sexta-feira, 11 de maio de 2018

"Ayrton Senna se sentia em uma prisão", diz Reginaldo Leme sobre relação do piloto com a família

O jornalista explicou que nessa condição, então, Senna não conseguia perceber e discernir, por exemplo, quem eram realmente seus amigos dos que queriam tirar apenas vantagem e assim acabava abandonando os verdadeiros amigos.



Porque Senna era tão infeliz? 


Trecho do livro Ayrton Senna: As time goes by escrito pelo jornalista britânico Christopher Hilton

Muito antes, Leme tinha tido um problema com Senna, de tal forma que na Fórmula 1 esse problema se tornou tanto um conhecimento comum quanto um ponto de discussão.


"Posso dizer que fui um dos melhores amigos de Senna, não apenas como jornalista, mas na verdade como um amigo desde 1981. Ele sabia disso. Quando começou na Fórmula 1, ele me pediu que dissesse o que ele estava fazendo de errado. Por favor, me conte tudo. Não na pista, é claro, mas as relações com os outros pilotos, autógrafos (para os fãs / relacionamento com os fãs), e eu disse-lhe muitas coisas, lembro que um dia nós entramos em um avião no Rio e ele veio de Buenos Aires. Dentro do avião estavam Riccardo Patrese, Elio de Angelis, talvez mais um ou dois outros pilotos, e Senna estava indo para o seu lugar para se sentar. Eu disse eles estão em seu país, por favor vá a cada um deles e diga oi. E ele fez isso. Foram muitas coisas assim em 84, 85, 86, 87 e 88. Mesmo em 88 – uma vez quando um garoto foi até ele no Rio para pedir seu autógrafo, ele estava absolutamente chateado com alguns problemas com o carro, e ele deu um autógrafo. Uma menina pequena pediu por favor, outro para a minha irmã. Ele disse não, eu parei. Eu fui até ele e disse você é louco. Eu ainda estava tentando dizer a ele o que ele estava fazendo de errado. Ele não aceitou bem. Ele não aceitou o que eu estava dizendo a ele. Eu disse ok, acabou, eu não vou te dizer novamente."

"Começamos a ter problemas no final de 1988, antes do Grande Prêmio do Japão, antes de seu primeiro Campeonato Mundial. Passamos todo o ano de 1989 sem nenhum problema, mas começou de novo no final de 1990. Foi dito a um amigo em comum – outro jornalista – que não falaria comigo no Grande Prêmio do Japão. Eu não sabia disso, então fui ao Japão. Na sexta-feira, depois do primeiro treino, fui até ele para fazer a entrevista. Ele disse não, eu não falo com você nunca mais. Eu fiquei surpreso. E no dia seguinte, bem, qualquer coisa que acontece no paddock, todo mundo sabe. No dia seguinte Alain Prost veio perguntar se é verdade aquela história sobre Senna? Eu disse a ele sim. Me desculpe, sinto muito, mas é verdade. Então, depois disso, a Globo criou diferentes arranjos para a temporada de 1991. Deixei minha carreira como repórter. Eu me tornei analista e a Globo enviou outro repórter para todas as corridas."

(Esse problema com Senna acabou ajudando Reginaldo Leme, porque ele foi promovido. Ele deixou de ser repórter para se tornar um analista/comentarista.)




"Senti que o Senna tinha mudado muito durante todo esse tempo – não porque ele era ótimo, não porque ele era o melhor, mas por causa das pessoas que 'viviam' ao seu redor. Lembro-me que ele falou comigo muitas vezes e ele dizia que é muito importante que eu saiba separar as pessoas que querem ser minhas amigas das pessoas que estão 'vivendo' ao meu redor e esqueci de alguns amigos, das pessoas que precisam de mim. Ele nunca estava confiante em saber que tipo de pessoas estavam "vivendo" em torno dele e ele esqueceu alguns amigos. Eu não conseguia entender por que ele achava que eu e alguns outros amigos o cercávamos apenas porque ele era o melhor. Isso é loucura. Isso é absolutamente loucura."

