Vejam trechos do processo
aberto em 2007 pelo Ministério Publico
do Trabalho contra o pai de Ayrton Senna, Milton Guirado Theodoro da Silva, após várias denuncias de trabalho
escravo em sua fazenda chamada “Campo Aberto”, localizada na Bahia. Faça o download do processo completo aqui.
Depois dessas denúncias e processos (esse em destaque no post é apenas um dos processos), a fazenda "Campo Aberto" foi vendida. Campo Aberto era de propriedade do senhor Milton da Silva, como relatado no começo desse post, e junto a ele tinham alguns sócios, amigos da família. Se digitar "Campo Aberto Milton da Silva" em sites de buscas, como Google, vocês podem constatar que a fazenda pertencia a família de Ayrton, a Milton da Silva.
Milton sempre teve empreendimentos rurais, seus filhos ainda eram pequenos quando ele começou com esse tipo de negócio (talvez até mesmo antes disso). Era um "Expert" no ramo. Bom, já podemos imaginar como acumulou sua fortuna.
Trechos do Processo:
Depois dessas denúncias e processos (esse em destaque no post é apenas um dos processos), a fazenda "Campo Aberto" foi vendida. Campo Aberto era de propriedade do senhor Milton da Silva, como relatado no começo desse post, e junto a ele tinham alguns sócios, amigos da família. Se digitar "Campo Aberto Milton da Silva" em sites de buscas, como Google, vocês podem constatar que a fazenda pertencia a família de Ayrton, a Milton da Silva.
Milton sempre teve empreendimentos rurais, seus filhos ainda eram pequenos quando ele começou com esse tipo de negócio (talvez até mesmo antes disso). Era um "Expert" no ramo. Bom, já podemos imaginar como acumulou sua fortuna.
Trechos do Processo:
Acerca da situação dos
trabalhadores encontrados na fazenda ré, vale a pena ler com atenção alguns
trechos do RELATÓRIO DE INSPEÇÃO RURAL confeccionado pela Fiscalização à época,
quanto às condições gerais dos trabalhadores (documentação anexa):
“O local destinado ao
alojamento dos obreiros não oferecia as mínimas condições para tal. As duas
edificações utilizadas para a dormida dos trabalhadores eram compostas de vinte
cômodos cada uma; cada cômodo com medida aproximada de 9 metros quadrados .
Na maioria dos cômodos havia um conjunto de
4 beliches de três camas em alvenaria, formando nichos onde dormiam os
trabalhadores. Em outros as camas eram de estrutura de madeira nos mesmos
moldes. As edificações não possuiam forro e o teto era superlotado de aranhas e
suas teias além de muita sujeira. O espaço de circulação dentro dos cômodos era
muito exíguo, assim como a luminosidade, já que as janelas encontravam-se
emperradas e a luz que entrava pelas portas não era suficiente para iluminar o
local. Como havia mosquitos em demasia no local, os trabalhadores eram obrigados a improvisar coberturas para fechar
as camas com sacos de nylon, redes e telas, aumentando em demasia o calor
e,conseqüentemente, o desconforto. Os colchões fornecidos, em sua maioria,
eram velhos, sujos e muito finos, e não
era fornecida roupa de cama.(.....)Há que se mencionar que o mato que
circundava o local de alojamento era
muito próximo e havia uma grande quantidade de animais peçonhentos,
especialmente cobras, na vegetação do entorno. Ainda, havia água suja empoçada
ao redor das estruturas, propiciando a proliferação de mosquitos. Portas e
janelas encontravam-se, ainda, imundas e enferrujadas. Não havia armários nos
cômodos onde dormiam os trabalhadores. Os pertences dos obreiros ficavam
dispostos aleatoriamente no chão, sobre as camas ou pendurados em varais
improvisados. Ressalte-se que, juntamente com os pertences dos trabalhadores,
havia fogareiros a gás e ferramentas de trabalho, como enxadas, que também eram armazenadas nos cômodos, colocando em
risco os ali alojados. O piso de cimento cru, assim como toda a estrutura,
encontrava-se em estado de conservação precário e de absoluta
sujidade”.(destaque nosso).”
