VASCO GARCIA - 20 Abril 2015
Blastingnews - pt.blastingnews.com
Numa corrida marcada pela chuva, Senna liderou de início ao fim e entrou para a história da Fórmula 1.
Senna celebrou efusivamente a vitória
A primeira vitória de Ayrton
Senna na Fórmula 1 chegou no Grande Prémio de Portugal no dia 21 de Abril de
1985, há precisamente 30 anos. A corrida foi muito complicada e teve a chuva
como protagonista. Não foi uma vitória qualquer. Foi uma exibição como
poucas vezes se viu de um piloto que é uma lenda.
Depois da estreia na F1,
pelas mãos da Toleman, a Lotus não demorou a contratar Senna. Desde 1982 que a
equipa não conseguia um triunfo e colocava todas as suas esperanças naquele
jovem brasileiro que tanta expectativa despertava. Na
primeira corrida da época, a vitória foi para Alain Prost e o seu McLaren TAG,
que se viria a sagrar campeão.
Para a segunda prova, o circo
deslocou-se até ao autódromo do Estoril, onde tinha terminado a temporada
anterior. O fim-de-semana arrancou bem para Senna, que garantiu
a pole-position, à frente de Prost e Rosberg. Mas os problemas começaram
logo no warm-up, com uma rotura do motor. Fuma rotura repentina e violenta
e foi necessário refazer toda a parte posterior doi o bólide nas poucas horas
que faltavam para a partida. Ainda não tinha começado a chover. Um frustrado
Ayrton Senna esperou sentado, pacientemente, que os mecânicos corrigissem os
muitos problemas.
Com a chuva a inundar a pista
a cada minuto, o diretor de corrida, Luís Salles Grade, decidiu dar dez minutos
extra de preparação, para que os pilotos se ajustassem às duras condições da
pista. Com o carro arranjado, o brasileiro saiu das boxes "a pisar
ovos", segundo as suas próprias palavras. Senna nunca tinha feito nenhum
treino com chuva, nem com o seu Lotus 97T, nem com os pneus Goodyear.
Mantendo-se na frente após a
partida, Ayrton tinha a vantagem de uma visibilidade quase normal, sem levar
com a água levantada pelos pneus de chuva. Foi ganhando uma média de um segundo
e meio por volta e manteve-se sempre na liderança, melhorando consecutivamente
a volta rápida. Depois de 10 voltas, a vantagem era de mais de 12 segundos e
continuava a subir. Lá atrás, os outros candidatos iam fazendo erros atrás de
erros. Patrese, Berger, Rosberg e Prost, entre outros, ficaram fora de corrida.
Enquanto Senna continuava
líder, a chuva tornou-se mais intensa. Tanto que o próprio brasileiro começou a
indicar que o melhor seria parar a corrida, uma vez que a pista estava muito
perigosa. Hoje em dia, talvez nem tivesse começado. Ante a reposta negativa do
director de corrida, Ayrton continuou até ao limite regulamentar das duas
horas, que chegou quando se cumpriam 67 das 69 voltas. Senna ganhou liderando a
prova do início ao fim, com mais de um minuto de vantagem sobre o Ferrari de
Alboreto. O italiano foi o único dos oito pilotos que terminaram a corrida que
não dobrou o génio brasileiro. Poderia ter havido uma dobradinha para a Lotus
Renault, mas De Angelis teve um rebentamento de pneu e acabou em quarto.
A grande estrela do dia foi
Ayrton Senna. Peter Warr não conseguiu conter a sua euforia no fim da prova. O
próprio Senna batia com tanta força no volante ao passar pela meta que quase
saiu de pista, já sem cinto de segurança, tal era a emoção pela histórica e
inédita vitória. Ao sair do carro, o brasileiro foi directamente dar um beijo
ao pai, que estava debaixo da torre de direcção de corrida. Assim, a Lotus, sob
o comando de Peter Warr e mãos de Senna ao volante, voltou às vitórias, o que
não acontecia desde a Áustria em 1982. O bólide desenhado por Gerard Ducarouge
entrou para a história da Lotus e Ayrton Senna
entrou para a história da Fórmula 1.
Peter Warr, chefe da equipe Lotus-Renault, eufórico com a vitória de Ayrton Senna
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Há 30 anos, Senna conquistava
a sua primeira vitória na F-1
Folha de SP - folha.uol.com.br
DE SÃO PAULO
21/04/2015 02h00
Àquela altura, a primeira
vitória de Ayrton Senna parecia ser apenas questão de tempo para o mundo da
F-1.