"Como dizemos no Brasil, os pés dele não estavam mais no chão. Ele perdeu isso. Eu posso te dizer depois de todos esses problemas, que duraram de 1990 até metade do ano de 1993, ele começou a falar comigo de uma maneira completamente diferente. Ele estava quase me pedindo perdão. Durante aquela temporada de 1993 ele era – isso é muito importante – ele estava se sentindo livre da família dele. Eu não estou dizendo que essa família é ruim, de jeito nenhum, mas a família dele era muito concentrada nele ".

Você estava rodando o mundo para falar ao povo brasileiro sobre o brasileiro mais famoso, você precisava falar com ele e ele não falava com você.

"Eu me senti mal, me senti muito, muito mal. Foram alguns dos piores momentos da minha vida. Ele era tão bom para o Brasil que a TV Globo estava indecisa. Eles não disseram que o Reginaldo é nosso comentarista e eu senti que estava em apuros, realmente em apuros. Hoje, todos que me encontram na rua falam de Senna. Todo mundo conhece essa história - mas todo mundo sabe que eu não fiz coisas ruins com o Senna. "

Então, por que isso aconteceu?


"Como posso dizer isso? Era Senna e Piquet. Senna ficou com muitos ciúmes de mim e outros jornalistas que tinham um relacionamento com Piquet. Senna falou comigo, Senna falou comigo sobre... sobre o relacionamento com Piquet foi estranho, muito estranho, muito, muito, muito estranho ".

Diga-me quem era Senna.

"Senna era uma pessoa antes de 1989, outra pessoa entre então e 1993, e em 1993 ele se tornou a pessoa que ele tinha sido antes: o verdadeiro Senna. O problema eram as pessoas ao seu redor, que o faziam se sentir bem, e havia tantos deles que ele perdeu, como eu disse, os pés no chão. Essa é a história. Nunca senti que ele estava feliz entre 1989 e 1993, nunca, nunca, nunca”.

Por quê?


"Eu não sei. Não foi um problema de dinheiro ou glória. Ele se sentia como se estivesse em uma prisão. Ele tinha que saber o que as pessoas estavam realmente fazendo, se elas eram suas amigas ou não. Ele não sabia sobre você, eu e outras pessoas, então ele não estava feliz. A última vez que o vi muito feliz foi no Grande Prêmio da Austrália em 1985. Em 1985, sim [como Gerard Ducarouge já descreveu]. Ele estava brincando muito. Não, isso não está correto: eu o vi da mesma forma no Club Med em 1987. Ele era muito falante, sem muita pressão".



"A próxima vez que ele se sentiu bem foi quando conheceu a garota [Adriane]. Eu não posso julgar a garota. Ele passou quatro ou cinco meses com ela e isso não importa, é normal, mas ela foi realmente a primeira mulher – mulher , não menina – na sua vida. Ela tinha 19 anos, era uma criança, mas não [realmente] uma criança – mas uma mulher. Ele estava realmente envolvido e sua família sentiu isso: realmente envolvido. Naquele momento ele estava se movendo para ficar o ano inteiro em Portugal. Essa teria sido a primeira vez, porque toda vez que ele vinha ao Brasil – a cada 15, 20 dias – ele ficava com a família. "

"Depois do Grande Prêmio do Brasil de 1993, que ele ganhou, nós fomos a uma boate – separadamente, é claro – e cerca de uma hora da manhã outro amigo, Jayme [Brito] disse para Ayrton olha quem está ali, é o Reginaldo. No final ele estava dançando com Adriane, na mesma noite em que ele a conheceu, ele a deixou e veio até mim. Eu disse a ele: Essa foi a melhor vitória que você teve em sua vida e nós fizemos – como posso dizer isso? – um brinde, uma taça de champanhe, eu e ele ".

