domingo, 3 de abril de 2016

Adriane Galisteu Fala Sobre o Machismo Dentro do Circo da Fórmula 1

Mulheres

Por ADRIANE GALISTEU


São Paulo, domingo, 23 de outubro de 1994
Folha de São Paulo - folha.uol.com.br


Mulheres são figurantes. Já na minha primeira viagem aos bastidores do circuito, em Mônaco, a Fórmula 1 me ensinou essa lição. Sem meias palavras. O jogo é viril, o combustível fede e as estrelas fazem xixi de pé. Mulheres, namoradas, amantes enfeitam o cenário com seus rostinhos bonitinhos e corpinhos apetitosos. Se quiserem um papel menos subalterno, que tratem bem de seus companheiros –em casa.

Digo sem ressentimento, porque do meu namorado eu tinha o que queria: amor, atenção, carinho, mãos dadas, acesso a setores proibidos, beijos roubados atrás dos boxes. Éramos o casal in love por excelência. Mas que é diferente da Fórmula Indy, por exemplo –pelo menos da Fórmula Indy como se vê na TV, não há a menor dúvida. Na Indy, mulheres permanecem nos boxes, cronometram o tempo, torcem, vibram e pulam no pescoço de seus heróis vitoriosos. Vão vestidas para a festa, naquele estilo faroeste: botas, chapelões e cabelos de mecha.

Na Fórmula 1, o figurino é jeans, camiseta e tênis. E os primeiros roncos dos motores espaventam as companheiras. Elas se metem nos motorhomes, para assistirem pelos monitores, somem nos camarotes dos patrocinadores, recolhem-se ao decorativo dever de coadjuvantes, como aqueles grã-finos falsos das novelas do Gilberto Braga. Algumas, cansadas de fazer a bonequinha de luxo, nem comparecem aos autódromos.

Vi o chefão da McLaren, Ron Dennis, cortar um dia as asinhas da mulher de Michael Andretti, a Sandy, por sinal bela figura. Acostumada aos hábitos da Indy, ela achou que poderia extravasar sua emoção perto da pista. Em compensação, a Fórmula 1, quando as máquinas se calam, é um dos lugares de maior densidade erótica do planeta –paqueras e tietagens explícitas. Não por acaso, alguns pilotos de GP trocam de mulheres como trocam de pneus. Eu disse: alguns.

Trecho extraído do livro "Caminho das Borboletas"


FONTE PESQUISADA

GALISTEU, Adriane. Mulheres. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/10/23/esporte/10.html>. Acesso em: 03 de abril 2016.







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