O meu encontro com Senna
qua, 15/07/09 por Rafael
Lopes | Voando Baixo - globoesporte.globo.com/platb/voandobaixo
Artista na pista com Bruno
Gouveia
Em algum sebo de discos, você
poderá achar um LP do Biquíni Cavadão intitulado “Zé”. Gravado em 1989, em seu
encarte encontra-se timidamente, quase escondida mesmo, uma pequena
dedicatória: Corredor Xdedicado a A.S. da Silva.
A canção Corredor X foi uma música que fizemos naquele ano de 89, baseada em uma letra do baixista Sheik e um riff em 6/4 inquietante. Inspirada nas avassaladoras corridas de Senna em 1988, falava de alguém que corre atrás de seu limite / e se, por acaso, quebrar / vai simplesmente recomeçar. A música misturava climas densos com teclados – hoje tipicamente classificados de “oitentistas” – para finalizar em um sprint musical com influências russas e muitas outras viagens.
Estávamos em São Paulo, no meio do conturbado campeonato de 1989. Senna e Prost brigando corrida a corrida pela liderança do Mundial. Foi quando soubemos que Ayrton estaria na cidade para uma visita às obras do novo traçado de Interlagos, que receberia a Fórmula1
a partir do ano seguinte. Mexe daqui, liga dali, eis que
o baixista Sheik consegue contato com a assessoria de imprensa do piloto para
que pudéssemos encontrá-lo e presenteá-lo com nosso disco e sua singela
dedicatória.
Houve uma certa desconfiança no começo. Nosso nome ‘Biquíni Cavadão’, de certo modo, assustava os caras. “Que será que eles querem com o Ayrton? É alguma brincadeira?”, imaginavam. As precauções desapareceram quando explicamos que não queríamos nos promover com o fato, apenas dar o disco ao nosso campeão. Ficou combinado que nem uma foto poderia ser tirada. “OK, feito!”. O encontro seria em menos de 1h no autódromo de Interlagos. Andar por São Paulo não é fácil. Imagine quando se tem um encontro desses pela frente!
A canção Corredor X foi uma música que fizemos naquele ano de 89, baseada em uma letra do baixista Sheik e um riff em 6/4 inquietante. Inspirada nas avassaladoras corridas de Senna em 1988, falava de alguém que corre atrás de seu limite / e se, por acaso, quebrar / vai simplesmente recomeçar. A música misturava climas densos com teclados – hoje tipicamente classificados de “oitentistas” – para finalizar em um sprint musical com influências russas e muitas outras viagens.
Estávamos em São Paulo, no meio do conturbado campeonato de 1989. Senna e Prost brigando corrida a corrida pela liderança do Mundial. Foi quando soubemos que Ayrton estaria na cidade para uma visita às obras do novo traçado de Interlagos, que receberia a Fórmula
Houve uma certa desconfiança no começo. Nosso nome ‘Biquíni Cavadão’, de certo modo, assustava os caras. “Que será que eles querem com o Ayrton? É alguma brincadeira?”, imaginavam. As precauções desapareceram quando explicamos que não queríamos nos promover com o fato, apenas dar o disco ao nosso campeão. Ficou combinado que nem uma foto poderia ser tirada. “OK, feito!”. O encontro seria em menos de 1h no autódromo de Interlagos. Andar por São Paulo não é fácil. Imagine quando se tem um encontro desses pela frente!
Mal chegamos, fomos
encaminhados à sala de imprensa. A espera foi angustiante, mas logo chegava
ele, de jeans e camisa verde. Eu tremia. O assessor explicou a ele do que se
tratava e lhe demos o disco. Em troca, Ayrton nos deu pins com o seu
capacete, e perguntou: “Vamos tirar umas fotos?”. Já que ele é que tinha se
oferecido, surpreendi a todos da banda e saquei minha câmera, que guardava para
ser usada num momento como este. Registramos duas fotos do lado de fora das
arquibancadas, com Senna recebendo seu presente. Ele deixou o disco com um
assessor e seguiu para ver as obras no S do Senna. De mansinho, fomos
junto com uma enorme comitiva, sem sequer perguntar para alguém se podíamos.
LP do Biquini Cavadão intitulado "Zé" tem uma música dedicada a Ayrton Senna
Ali, bobos, ouvíamos suas
observações sobre a nova pista que estavam construindo. Em um dado momento, nos
arriscamos a falar sobre o campeonato. Ele comentou que estava difícil, mas
tinha ainda muita corrida para acontecer. Mal sabia ele, mal sabíamos nós.
