quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Jo Ramirez Fala Sobre Sua Trajetória na F1 e do Dream Team da McLaren: Senna e Prost

Trago para vocês essa entrevista de 2001 do Jo Ramirez dizendo que o auge de sua carreira foi ver Prost e Senna duelando pela McLaren e explica porque para ele Senna sempre foi melhor que Schumacher. Ele também fala sobre sua trajetória na categoria máxima do automobilismo (F1)



O artigo do Jo vale a pena. E vou lhes dizer porque:

Ele diz que Senna enfrentou Niki Lauda, Piquet, Prost e Mansell ao mesmo tempo e conseguiu se destacar, mesmo com tantos pilotos bons na mesma época dele. Já Schumacher correu sozinho sem rivais pra lhe confrontar.

Ele diz que a morte de Senna impediu o mundo de ver uma nova rivalidade ( dele contra Schumacher) e que embora o alemão seja um piloto completo e rápido nunca conseguiria tantos títulos se Ayrton estivesse presente

Outro ponto esclarecedor, Jo fala que Schumacher nunca teve companheiros fortes no mesmo time. Que ele alias só escolhia os mais fracos.

Ayrton e Prost nunca tiveram medo disso. E McLaren nunca questionou a Prost se ele aceitava Senna como a companheiro e vice-versa.

Alem de jogar na cara umas verdades sobre o alemão, Jo Ramirez sem querer desmentiu o falso argumento do Prost que dizia: "Foi eu quem indiquei Ayrton ao Ron Dennis".

Pelo o que o Jo falou isso nunca aconteceu. Leiam vale a pena:

Jo Ramirez entregando um quadro com os grandes momentos de Ayrton na equipe McLaren na despedida do piloto em 1993

Autoracing - autoracing.com.br
15 de novembro de 2001

Jo Ramirez nunca vai esquecer dos anos de 1988 e 89. Sua equipe, a McLaren, tinha a melhor dupla de pilotos do mundo: Ayrton Senna e Alain Prost. É com orgulho que esse carismático mexicano fala das disputas entre seus pilotos, das vitórias e rivalidade entre eles. Nessa entrevista para o formulanews, Ramirez conta um pouco de cada fase de sua carreira no automobilismo e é enfático ao opinar sobre o melhor piloto de todos os tempos: "Senna é o melhor".

Ayrton Senna na McLaren em 1989


Formulanews: Sessenta anos, 41 deles dedicados ao automobilismo, 18 na McLaren. Como foi sua despedida da equipe?

Jo Ramirez: A última semana foi muito triste, especialmente na sexta-feira (dia 26 de outubro). Depois do almoço, o Ron Dennis e o Martin Whitmarsh reuniram todas as pessoas, abriram muitas champanhas, passaram um filme de toda a minha vida, destes 18 anos na equipe... Foi muito triste. Ao final do dia, nós saímos para tomar uns drinques e ficamos juntos até tarde, mas foi um dia muito triste.

Formulanews: Quais são seus planos para o futuro?

Jo Ramirez: Agora já tenho alguns planos, como mudar de casa. Eu tenho uma casa na Inglaterra, que é pequena e servia como uma base para estar perto da equipe, mas agora estou construindo uma casa na Espanha, que deve ficar pronta em abril ou maio. Não vou me mudar para lá, porque minha esposa (Brenda) gosta daqui e minha filha (Vanessa) mora em Londres, mas pelo menos não vou ter mais de passar os invernos aqui, porque não gosto de muito frio. Mas aqui também tenho muito trabalho para fazer. 

Uma observação: Essa entrevista é de 2001, Jô perdeu sua única filha Ana Vanessa, citada por ele nessa entrevista, em 2012.

Formulanews: E na F-1? Alguma possibilidade de voltar?

Jo Ramirez: Tenho algumas ofertas para continuar fazendo alguma coisa pequena, mas ainda não tomei uma decisão. Queria fazer alguma coisa pequena, que não tomasse muito tempo, porque quero ficar mais tempo com a minha família. Mas eu queria ir para duas ou três corridas por ano para permanecer em contato com as pessoas.

Formulanews: Esse trabalho seria na McLaren ou em outra equipe?

Jo Ramirez: A McLaren quer fazer alguma coisa comigo e definitivamente não vou estar ligado a outra equipe.

Formulanews: Como era o automobilismo no início de sua carreira, trabalhando com o piloto Ricardo Rodriguez?

