São Paulo (SP)
gazetaesportiva.net
O Grande Prêmio do Brasil
abriu a temporada de 1994 da Fórmula 1. A expectativa pelo desempenho de Ayrton
Senna em sua estreia pela Williams era grande por causa do domínio da escuderia
britânica nos dois anos anteriores do Mundial. Tanto que, após o brasileiro
garantir a pole position, A Gazeta Esportiva celebrava em sua
manchete – “A união do melhor carro com o melhor piloto não deixa dúvidas: o
título deste ano já tem dono”.
Mas o desempenho de Senna no
que seria sua última corrida diante do público brasileiro não foi como o jornal
previra, nem como a torcida esperara. O tricampeão mundial esfriou o ânimo do
público ao cometer um erro e rodar na 56ª de 71 voltas, abandonando o GP do
Brasil. Pouco mais de um mês depois, morreu em um acidente no GP de Ímola,
terceira etapa do campeonato.
Reprodução/A Gazeta Esportiva
Ayrton Senna andou na frente nos treinos e era considerado
favorito para a prova de Interlagos em 1994
O otimismo para a temporada
vinha pela mudança de equipe. Campeão do Mundial com a McLaren em 1988, 1990 e 1991,
Senna deixara o time para correr pela Williams, dominante em 1992 e 1993. Na
segunda-feira que antecedeu o GP do Brasil, 21 de março, seu aniversário, o
piloto vistoriou as obras realizadas em Interlagos ao lado do então prefeito
Paulo Maluf. Ouviu do político que as reformas eram um presente pelos 34 anos
de idade e que no domingo seria sua vez de presentear a torcida.
No primeiro treino, na
sexta-feira, ocorreu “o que todo o mundo esperava”, segundo A Gazeta
Esportiva: Senna andou na frente, com o jovem Michael Schumacher na segunda
colocação. O acontecimento extraordinário do dia em Interlagos foi a expulsão
do diretor e ator José Mojica. Interpretando o personagem Zé do Caixão, ele
entrevistava os bombeiros do autódromo quando sua credencial foi tomada pela
organização da F-1. A
justificativa relatada ao periódico foi que “ele não era uma pessoa normal, que
parecia um demônio e que o autódromo era um lugar de trabalho”.
O bom trabalho de Senna no
treino classificatório de sábado só fez aumentar a euforia da torcida
brasileira, que no dia da prova pagava aos cambistas até US$ 400 por ingresso,
cotado nas bilheterias originalmente a CR$ 110 URVs (moeda da época). Pilotando
a Williams número 2, ele garantiu a pole position para o GP do Brasil. Na capa
de sua edição de 27 de março, data da corrida, A Gazeta Esportiva já
tinha certeza do resultado, “Senna: uma barbada”.
A expectativa da torcida e do
piloto brasileiro não se confirmou. O novo contratado da Williams já tinha até
planejado a comemoração. Preocupado porque as emissoras de televisão não
queriam dar publicidade gratuita ao personagem Senninha, produto no qual
investira US$ 2 milhões do próprio bolso, Ayrton Senna pedira ao desenhista
Ridaut Dias Júnior para pintar um bandeirão com a ilustração. Era cruzar a
linha de chegada, levar o carro à reta e brincar com o público para fazer com
que a versão para quadrinhos do piloto fosse focalizada pelas câmeras de TV.
Mas Schumacher, com a
Benetton, deixou Senna para trás e assumiu a primeira colocação da corrida. O
brasileiro aumentou o ritmo na parte final de prova, tentando alcançar o rival
alemão e acabou cometendo um erro quando passava na Curva da Junção pela 56ª
vez. Rodou 90º e ficou parado na pista, abandonando a prova em Interlagos.
Senna admitiu o erro.
Acelerou cedo demais na entrada da curva e derrapou. Com o carro parado, não
conseguiu colocar a marcha certa, tentou sair em terceira ou quarta e o motor
morreu. O brasileiro assistiu ao restante da prova ainda na parte interna do
circuito e só retornou aos boxes depois da bandeirada final. “Foi uma pena
porque o segundo lugar era garantido”, afirmou o piloto.
O resultado da corrida, de
acordo com o periódico, foi “um banho de água fria na legião de fãs”, mas nem
todos os brasileiros deixaram Interlagos decepcionados. Em sua segunda
temporada na Fórmula 1, o jovem Rubens Barrichello levou a Jordan ao quarto
lugar – foi superado por Schumacher, Damon Hill e Jean Alesi - e facilmente
classificou o domingo de 27 de março. “O dia mais feliz da minha vida”, disse,
a um mês da morte de Ayrton Senna.
Reprodução/A Gazeta Esportiva
Brasileiro rodou na 56ª volta e acabou abandonando sua
última prova diante do público brasileiro
FONTE PESQUISADA
Nenhum comentário:
Postar um comentário