O ano era 1988, pouco depois
do tricampeonato do brasileiro Nelson Piquet, da Williams, na Fórmula 1. O
compatriota Ayrton Senna, ascendente piloto da Lotus, tinha ficado em terceiro
no Mundial anterior e chamado a atenção pela pilotagem arrojada. Por isso,
passou a ser os holofotes da imprensa. A situação não foi bem vista por Piquet
e desde então ambos começaram a esquentar ainda mais o clima nos bastidores da
principal categoria do automobilismo. Quem explica melhor o que ocorreu
por trás dos boxes é o jornalista e escritor Sérgio Rodrigues, ex-Jornal do
Brasil.
“Era uma temporada que o
Senna estava fazendo a passagem da Lotus para a McLaren, uma passagem decisiva
na carreira dele, era um momento muito decisivo para ele. Sabíamos que seria o
último título do Nelson, e o Senna, entre o fim da temporada de 1987 e o início
da temporada de 1988, desapareceu. Ele se recolheu e não deu entrevista para
ninguém. Foi uma coisa combinada, ‘não vou falar'”, declarou Rodrigues ao programa “Ayrton – Retratos e Memórias”,série especial do Canal Brasil, da Globosat.
Depois, antes da primeira
prova de 1988, o Grande Prêmio do Brasil, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro,
Senna reapareceu com Galvão Bueno, já narrador da Globo na época. “Não era dia
de treino ainda. Era uma véspera de Grande Prêmio do Brasil e eu perguntei:
‘por que você sumiu por tanto tempo?’. Ele respondeu: ‘eu sumi para o outro lá
[Nelson Piquet] aparecer, né, porque ele foi campeão e ninguém quer falar com
ele, só querem falar comigo, então sumi para ele aparecer um pouco’. Perguntei
a Senna se poderia publicar isso e ele falou que podia. De fato publiquei isso,
mas como pé de página, uma brincadeira, e era uma brincadeira”, contou o
escritor.
Porém a matéria não foi pé de
página, e sim a manchete principal e que rendeu capa do JB. “Jamais seria
manchete de página. Saiu como primeira página e foi um sucesso para o jornal, e
o Piquet ficou puto Lógico, o cara é campeão do mundo e tiram onda dele na hora
que é tricampeão do mundo?”, revelou.
O até então tricampeão jogou
mais lenha na fogueira e rebateu, duvidando da sexualidade do rival em outra
publicação. “O Piquet chamou o Eloir Maciel, também repórter do JB, que era
muito próximo dele, e pediu para que colocasse no jornal que o Senna sumiu
porque ele não sabe explicar o porque não gosta de mulher, porque ele é viado, Aí o
Eloir: ‘pô, eu não posso publicar isso, está maluco?’. Aí ele: ‘se você não
botar isso vou passar para ‘O Globo’. Ninguém queria tomar um furo
jornalístico. Liguei para o Senna que a matéria ia sair e queria saber se ele
tinha algo a declarar sobre a matéria. E Senna me perguntou: ‘sério que o
Piquet falou isso?'”, relatou Rodrigues, que na sequência afirmou que Senna não
falaria sobre o assunto até esperar o desfecho.
Crédito da foto: Reprodução
Márcio Donizete é colaborador
no Torcedores.com
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A TRÉPLICA
O que Piquet não sabia era que Senna havia tido um caso rápido com a então esposa dele, antes de os dois casarem
Cavalheiro, Ayrton Senna não usou o fato de ter tido um
caso com a mulher de Nelson Piquet para se defender na ocasião, pois Senna não gostava de expor as mulheres que saía quando era solteiro. O tricampeão só responderia a difamação do
rival dois anos depois.
Trecho extraído do livro "Ayrton, o herói revelado":
Coube a Sérgio Rodrigues a
tarefa de ligar para Ayrton. Quem atendeu foi o anfitrião Galvão Bueno (Ayrton estava hospedado na casa de Galvão em Búzios):
- O que você quer com ele?
Sérgio contou como seria a
manchete com a resposta de Piquet. Galvão gelou e, de acordo com sua lembrança
do episódio, reagiu com espanto:
- Cacete, isso vai dar uma
cagada filha-da-puta. Becão (apelido de Ayrton), se vira aqui, porque o Sérgio Rodrigues está no
telefone dizendo que o Piquet disse que você é veado e que isso vai sair no JB
amanhã.