Jo Ramirez: Era muito diferente. Comecei a trabalhar com o Ricardo Rodriguez, no México, e vim com ele para a Itália quando começou a correr pela Ferrari. Eu estava estudando Engenharia Mecânica e fui para a Itália para tentar trabalhar na Europa. Também tinha a idéia de correr, mas infelizmente nunca tive a oportunidade ou dinheiro para entrar em uma competição. Logo vi que seria impossível trabalhar na Ferrari, porque eu não era italiano, não falava a língua deles e não tinha experiência. Mas acabei tendo a sorte de algumas pessoas da equipe terem gostado de mim, como o Eugenio Dragoni que era o chefe de equipe da Ferrari e o Mauro Forghieri, que era o chefe dos engenheiros, e acabei aceitando fazer o que ninguém gostava, como limpar os carros. Mas 1962 acabou não sendo um ano bom para a Ferrari e, então, comecei a trabalhar no departamento de corridas da Maserati, que não fazia corridas de F-1, apenas provas de carros protótipos. No ano seguinte, fui trabalhar na Lamborghini para fazer o primeiro carro esporte da equipe. Fiquei um ano fazendo um trabalho muito interessante, onde fabricamos o primeiro carro, primeiro motor, primeiro chassi e me diverti muito. Mas eu queria fazer corridas e eles decidiram não participar de competições.

Formulanews: Foi então que você se mudou para a Inglaterra?

Jo Ramirez: Foi. Decidi vir para a Inglaterra, em 1965, porque o país começava a despertar atenção com as equipes Lotus, Brabham, entre outras se instalando na Inglaterra. Comecei, então, a bater nas portas das equipes, mas continuava tendo problemas pela minha falta de experiência. Acabei trabalhando na Ford, que se dedicava às corridas longas, como Le Mans e assim comecei meu trabalho na Inglaterra, mas posso dizer que era muito difícil. Eu vivia sem minha família, não falava inglês, nada era fácil.

Formulanews: Como foi o início na F-1?

Jo Ramirez: Foi na Inglaterra que conheci um norte-americano, Dan Gurney, que me convidou para participar de seu projeto para montar uma equipe na F-1. Ele gostava muito do México, dos mexicanos e da comida do meu país, principalmente porque havia trabalhado com muitos mexicanos em sua empresa na Califórnia. Infelizmente, a equipe teve muitos problemas, o motor quebrava muito e vencemos duas corridas, uma que não contava pontos para o campeonato e o GP da Bélgica de 67. No ano seguinte, o Gurney não tinha dinheiro suficiente para continuar na F-1 e tivemos de fechar a equipe. Então ele me convidou para trabalhar nos EUA e fiquei dois anos na Califórnia trabalhando nos campeonatos de Trans-Am, Can-Am e Indy. Fiquei nos EUA até 1970, mas minha esposa (eu havia me casado em 67) não gostava muito de viver lá e quando o Gurney se retirou, voltamos para a Inglaterra.

Formulanews: Nessa volta, você começou a trabalhar com Ken Tyrrell?

Jo Ramirez: Em 71, estava trabalhando para o John Wyner na Gulf-Porsche. Tivemos um ano sensacional nas competições com o Pedro Rodriguez ganhando quase todas as corridas este ano. Em 72, o Ken Tyrrell me deu a oportunidade de trabalhar na equipe com o Jackie Stewart e o François Cevert. Gostei muito de poder voltar à F-1, que sempre foi meu grande amor. Fiquei na equipe até 1975, quando o Emerson (Fittipaldi) me deu a chance de trabalhar na equipe Copersucar como team manager. Pela primeira vez, tive a oportunidade de entrar neste meio, já que agora não era mais o chefe dos mecânicos.

Formulanews: Como foi esse trabalho na Copersucar?

Jo Ramirez: A equipe teve muitos problemas e tinha pouco dinheiro. O carro era feito no Brasil e os problemas eram muitos. No segundo ano, levamos tudo para a Inglaterra, mas era sempre um problema atrás do outro. Em 78, deixei a Copersucar e fui para a Shadow, uma outra equipe pequena de F-1. Foi a época em que mais trabalhei na minha vida. O trabalho ficou em cima da hora e em dez dias tive de contratar mecânicos, comprar motores, acertar os carros... Os pilotos eram o Clay Regazzoni e o Hans Stuck. Mesmo assim, com todos os problemas, ainda conseguimos um quinto lugar no Brasil ou Argentina. Mas a equipe andava sempre com problemas. Em 1980, fui para a equipe ATS, também um time pequeno, com apenas um carro e que pertencia a um rico industrial alemão. O carro até andava bem, mas o dono não tinha dinheiro para comprar peças novas e tínhamos de andar sempre com o mesmo carro.

Formulanews: Como foi o convite para trabalhar na McLaren?

