domingo, 19 de novembro de 2017

Crítica: Ayrton Senna, o Musical

Foto: Caio Gallucci

Por Renato Mello
botequimcultural.com.br

Anunciado aos 4 ventos com toda pompa e circunstância, o musical sobre a vida de um dos maiores ídolos brasileiros, sob tutela da Aventura Entretenimento, recebeu seus contornos definitivos que já podem ser assistidos no Teatro Riachuelo numa temporada prevista até o dia 4 de fevereiro.

Propor-se a contar a história de Ayrton Senna requer de antemão uma propensão ao equilibrismo diante das restrições que existem para retratar algumas particularidades de sua vida e nesse sentido a busca por aspectos mais etéreos e oníricos evitaria maiores turbulências. Talvez por isso mesmo “Ayrton Senna, o Musical”, segundo a própria declaração de princípios da Aventura Entretenimento, busca “realizar um musical diferente: um espetáculo atemporal, misturando canto, dança, interpretação e circo”, ou como se auto intitula, um espetáculo “multidisciplinar”.

“Ayrton Senna, o Musical” demonstra todo o potencial de arrebanhar lotações devido aos apelos emocionais que o projeto já carrega em suas linhas essenciais, o que justamente parece ser o destino almejado e não existe nada de errado nisso. Mas dentro de uma maior amplitude de ambições, algo essencial para quem trata com manifestações de ordem estética, feita por percepções e ideias objetivando o estímulo da consciência, entendo que o espetáculo não encontrou um bom tratamento artístico, pelo contrário, apresenta um resultado final deficiente.

Quando se anunciou a equipe técnica tive a impressão de ter lido que Cristiano Gualda seria responsável pelo texto e Claudio Lins pela criação musical, mas no programa do espetáculo essa separação não fica clara, com ambos dividindo os créditos pelas funções. Apesar do respeito artístico que nutro tanto por Gualda quanto por Lins(responsável por uma das mais interessantes criações teatrais de 2015 quando musicou brilhantemente o clássico de Nelson Rodrigues “O Beijo no Asfalto”), sou obrigado a apontar sérios problemas dramatúrgicos e limitações musicais que impedem em grande parte a proposta de seguir adiante.

A proposta dramatúrgica explora 2 tempos cênicos que se intercalam ao longo da representação, abordando aspectos de vida e experiências distintas através dos personagens Beco(apelido familiar de Senna) e Ayrton, objetivando o entendimento amplo de como se moldou seu espectro mítico. Beco(interpretado por João Vitor Silva), um hiato na sua carreira que  de fato aconteceu, trabalhando nos negócios da família, quando o texto busca o Ayrton Senna antes da fama e da consagração. Porém desde os primeiros movimentos já se prevê aonde vai dar essa trajetória, com um desfecho previsível e que de fato não surpreende, com interseções desnecessárias que nada acrescentam na formação do personagem. Ayrton(Hugo Bonemer), confronta-se com seus contrastes e conflitos interiores, a força mental, a insegurança, desafios e rivalidades, mas que carecem de uma maior força dramática, optando por soluções que tiram o foco do personagem, ressaltando-se uma interessante criação no aproximar do momento derradeiro.

Em teatro musical a questão dramatúrgica muitas vezes é elevada à aspectos mais fugazes ao submergir-se pelo alcance prolongado das ondas melódicas, que no caso de “Ayrton Senna, o Musical” acaba agravando a fenda narrativa justamente pela carência de uma personalidade musical mais aguda, com canções que se mostram despojadas de uma maior capacidade empática. É preciso atenuar algo da exposição que faço de letras soltas, descoladas do contexto dramático e da composição cênica, mas chama a atenção o tratamento desprovido de uma maior aptidão poética para o que talvez tenha sido o mais épico embate da história da Fórmula 1, entre Senna e Prost, que entendo ser merecedor de versos mais elaborados do que:

Prost:
Ele tem uma carinha/De bonzinho/Mas na hora da corrida/Te atropela feito um trem/Ele não tá nem aí se você vai se machucar/É o meu rival
.
Senna:
Ele pensa que é meu mestre/Mas na pista é o aprendiz/Quer o meu lugar no pódio/Mas tá sempre por um triz/Ele vai fazer de tudo pra te desclassificar/É o meu rival
A questão se repete em outros momentos, como a mero título de exemplo um refrão que se limita a “Nas ladeiras do Tremembé/Nas ladeiras do Tremembé/Nas ladeiras do Tremembé/Nas ladeiras do Tremembé…”

O melhor momento de qualidade musical e que encontrou uma apropriada ressonância cênica ocorre na execução de “Medo”, em que deixa no ar o lamento por um resultado potencialmente melhor que foi desperdiçado para o espetáculo como um todo, visto o vigor melódico e a boa letra: “…Em cada curva/cada esquina/Eu to sempre lá, como uma prima distante/Uma amante perdida/Uma amiga de infância, esquecida/Te lembrando todo medo dessa vida”.

