Em 11 de outubro de 1993, tricampeão mundial
concretizava o sonho de integrar a equipe dominante daquele começo de anos
1990; porém, parceria não deu certo e acabou em tragédia
Por Fred Sabino — Rio de Janeiro
11/10/2018 07h00
Atualizado há 10 horas
globoesporte.globo.com
Getty Images
Foi numa segunda-feira, no dia 11 de outubro de
1993, há exatos 25 anos, portanto, que a contratação de Ayrton Senna pela
Williams se tornou oficial. Era a realização de um grande sonho do tricampeão
mundial, que queria porque queria guiar aqueles carros que considerava "de
outro planeta". A união do melhor piloto do mundo, do melhor motor do
mundo (Renault) e do melhor projetista do mundo (Adrian Newey) prometia
resultar numa enxurrada de vitórias. Mas não foi isso que aconteceu.
Ayrton Senna ao lado de Frank Williams e Damon Hill
na apresentação da Williams — Foto: Getty Images
O namoro entre Senna e a Williams começou em 1990. O
brasileiro enfrentou uma difícil renegociação de contrato com a McLaren e teve
nas mãos a chance de trocar de equipe para o ano seguinte. No entanto, Ayrton
deu um voto de confiança para Ron Dennis, e assinou por mais dois anos. No
primeiro, conquistou o tricampeonato, mas já teve a ameaça de Nigel Mansell e
da Williams. O modelo FW14 com câmbio semiautomático já se revelara mais
competitivo na segunda metade da temporada.
Em 1992, com suspensão ativa, controle de tração e
freio antiblocante agregados ao modelo FW14B, a Williams engoliu a McLaren - e
todas as outras equipes. Nigel Mansell ganhou o título com uma antecipação
jamais vista até então. Senna, é claro, viu que a receita vencedora deixou de ser
a McLaren-Honda e passou a ser a Williams-Renault. De todas as formas, Ayrton
tentou trocar de time, mas foi barrado pelo ex-companheiro Alain Prost, que
ficara sem cockpit competitivo depois da demissão da Ferrari e negociara sua
ida para a equipe inglesa com ajuda da Renault.
Equipe Williams apresenta Hill e Senna como
companheiros em 1994 — Foto: Getty Images
Em 1993, a Williams-Renault continuou sendo o melhor
carro do grid, mas Senna fez um campeonato maravilhoso com a McLaren, mesmo
usando um motor Ford bem mais fraco - a Honda deixou a F1 no fim de 1992.
Ayrton chegou a liderar a tabela com algumas vitórias épicas, mas Prost tomou o
comando do campeonato e sacramentou o tetra com duas corridas de antecipação.
Um título justo, mas sem brilho algum. Ficou a impressão de que se o brasileiro
estivesse guiando a Williams FW15, o massacre teria sido ainda maior do que o
de Mansell em 1992.
Ao longo de toda a temporada de 1993, Senna manteve
negociações com Frank Williams, o dono de equipe que havia lhe dado a primeira
chance de guiar um carro de F1, ainda em 1983, em Donington Park. Frank ficou
decidido a contar com Ayrton para 1994, mas ainda precisava chegar a um acordo
com Prost. Por acordo entenda-se uma aposentadoria forçada ao francês, que
tinha contrato de dois anos e só aceitou sair com a condição de receber o
salário combinado. Prost não guiaria um carro da Williams por um metro sequer
em 1994, mas ganharia centavo por centavo do contrato.
Senna marcou pole nas três corridas que disputou em
1994 — Foto: Getty Images
Dois dias antes de se sagrar tetracampeão, em
Portugal, Prost anunciou sua aposentadoria, em episódio já relembrado pelo F1
Memória. Finalmente o caminho estava livre para Ayrton Senna assinar com a
Williams. Evidentemente era o segredo mais mal guardado do mundo, e o anúncio
foi feito só no dia 11 de outubro, duas semanas depois de Prost revelar sua
retirada das pistas.
Curiosamente, Senna tinha nas mãos outras duas
possibilidades para 1994, na Ferrari e na Benetton. Ayrton tinha o sonho de
guiar os carros vermelhos um dia, mas naquele momento a equipe italiana, que
pouco antes havia contratado Jean Todt como diretor esportivo, não estava
pronta para dar ao brasileiro um carro capaz de lhe dar o título. A Galvão
Bueno, Senna explicou por que não correria pela Ferrari em 1994 com uma frase
muito simples:
- Não posso me permitir ficar mais um ano sem ganhar
o campeonato.
Jean Todt guardou a minuta do pré-contrato oferecido
a Ayrton Senna. Documento este que tinha bases semelhantes às oferecidas a
Michael Schumacher dois anos depois.
Ayrton Senna após o abandono na primeira volta do GP
do Pacífico de 1994 — Foto: Getty Images
Outra curiosidade revelada por Galvão Bueno foi que,
num certo dia, ele estava na casa de Senna, e o telefone tocou: era Flavio
Briatore, todo-poderoso da Benetton. Ao atender Briatore, Galvão ouviu um apelo
desesperado:
- Não deixe ele assinar com ninguém!
Briatore ficou a ver navios, afinal o que Senna
queria mesmo era correr pela Williams.
Ayrton Senna discute com David Brown detalhes do
volante da Williams — Foto: Getty Images
No entanto, desde o começo, a união Senna/Williams
não funcionou como se esperava. Com o banimento dos auxílios eletrônicos nos
carros (exceto o câmbio semiautomático), a equipe inglesa perdeu grande parte
de seu poderio. O modelo FW16 projetado por Adrian Newey também não foi dos
mais inspirados. Nos anos anteriores, o sempre criativo Newey trabalhou sob a
vigilância de Patrick Head, mas em 1994 o sócio/fundador resolveu deixar a
coisa correr mais frouxa.
Havia problemas aerodinâmicos, e Senna tinha visível
dificuldade de pilotar, principalmente em asfaltos ondulados. O forte motor
Renault e o talento levaram Ayrton a conquistar a pole position nas três
primeiras corridas do ano, mas três incidentes não permitiram que o brasileiro
marcasse um ponto sequer no campeonato. Michael Schumacher, na renovada e forte
Benetton, venceu todas as provas.
Na terceira delas, em Imola, o sonho de pilotar pela
Williams virou tragédia. A combinação de uma falha mecânica, um circuito
perigoso e uma barra de suspensão projetada contra a cabeça resultaram no pior.
Ficou a saudade.
Ayrton Senna pouco antes da largada do GP de San
Marino de 1994 — Foto: Getty Images
FONTE PESQUISADA
SABINO,
Fred. Ayrton Senna foi finalmente anunciado como piloto da Williams há 25 anos.
Disponível em: <https://globoesporte.globo.com/motor/formula-1/blogs/f1-memoria/post/2018/10/11/ayrton-senna-foi-finalmente-anunciado-como-piloto-da-williams-ha-25-anos.ghtml>.
Acesso em: 11 de setembro 2018.
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