Por Sérgio Quintanilha
05.set.16 - 12h43
Isto é - istoe.com.br
Na semana passada, Felipe
Massa anunciou sua aposentadoria na Fórmula 1 para este ano. Põe fim a uma
carreira de 11 vitórias, 16 poles e 936 voltas na liderança. E logo surgiu nas
redes sociais uma polêmica. Quem foi melhor: Felipe ou Rubinho? Para comparação,
Rubens Barrichello conseguiu 11 vitórias, 14 poles e 854 voltas na liderança.
Assim como Felipe, sua melhor fase foi na Ferrari. Nenhum dos dois conseguiu
ser campeão (Rubinho foi vice em 2002/2004; Felipe em 2008), mas juntos eles
ajudaram o Brasil e somar 101 vitórias, 126 poles e 6.880 voltas em primeiro
lugar.
Números, porém, não dizem
tudo. E nem é deles que eu quero falar. Aproveitando que está acontecendo em São Paulo a exposição
Beatlemania Experience, é também disso que pretendo tratar aqui. Faz algum
tempo que trabalho num projeto chamado “Os homens que sabiam demais”. Nessa
pesquisa, comparo aspectos da genialidade dos Beatles com a dos grandes pilotos
do automobilismo brasileiros. Agora que a Fórmula 1 está em baixa, isso pode
soar absurdo, mas o mundo do grand prix teve muitos gênios em sua história.
Quem conhece bem a história
da Fórmula 1 e é fã dos Beatles, certamente vai entender essa minha tentativa
de ligar os pontos em dois assuntos que adoro. Dito isso, quem seria quem?
Como se sabe, os garotos de
Liverpool foram John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr.
Quase sempre apresentados nessa ordem porque foi a ordem de influência na
criação da maior banda de rock de todos os tempos. Mas houve outros além dos
“Fab Four”, menos famosos, como Pete Best (o baterista que perdeu o lugar para
Ringo) e Stuart Sutcliff (baixista da fase inicial dos Beatles), além do
empresário Brian Epstein e do produtor George Martin. Sem contar ainda que a
grande inspiração de John Lennon se chamava Elvis Presley.
Na Fórmula 1, o Brasil ganhou
oito campeonatos mundiais com Emerson Fittipaldi (1972/1974), Nelson Piquet
(1981/1983/1987) e Ayrton Senna (1988/1990/1991), mas também brilhou com José
Carlos Pace, que contribuiu para as 101 vitórias ao triunfar no GP do Brasil de
1975, além de marcar uma pole e andar 50 voltas em primeiro lugar. Emerson
ganhou 14 provas (mais seis poles e 478 voltas na liderança), Nelson venceu 23
(com 24 poles e 1.600 voltas em primeiro) e Ayrton faturou 41 corridas (com 65
poles e 2.931 voltas na frente de todo mundo, inclusive quando sofreu o
acidente que o matou). Antes deles o Brasil ainda teve o pioneirismo de Chico
Landi, que disputou apenas seis GPs na Fórmula 1, mas brilhou no chamado
Circuito de Grand Prix, considerado a pré-história da F1, ao vencer o GP de
Bari de 1948, na Itália, ao volante de uma Ferrari.
Eram gênios. Sabiam demais.
Tanto os músicos quanto os pilotos.
É incrível como as
personalidades e os papéis dessas pessoas se confundem. Sem contar que Emerson
Fittipaldi e George Harrison eram amigos. Quando o piloto brasileiro sofreu um
sério acidente da Fórmula Indy, George chegou a fazer uma variação de sua
fabulosa música “Here comes the sun” em homenagem ao amigo, cantando ao violão:
“Emerson! Emerson! Emerson! Fittipaaldiiii”.
Mas, afinal, quem era quem?
Sem me estender ou me
aprofundar, para não fazer spoiler de meu próprio trabalho, digo que…
RUBENS BARRICHELLO seria
RINGO STARR. Claro. Ringo sempre foi considerado o menos talentoso dos quatro.
Rubinho também nunca teve a mesma fama dos Três campeões. Mas, assim como os
Beatles só chegaram ao estrelato quando Ringo se juntou a John, Paul e George,
foi Rubinho quem segurou a paixão brasileira pela Fórmula 1 depois da morte de
Senna. E ambos são disparado os mais simpáticos de todos eles. Brincam. Seguem
a vida em paz, com a certeza de que não foram genais como seus colegas, mas que
sem eles não haveria um quarteto. E Ringo foi o melhor baterista que os Beatles
podiam ter.
FELIPE MASSA seria PETE BEST.
Da mesma forma que muitos acham que Felipe é melhor que Rubinho, Pete até hoje
tem muitos fãs que preferiam os Beatles em sua versão original, aquela que
tocava no Cavern Club de Liverpool, com Pete no lugar de Ringo. Felipe não foi
campeão em 2008 por falta de sorte. Pete Best só saiu dos Beatles porque George
Martin exigiu: “Troquem o baterista”. Mas era o mais amado na época, o mais
bonito, o que mais tinha fãs. Depois de muitos anos na amargura, Pete Best,
rindo da própria sorte, fez pilhéria com seu destino: “Quando me perguntam o
que acho dos Beatles, eu respondo. John: gênio. Paul: gênio. George: gênio.