Mas poucos podiam imaginar
que ela aconteceria naquele 21 de abril de 1985, num GP de Portugal marcado
pela chuva. Mais que isso, da maneira como o piloto brasileiro, então em sua
segunda temporada na categoria, foi tão superior aos adversários.
"Quando começou a chover
naquele dia, imaginei que Ayrton pudesse ir bem porque em Mônaco, no ano
anterior, ele havia dado um show na chuva", relembra a jornalista alemã
Karin Sturm, do "Tagesspiegel", de Berlim, que cobria seu terceiro
Mundial de F-1 naquele ano.
Em sua 16ª corrida no
Mundial, a segunda pela Lotus, Senna largava na pole position pela primeira vez
em sua carreira naquele domingo, no circuito de Estoril.
Apesar de a classificação ter
sido disputada com a pista seca, o domingo em Portugal começou com chuva.
Naquele dia, a corrida, a segunda etapa do Mundial de 1985, atrasou. Mas por
conta de um motivo ao menos curioso.
O piloto brasileiro Ayrton Senna, pela Lotus, acena durante
a sua primeira vitória na F-1, em 1985
"Havia uma antiga
disputa entre o governo e a proprietária do autódromo. Como o governo havia
dado dinheiro ao circuito para as reformas, mudou o nome do local para
Autódromo do Estoril", relembra o jornalista português Luis Vasconcelos,
da Formula Press, que naquele 21 de abril estava na pista como fã.
"Mas, no dia da prova, a
proprietária da pista afirmou que não haveria corrida se seu nome não voltasse
a ser pintado no prédio principal. Eles então chamaram um pintor às pressas,
que apagou o 'do Estoril' e substituiu por Fernanda Pires da Silva. Por conta
disso a corrida atrasou uns 40 minutos pelo menos."
Após a largada, Senna começou
a dar seu show com pista molhada. Um a um, ultrapassou todos os adversários, à
exceção do ferrarista Michele Alboreto, que terminou a prova em segundo.
"Naquela época
trabalhava como fotógrafo e jornalista e lembro de estar na primeira curva
naquele domingo. Lembro daquela imagem que parecia uma visão. Todo o spray de
água subindo e a Lotus preta do Ayrton surgindo, ultrapassando todos os carros.
Foi sensacional", relembra o norte-americano Dan Knutson, hoje repórter da
revista "Speed Sport".
A primeira vitória veio e,
naquele ano, acompanhada de apenas uma mais, na Bélgica. Abriria caminho para a
ida de Senna para a McLaren, dois anos depois, e seria apenas a primeira de 41
nos dez anos em que o piloto brasileiro esteve na F-1 –Michael Schumacher é o
maior ganhador, com 91 triunfos, seguido por Alain Prost, dono de 51.
"Era claro desde o
início que Senna tinha algo especial. Era uma mistura de personalidade e
dedicação. Havia uma aura diferente. Sua passagem pela F-1 sem dúvida mudou o
esporte. Foi quase como se trouxesse um olhar científico ao esporte, sem perder
a sensibilidade", diz o jornalista Fredrik af Petersens, do Bilsport, da
Suécia, que estava em Estoril.
Para o fotógrafo suíço Jad
Sherif, que acompanhou a carreira do tricampeão, Senna tinha "uma luz
diferente".
"Se você colocasse
qualquer piloto contra um mesmo fundo branco e ajustasse sua câmera, não
precisava mudar a regulagem para nenhum. Senna era a exceção. Ele tinha um
brilho que não se pode explicar com palavras."
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Melhor vitória de
Senna - segundo ele mesmo - completa 30 anos
Julianne Cerasoli
Do UOL, em São Paulo
21/04/201506h00
Ayrton Senna festeja sua primeira vitória na Fórmula 1, em
21 de abril de 1985
Esqueça a aula de pilotagem
na chuva em Donington Park em 1993. Ou a sofrida conquista no GP do Brasil de
1991. A vitória que o próprio Ayrton Senna considerava a sua melhor na Fórmula
1 faz 30 anos hoje.