Enquanto escrevo isto, as lembranças voltam muito vivas. Sinto-me hoje como
Marty McFly, o personagem do filme De Volta Pro Futuro, e me pergunto
se daria para ter lhe avisado de algo do tipo: “cuidado com aquela
chicane em Suzuka” ou ainda “daqui a 5 anos, troque a marca de seu capacete em
Imola – aliás, não corra!”…
Decidimos nos despedir, afinal ele estava ocupado, mas não sem antes lhe pedir um autógrafo. O assessor disse então que poderíamos divulgar aquele encontro, mas lhe respondemos: “isso não foi o que combinamos e nem o nosso propósito”. E assim permaneceu em segredo por muitos e muitos anos.
Naquele primeiro de maio de 1994, entre tantos telefonemas que recebi (já que todos sabiam do quanto eu gosto de Fórmula 1), um deles era do baixista Sheik. Com a voz embargada, ele só conseguia repetir os versos da música que fizemos, cuja letra, do próprio Sheik, soou quase profética:
Ele decidiu ser uma alma livre
Que serpenteia as estradas alheio aos que o seguem
Mas por mais que ele sempre siga em frente
Sempre irá de comum acordo com as curvas do destino
(…)
Como seria bom
Se o destino nos desse a opção de escolher
Por que causa nós vamos sofrer
Com o acidente, passei a andar com o pin do capacete junto com uma fita preta em minha carteira. O autógrafo ficou em minha cortiça por muitos anos, até perder totalmente a tinta. A carteira foi roubada. A foto que tiramos amarelou, mas as lembranças deste encontro ninguém irá apagar de mim.
PS: Por muitos anos, pensei em fazer um clipe com imagens de suas corridas, mas não tinha computador nem tempo suficiente para prestar-lhe mais esta homenagem. No entanto, você pode conferir a letra completa e também ouvir a música no site do Biquíni. É só clicar aqui.
Decidimos nos despedir, afinal ele estava ocupado, mas não sem antes lhe pedir um autógrafo. O assessor disse então que poderíamos divulgar aquele encontro, mas lhe respondemos: “isso não foi o que combinamos e nem o nosso propósito”. E assim permaneceu em segredo por muitos e muitos anos.
Naquele primeiro de maio de 1994, entre tantos telefonemas que recebi (já que todos sabiam do quanto eu gosto de Fórmula 1), um deles era do baixista Sheik. Com a voz embargada, ele só conseguia repetir os versos da música que fizemos, cuja letra, do próprio Sheik, soou quase profética:
Ele decidiu ser uma alma livre
Que serpenteia as estradas alheio aos que o seguem
Mas por mais que ele sempre siga em frente
Sempre irá de comum acordo com as curvas do destino
(…)
Como seria bom
Se o destino nos desse a opção de escolher
Por que causa nós vamos sofrer
Com o acidente, passei a andar com o pin do capacete junto com uma fita preta em minha carteira. O autógrafo ficou em minha cortiça por muitos anos, até perder totalmente a tinta. A carteira foi roubada. A foto que tiramos amarelou, mas as lembranças deste encontro ninguém irá apagar de mim.
PS: Por muitos anos, pensei em fazer um clipe com imagens de suas corridas, mas não tinha computador nem tempo suficiente para prestar-lhe mais esta homenagem. No entanto, você pode conferir a letra completa e também ouvir a música no site do Biquíni. É só clicar aqui.
Bruno Gouveia é vocalista
do Biquíni Cavadão,
uma das principais bandas do rock brasileiro, e acompanha íorridas com
entusiasmo desde a década de setenta. A coluna Artista na Pista é um espaço
onde personalidades dos palcos, das artes cênicas ou da literatura têm um
espaço aberto para comentar sua relação com os esportes a motor, especialmente
a Fórmula 1.
Ouça a música com um clipe dos
momentos de Senna na Fórmula 1:
Biquíni Cavadão Compôs Uma Música em Homenagem... por ayrtonsennavideos
Biquíni Cavadão fala da música dedicada a Ayrton Senna no Programa "Agora é Tarde" (SBT) de Danilo Gentili (07/08/2015):
FONTE PESQUISADA
LOPES, Rafael. O meu encontro com Senna. Disponível
em: <http://globoesporte.globo.com/platb/voandobaixo/2009/07/15/o-meu-encontro-com-senna/>.
Acesso em: 29 de novembro 2015.
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