Ringo: baterista”.
JOSÉ CARLOS PACE seria STUART
SUTCLIFF. Pace, conhecido como Moco, era contemporâneo e amigo de juventude de
Emerson Fittipaldi, o primeiro a fazer sucesso na F1. Sutcliff, conhecido como
Stu, era amigo de infância de John Lennon, o primeiro a fazer sucesso como
músico. Talvez não fizesse tanto sucesso quanto se esperava dele. Talvez sim.
Provavelmente sim. Moco faleceu num acidente aéreo, com apenas 32 anos. Stu foi
o primeiro baixista dos Beatles. Morreu de hemorragia cerebral quando tinha
apenas 21 anos.
EMERSON FITTIPALDI seria GEORGE HARRISON. Além da amizade que os ligava, ambos eram gênios no que faziam. Os títulos
de Emerson e as músicas de George deixaram marcas inesquecíveis na Fórmula 1 e
na história do rock. Mas ambos foram de um tempo em que havia dois outros
gênios ao lado deles. Por isso, apesar de amados e adorados por seus fãs, são
considerados gênios-coadjuvantes nessa história.
CHICO LANDI seria ELVIS
PRESLEY. Assim como John Lennon se inspirou no Rei do Rock, o pioneiro Chico
Landi, heróis das corridas do Circuito da Gávea, no Rio de Janeiro, teve papel
importante na fase inicial de Emerson Fittipaldi. Entretanto, esse é um item
que pretendo pesquisar mais, pois o verdadeiro ídolo de Emerson nas pistas era
o argentino Juan Manuel Fangio. Por ora, cabe a Chico Landi o papel de Elvis
Presley, mas pode mudar.
NELSON PIQUET seria JOHN LENNON. O
fato de serem os mais famosos, provavelmente os mais amados, talvez os
melhores, leva muita gente a achar que Ayrton Senna seria John Lennon. O fato
de ambos terem morrido cedo, com muita carreira pela frente, reforça essa
tese. Mas, conhecendo as personalidades de todos eles, e principalmente a forma
como encaravam a profissão, fica claro para mim que Nelson seria o John. E eu
digo o porquê. Nelson era o tipo do piloto que não tinha que provar nada para
ninguém. Suas vitórias e seu talento bastavam. Abria mão, às vezes, de algumas
vitórias, porque não precisava delas para ganhar o campeonato. Não era um
perseguidor implacável de recordes, como Ayrton. John também. Por ele, talvez
os Beatles tivessem acabado logo depois do álbum Revolver (1966). Mas seguiu
porque o talento de Paul o “provocava”. John era um revolucionário. Assim como
Nelson revolucionou as corridas ao fazer pit-stops que o levaram mais
facilmente às vitórias, em 1983, John mudou tudo ao compor “Strawberry Fields
Forever”, uma música intimista. Só assim despertou ainda mais a genialidade de
Paul, que ouviu aquilo e disse algo como: “Podemos fazer música assim?” Daí
saiu “Penny Lane” e muitas outras. Segundo a biografia escrita por Bob Spitz,
quando viu McCartney tocar pela primeira vez, Lennon pensou: “Esse cara é bom.
Talvez tão bom ou até melhor do que eu”. Não duvido que Piquet tenha pensado o
mesmo de Senna quando ele chegou à Fórmula 1, em 1984, quando já era bicampeão.
AYRTON SENNA seria PAUL McCARTNEY. Além
dos motives já expostos acima, Ayrton seria o Paul porque ambos tinham uma
obsessão pela perfeição. Por ir além. Por querer mais. Por fazer mais. Para
Senna, não bastava ganhar. Ele queria ganhar batendo recordes. Para McCartney,
não bastava fazer um disco: ele queria criar coisas inimagináveis, como o álbum
Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band. Além disso, Ayrton sempre fez o papel de
menino bonzinho dentre todos – mas não tinha nenhum pudor em jogar o carro em
cima dos adversários se fosse preciso. Paul também sempre foi o bonzinho, só
que não: muitas vezes foi extremamente autoritário com os demais, na fase final
dos Beatles, e ainda passou por cima de todos ao anunciar que estava deixando a
banda. De qualquer forma, pelo talento incrível, pela capacidade de tirar leite
de pedra, de ganhar com carros ruins, de dirigir na chuva como se estivesse no
seco, por ser rápido e estrategista ao mesmo tempo, não resta dúvidas de que
Ayrton Senna foi o maior piloto brasileiro de todos os tempos. De seu lado,
pela facilidade inigualável de fazer canções que amamos, por sua musicalidade
incomparável, pela capacidade que sempre teve de compor, cantar e tocar vários
instrumentos divinamente, por também tirar leite de pedra como Senna, Paul
McCartney, para mim, foi o maior entre todos os Beatles.
FONTE PESQUISADA
QUINTANILHA, Sérgio. E se os grandes
pilotos brasileiros da Fórmula 1 fossem os Beatles?. Disponível em: <http://istoe.com.br/e-se-os-grandes-pilotos-brasileiros-da-formula-1-fossem-os-beatles/>.
Acesso em: 06 de setembro 2016.
Nenhum comentário:
Postar um comentário