Jo Ramirez: Quando estava na Shadow e na ATS, o Ron Dennis já havia me oferecido emprego. Mas nas duas oportunidades, eu estava feliz onde estava. Não queria ir para uma equipe maior para ser apenas um número. Então não aceitei. Eu preferia ser um peixe grande numa lagoa pequena a ser um pequeno peixe num lago grande. Finalmente, no final de 83, aceitei o convite de Ron. Comecei na McLaren como coordenador e meu cargo não mudou desde então. Foi sempre igual nestes 18 anos. Mas posso dizer que gostei muito dessa vida. Foi uma vida muito boa, fiz muitos amigos, por isso, gostaria de ficar com alguma coisa pequena para continuar revendo as pessoas.

Formulanews: Em todos estes anos de automobilismo. O que mais marcou sua carreira?

Jo Ramirez: Os anos de 88 e 89 marcaram muito, quando tínhamos Ayrton Senna e Alain Prost. Era uma equipe dos sonhos. Ninguém tinha um motor melhor, engenheiros melhores, um carro melhor e ainda contávamos com os dois melhores pilotos do mundo. Foram 16 corridas, 15 vencidas pela dupla da McLaren. O mais legal é que você sabia que a McLaren iria vencer, mas não qual seria o piloto. Tanto que nestas 15 vitórias, oito foram do Ayrton e sete do Alain. Foi uma época muito boa, infelizmente a relação entre os dois campeões foi muito difícil e um (Prost) acabou saindo da equipe depois disso (89). Uma pena, porque mais tarde na vida deles, quando eles começaram a se falar e eu asseguro que eles seriam bons amigos, porque os dois tinham uma admiração recíproca, aconteceu o que aconteceu (a morte de Senna).
Apresentação do dream tream (time dos sonhos) da McLaren. Senna e Prost, os melhores pilotos do mundo na época, bridam com Ron Dennis, o chefe da equipe McLaren

Formulanews: Faltou alguma coisa para você se aposentar com a certeza do dever cumprido?


Jo Ramirez: Este ano (2001) foi muito difícil para a McLaren, tivemos muitos problemas mecânicos, tivemos má sorte e a McLaren cometeu muitos erros. Lembro-me em 93, a última vitória do Ayrton, na Austrália, quando chegamos a 104 vitórias e estávamos empatados em 103 com a Ferrari. Infelizmente, este ano não vencemos muito e o que eu queria era ter saído da equipe num momento melhor. (Nesse momento, a Ferrari tem 144 vitórias contra 134 da McLaren).


Formulanews: O que você sente mais falta dos velhos tempos da F-1 e o que a modernidade trouxe de melhor. Quais mudanças você apontaria?

Jo Ramirez: Mudou muito. O negócio, o dinheiro ultrapassou o esporte. Mas agora nós vivemos melhor na F-1. Talvez eu não poderia estar me aposentando agora se não fosse por isso. Agora o pessoal ganha muito melhor. Antigamente nós trabalhávamos só porque gostávamos e fazíamos isso sem dinheiro. Hoje, todos trabalham porque gostam, mas ganham bem. Então, esse é o lado bom dos tempos atuais. Hoje, os pilotos também trabalham pouco. Eles fazem 17 corridas no ano e nem todos testam. No entanto, agora eles precisam participar de eventos de promoção, porque os patrocinadores gastam muito dinheiro e querem algum retorno. Mas eu gostava, há 20 ou 30 anos, de poder ver esses pilotos correndo em outras categorias esporte, turismo. Era muito excitante ver o Jim Clark, na época da Lotus, andando em Brands Hatch com um carro de turismo, correndo como convidado de alguma prova. Ele era dois segundos mais rápido que os demais que disputavam o Campeonato Britânico de Turismo. Também tive a oportunidade de ver o Senna com um Mercedes-Benz, mas agora não temos mais isto. A F-1 também mudou muito com os seus aficionados. Hoje, os fãs não podem estar perto dos pilotos, dos carros e isso é muito triste. Mas assim é o progresso, temos de aceitar. É necessário ser mais restrito.


Formulanews: A proximidade com os EUA deixou a Europa em segundo plano para os pilotos mexicanos? Por que eles preferem correr na CART e suas categorias de base a ir para a Europa?