“A título de instalações
sanitárias havia duas estruturas, a aproximadamente trinta metros dos locais de
alojamento. Em uma havia um conjunto de seis vasos sanitários para atender aos
82 trabalhadores, no entanto, três deles não funcionavam e os demais se
encontravam em estado precário. Não havia iluminação, papel higiênico ou
limpeza. Tampouco havia lavatórios para higienização das mãos. As portas não
tinham fechaduras ou maçanetas e encontravam-se deterioradas, com pedaços
faltando. O odor no local era insuportável. Devido à sujeira e às condições do
local, os trabalhadores, em sua maioria, utilizavam o mato para fazer suas
necessidades fisiológicas de excreção, ficando expostos ao ataque de animais
peçonhentos. Durante a noite a situação era ainda mais grave. Devido à
distância entre os alojamentos e os sanitários e por causa do medo de ataque de
cobras, os trabalhadores ou improvisavam recipientes para fazer suas
necessidades fisiológicas dentro do alojamento ou eram obrigados a esperar que
o dia amanhecesse. Na outra, local para banho, o chão era de piso irregular e
as paredes imundas e cheias de limo. Não havia iluminação nem local onde os obreiros
pudessem dependurar suas roupas. Tampouco havia portas, deixando os
trabalhadores expostos durante o banho. (destaque nosso).”
Durante verificação nas
frentes de trabalho a equipe fiscal verificou que uma cobra, identificada como
cascavel, por conta do chocalho na extremidade do corpo, havia sido morta
recentemente pelos trabalhadores. Quando a equipe encontrava-se, já, inspecionando
a área de vivência foi encontrada, no local, e morta mais uma cobra,
identificada, pelos trabalhadores, como jararaca.
Entre as duas edificações que
serviam de alojamento encontrava-se o local para tomada de refeições. (....)Não
havia recipiente para lixo ou lavatórios que permitissem a higienização das
mãos. O local para preparo dos alimentos era totalmente inadequado. A
edificação encontrava-se extremamente suja; as paredes, deterioradas, além de
sujas apresentavam buracos e remendos. As janelas e portas de ferro
encontravam-se enferrujadas. Não havia iluminação apropriada e o calor no
ambiente era extremo. Os trabalhadores responsáveis pela manipulação dos
alimentos não usavam equipamento de proteção. Os alimentos eram manipulados sem
qualquer cuidado ou higiene. Os utensílios de cozinha encontravam-se
espalhados, amontoados pelos cantos e no chão. (....)O almoço e o jantar eram
preparados a um só tempo, pela manhã, e os alimentos preparados ficavam nas
próprias panelas, em temperatura ambiente alta, sujeitos à deterioração. Uma
das conseqüências dessa situação é que a comida oferecida aos trabalhadores não
tinha qualidade. Ainda, era oferecida a refeição colocada nos recipientes dos
trabalhadores pelos próprios responsáveis pelo preparo dos alimentos, e
entregue aos trabalhadores sem possibilidade de comer mais do que o servido. O
empregador não oferecia marmitas ou pratos. As refeições eram servidas em
recipientes diversos, de propriedade dos próprios trabalhadores. Como nem todos
os trabalhadores possuiam recipiente para receber o alimento, muitos tinham que
esperar que os demais terminassem de comer para que pudessem, então, pedir
emprestada a “marmita” para tomar a refeição. Muitas “marmitas” eram
improvisadas com garrafas de refrigerante tipo “pet”, cortadas”. (destaque
nosso)
As condições de trabalho dispensadas aos trabalhadores,
como se vê, eram as piores possíveis.
As condições a que estavam
expostos os trabalhadores traduzidas pela verificação física e termos de
declaração, revelam um quadro humano estarrecedor, como se vê
pelo depoimento do trabalhador José de Jesus:
“...que só pode sair da
fazenda no 1º sábado após o dia 05 de cada mês,”que é a lei não é? Perguntou a
este auditor; que gostaria, se pudesse, de sair outras vezes da fazenda, mas
não havia como, pois é muito longe e não há transporte; que não consegue dormir
à noite por causa dos mosquitos; que é muito mosquito; que recebeu colchão
velho, sujo; que não recebeu roupas de cama, sabão, toalha; que já matou pelo
menos três cobras no pátio do alojamento; que a cobra é do tipo cascavel,
venenosa; que houve queixas dos empregados que o avião passou veneno
(pulverizou)enquanto estavam no local, trabalhando; que houve um acidente, com
a queda do pivô, enquanto o funcionário 'Raimundo' (acidentado) estava movimentando
e consertando o referido aparelho de irrigação; que Raimundo sentiu dores
durante 3 dias; que soube que foi levado para atendimento hospitalar na segunda
feira (há dois dias); que foi levado por motorista da fazenda (destaque nosso)”
Sobre as condições do alojamento,
relatou o trabalhador José Marlos Moraes dos Santos que:
As lavouras recebiam
pulverização mecânica de agrotóxicos, inclusive através de aviões, e os
trabalhadores, muitas vezes, não eram avisados sobre o horário da pulverização.
