Há 30 Anos, Brasil Chorou Por Tancredo e Sorriu Pela 1ª Vez Com Senna

Publicado em 21/04/2015, 11:20 /Atualizado em 21/04/2015, 11:21

Antônio Strini, do ESPN.com.br

REPRODUÇÃO – ESTADÃO

Capa do Estadão em 22 de abril de 1985

"Nós, brasileiros, estamos orgulhosos com o seu desempenho. Você conseguiu dar uma alegria hoje ao país", disse ao telefone o então novo presidente da República, José Sarney. Na noite de 21 de abril de 1985, o Brasil chorou a morte de Tancredo Neves, aos 75 anos, eleito para ser o responsável por guiar a nação com o fim da ditadura militar.

Sarney, vice na chapa do ex-governador e primeiro-ministro, assumiu o governo federal de forma provisória em 15 de março, quando Tancredo fora internado.

De Brasília, na tarde daquele triste domingo, o ex-governador do Maranhão tomou uma decisão: não enviaria um telegrama e sim ligaria para Lisboa como forma de agradecer Ayrton Senna da Silva. Distante 29km da capital portuguesa, mais precisamente no circuito de Estoril, o piloto brasileiro conseguia a sua primeira vitória na Fórmula 1.

Em um dia que ao seu final seria marcado pelo luto, o futuro tricampeão mundial acendeu uma fagulha de esperança à população.

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Senna quis suspensão do GP por causa da chuva

O GP de Portugal, segunda etapa daquela temporada, viu um domínio de Senna durante o final de semana. Pole position, o representante da Lotus tentava se recuperar da decepção na etapa brasileira em Jacarepaguá - abandonou quando estava em terceiro.

Um ingrediente, porém, atrapalhou a corrida em Estoril: a forte chuva.

Dos 25 pilotos que largaram, sete abandonaram depois de rodadas, entre eles Riccardo Patrese, Gerhard Berger, Keke Rosberg e Alain Prost. Apenas nove competidores cruzaram a linha de chegada, apenas dois completando 67 voltas.

E Ayrton Senna humilhou a concorrência. Chamado até de novo Jacky Ickx, o Rei da Chuva, o piloto número 12 controlou todas as ações durante a corrida e chegou para receber a bandeira quadriculada com 1min02s978 de diferença para o segundo colocado, Michele Alboreto, da Ferrari. O pódio foi completado por Patrick Tambay, da Renault, que ficou uma volta atrás do líder e assumia a liderança do Mundial.

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Ayrton Senna celebra sua vitória no pódio em Estoril

A primeira das 41 vitórias de Senna na F-1, colocando a Lotus no lugar mais alto do pódio desde Elio de Angelis em 15 de agosto de 1982 no GP da Áustria.

O sorriso e o choro quase infantis de Ayrton, então aos 25 anos, foram marcantes. Depois do pódio, porém, ele contou o drama vivido na pista e revelou até ter pedido pela suspensão da corrida quando chegava à metade dela.

"Foi muito pior que Monte Carlo no ano passado, uma corrida que, por muito menos, foi paralisada no meio", disse, citando o GP de Mônaco em 1984, suspensa quando ele estava próximo de ultrapassar Alain Prost e acabou no segundo lugar.

"Aqui em Estoril houve água por todos os lados, de cima e de baixo, e havia passagens na pista que pareciam simplesmente intransitáveis. Passei por momentos muito difíceis em várias fases da corrida e houve momentos de tanto perigo que tive de juntar toda a minha concentração para ficar na pista. Apesar de toda aquela vantagem que tinha, eu também enfrentei as cortinas de água cada vez que passava por um retardatário", disse.

"A chuva tornou a pista perigosa até em plena reta. Imagine então nas partes baixas do circuito. Era mar puro. Felizmente o meu carro funcionou 100%, com pequenos problemas apenas na freadas, outro resultado da pista alagada", continuou.

"Perdi a conta das vezes em que estive a ponto de bater em outro carro. As condições da pista eram tão perigosas que cheguei a pedir sua suspensão. O carro de Rosberg ficou atravessado do meio de uma curva, em uma posição muito perigosa. Faltou pulso aos organizadores para encerrar a corrida antes do final", afirmou Senna em entrevistas reproduzidas dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo à época.

Outras duas figuras estavam extasiadas com a vitória do novo prodígio da F-1: Peter Warr e Gerard Ducarouge, respectivamente diretor-geral e projetista da Lotus.

"Foi a melhor exibição que jamais vi na Fórmula 1, dentro das condições incrivelmente difíceis da pista. Ayrton não teve uma falha em duas horas de corrida e a sua concentração durante as 67 voltas foi algo que ficará na história da categoria", garantiu Warr. "É um talento excepcional, candidato em potencial ao título mundial", previu Ducarouge, antes de Warr completar: "Provavelmente mais cedo do que se pensa."

Senna, 30 anos da 1ª vitória na F-1: chuva, pódio diferenciado e ofuscado nos jornais por morte de Tancredo

Ayrton Senna conversa com mecânicos da Lotus antes da largada em Portugal

FONTE PESQUISADA

STRINI, Antônio. Há 30 anos, Brasil chorou por Tancredo e sorriu pela 1ª vez com Senna. Disponível em: <http://espn.uol.com.br/noticia/502919_ha-30-anos-brasil-chorou-por-tancredo-e-sorriu-pela-1-vez-com-senna?utm_content=buffer3f57c&utm_medium=social&utm_source=twitter.com&utm_campaign=buffer>. Acesso em: 23 de abril 2015.