"Dois meses depois, ele veio de novo até mim em uma pista de corrida na Europa – não me lembro qual deles era – e começamos a conversar novamente. Por isso eu disse a você que ele estava tentando pedir perdão, desculpar-se. Ele nunca disse isso, mas você conhecia Senna, e vir falar era o pedido de desculpas. Lembro-me de estar sentado no trailer da McLaren e ele sentou-se e queria conversar sobre outras coisas além de corridas: sobre a vida. Senna estava muito diferente, mas provavelmente o mesmo antes de 1989. Eu fui salvo [no emprego, na briga que teve com Senna] porque alguém da Globo fez algumas pesquisas e decidiu que meu nome era importante para a cobertura da Fórmula 1, mesmo que Senna não falasse comigo. "

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Ficou muito claro para mim lendo esse depoimento e bem como outros do Reginaldo Leme que a família do Ayrton "botava pilha" nele (o influenciava negativamente). Colocava muita pressão nele de todo o tipo, sufocava o Ayrton, o blindava, jogava ele contra as pessoas e etc.... E também assim, afastavam os bons, as pessoas boas, os amigos verdadeiros, as pessoas que gostavam dele e queriam o ajudar, e em contrapartida atraía muitas outras pessoas ruins assim como eles que deviam ajudá-los em seus intentos (Que perigo! A ponto até de prejudicar todos, toda a família, o Ayrton, e até eles mesmos, diga-se de passagem. Se é que não aconteceu...). As pessoas ruins sempre se unem com outras. Agora tu vê? E viam as boas como aproveitadores. Pois ele, o Reginaldo, não quis dizer, mas a família do Ayrton não vale nada, como está mais do que provado e comprovado, por tudo que fizeram de mal, principalmente para a Adriane Galisteu. Mas prejudicaram muitas outras pessoas também, como o próprio Reginaldo Leme.)

O Reginaldo Leme ajudou muito o Ayrton quando ele não era nada, no começo da carreira. Dando dicas, aconselhando, como ele disse, fazendo entrevistas com ele, quando Senna ainda era um novato, praticamente desconhecido. Tem até vídeos e imagens pela internet afora dos dois juntos antes de Senna se tornar um astro na Fórmula 1. Então foi muito triste isso que aconteceu, que Senna fez com Reginaldo. Só quando conheceu Adriane... o amor que sentia por ela, a convivência com ela, sair da pressão da família, da influência direta de pessoas que não prestavam (alguns membros da família e amigos falsos) fez ele voltar a ser o Ayrton que era antes, e assim se aproximou e pediu desculpas aos amigos que ele magoou, se afastou, e até prejudicou, mesmo sem ter realmente culpa.

O Reginaldo não foi o único, aconteceu com muitas outras pessoas também. Como o próprio Ayrton disse, que sentia isso, que se afastou de amigos verdadeiros. Por causa dessa influência de gente que não prestava, de pessoas negativas.


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IDIOMA ORIGINAL

Long before, Leme had had a problem with Senna, and such is the way of Formula 1 that this problem became both common knowledge and a discussion point.


"I can say I had been one of Senna's best friends, not only as a journalist but actually as a friend from 1981. He knew that. When he started in Formula 1 he asked me to tell him what he was doing wrong. Please, tell me everything. Not on the track, of course, but relationships with the other drivers, autographs, and I told him a lot. I remember one day we got onto a plane at Rio and it had come from Buenos Aires. Inside the plane were Riccardo Patrese, Elio de Angelis, maybe one or two other drivers, and Senna was going to his own seat to sit down. I said they are in your country, please go to each one and say hello. And he did it. The were a lot of things like that in '84 and '85 and '86 and '87 and '88. Even in '88 - one time when a kid went to him in Rio to ask for his autograph, he was absolutely upset with some problems with the car, and he gave one autograph. A small girl asked please, another for my sister. He said no, I stop. I went to him and I said you're crazy. I was still trying to tell him what he was doing wrong. He didn't take it well. He didn't accept what I was telling him. I said ok, it's finished, I won't tell you again.