E foi logo a primeira de suas
41, conquistada sob forte chuva no GP de Portugal de 1985, dia 21 de abril,
quando o tricampeão ainda estava em sua segunda temporada na Fórmula 1 e corria
pela Lotus. Quem garante o lugar especial que o triunfo tinha na memória de
Senna é o jornalista inglês Nigel Roebuck, um dos poucos que estava cobrindo a
prova no Estoril e que segue acompanhando o 'circo' até hoje.
"Quando perguntei a
Ayrton se a vitória de Donington [em que foi de quinto a primeiro na primeira
volta e venceu com 1min23 para o segundo colocado] havia sido sua melhor, ele
disse: 'Não! Claro que aquela foi boa, e não foi fácil – mas não foi como
Portugal em 1985. Em Donington eu tinha um [motor] Cosworth, mas em Estoril
tinha o Renault turbo – era muito mais potência! Mas a maior diferença é que
agora temos controle de tração, e naquela época não...'", lembrou o
jornalista ao UOL Esporte.
"Eu poderia entender por
que a vitória do Estoril na Lotus-Renault era tão importante para ele. Não
foram muitas pessoas que estiveram lá para assistir, mas foi um daqueles dias
em que todos tinham certeza, mesmo durante a prova, que estávamos assistindo a
uma corrida destinada a construir uma lenda", defende Roebuck.
"Assisti à prova na primeira curva com Denis Jenkinson [um dos jornalistas
mais respeitados da época] e lembro como ele estava exultante quando Senna
cruzou a linha de chegada: 'É um novo Villeneuve, não é? Um piloto que sempre
está à frente de seu carro'", comparou. Gilles Villeneuve, lenda da
Ferrari entre os anos 1970 e 1980, era conhecido pela agressividade.
"Algum tempo depois eu
mencionei isso a Ayrton, e ele ficou muito grato com a comparação com Gilles.
'Mas não estava sempre à frente do carro. As condições estavam tão ruins que as
curvas estavam mudando, volta após volta, e às vezes o carro está me conduzindo'",
revelou o brasileiro.
Dilúvio em Portugal
De fato, o GP da primeira
vitória de Senna ficou marcada pelas péssimas condições de pista, que pegaram
vários pilotos de surpresa. Era a segunda corrida do campeonato – e a segunda
prova do brasileiro pela Lotus, depois de ter feito sua temporada de estreia na
Toleman.
Ayrton largava pela primeira
vez na pole position – o que se tornaria de praxe naquele ano, em que foi o
primeiro na classificação em sete oportunidades – e a chuva começou a cair
ainda antes da largada, após todas as sessões anteriores serem disputadas com
pista seca. "Nos tempos de hoje as condições eram tão ruins que a corrida
provavelmente começaria com Safety Car, mas na época nem se pensava
nisso", compara Roebuck.
Senna conseguiu sair bem e
foi aumentando sua vantagem na ponta enquanto os rivais sofriam – no final da
segunda volta já tinha 3s de distância para o segundo colocado. A água era
tanta que, depois de 16 voltas, Jacques Laffite parou sua Ligier dizendo que o
carro era inguiável em tais condições, e Nelson Piquet chegou a parar no box
para colocar um macacão seco antes de também abandonar: os pneus Pirelli da
Brabham do brasileiro não tinham um bom rendimento na pista. "Dentro do
carro eu estava amaldiçoando Bernie [Ecclestone, chefe da equipe] por ter
aceitado o dinheiro da Pirelli", revelaria o piloto. Em determinado
momento, até Senna passou a gesticular no carro, pedindo o fim da prova.
À medida que a chuva ia
piorando, contudo, o brasileiro ia abrindo mais na ponta e mais rivais ficavam
pelo caminho. Keke Rosberg, da Williams, e Alain Prost, da McLaren, bateram na
caça ao brasileiro, que abriu meio minuto depois de 30 voltas. A prova seria
encerrada no limite de 2h, duas voltas antes do fim, com Senna batendo Michele Alboreto
por 1min02s978. Assim, fez um grand chelem – pole, volta mais rápida, vitória
liderando todas as voltas da corrida - logo na primeira conquista da carreira.
"Foi sorte"
Mas o que poderia ser visto
como uma pilotagem de outro mundo foi diminuída por Senna, então com 25 anos. O
que ele consideraria sua melhor vitória nos anos seguintes não lhe pareceu tão
fenomenal logo após a bandeirada. "O maior perigo era que as condições
mudavam o tempo todo. Ás vezes a chuva apertava muito, às vezes nem tanto. Não
conseguia ver nada atrás de mim. Era difícil até manter o carro na reta e
certamente a corrida poderia ter sido paralisada. Em um momento eu quase rodei
na frente dos pits, como Prost", revelou.
