Fotos do prédio que Ayrton Senna e Adriane Galisteu moravam juntos na “Rua Paraguai no Jardim Paulista, bairro nobre de São Paulo ”
Créditos das Imagens: Veja a localização exata no Google Maps
Adriane Galisteu fala sobre o prédio em seu livro "Caminho das Borboletas"
E, de repente, estava todo
mundo comentando que ia haver uma churrascada em Angra. Relaxei: então, é
uma festa. O convite é geral. Peguei o telefone e disquei para ele.
- Pô, garotinha, você não
apareceu - repreendeu, carinhosamente. - E a Angra, você vem ou vai furar outra
vez?
Tentei desconversar, louca,
porém, para dizer sim:
- Não deu pra ir. Sobre
Angra, eu já disse que preciso conhecê-lo melhor.
Contra-ataque arisco, o dele:
- Estou querendo ir amanhã.
Por que, antes disso, você não passa pelo meu apartamento e a gente conversa?
Fiquei de posse daquele
valioso tesouro. Escrito num pedacinho de papel, o endereço - Rua Paraguai, 64,
décimo sétimo andar. Prédio de tijolinho, ele me explicou. O único da rua.
Disse como chegar lá.
A aventura me atraía e me
repelia. Eu, que durmo como uma teenager, tive sobressaltos aquela noite, remoendo
as idéias mais estapafúrdias e regressando sempre para o mesmo ponto de
interrogação:
- Mas por que eu?
(Agora que tudo passou, é a
mesma pergunta que volta, impiedosa.)
Não sabia aonde aquilo ia
chegar. Mas foi alguma coisa além de curiosidade feminina que me empurrou até o
apartamento dele, no final da manhã seguinte, quinta-feira, 10 de abril - foi
alguma coisa que não sei bem o que é. Ele me esperava com naturalidade e aquela
carinha de menino indefeso. Calça creme social, de preguinhas. Sem camisa -
tórax rijo. Os pés descalços deslizando pelo carpete alto, daqueles em que fica
impossível encontrar a tarracha de um brinco. Tudo muito respeitoso: ele se
sentou numa poltrona a uma distância razoável - bem razoável, eu me recordo -
do sofá de couro onde me instalei. Na sua mão, um copo de vitamina C
efervescente.
Meu olhar de mulher passeou
rapidamente pelo apartamento, que ele dividia com o irmão, Léo - flat típico de
solteiro, mas com móveis de qualidade e um toque de muito bom gosto na
decoração.
- E aí?
Ele se sentia tão inibido
quanto eu. Dava para cortar o ar com uma faca. Ele tomou a tímida iniciativa de
quebrar o gelo:
- Muito prazer. Eu me chamo
Ayrton Senna da Silva. Tenho 33 anos, não tenho namorada...
- Como não? Eu conheço sua
namorada!
A perplexidade dele parecia
sincera:
- Eu?
- Você, sim.
- Mas quem é ela?
- A Daniela (dei o nome
completo).
- Como ela é, hein?
Por uma fração de segundo,
achei que estava diante de um cafajeste clássico. Descrevi: loira, olho azul,
alta...
- Então é esse o nome dela? Ah,
os efeitos perversos da bebida. Logo eu que não bebo, penitenciava-se ele. Mas
de vez em quando acontece, de pura euforia. Ele foi enumerando: ao final do GP
do Japão, em 1990, quando se sagrou bicampeão do mundo, um porre dos diabos;
agora, naquelas comemorações do GP do Brasil, dias atrás... Ele podia contar
nos dedos as situações em que perdera o controle.
Conversamos uma hora e meia.
Em nenhum momento, eu enxergava naquele ser humano descalço, que tomava
vitamina C, o mitológico personagem de macacão e capacete que enfeitiçava os fãs
do automobilismo do mundo inteiro. Para mim, era um momento especial e
imprevisto. Falamos de tudo. De corrida, um pouquinho. De vida, trabalho e
sentimento, muito. Eu queria saber dele, mas ele também queria saber de mim - e
ouviu, com a maior paciência. Até reparou na minha blusa, "linda" -
rosashocking, de manga comprida, embora fizesse um calor africano lá fora.
Voltou, enfim, ao assunto Angra: iam muitas pessoas, seria uma festa, nada de
formalidades.
- Não sou do tipo de arrancar
pedaço - brincou.
Na verdade, eu já estava
decidida. Deixara a mala, prontinha, prontinha, no meu carro. Guardei o carro
na garagem do prédio, entrei no Honda negro que eu tanto tinha invejado a
distância, antes, e segui em frente. Naquele fim de semana prolongado, eu,
Adriane Galisteu, modelo, 19 aninhos, iria experimentar o doce prazer
ambicionado por milhares e milhares de mulheres de todo o planeta. O Ayrton
Senna homem ia se apresentar, por inteiro, a mim. Numa noite de céu estrelado,
como recomendaria um conto de fadas.
FONTES PESQUISADAS
Disponível em: <https://www.google.com.br/maps/place/R.+Paraguai,+64+-+Jardim+Paulista,+S%C3%A3o+Paulo+-+SP/@-23.570542,-46.6636716,3a,52.5y,48h,90t/data=!3m4!1e1!3m2!1sh87n5-cTxKVxbsQlxtrunw!2e0!4m2!3m1!1s0x94ce59dbabdc469d:0x6701b887bc0c37c1!6m1!1e1>.
Acesso em: 18 de dezembro 2014.
GALISTEU, Adriane. Caminho das Borboletas. Edição 1. São Paulo: Editora Caras S.A.,
novembro de 1994.
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