ÉPOCA DE APRENDIZAGEM
TEMPOS DO KART
Porque o Ayrton era fanático por kart, Milton Guirado da
Silva resolveu se transformar em um pai-projetista e construiu um kartinho para
ele. Foi o brinquedo que, com o passar dos anos, acabaria se transformando no
lado mais sério da vida do piloto.
Senna pilotou aquele kart até os 9 anos, quando o pai lhe
comprou um kart oficial. Era muito bonito e fora feito para o Emerson
Fittipaldi, já com freios dianteiros. Quando fez 13 anos, Milton levou Ayrton
para competir na categoria de estreantes e novatos de kart, o Torneio de
Inverno, em Interlagos, SP. Ganhou as duas provas e o torneio de estréia.
Mas, antes disso, ainda aos 9 anos, Ayrton competiu em uma
prova amistosa de rua, em Campinas, SP. O pai não esquece que foram ele e o
filho que tremeram naquele dia – se é que algum dia Becão tremeu.
Eram 30 kartistas, todos mais velhos que Ayrton, e o que
deixou Milton de cabelo em pé foi o filho tirar o número 1 no sorteio das
posições de largada. “Fiz tudo para ele não entrar na pista. Retirei a
inscrição e guardei o kart. Mas a insistência dele foi tamanha que acabei
concordando, só que com uma exigência: não sair na pole position, e sim em
ultimo ”, mas também perdeu essa parada.
Eram 40 voltas. Ayrton largou na frente e foi mantendo a
liderança, enquanto o pai nervoso torcia pra a corrida terminar. Já estava na
35ª voltas e os demais pilotos aumentavam a pressão sobre o menino, mas ele nem
tomava conhecimento. Seguia firme, acertando as tomadas, fechando a porta e
fazendo o coroa sofrer. De repente, num trecho complicado, Milton ouviu um
estrondo, a poeira levantou e Ayrton sumiu. O pai partiu correndo para o local,
pensando: “Mataram o moleque”. Mas foi só um susto. “Quando cheguei na curva,
Becão já estava de pé, sacudindo a poeira e olhando feio para o garoto que o
havia tirado da pista”, lembra perfeitamente o pai de Ayrton Senna.
Milton da Silva fala que Ayrton tinha muita iniciativa. Fez
18 anos e, no dia seguinte, foi tirar a habilitação. Foi ele quem descobriu e
contratou o Tchê, seu mecânico nos tempos de kart.
Lucio Pascual Gascón, o Tchê por extenso, um mestre no
preparo de kart, acompanhou a primeira vitória de Ayrton da Silva – na época
ainda não assinava Senna – no kart, em 1º de julho de 1974, às 15h00, na corrida
de novatos, em Interlagos. Tchê, espanhol de Segóvia, foi quem descobriu no
menino Ayrton a vocação de grande campeão.
Ele lembra em detalhes a primeira vez que viu Ayrton. Foi na
tarde de 26 de junho de 1974 que aquele menino de 14 anos bateu no balcão da
pequena oficina de Tchê, na rua Tabajara, no bairro de Mooca, em São Paulo.
“Era um pirralho franzino, desajeitado, mas objetivo, e foi
direto ao assunto”, resumo Tchê, garantindo que havia alguma coisa de especial
naquele moleque. Numa quase ordem, disse ao preparador que precisava que o
mecânico arrumasse imediatamente o seu motor quebrado. Tchê nunca entendeu
porque varou duas madrugadas seguidas para entregar o motorzinho ao freguês
petulante. Aprontou o motor e vibrou com aquela corrida de Ayrton, que,
largando em 3º, chegou à vitória sem suar.
Tchê guardava tudo que lembrava Ayrton Senna. Ou o que
sobrou do assalto à oficina em 1991. Levaram troféus e taças, mas ficou o que
ele considera a maior relíquia de Senna: a carta do próprio punho em que Ayrton
confidencia as corridas européias de kart.
Uma das grandes frustrações do preparador foi não ter
acompanhado Ayrton nos Mundiais de Kart de Portugal e Bélgica, os quais Ayrton,
por pouco não faturou. Para Tchê, ele perdeu nas duas vezes porque lhe faltou
um chefe de equipe. A DAP-Parrilla, a quem a Federação Brasileira de Kart pediu
que apoiasse Ayrton, era somente a fábrica que fornecia o equipamento. E, por
ser italiana, não estava habilitada a interceder por um piloto brasileiro no
apoio extrapista. Como Ayrton sofreu penalizações e toques nos dois
campeonatos, ficou sem representante de defesa.
FONTE: revista Racing Especial – Anuário – Nº 315
Ano: 2013
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