"As pessoas estão
dizendo que não cometi erros, mas não têm ideia de quantas vezes eu saí da
pista! Em certo momento estava com as quatro rodas na grama, tinha perdido o
controle... mas de certa forma o carro voltou para o circuito. Todos disseram
'que controle fantástico' mas foi só sorte – e sorte, também, que isso não
apareceu na TV", brincou.
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Há 30 anos, a primeira
vitória de Ayrton Senna na Fórmula 1
Por Marcos Júnior - 21/04/2015 06:00
Terceiro Tempo - terceirotempo.bol.uol.com.br
Há exatos 30 anos, em 21 de
abril de 1985, Ayrton Senna vencia sua primeira corrida na Fórmula 1, no GP de
Portugal, sob chuva.
Após uma temporada de estreia
marcante no ano anterior, pela Toleman-Hart, Senna fazia sua segunda corrida
pela Lotus-Renault, e largava na pole pela primeira vez.
Vale salientar que a pole de
Ayrton Senna, então com 25 anos de idade, foi conquistada em piso seco, em
1min21s007.
Assim como no GP de Mônaco de
1984, quando fez uma brilhante corrida na chuva e terminou em 2º lugar, Senna
enfrentou pista molhada no traçado de Estoril.
Com Alain Prost
(McLaren-TAG/Porsche) ao seu lado, Senna largou bem e manteve a liderança,
seguido por Elio de Angelis, seu companheiro de equipe, que saltou da quarta
para segunda colocação.
Senna dominou a prova. Foi o
mais rápido em todos os treinos, venceu de ponta a ponta e ainda fez a volta
mais rápida, em 1min44s121.
O motor Renault turbo de sua
Lotus tinha um problema crônico de consumo de combustível, mas o ritmo mais
lento da corrida, finalizada em pouco mais de duas horas, permitiu que o
brasileiro tivesse uma jornada sossegada nesse quesito.
Exímio em piso molhado, Senna
completou as 67 das 69 voltas previstas com a assombrosa vantagem de 1min02s978
sobre o segundo colocado, o italiano Michele Alboreto (Ferrari), assim como o
brasileiro, falecido em um acidente pela American Le Mans Series, com Audi R8,
no circuito alemão de Lausitzring.
O francês Patrick Tambay, da
Renault, completou o pódio em terceiro, a uma volta do brasileiro.
O outro brasileiro na prova,
Nelson Piquet (Brabham-BMW), largou em décimo e abandonou na 28ª volta, com
problema de pneus.
Foi uma prova de muitos
abandonos. Dos 26 carros que largaram, apenas nove concluíram.
"Vai andando forte o
garoto Ayrton Senna", foi uma das frases de Galvão Bueno durante a
transmissão que você pode acompanhar abaixo, na íntegra, com comentários de
Reginaldo Leme:
Amplo domínio de Ayrton Senna
em sua primeira vitória na Fórmula 1, pela Lotus-Renault. Brasileiro terminou
com mais de um minuto de vantagem para o segundo colocado, o italiano Michele
Alboreto, da Ferrari. Senna desafivelou o cinto de segurança logo após cruzar a
linha de chegada. Foto: Divulgação
Peter Warr, então chefe da
Lotus, recebe Senna na área atrás dos boxes do circuito do Estoril. Foto:
Divulgação
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Há 30 anos, Senna
conquistava primeira vitória na F1 no mesmo dia da morte de Tancredo Neves
21/04/2015 05:00
Grande Prêmio - grandepremio.uol.com.br
Em um 21 de abril como hoje, 30 anos atrás, Ayrton Senna passeou na chuva torrencial do Estoril para vencer o GP de Portugal e sua primeira corrida na F1. Ali, no que veio a ser o dia da morte do primeiro presidente civil eleito pós-anos de chumbo, Tancredo Neves, Senna começou seu legado na F1 e no Brasil
WARM UP
PEDRO HENRIQUE MARUM, do Rio
de Janeiro
Era um 21 de abril como hoje,
em 1985. Um início de tarde com chuva torrencial no Estoril, e a F1 estava
prestes a largar para o GP de Portugal. No Brasil, alguma expectativa. Um jovem
piloto, apenas em seu segundo ano na F1, primeiro numa equipe que dava a ele
mais chances de andar nas posições frontais, debutava na pole-position de um
GP.