Em verdade, enquanto a equipe do GEFM permaneceu na fazenda verificou-se o
abastecimento do avião, bem como o sobrevôo para pulverização. O resultado é
que ficavam impossibilitados de afastar-se dos locais aspergidos em tempo de
não serem contaminados. Ressalte-se que não havia qualquer sinalização das
áreas pulverizadas – o que se aferisse se era respeitado o período de
reentrada. De fato, alguns trabalhadores queixaram-se de incômodos na garganta,
mal-estar e cansaço respiratório, atribuídos, por eles, ao contato com o
agrotóxico. Mencione-se que o empregador não fornecia aos trabalhadores
qualquer informação ou treinamento sobre agrotóxicos.
Muitos laboravam com
vestimentas inadequadas e desprotegidas dos riscos a que eram expostos, como
radiação ultravioleta, calor excessivo, acidentes com animais peçonhentos,
risco de contaminação por agrotóxicos. Diversos trabalhadores foram encontrados
pela equipe fiscal, em plena atividade laboral, descalços ou com sandálias tipo
“havaianas”, sem luvas, botinas, chapéu ou qualquer outro equipamento de
proteção”
Sobre as condições do
alojamento, relatou o trabalhador José Marlos Moraes dos Santos que:
“...que está alojado em
alojamento de alvenaria, mas que o teto do alojamento tem goteiras que fazem
molhar os trabalhadores; que dorme numa cama de cimento, e num colchão muito
velho, que fede e é cheio de pulgas; que é muito ruim dormir nestas condições;
que sente dores nas costas devido à condição da cama e do colchão(destaque
nosso)”
Causa indignação o relato à
Polícia Federal do trabalhador JOSÉ PAULO DOS SANTOS ( fls. 513/515).
“...QUE descreve o quarto do
alojamento em que morava como sendo péssimo, com insetos, colchão fino, havia
goteiras, dividia o quarto com quatro companheiros; (....) QUE a limpeza dos
quartos era feita pelos próprios trabalhadores...”
Ainda sobre o descaso quanto
à saúde dos trabalhadores, vale transcrever o depoimento do Sr. Paulo Batista
da Silva ('TEOBAIA”, que até dezembro do ano passado (2006) era próprio “gato”
da Fazenda e, atualmente, é “testa de ferro”, na simulação de terceirização do refeitório-2,
dos trabalhadores:
“...QUE também já ocorreu de
trabalhadores adoecerem na lavoura e a fazenda não disponibilizar transporte
para o tratamento médico na cidade, sendo que algumas vezes o próprio depoente
teve que transportar, às suas expensas, as pessoas adoentadas para LEM; (....)
QUE o almoço dos cerqueiros é transportado em marmitas, por uma camionete F4000
e levada aos mesmos até o local de trabalho, sendo que os trabalhadores almoçam
sob o sol, ao relento, na própria
roça; (....) QUE o alojamento dos trabalhadores temporários foi construído há
mais ou menos oito anos; QUE a alimentação era muito ruim; QUE apesar da
limpeza diária (pelos próprios trabalhadores) tem muito inseto, especialmente
baratas; QUE as fossas ficam expostas e cheias de baratas; QUE quase todos os
dias os peões matam cobras; QUE tem conhecimento de que já foram levadas
equipes de construtoras para fazerem orçamento de reforma do alojamento dos
trabalhadores temporários mas até hoje nada foi feito; QUE o Sr. RICARDO
(FERRIGNO-O SÓCIO-ADMINISTRADOR) pouco vai ao alojamento mas tem conhecimento
do estado deplorável em que se encontra, pois o depoente na época em que
prestava serviços diretos na fazenda cansou de solicitar providências
relativas à reforma do
alojamento ao gerente DEUSMÁRIO” (destaco)..
Registre-se que o depoimento
acima goza de toda a isenção, eis que prestado pelo “gato” da Fazenda por mais
aproximadamente 15 (quinze) anos, conforme a prova produzida no curso da
operação, inclusive o seu próprio depoimento. Ademais, hoje, foi a pessoa de
confiança encontrada pelo dono da Fazenda Campo Aberto, Sr. RICARDO FERRIGNO
para servir de “testa de ferro” à terceirização ilícita do restaurante que
serve as refeições dos trabalhadores, de que trata a presente postulação.
