segunda-feira, 13 de julho de 2015

Ayrton Senna: União e Tristeza na Morte de um Ídolo

Piloto faleceu após acidente no GP de San Marino, em 1994

Ayrton Senna em 1994

POR O GLOBO
12/07/2015 8:44 / ATUALIZADO 12/07/2015 10:36

Ayrton Senna bate no muro da curva Tamburello, em Ímola, durante o GP de San Marino, na Itália
Ricardo Leoni / Arquivo

Nunca houve um domingo como aquele 1º de maio de 1994, quando O GLOBO testemunhou, no circuito de Ímola, no GP de San Marino, a morte do tricampeão mundial de Fórmula-1 Ayrton Senna, em um acidente trágico com sua Williams na curva Tamburello.

A morte de Senna em plena ação lhe conferiu a aura de um mártir. Atualmente com 75 anos, 50 deles dedicados ao jornalismo, o colunista de F-1 do GLOBO, Celso Itiberê, na época ia a todas as provas do esporte que cobre há praticamente quatro décadas. Ele estava em Ímola, na Itália, naquele domingo.

Itiberê lembra que aquele fora um fim de semana trágico, a começar pelo acidente com o brasileiro Rubens Barrichello no treino de sexta-feira. Embora sem ferimentos graves, ele não pôde disputar a corrida. No treino de classificação, no sábado, a morte de Roland Ratenberger causara profunda comoção no paddock, a ponto de o próprio Senna, que procurou ver de perto o que ocorrera com o austríaco, ter cogitado não correr. Somente à noite, provavelmente pressionado pela equipe e por toda a cúpula da categoria, resolveu competir.

Até hoje, nos GPs de F-1, os repórteres de jornal assistem às provas na sala de imprensa, onde há dezenas de TVs.

— Todos nós jornalistas estávamos tensos. Eu estava ao lado de um velho amigo, o italiano Nestore Morosini. Quando houve o acidente de Senna, ele, muito compenetrado, bateu no meu ombro e disse: “Foi muito grave" — lembra Itiberê. — Saí correndo da sala, tentando chegar à Tamburello. Quando me aproximei, já havia um cerco na curva, e encontrei o fotógrafo italiano Angelo Orsi, da “Autosprint”, que também era muito amigo de Senna. Ele vinha voltando e me disse: “Não vai lá. Eu estava parado naquele curva e fiz toda a sequência de fotos do que aconteceu. Senna se machucou muito feio, e o estado dele é gravíssimo. Vai para o hospital. Não sei se vai sobreviver”.

Consciente de que, a partir dali, a corrida não teria mais o menor interesse para o público brasileiro, o jornalista do GLOBO foi para o hospital, onde uma neurologista italiana disse que era impossível fazer cirurgia porque houvera uma fratura craniana generalizada, e que o piloto brasileiro já havia sofrido morte cerebral.

— Ela acrescentou que a partir dali era o caso de esperar o coração dele parar, o que demoraria muito, porque ele era muito forte — relembra Itiberê a respeito do brasileiro, o último piloto a ter morrido num acidente de F-1.

Trabalho de toda a redação

Em seguida, o jornalista retornou à sala de imprensa do circuito.

— Eu chorava muito, e me emociono até agora, falando nisso — admite Itiberê, com a voz embargada. — Na sala de imprensa, escrevi vários textos para O GLOBO, com a cabeça a mil por hora. Escrevi chorando o tempo todo, a emoção tomou conta de mim. Na Itália, houve uma comoção, com as pessoas fazendo fila na Tamburello para depositar flores. Sem dúvida, foi a cobertura mais marcante da minha carreira.

À época, a seleção brasileira de futebol vivia um jejum de títulos de Copa do Mundo que vinha desde 1970 e só seria quebrado naquele mesmo 1994, na Copa dos EUA. A autoestima brasileira andava em baixa, mas Senna, quando vencia, fazia questão de exibir a bandeira e exaltar o país. Em sua coluna do dia 2 de maio, Itiberê deu ao texto o título “O nosso Batman".

— Senna era um herói. Era o nosso Batman, porque vingava os brasileiros (de todos os problemas enfrentados na época). O Batman levava a paz a Gotham City, e ele levava para o mundo a nossa nacionalidade — compara Itiberê, ainda emocionado.

Enquanto Celso Itiberê, em lágrimas, escrevia suas reportagens em Ímola, no Rio, quem comandava a equipe na produção de um caderno especial de 26 páginas era o então editor de Esportes César Seabra, que trabalhou no jornal de 1985 a 1997. Atualmente, ele é diretor de redação de esportes da Rede Globo, em São Paulo. O caderno foi indicado ao Prêmio Esso de Jornalismo.

— Eu nunca havia visto as pessoas trabalharem tanto e com tanta tristeza — afirma, recordando que a tragédia causou uma união nunca vista. — Todo mundo se uniu. Colegas das editorias de Economia, Rio, Mundo, Segundo Caderno, e todas as outras colaboraram conosco. As pessoas chegavam espontaneamente, se apresentavam a mim e perguntavam o que havia para ser feito. Foi um caderno não planejado, que começamos a fazer por volta das 11h da manhã de 1º de maio e alguns de nós só saímos da redação às 5h da manhã do outro dia. Aquela cobertura não foi feita apenas pela editoria de Esportes, mas por toda a redação do GLOBO.



FONTE PESQUISADA

Ayrton Senna: União e tristeza na morte de um ídolo. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/esportes/ayrton-senna-uniao-tristeza-na-morte-de-um-idolo-1-16739936>. Acesso em: 13 de julho 2015.


Fotos Acidente Fatal Ayrton Senna






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