Conforme a chuva apertava e a
pista portuguesa dificultava mais, com um desenho que fazia a água escorrer
para algumas partes do traçado, as coisas pareciam ser niveladas, favorecendo o
jovem piloto da Lotus, Ayrton Senna. Especialmente quando puxava-se a memória
para o GP de Mônaco do ano anterior, onde Senna barbarizou com a Toleman também
na chuva.
No entanto, o torcedor
brasileiro regular esperava mais que o resultado de uma corrida na F1. A
conquista, então recente, de ter um presidente civil como comandante-chefe pela
primeira vez desde o Golpe Militar de 1964, se tornou rapidamente um pesadelo.
Eleito em janeiro de 1985, Tancredo Neves se viu em graves problemas de saúde.
Um tumor no intestino, que escondeu por receio do pavor que a palavra 'câncer'
pudesse causar, especialmente quando a sombra dos militares ainda era muito
forte e a posse ainda não era certeza. Embora tenha arquitetado todo um plano
para se certificar de que a faixa presidencial chegasse às suas mãos, Tancredo
sequer pôde ser empossado, ficando essa obrigação com o vice de sua chapa, José
Sarney. E embora as semanas de Tancredo no hospital, primeiro no Distrito
Federal e depois em São Paulo, fossem acumulando, o presidente eleito não
estava ficando melhor.
Mas aquilo ficou para trás
por alguns momentos. No Estoril, na chuva e todas as adversidades que um dia
daqueles podia representar a um piloto, Senna largava na frente e abria. Atrás
dele, Elio de Angelis, seu companheiro de Lotus, tomava a segunda posição de
Alain Prost e Keke Rosberg na largada.
Foi uma prova inegavelmente
divertida. Os pegas entre Nelson Piquet - com uma Brabham que não roncava tão
alto em 1985 -, Riccardo Patrese e Stefan Johansson, entre de Angelis e Prost,
por exemplo, deram à corrida um quê de emoção. Claro, as quebras também eram
potencializadas com a chuva, bem como os erros.
Ayrton Senna comemora a vitória no GP de Portugal de 1985
(Foto: Reprodução/Twitter)
E não fosse por esses pegas,
não teria a menor emoção para quem não fosse ou estivesse torcendo por Senna.
No volante da Lotus #12, Ayrton abriu, abriu e abriu mais um pouco. E nessa deu
volta em quase todos na pista. Apenas o segundo colocado, Michele Alboreto,
então na Ferrari, ficou incólume.
A lista de momentos
históricos para o Brasil em dias 21 de abril não cessa assim, tão rápido. Em
todo o território nacional o dia é feriado. Uma homenagem ao primeiro - e
talvez maior - grande personagem do qual o país se orgulha. Foi em um 21 de
abril que Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, foi enforcado no Rio de
Janeiro. O único membro da Inconfidência Mineira a assumir total
responsabilidade pelo movimento que visava fazer da Capitania de Minas Gerais -
revoltada pelos impostos abusivos, a capitação, da Coroa Portuguesa, como a
Derrama e o Quinto - uma república independente de Portugal. O ano era 1792,
ainda 16 antes da Família Real desembarcar no Brasil e mostrar algum apreço
pela Colônia.
Um pulo no tempo até 1960. E
em outro 21 de abril, o país ganhou sua nova capital federal. Brasília foi
inaugurada pelo presidente Juscelino Kubitschek. Não que interiorizar a capital
do Brasil fosse novidade. José Bonifácio, o 'Patriarca da Independência',
falava na futura Brasília na época da independência brasileira. Mas foi JK - e
seu Plano de Metas - quem tirou a antiga ideia do papel. O Plano Piloto de
Brasília acabou por ser desenvolvido por Lucio Costa com projetos
arquitetônicos ambiciosos do gênio Oscar Niemeyer.
Então, em 1985, Senna cruzou
a linha de chegada. Ainda não tinha o 'Ayrton Senna do Brasil' de Galvão Bueno,
que se tornaria o apelido com que o narrador exaltava o piloto ao cruzar a
linha de largada na parte áurea da carreira. Existia o tema da vitória e seu
'tã tã tã', mas ainda não era identificado tão intrinsecamente a Ayrton como se
tornaria. Era, então, apenas uma vitória convincente, quase brilhante, de um
jovem atleta com muita gasolina no tanque.