Ayrton pegou o telefone em
estado de choque. Sérgio explicou a razão do telefonema:
- Estou te ligando para dizer
que a gente está saindo amanhã com uma declaração do Piquet, que ele
praticamente obrigou o repórter a reproduzir, dizendo que você não gosta de
mulher.
- Eu não acredito que ele fez
isso... E vocês vão publicar?
- Olha, vamos publicar. Fui
voto vencido. Por isso, quero saber se você quer responder agora.
- Não.
Na lembrança de Galvão, o
choro indignado de Senna, ao desligar o telefone, foi imediato. Lúcia, mulher
de Galvão, queria vingança. E fez uma sugestão que Ayrton só acabou acatando dois
anos depois, na entrevista que deu à jornalista Mônica Bergamo, da Playboy, em
agosto de 1990: mandar Piquet perguntar à mulher, Katerine, se ele, Senna, gostava
ou não de mulher. Lúcia se referia ao fato de Ayrton ter tido um caso rápido
com Katerine. Senna recusou a sugestão.
Na entrevista que deu à
Playboy em agosto de 1990, Ayrton chegou a pedir que a repórter Mônica Bergamo
desligasse o gravador para fazer um desabafo emocionado sobre o golpe dado por
Piquet. Depois, um pouco mais refeito, retomou a entrevista. E Mônica fez uma
pergunta sobre o processo aberto na Justiça do Rio:
- "Você o processou por
isso. A retratação dele na Justiça foi suficiente?”
- "Irrelevante. Ele
negou que tinha dito. Foi tudo um jogo baixo, sujo.”
- "Você namorou a
Katerine, atual mulher dele, antes de os dois casarem, não é?”
- "Não a namorei. Mas...
eu a conheci.”
- "Conheceu como?”
Ayrton voltou a se emocionar:
- "Eu a conheci como
mulher. E curto e grosso. Eu a conheci como mulher.”
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Série mostra
estopim da rivalidade entre Senna e Piquet
Você é Sennista ou Piquetista?
Você é Sennista ou Piquetista?
Sennistas X Piquetistas
Por: Erick
Gabriel, Redator/Repórter
26 de setembro de 2015, às
13:05
Episódio de "Ayrton -
Retratos e memórias", exibida no Canal Brasil, relata famosa história de
Nelson Piquet falando sobre a sexualidade de Senna em 1988
O automobilismo brasileiro
vivia grande fase nos anos 1980. Nunca em período tão curto o país teve
campeões mundiais de F1 tão presentes entre a torcida. A penetração de Ayrton
Senna e Nelson Piquet em torno dos fãs fez com que se
rotulasse os "sennistas" e os "piquetistas", fenômeno que
ocorre até hoje em comentários de matérias que envolvam os dois pilotos,
principalmente quando o assunto é a comparação entre eles.
O terceiro episódio da série
"Ayrton - Retratos e Memórias", produzida pelo biógrafo de Senna,
Ernesto Rodrigues e exibida pelo Canal Brasil, vai abordar neste sábado este
assunto tão controverso. O que poderia servir de orgulho para qualquer país -
ter dois campeões de F1 em tão pouco tempo - acabou dividindo os adeptos de cada um.
O mais intrigante desta história, é que o autor do livro e da série sobre
Senna, Ernesto Rodrigues, afirma que até antes de se envolver com os projetos,
se considerava um "piquetista":
"Sou ex-piquetista, mas
não virei sennista. Tem uma época na sua vida que você torce, mas depois, para.
Fui um dos últimos a reconhecer (os méritos de Senna) porque fiz parte de um
grupo que reagiu àquelas pessoas que não entendiam muito de F1 e faziam parecer
que antes do Ayrton ninguém havia feito nada."
"Isso me incomodou
muito. Não foi tanto pelo Ayrton, mas foi pelo carnaval que foi feito em cima
dele. Então desenvolvi e dilapidei todos os argumentos esportivos, não de
baixaria, para comparar os feitos dos dois e também engrandecer o Nelson",
disse em entrevista exclusiva ao MOTORSPORT.COM.
