Terry Fullerton (macacão
vermelho) conversa com Ayrton Senna (macacão preto) no Circuito de Jesolo,
Itália, em 1979; Senna ainda corria com o capacete antigo, cinza com detalhes
em verde e amarelo
Terry Fullerton é um inglês
simpático, de cabelos grisalhos e curtos. Aos 60 anos, traz sempre um sorriso
sob o bigode branco enquanto treina jovens pilotos no kart.
Apesar de ser um nome desconhecido de boa parte do grande público fã de automobilismo, em especial fora da Inglaterra, o sorridente Fullerton é um nome importante na trajetória que levou Ayrton Senna à Fórmula 1. Afinal, ele e Senna foram companheiros e rivais ainda no kart, muito antes que se falasse na rivalidade com Alain Prost na McLaren em 1988 e 1989.
Terry Fullerton aos 60 anos
Apesar de ser um nome desconhecido de boa parte do grande público fã de automobilismo, em especial fora da Inglaterra, o sorridente Fullerton é um nome importante na trajetória que levou Ayrton Senna à Fórmula 1. Afinal, ele e Senna foram companheiros e rivais ainda no kart, muito antes que se falasse na rivalidade com Alain Prost na McLaren em 1988 e 1989.
O caminho de Fullerton no
automobilismo começou com uma tragédia em 1964, ano em que seu irmão Alec
morreu em um acidente de moto durante uma corrida no Circuito de Mallory Park.
A família de Terry não se opôs à carreira no esporte, mas Terry decidiu trocar
as motos pelos carros ao testemunhar o sofrimento da família.
A decisão se mostrou
acertada. Nos primeiros anos da carreira no kart, Terry Fullerton conquistou os
títulos de campeão britânico júnior (1966, 1967 e 1968), campeão britânico
sênior (1971, 1973 e 1975), campeão europeu (1972 e 1973) e campeão mundial
(1973). Aos 20 anos, Terry Fullerton já se mostrava pronto para saltar aos
monopostos, caminho natural para quem queria (e quer) chegar à Fórmula 1.
Em 1978, ainda no kart,
Fullerton se tornou piloto da equipe italiana DAP para a disputa dos
campeonatos britânico sênior e europeu da modalidade. Foi neste ano, porém, que
chegou à Europa um jovem piloto brasileiro, sete anos mais novo, que buscava
sua carreira internacional. Seu nome: Ayrton Senna da Silva, que corria com um
capacete cinza com faixas horizontais em verde e amarelo. Nascia ali a primeira
rivalidade da carreira de Senna.
Campeão sul-americano de kart
em 1977, Senna foi companheiro de Fullerton na DAP por três anos (1978 a 1980). Neste período,
Fullerton levou a melhor, conquistando dois títulos britânicos (1978 e 1980) e
um europeu (1978). O brasileiro, em compensação, perdeu duas vezes o título
mundial, em 1979 e 1980 – os títulos ficaram com os holandeses Peter Koene e
Peter De Bruijn, respectivamente. No fim de 1980, Senna foi promovido aos
carros, passando a disputar a Fórmula 1600 em 1981, enquanto Fullerton seguiu
nos karts.
Senna (kart 1) e Fullerton
(logo atrás) foram companheiros de equipe por três anos, entre 1978 e 1980;
brasileiro foi correr de monopostos, enquanto inglês abandonou as pistas em 1984
A partir daí, os caminhos dos
dois se separaram. Senna correu nas categorias de acesso até 1983, chegando à
Fórmula 1 pela Toleman em 1984. Fullerton, por sua vez, conquistou mais um
título europeu de kart (1981), entre outras competições internacionais de menor
expressão, antes de se aposentar da carreira em 1984. Desde então, tem se
dedicado à formação de jovens pilotos, tendo trabalhado com nomes como Allan
McNish, Ralph Firman, Dan Wheldon, Anthony Davidson, Paul di Resta e Wade
Cunningham.
Mesmo distantes um do outro,
Senna jamais se esqueceu da rivalidade com Fullerton. Em novembro de 1993, no
fim de semana do Grande Prêmio da Austrália (última vitória da carreira do
brasileiro), o já tricampeão foi questionado a respeito do piloto com o qual
tinha ficado mais satisfeito correndo contra, de qualquer época que fosse. A
resposta esperada era “Alain Prost”, mas Ayrton surpreendeu em Adelaide.
“Eu cheguei à Europa para
correr pela primeira vez for a do Brasil, e para ser companheiro de Fullerton,
Terry Fullerton. Ele era muito experiente, e eu gostei muito de pilotar com
ele. Ele era rápido, era consistente. Para mim, ele era um piloto muito
completo. E aquilo era pura pilotagem. Tenho aquilo como uma ótima memória”,
respondeu Senna na ocasião.
Em 1993, Senna (à esquerda)
aponto ex-companheiro Fullerton (à direita) como melhor rival da carreira;
história só veio à tona em 2010, com lançamento de documentário sobre brasileiro
O brasileiro morreria menos
de seis meses depois, no acidente do Grande Prêmio de San Marino de 1994. A declaração de
Senna, porém, ficou perdida por mais de 15 anos, até o lançamento do
documentário Senna, do diretor Asif Kapadia, em 2010. Fullerton só soube
da resposta de Senna por conta de dois amigos – um que estava na entrevista
coletiva de Senna em 1993, e que jurava ter ouvido a declaração, e outro que
estava em uma pré-estreia do documentário no Japão e que finalmente pôde
ouvi-la.
“Houve uma premiére no Japão
no ano passado, e alguém viu e me disse que eu aparecia no fim do filme”,
contou Fullerton ao site EDP24 em 2011. “Eu ouvia falar disso o tempo todo.
Um amigo meu era o editor da versão australiana da Autosport (revista britânica
especializada em automobilismo) e estava na entrevista em que Ayrton disse isso
em 1993. Mas era o testemunho de uma boca só, então eu não ouvi falar nada até
o ano passado, quando o filme foi exibido”, completou.
Convidado para um evento de
lançamento do filme em Londres, Fullerton destacou a concorrência entre eles
entre as décadas de 70 e 80. “Fico feliz que ele tenha dito isso. Sabia que ele
tinha esse respeito por mim. Fomos companheiros por três anos. Eu costumava
vencê-lo, costumava ser mais rápido que ele”, contou o inglês, que passou longe
da F1. “Quando ele deixou o kart, eu ainda estava no topo. Então, eu sabia que
ele me respeitava e me considerava muito como piloto. Foi legal ouvir, sabe?
Especialmente depois de todos estes anos”, acrescentou.
Fullerton foi procurado nos
últimos meses pelo Terra para conceder entrevista. Sua assessoria de
imprensa cedeu as fotos da carreira do piloto, inclusive ao lado de Senna. No
entanto, a reportagem não obteve resposta, diante de várias tentativas de
conversar com o ex-piloto.
FONTE
Terra
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