Mas, hoje, olhando em
retrospectiva, a vitória no Estoril em 1985 é muito mais do que mais uma das
vitórias. Num momento em que a vida do primeiro presidente civil pós-ditadura
escapava de suas mãos, e a nação se via mais uma vez atingida no âmago, Senna
apareceu, venceu e mostrou ao mundo que seria mais do que um outro. Aos berros,
Galvão dizia como a F1 falava do "talento fantástico e da incrível
capacidade de conduzir um automóvel" do 'garoto' Senna, que fazia uma
festa ímpar de dentro do cockpit do carro da Lotus.
O dia 21 de abril de 1985
terminaria com uma cobertura extensa dos veículos de comunicação brasileiros.
No fim da noite, num plantão do 'Fantástico', o então porta-voz da presidência,
Antônio Britto, anunciou que, aos 75 anos de idade, Tancredo Neves morrera
vítima de uma infecção generalizada.
Talvez por isso a memória de
Senna ainda seja tão viva hoje, 21 anos após sua morte. Por vencer e aparecer
com uma força dominante quando tanta gente no país precisava encontrar um
motivo para torcer e confiar que daria certo. Não que Tancredo fosse um herói
unânime, amado por todos. Era um articulador político inteligente, mas chamava
a ditadura de revolução. Não era um ídolo inconteste. Mas era a porta de saída
vista pelo povo aos anos de chumbo e a ignorância dos homens fardados. E quando
o país se via no direito de ser órfão de um personagem tão peculiar, Senna
apareceu. E se não para isso, para que serve os grandes do esporte?
E nos anos Sarney que se
seguiram, com o Brasil numa espiral da morte na economia – com a inflação
chegando a quase 400% e planos econômicos tão mirabolantes quando fracassados
-, assim como nos anos Collor de congelamento e impeachment, e sem respaldo no futebol,
Ayrton vencia e tinha a habilidade de falar o que os torcedores queriam ouvir.
Tornava-se um dos grandes da F1 e um motivo pelo qual muita gente tinha para se
orgulhar de bater no peito e dizer que era Brasil. Faça o juízo de valor que
quiser de Senna, pouco vai mudar na relação de adoração que tanta gente, velhas
e jovens e de todos os credos e raças, têm com ele.
E todo esse legado começou
naquele dia de abril de 1985, no Estoril.
FONTE PESQUISADA
GARCIA, Vasco. Primeira vitória de Ayrton
Senna na F1 foi há 30 anos em Portugal. Disponível em: <http://pt.blastingnews.com/desporto/2015/04/primeira-vitoria-de-ayrton-senna-na-f1-foi-ha-30-anos-em-portugal-00357477.html>.
Acesso em: 20 de abril 2015.
Há 30 anos, Senna conquistava a sua
primeira vitória na F-1. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/esporte/2015/04/1619114-ha-30-anos-senna-conquistava-a-sua-primeira-vitoria-na-f-1.shtml?cmpid=twfolha>.
Acesso em: 21 de abril 2015.
CERASOLI, Julianne. Melhor vitória de
Senna - segundo ele mesmo - completa 30 anos
. Disponível em: <http://esporte.uol.com.br/f1/ultimas-noticias/2015/04/21/melhor-vitoria-de-senna---segundo-ele-mesmo---completa-30-anos.htm>.
Acesso em: 21 de abril 2015.
JÚNIOR, Marcos. Há 30 anos, a primeira
vitória de Ayrton Senna na Fórmula 1. Disponível em: <http://terceirotempo.bol.uol.com.br/noticias/ha-30-anos-a-primeira-vitoria-de-ayrton-senna-na-formula-1>.
Acesso em: 21 de abril 2015.
MARUM, Pedro Henrique. Há 30 anos, Senna
conquistava primeira vitória na F1 no mesmo dia da morte de Tancredo Neves. Disponível
em: <http://grandepremio.uol.com.br/f1/noticias/ha-30-anos-senna-conquistava-primeira-vitoria-na-f1-no-mesmo-dia-da-morte-de-tancredo-neves>.
Acesso em: 21 de abril 2015.
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