É sabido que os dois
tricampeões nunca foram amigos, mas o ponto alto da rivalidade foi nos treinos
de Jacarepaguá na abertura da temporada de 1988, segundo Ernesto Rodrigues. De
um lado, Nelson Piquet, que acabara de se tornar o primeiro brasileiro
tricampeão da F1 e do outro, Ayrton Senna, que havia assinado contrato com a
McLaren e contava com a expectativa de vencer o seu primeiro título.
"Tudo começou no treino
de Jacarepaguá, a partir de uma provocação do Ayrton via imprensa, quando disse
'sumi para ele aparecer um pouco' e daí então o Nelson, já tricampeão, chutou o
pau", explicou.
Quem conta a história
detalhadamente na série, até por ter participado dela diretamente, quando
trabalhava para o Jornal do Brasil, é Sergio Rodrigues:
"Entre o fim da
temporada 87 e o início da seguinte, o Senna desapareceu, não deu entrevista a
ninguém. No autódromo de Jacarepaguá ele apareceu ao lado do Galvão Bueno e
perguntei a ele 'Por que você passou esse tempo todo sumido?' e ele
respondeu:'eu sumi para o outro lá aparecer. Ele foi campeão e os jornais só
querem falar comigo'."
Sergio ainda deu chance a
Senna de voltar atrás da declaração:"Perguntei a ele:'posso publicar essa
brincadeira?' e ele disse que podia", declarou o jornalista durante o
capítulo da série de hoje.
"A matéria foi publicada
e o Piquet ficou puto, porque o cara é campeão do mundo e vem outro tirar onda
da cara dele. Daí ele chamou o Eloir Maciel, que também trabalhava no JB e
disse 'eu quero que você bote lá no seu jornal que o Senna sumiu porque ele não
sabe explicar para ninguém porque ele não gosta de mulher, porque ele é
viado."
Ainda, segundo Sergio, Ayrton
preferiu não dar resposta junto com a matéria. Celso Itiberê, que também
participa do episódio, falou também que após o caso, Senna jurou que nunca mais
falaria o nome Nelson Piquet.
Mesmo admirador de Piquet,
Ernesto Rodrigues também falou sobre a transformação de sentimentos sobre o
piloto de Brasília. Para o jornalista, a personalidade de Piquet mudou nos
últimos anos quando o assunto é seu arquirrival brasileiro:
"Infelizmente ele está
se revelando uma pessoa que tinha bom humor, mas que acabou virando amargura
por tudo que ele fala sobre o Senna. Eu até brinco, dizendo que a única pessoa
que ainda não aceitou a morte do Ayrton Senna é o Nelson Piquet, tão latente a
raiva e o desprezo quando ele faz comentários sobre o Ayrton."
Independentemente de
preferências, Ernesto também tinha a intenção de escrever a biografia de
Piquet, mas que acabou não dando certo:
"Cheguei a mandar uma
carta ao Nelson propondo uma biografia, super caprichada e ele nem respondeu. E
foi até bom não ter acontecido", disse. Os motivos para o alívio são
jornalísticos.
Segundo Ernesto, a distância
que tinha com Ayrton ajudou na apuração e elaboração do livro e da série, coisa
que talvez não poderia dar certo com Nelson, já que antes, o próprio se
declarava "piquetista."
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FONTE PESQUISADA
DONIZETE, Márcio. Jornalista
explica motivos de briga entre Ayrton Senna e Nelson Piquet. Disponível em:
<http://torcedores.com/noticias/2015/09/jornalista-explica-motivos-de-briga-entre-ayrton-senna-e-nelson-piquet>.
Acesso em: 26 de setembro 2015.
GABRIEL, Erick. Série mostra estopim da
rivalidade entre Senna e Piquet. Disponível em: <http://br.motorsport.com/f1/news/serie-mostra-estopim-da-rivalidade-entre-senna-e-piquet/>.
Acesso em: 27 de setembro 2015.
Revista Playboy 1990
RODRIGUES, Ernesto. Ayrton, o herói revelado. Edição 1. Rio de Janeiro: Editora
Objetiva, 2004.
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