"We began to have problems at the end of 1988 before the Japanese Grand Prix, before his first World Championship. We spent all 1989 without any problems but it began again at the end of 1990. It was told to a mutual friend – another journalist – that the would not speak to me at the Japanese Grand Prix. I did not know about this, so I went to Japan. On Friday, after first practice, I went to him to make the interview. He said no, I don't speak to you ever again. I felt incredible. and next day, well, anything that happens in the paddock, everyone knows. Next day Alain Prost came to me to ask is it true that story about Senna? I told him yeah. I'm sorry, I'm very sorry, but it's true. So after this Globo mad different arrangements for the 1991 season. I left my career as a reporter, I became an analyst and Globo sent another reporter to every race.

"I felt Senna had changed a lot during all this time - not because he was great, not because he was the best but because of the people 'living' around him. I remember he spoke to me a lot of times and he said it is very important that I know how to separete the people who want to be my friends from the people were 'living' around him and the forgot some friends from the people who need me. He was never confident in knowing what kind of people were 'living' around him and he forgot some friends. I could not understand why he thought me, and some other friends, were around him only because he was the best. That's crazy. That's absolutely crazy."

"As we say in Brazil, his feet were no longer on the ground. He'd lost that. I can tell you after all these problems, which last from 1990 to half way throung 1993, he started to talk to me in a completely different way. He was almost asking for me pardon. During that 1993 season he was - this is very important – he was feeling free from his family. I'm not saying that this family is bad, not at all, but his family was very concentrated on him."

You were going all round the world to tell Brazilian people about the most famous Brazilian, you needed to talk to him and he wouldn't talk to you.


"I felt bad, I felt very, very bad. It was some of the worst moments of my life. He was so great for Brazil that TV Globo was undecided. They didn't say Reginaldo is our commentator and I felt I was in trouble, really in trouble. Today, everyone who meets me on the street talks about Senna. Everyone knows this story - but everyone knows I did not do bad things to Senna."

So why did it happen?


"How can I say this? It was Senna and Piquet. Senna was very jealous about me and other journalists who had a relationship with Piquet. Senna spoke to me, Senna spoke to me about... about the relationship with Piquet it was strange, very strange, very, very, very strange."

Tell me who Senna was.

"Senna was one person before 1989, another person between then and 1993, and in 1993 he became the person he had been before: the real Senna. The problem was the people around him, who mad him feel good, and there were so many of them he lost, as I have said, his feet on the ground. That's the story. I never felt he was happy between 1989 and 1993, never, never, never."

Why?


"I don't know. It was not a problem of money or glory. He felt like he was in a prison. He had to know what people were really doing, whether they were his friend or not. He didn't know about you, me and other people. So he was not happy. The last time I saw him really happy was the Australian Grand Prix in 1985. In 1985, yes [as Gerard Ducarouge has already described]. He was joking a lot. No, this is not correct: I saw him the same in the Club Med in 1987. He was really hapy, not much pressure."

"The next time he felt well was when he met the girl [Adriane]. I cannot judge the girl. He spent four or five months with her and it doesn't matter, it's normal, but she was really the first woman – woman, not girl – in his life. She was 19 years old, a child but not a child – a woman. He was really involved and his family felt this: really involved. At that moment he was moving towards staying the whole year in Portugal. That would have been the first time, because every time he came to Brazil – every 15, 20 days - he stayed with his family."

"After the Brazilian Grand Prix of 1993, which he won, we went to a nightclub – separately, of course – and about one o'clock in the morning another friend, Jayme [Brito] said to Ayrton look who's over there, it's Reginaldo. At the end he was dancing with Adriane, the same night that he had first met her, he left her and came to me. I told him: That was the best win you have had in your life and we did - how can I say it? – a cheers, a glass of champagne, me and him."

"Two months later he came again to me at a race track in Europe - I don't remember which one it was - and we started to talk again. That's why I said to you he was trying to ask for pardon, to apologise. He never said this, but you knew Senna, and coming up to talk was the opology. I remember sitting at the McLaren motorhome and he sat and wanted to talk about things other than racing: about life. It was very different Senna but probably the same one before 1989, I was saved because someone at Globo did some research and decided my name was important to the Formula 1 coverage even if Senna didn't speak to me."

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FONTE PESQUISADA

HILTON, Christopher. Ayrton Senna: As time goes by. 1º Edição. Sparkford: Haynes Publishing, 1999.

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