse acelerado, poderia tocar no Patrese. Aí, nós todos sairíamos da corrida. A culpa foi dos três. (Berger concordaria com esse raciocínio, especificando que cada um arcava com 33 por cento da responsabilidade, e a afoiteza de Senna respondia pelo 1 por cento restante.)
– Eu sei, Ayrton, que você sempre lutou para preservar sua intimidade. No entanto, o namoro com a Xuxa se transformou em notícia de tudo quanto é tipo de jornal e revista. Não te incomoda ouvir de certas pessoas que se trata apenas de uma grande armação da Xuxa Meneghel Promoções e da Ayrton Senna Promoções?
– Só não me incomoda porque é ridículo. Ela não precisa de promoção alguma, já é o maior fenômeno dos meios de comunicação! E, quanto a mim, acho que o resultado de meu trabalho me promove o bastante junto a meu público...
– Vocês já fizeram planos para o casamento?
– Nós estamos juntos, e isso é o que importa. Além de bela e meiga, ela é uma pessoa muito especial. A gente está se conhecendo cada vez melhor, e é claro que um dia eu quero ter minha própria família. Mas não há planos. Mesmo que existissem, isso não significa nada. As coisas podem mudar.
– Senna, você já parou para pensar no quanto é rico?
Depois de jogar um sorriso no canto dos lábios, ele respondeu:
– Um dia eu quero pedir ao gerente do banco que coloque todo meu dinheiro em cima da mesa. E então eu vou contar nota por nota.

Nenhum comentário:

Postar um comentário