Jo Ramirez: Sem dúvida a proximidade com os EUA é uma das razões. Os pilotos mexicanos gostavam de correr na Europa, mas a relação dos EUA com o México está mais próxima e é mais fácil encontrar patrocínio para correr na América do Norte. Os jovens mexicanos são mais conhecidos nos EUA. Talvez se tivéssemos um GP de F-1 no México isso facilitaria, porque os patrocinadores se interessariam mais. O interesse dos mexicanos pela F-1 também diminuiu, porque desde os irmãos Rodriguez nenhum piloto do país se destacou na categoria. O Adrian Fernandez chegou a correr de F-3 (Inglesa) aqui e eu inclusive o ajudei muito, porque ele é um bom piloto, uma boa pessoa e é muito trabalhador. Ele trabalha tanto que conseguiu um bom lugar nos EUA e sempre se esforçou muito para fazer o que quis na vida, tanto que este ano ele conseguiu montar sua própria equipe na CART. Espero que um piloto mexicano volte a correr na Europa e agora estou muito contente por ter o Juan Pablo (Montoya) na F-1, porque é outro latino correndo aqui e precisávamos disso, porque desde que o Senna morreu não surgiu ninguém próximo dele e hoje o Juan Pablo é o piloto mais excitante desde os tempos do Ayrton. Eu o recebi de braços abertos e ele tem tudo para ser campeão. Ele guia um pouco como o Ayrton e não tem medo de ninguém.

Formulanews: Para você, Michael Schumacher é o melhor de todos os tempos?

Jo Ramirez: Talvez ele seja o mais completo, o melhor da atualidade e vai continuar rompendo outros recordes, mas ele teve todo esse êxito sozinho, porque com quem ele correu? Este ano, ele teve o David Coulthard e nos outros anos só teve o Mika Hakkinen como adversários. Antes disso, o único adversário que ele teve foi o Damon Hill. Na Benetton, ele escolhia seus companheiros e no contrato ele é sempre o número 1. Quando fechamos contrato com o Ayrton nem perguntamos sua opinião sobre seu companheiro Alain Prost ou vice-versa. Eles não tinham medo. O Schumacher jamais teria um adversário como o Senna na mesma equipe. Sem dúvida, ele é muito bom, é rápido, mas o Mika é tão rápido quanto ele. Quando o Ayrton morreu em 94, o público perdeu o que seria um duelo entre os dois. O Schumacher continuaria sendo bom, mas não tão bom quanto os recordes que ele tem, porque ele teve poucos rivais, não correu com Nelson Piquet, Nigel Mansell e Prost ao mesmo tempo. Para mim, o Ayrton foi o melhor, mas cada um tem a sua opinião.
 

Senna, Prost, Mansell e Piquet na temporada de 1986, considerada a melhor de todos os tempos


Formulanews: Você acredita que o Mika Hakkinen voltará a correr depois deste um ano de pausa?

Jo Ramirez: O Niki Lauda e o Prost pararam, voltaram e ganharam campeonatos. Mas os tempos eram outros. Para mim, existe a chance de 30% do Hakkinen voltar e 70% de ele não voltar. Ele já está muito satisfeito com os resultados que alcançou na F-1. Além disso, ele teve um ano difícil nesta temporada, não por culpa dele, mas por problemas com o carro e erros na equipe. Na metade do ano, a Williams e a Ferrari ultrapassaram a McLaren. Talvez se tivéssemos um bom carro ele não teria tomado essa decisão, mas acabou decepcionado. Tenho minhas dúvidas se ele volta, mas espero que sim.

Formulanews: Como você viu a contratação do novato Kimi Raikkonen pela equipe?

Jo Ramirez: O Raikkonen sem dúvida foi a revelação deste ano. Mas estranhei a McLaren ter optado pelo Raikkonen e não pelo (Nick) Heidfeld, porque ele fez a mesma coisa ou até mais este ano, mas acho que eles levaram em conta o que o Raikkonen fez por ser seu primeiro ano. Ele foi melhor até que o (Olivier) Panis, que também tinha um contrato conosco. Espero que a equipe tenha razões para ter tomado essa decisão.

Formulanews: O contrato entre McLaren e Michelin era esperado ou vocês tomaram essa decisão depois que a Ferrari renovou com a Bridgestone até 2004?

Jo Ramirez: A McLaren ter acertado com a Michelin não foi algo que me surpreendeu. Era só uma questão de tempo e não uma dúvida. Era um fato, só não sabíamos quando iria acontecer. Quando trabalhamos com a Michelin, em 1984 e 85, nós éramos superiores e gostávamos muito da maneira como eles trabalhavam. Por isso, não foi uma surpresa. Este ano, a Williams foi superior em parte porque os pneus andavam melhor em algumas pistas, embora eles ainda não tenham um bom composto para chuva. Mas por ter sido seu primeiro ano, a Michelin fez um bom papel e tenho certeza de que vão melhorar ainda mais. Acho que foi uma boa decisão da McLaren.

Formulanews: Com os pneus Michelin vai ser mais fácil superar a Ferrari?


Jo Ramirez: Essa foi uma das razões que levou a McLaren a escolher os pneus Michelin. Esperamos voltar a nossa competitividade. 


FONTE PESQUISADA

Disponível em: <http://www.autoracing.com.br/forum/index.php?showtopic=4363>. Acesso em: 18 de setembro 2014.

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