Em outro trecho, pelo depoimento do
trabalhador ELESSANDIO SANTOS DE SOUZA,
constata-se a arregimentação e aliciamento de trabalhadores em outra
região/servidão por dívidas, atraindo a incidência do tipo penal previsto no artigo
207 do Código Penal Brasileiro, coadjuvado pelas previsões pelo art. 230 do
CTB, pela Resolução CONTRAN nº 82 e, finalmente, pelo item 31.16.1 da NR – 31
do MTE, in verbis:
QUE na primeira vez em que
trabalhou na Fazenda Campo Aberto veio para esta região por meio de TEOBAIA que
o pegou em Cafarnaum no ônibus da própria fazenda; QUE acha que o ônibus era
alugado; QUE havia em média 50 pessoas, todas de Cafarnaum, no mesmo ônibus em
que o depoente veio a LEM e todas foram
encaminhadas para trabalhar na fazenda Campo Aberto; QUE não se recorda do nome
de nenhum dos colegas que o acompanhou; QUE não foi garantido meios para o
retorno do depoente a Cafarnaum; QUE para retornar à sua cidade o próprio
depoente pagou a sua passagem; (....) QUE achava que as condições do alojamento
tinham melhorado em relação à outra vez que trabalhou na
fazenda Campo Aberto, mas não melhoraram; QUE queria sair da Fazenda Campo
Aberto porque o valor da empreita estava muito barato; QUE em 2004 comprava mercadorias na cantina da
Fazenda, com o irmão de TEOBAIA; QUE o
valor das mercadorias era diretamente descontado do salário do depoente”.
(destaco).
“...que não é disponibilizado aos trabalhadores água tratada para o consumo, não há filtros nem bebedouros, que não são disponibilizados copos descartáveis ou individuais//...que a água consumida provém de poço/torneira; que tem gosto de ferrugem”.
DA FRAUDE EVIDENCIADA QUANTO À CELEBRAÇÃO DE CONTRATOS POR PRAZO DETERMINADO (SAZONAIS/SAFRA).
No curso da fiscalização, o grupo móvel constatou que há na Fazenda-ré uma conduta generalizada de utilização fraudulenta do instituto da contratação temporária, com graves lesões aos trabalhadores rurais da região e migrantes.
O sistema adota a seguinte seqüência procedimental:
1.O trabalhador é arregimentado em outras regiões ou mesmo na cidade de Luís Eduardo Magalhães, onde há escritórios especializados na captação desta mão-de-obra flutuante, no dizer de Marx - o “exército de trabalhadores de reserva”, como no caso sob exame, o escritório do Renato e Clodoaldo, identificados na Fiscalização.
2.A arregimentação é feita a pedido do fazendeiro, que encomenda 30/40/80 trabalhadores, conforme seja sua necessidade.
3. O dito “CONTRATO
INDIVIDUAL DE TRABALHO PARA EXECUÇÃO DE DETERMINADO SERVIÇO” é sempre firmado
para a realização de um único serviço singular, a exemplo da “cata do algodão”
-fl.36), “colheita do café” -fl. 34, “desbroto do café – (fl.33)”, “capina do café
– fl.32) etc, mas, na prática, não há sujeição ao referido serviço, tampouco a
qualquer termo temporal. Tudo fica ao talante do empregador, que manda e
desmanda na falácia do pseudo-contrato a termo.
4.Acrescente-se que o trabalho dito sazonal
se estende por todo o ano, na quase totalidade das fazendas, e o trabalhador,
por seu turno, se presta a fazer todas as tarefas ocorrentes no curso dos meses
do ano: capina do algodão, colheita do café, desbroto e serra do cafezal,
amarração do café, encoivaramento, catação de raízes etc, verificando-se, na
prática, apenas a troca das turmas. Aí reside o nó górdio da fraude – a
necessidade/essencialidade daqueles serviços, na verdade, estende-se por todo o
ano. No contraponto, argumenta o empregador, falaciosamente, como visto, que
assim procede porque o trabalhador que faz isto, não faz aquilo (ex: o que
colhe café não quer trabalhar na capina do algodão). Nada mais inveraz, não se
colheu um só depoimento narrando tal exclusividade/especialidade. Todos os
trabalhadores ouvidos fazem de um tudo, buscam, na realidade, trabalho e
almejam uma segurança na contratação, o que do ponto de vista jurídico, seria o
legal e adequado.
FONTE PESQUISADA
Disponível em: <https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&cad=rja&uact=8&ved=0CB0QFjAA&url=http%3A%2F%2Fcongressoemfoco.uol.com.br%2FUserFiles%2FImage%2FACP-dano_moral.campo_aberto.doc&ei=jmxRVLSQKMKiNo-WgMgI&usg=AFQjCNFB0g60oECjJZ5pFwPj4tfi59F9vg&sig2=_0x4yb4BFOdLRbt4rul-pA&bvm=bv.78597519,d.eXY>.
Acesso em: 01 de outubro 2014.
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