Foto: Reprodução Site forum.motorionline.com
Os fãs japoneses, ao
contrário dos exigentes brasileiros, não davam a mínima para aquele começo
difícil de campeonato. Assim como o presidente do fã-clube Ayrton Senna do Japão, Tatsuya Hiraishi, muitos não entendiam de Fórmula 1. Também era
esmagadora, de acordo com o próprio Hiraishi, a proporção de sócios do sexo
feminino cujo interesse pelo novo sistema fly-by-wire era mínimo ou
inexistente. Eram mulheres entre 25 e 40 anos, com poder aquisitivo suficiente
para pagar ingressos que, na sua versão mais barata, custavam cerca de 150
dólares.
Para Hiraishi, Senna era um
fenômeno por ser bonito, por ter uma grande identidade com o que ele chamou de
"espírito japonês", mistura de dedicação e seriedade, e por ser muito
atencioso com os fãs. Amar Senna era
ir ao aeroporto para levar e trazer o ídolo, comprar, se desse, um carro
idêntico ao Honda NSX de 80 mil
dólares que ele tinha, escrever cartas para ele, fazer desenhos inspirados no
herói, comportar-se como paparazzi e fotografar tudo o que ele tocasse ou
usasse, fosse um banco de madeira do autódromo de Suzuka ou uma suíte do hotel
Sheraton, em Tóquio. Amar Senna era, sobretudo, ter a disposição de pagar até
3.500 dólares por uma credencial VIP, com validade para três dias, no paddock
da Fórmula 1.
Adilson Carvalho de Almeida, presidente da Torcida
Ayrton Senna, nunca teve tratamento igual: Senna se reuniu cinco vezes
exclusivamente com o fã-clube presidido por Hiraishi, em salas emprestadas e
decoradas com fotos e a bandeira do Brasil. A última dessas reuniões aconteceu
no circuito de Aida, semanas antes da tragédia de Imola. Nesse dia,
constrangido por deixar os fãs esperando cerca de cinco horas, Senna pediu até
desculpas e deu autógrafos para cerca de 100 pessoas, entre sócios do fã-clube
e penetras. Hiraishi também organizou uma ida de 20 fãs ao GP de Mônaco de
1992, no qual Ayrton os recebeu com muita paciência, chegando a leva-los ao
motohome da McLaren para uma conversa mais tranqüila.
Sempre que podia, Ayrton
tentava retribuir a adoração dos fãs japoneses. E a medida de sua atenção foi a
forma como ele recebeu, em São Paulo, naquela temporada de 1992, Nobu Kasai e Hirofumi Natsumo, os executivos da Fuji TV responsáveis pela produção da
cobertura de Fórmula 1 para o Japão.
Era a semana do GP do Brasil.
Um helicóptero pousou no hotel de São Paulo onde Natsumo e Kasai estavam
hospedados, pilotado pelo próprio Ayrton, para levá-los ao seu escritório no
bairro de Santana. A pauta da reunião era a participação de Ayrton num especial
que seria exibido às vésperas do GP de Mônaco daquele ano. E Senna, o mesmo
garoto-propaganda que costumava levar John
Hogan, da Philip Morris, à
loucura, se comportou de forma totalmente diferente com os executivos da Fuji
TV:
- O que vocês querem que eu
faça? Nas palavras de Natsumo:
"Ayrton sabia que a Honda estava por trás daquele especial
e, por isso, queria se adequar a tudo que os japoneses quisessem ver ou ouvir.”
Pauta definida, Senna acertou
a participação em cinco programas para a Fuji TV por 15 milhões de ienes, o
equivalente, na época, a 125 mil dólares.
Feito o negócio, teve início
um privilégio que poucos tiveram: o helicóptero seguiu para a fazenda de Tatuí,
onde os dois executivos foram convidados a trocar seus ternos por camisetas e
bermudas cedidas por Ayrton. Meio apertados no figurino de Senna, Natsumo e
Kasai foram pescar com ele no lago da fazenda.
O peixe foi assado e servido
no jantar. Ayrton, no que Natsumo considerou, 11 anos depois, "um gesto
supremo de cortesia", tirou todos os espinhos dos pedaços servidos aos
dois convidados. Para Natsumo, o dia foi "inesquecível", a não ser
por uma ressalva, feita com resignado bom humor:
"Só o peixe era muito
ruim.”
Uma vingança involuntária,
diriam os íntimos de Senna. Ele nunca fora um apreciador das sessões de peixe
cru que teve de saborear, sorridente, com os amigos do Japão.
FONTE: Livro "Ayrton, o herói revelado"
FOTOS SENNA NO JAPÃO
Foto: Reprodução TV Japonesa
Com engenheiros japoneses
Foto: www.research-racing.de
httpwww.senna-web.com
FONTE PESQUISADA
RODRIGUES, Ernesto. Ayrton, o herói revelado. Edição 1. Rio de Janeiro: Editora
Objetiva, 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário