A ÚLTIMA ENTREVISTA DELA
Por Cynthia de Almeida
Revista Caras 04/05/1995
Nas páginas seguintes, a íntegra
das últimas e exclusivas confissões da namorada do piloto, publicadas na edição nº20 de CARAS, de 25 de março.
Não sei quantas horas, ao
todo, conversei com Adriane Galisteu,
a bela modelo que, no último ano, foi a companheira de Ayrton Senna. Quase um mês se passou desde o primeiro contato até o
ponto final da minha entrevista. Foram várias tardes de conversa ao telefone (era
ela quem guardava o celular brasileiro dele), almoços regados a refrigerante (ela
não bebe), todo um dia para a sessão de fotos no litoral norte paulista (ela
adora praia). Foi sobretudo, um encontro sem pressão (ela pensa muito antes de
pronunciar cada palavra, como o Ayrton fazia) e, o mais importante para um
jornalista, a chance única de observar melhor o lado carne e osso de alguém que
convivia com uma lenda, com variação de humor, manias, segredos.
Desconfiada a principio,
Adriane contrapunha sua agenda de trabalho para adiar nossa entrevista. Eu não poderia
esperar outra coisa de uma garota que foi escolhida como parceira por um dos
menos falantes ídolos de todo o mundo. Mas, a certa altura, confesso que já perdia
as esperanças de fazer um bom trabalho: para mim, ela era um Ayrton de longos
cabelos loiros (ela aprende rápido). Aos poucos, porém, nossos contatos foram
se tornando mais freqüentes. E, afinal, tive a oportunidade de descobrir uma
garota interessante, curiosa, diferente do que eu imaginava.
Dizem que as mulheres de
homens muito assediados se contentam em ser a sobra deles, que o anonimato e a discrição
são prerrogativas do cargo. Mas Adriane não era sombra. O sorriso largo ao
lembrar dos momentos divertidos do tricampeão, a raiva nos olhos sobre fofocas
sazonais, o ar cheio de esperança das apaixonadas que sonham com o casamento clássico
– tudo nela cheirava a vida, a energia. Em alguns momentos, enxerguei na minha
frente uma adolescente risonha, em outros, uma mulher que tem muito claro,
dentro de si, o que quer. Adriane deu a impressão de que se bastava com o amor.
Não se deslumbrava com o circuito vip internacional e, para ela, ganhar do
namorado milionário um automóvel do tipo básico já estava muitíssimo bom.
Não foi fácil penetrar no
mundo tão resguardado dos dois (isso mesmo: ela não é boba, sabe se preservar)
e creio que, em alguns momentos, Adriane julgou que eu avançava o sinal de sua
intimidade. Em momento algum, porém, sonegou alguma resposta. Mais: como em um
bate-papo banal, ela era quem, às vezes, fazia perguntas, pedia opiniões,
queria ouvir. Dentro de sua franqueza de quase menina, estabeleceu uma conversa
agradável, leve. E saiu-se com elegância de todas as perguntas (ela é
inteligente).
Fiquei imaginando se era
assim que os dois, Adriane e Ayrton, varavam as noites estreladas em Angra dos
Reis ou em um romântico jantar em Mônaco. Também calculei como toda aquela
alegria bem torneada transbordava a cada vitória de Ayrton nas pistas, ou como
seu coração generoso sofria antes de cada largada. Saberiam, eles dois, manter
o entusiasmo com tantos compromissos no meio e tanto perigo em volta? Viveriam com
a mesma fleuma das fotos que os mostravam tão adequados um ao outro?
Posso apostar que sim. Estamos
acostumados a suspeitar do marketing pessoal das celebridades. Mas isso é um
cacoete de quem imagina – ou espera? – que os ungidos pela Fortuna sejam
diferentes de nós, que sejam estranhos ao que conhecemos como vida real. Queremos
o sonho, o extraordinário, quem sabe o chocante. E só com o tempo aprendemos
que o extraordinário é perceber que as historias de amor são tão divinamente
comuns.
FONTE PESQUISADA
A última entrevista dela. Revista Caras,
São Paulo, Especial Nº 2, Ano 1, Editora Abril, 04 de maio 1995.
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