Importante ressaltar a direção musical e arranjos de Felipe Habib, demonstrando capacidade, em parte, de atenuar os problemas expansivos das canções, com uma orquestração bastante eficiente.

Por seu trabalho junto da Intrépida Trupe, Nós do Morro e diversos projetos na Europa, Renato Rocha de certa forma surge com boas credenciais para levantar a formatação e o conteúdo cênico, dentro do que propõe a Aventura Entretenimento. Mas é justamente a proposta original que não consegue desembarcar o espetáculo a um nível mais ousado do ponto de vista artístico, evitando um aprofundamento das ações e motivações, com opções cênicas que diluem a força narrativa, seja por patinadores com luzes de neon circundando os personagens, bambolês ou acrobacias em excesso, que em determinados momentos perpassam a busca por um prazer estético que se revela na verdade estéril. Me incomoda sobremaneira a busca pela emoção forçada, quando isso deveria ocorrer através de caminhos sutis para atingir o inconsciente afetivo do espectador, não pelo rumar da pieguice, explicitada na cena final ao som do “Tema da Vitória”.

Diante dos problemas elencados, Hugo Bonemer não encontra um aprofundamento justamente quando o personagem pede um adensamento sentimental, ficando o ator restrito às poucas possibilidades dramáticas e com limitações inclusive nos movimentos cênicos propostos, algo a se lamentar em virtude de ser um ator de enorme capacidade, como pôde ser bem apreciado no seu desempenho recente em “Yank”. Apesar de uma narrativa mais rasteira(talvez até mesmo por isso), João Vitor Silva tem melhor sorte até porque seu personagem não pede uma maior interiorização, mas o ator percorre uma linha de atuação coerente. Um destaque é preciso ser dado a Victor Maia, sem dúvida um dos mais interessantes atores do cenário musical do Rio de Janeiro, com boa presença física, corporal e bastante domínio no seu processo de composição. Apesar de uma carência no delineamento dos demais personagens, Kiko do Valle, Lana Rhodes, Leonardo Senna e Ivan Vellame apresentam-se com correção. Lucas Vasconcelos e Pepê Santos revezam-se nas apresentações do personagem mirim Wandson, Estrela Blanco apresenta-se em papeis inferiores à sua capacidade, completando o elenco com Laura Braga, Adam Lee, Bruno Carneiro, Douglas Cantudo, Marcelinton Lima, Marcella Collares, Natasha Jascalevich, Olavo Rocha, João Canedo, Juliano Alvarenga, Larine Barros, Paula Raia e Will Anderson.

Os figurinos de Dudu Bertholini trabalham de maneira coerente com o universo desenhado cenicamente, na estilização dos macacões, assim como absorve questões inerentes à proposta(goste-se ou não dela) para atuar como um elemento colaborativo com a construção da direção de Renato Rocha. Os cenários de Gringo Cardia conseguem dimensionar com adequação às ações e intenções narrativas, compondo um espaço físico em que o corpo dos atores e os objetos cenográficos interagem harmonicamente. A iluminação de Renato Machado busca contribuir de maneira incisiva o preenchimento narrativo, tendo papel correto dentro das perspectivas apresentadas.

“Ayrton Senna, O Musical” apresenta um encontro de alguns representativos criadores da arte nacional de diferentes segmentos, mas que não conseguiu levar a um bom termo final. Na indecisão se queria ser Cirque du Soleil ou teatro musical, acabou no meio do caminho, patinando entre ambas opções


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A família do Ayrton Senna corre da biografia dele como o diabo corre da cruz.

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"A biografia de Ayrton Senna é um território muito delicado", Renato Rocha, diretor de Ayrton Senna, O Musical.

Renato Rocha explica porque o musical sobre Ayrton Senna não é biográfico.

RedeTV! - Programa Leitura Dinâmica - 14/11/2017

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Esse diretor do musical, Renato Rocha, omitiu o real motivo de não contarem a verdadeira história do Ayrton na peça, até porque ele tem negado interferências da família quanto a realização do projeto, quando na realidade sabemos que eles interferiram e muito, pois não sai nada sobre o Ayrton sem o aval deles. O motivo é devido a todo o mal que a família do Ayrton fez para ele e Adriane Galisteu. Então eles decidiram contar a história do piloto de uma forma fantasiosa, sem compromisso com a realidade.

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FONTE PESQUISADA

MELLO, Renato. Crítica: Ayrton Senna, o Musical. Disponível em: <http://botequimcultural.com.br/critica-ayrton-senna-o-musical/>. Acesso em: 19 de novembro 2017.



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