quinta-feira, 22 de abril de 2021

Entrevista exclusiva com Ayrton Senna

SÁBADO, 19 DE FEVEREIRO DE 1994 - CAPA
ESTADINHO - O ESTADO DE S.PAULO




Histórias da infância de Senna 
Lourdes Solo 


Fã de Nacional Kid e de Speed Racer, Senna foi um garoto bem-comportado que só decidiu virar piloto depois dos 18 anos: "passei a levar o automobilismo a sério" 

Antes de testar o novo carro e de começar a brigar nas pistas de Fórmula 1, Ayrton Senna resolveu descansar. Enquanto circulava pelo Rio de Janeiro e por São Paulo, o piloto contou um pouco da sua infância bem-comportada nesta entrevista exclusiva ao Estadinho. 
 
Pergunta: Onde você viveu na infância?

Resposta: Morei muito tempo no bairro do Jardim São Paulo, no Mirante Residencial.

P.: Em que escola estudou?

R.: Minha primeira escola foi o Colégio Santana. no Jardim São Paulo, onde fiz o pré, o primário e parte do ginásio. Completei o ginásio e o científico no Colégio Rio Branco.

P.: Você gostava de estudar?

R.: Não muito. Mas sempre fui responsável e fazia os deveres da escola. Nunca repeti de ano, apesar de dividir meu dia entre os estudos, as corridas de kart e ainda achar tempo para as brincadeiras de rua com os amigos.

P.: la bem na escola?

R.: Fui bem nos meus estudos. Nunca fui "pole-position" em nenhum ano, mas também jamais fui parar no último pelotão do grid da classe. Fiquei mais entre os intermediários para frente.

P.: Você brigava com seus irmãos? Com qual brigava mais e por quê?

R.: Não costumava brigar nem com meu irmão Leonardo e, muito menos, com minha irmã Viviane. O Léo era bem mais novo que eu [8 anos mais novo] e Viviane era uma santa.

P.: Qual a bronca ou surra de sua mãe – ou do seu pai – que você não esquece? 
R.: Meu pai, apesar de enérgico, nunca levantou a mão para mim. Minha mãe chegou a dar umas palmadas. Sou muito grato a eles pela educação que me deram. Não me lembro de uma bronca ou surra que poderia ter ficado na memória, mas não me esqueço de um caso engraçado. Tinha aprontado uma "daquelas" em casa e a minha mãe queria me bater. Ficamos correndo um tempão em volta dos móveis da sala, e ela não conseguiu me pegar. Quando me lembro disto, eu rio da cena. 

P.: Quem era seu melhor amigo? 
R.: Um colega do Colégio Rio Branco, Sérgio. Frequentávamos muito um a casa do outro no período do científico. Ele é hoje engenheiro civil. 

Sérgio com seu Dog Alemão e o amigo Ayrton Senna


P.: Qual era sua brincadeira preferida
R.: Jogar bola, bolinha de gude, taco, empinar pipa, colecionar figurinhas, andar de bicicleta, carrinho de rolimã e bater bafo. Enfim, gostava de tudo que aparecia para fazer com a turma.

P.: Do que você tem saudades da sua infância?
R.: Da liberdade que tinha naquela época. Sinto realmente pena da maioria das crianças de hoje que, por falta de espaço e, principalmente de segurança, não pode aproveitar melhor esta boa fase da vida.

P.: Você era obediente?
R.: Bastante. Respeitava meus pais e procurava fazer tudo o que eles pediam.

P.: Você era do tipo organizado ou bagunceiro?
R.: Sempre fui organizado, tinha disciplina. Meus objetos sempre ficavam guardados nos lugares certos. 

P.: Você brigava na rua?
R.: Teve uma fase que sim. Dos oito aos 12 anos, fiz judô e cheguei a faixa laranja. Apesar deste esporte ensinar que as lutas não podiam sair do tatami, às vezes me esquecia e aproveitava para aplicar alguns golpes nas brigas com a molecada. 

P.: Quando você decidiu que ia ser piloto?
R.: Entre os 18 e 21 anos, quando realmente passei a levar o automobilismo a sério. Dos quatro anos, quando andei de kart a primeira vez, até os 17, participei de muitas disputas. Mas era diversão. 

P.: Você gostava de história em quadrinhos? Quem era o seu herói? Por quê? 
R.: Gostava. Lia Fantasma, Homem-Aranha e Recruta Zero, as minhas preferidas. Mas herói mesmo, naquela época. apareceu na televisão: o Nacional Kid. O defensor japonês dos fracos tinha histórias envolventes, em seus filmes, que encantavam toda a turma. Outro que eu gostava era o Speed Racer, um jovem piloto, super-herói que vencia todas as corridas mesmo com as inúmeras artimanhas dos inimigos. 

P.: Você tem medo de alguma coisa?
R.: Quase não tenho medo de nada. Só de alguns animais perigosos como cobra, onça e leão. Prefiro distância. 

P.: Onde você se sente mais a vontade: no mar, nas pistas ou no ar? 
R.: Acho que tanto faz. Me sinto bem competindo nas pistas, ou me deslocando de aviões para cumprir meu trabalho, ou ainda curtindo um esqui aquático. 

QUEM É AYRTON 


Idade: 33 anos. 
Signo: áries. 
Cor preferida: azul. 
Comida que mais gosta: arroz, feijão, batata frita, bife e salada, a típica brasileira. 
Comida que detesta: pratos crus, como sushi. 
Carro: o Audi alemão, na rua; nas pistas, o meu Fórmula 1.
Passatempo predileto: esqui aquático. Time: Corinthians. Pais: Brasil. Cidade: Rio de Janeiro e -São Paulo. Ator: Lima Duarte. 
Atriz Fernanda Montenegro. 
Cantor: Milton Nascimento. 
Cantora: Gal Costa. Simone e Marina. 
Pista: Interlagos
Filme que mais gostou: "Horizonte Perdido". 


Alegrias e tristezas do ariano Ayrton Senna: adora relaxar praticando esqui aquático, detesta comidas cruas, só tem medo de animais selvagens e torce pelo Corinthians 

Carreira veloz de Senna 

Ayrton Senna da Silva carrega a fama de "garoto que mudou a história da Fórmula 1" e de melhor piloto de todos os tempos. Tudo começou em 1983, quando Frank Williams, descobridor de talentos, deu a Senna a primeira chance de testar um F1. Mas Willians já tinha contrato com os pilotos Keke Rosberg e Jacques Laffite, e o brasileiro teve de se contentar com a Toleman, onde ficou até 1985. Depois, correu pela Lotus mais dois anos. Mas em 1987, entrou em acordo com a McLaren. Em abril do ano seguinte sua estréia na equipe é marcada pelo Grande Prêmio do Brasil. Com 94 pontos, Senna é campeão. Ayrton só trouxe alegrias para a McLaren e vice-versa. De 88 a 93, a equipe totalizou um número de 103 vitórias e de quatro títulos mundiais. Senna venceu 34 corridas e levou três títulos mundiais. 

Este ano, ele abandonou o ma-cacão vermelho e branco da Malboro-McLaren e defenderá a Williams no próximo Campeonato Mundial de F1. Agora, irá vestido de azul e amarelo. O piloto concordou em correr por esta equipe depois que Alain Prost, confirmou sua saída da Williams. Entre uma corrida e outra, Senna não descuida de seus negócios. Em 94 ele vira personagem de história em quadrinhos como Senninha, num lançamento da editora Abril. 





FONTE PESQUISADA

SOLO, Lourdes. Entrevista exclusiva com Ayrton Senna. O Estado de S. Paulo, 19 de fevereiro de 1994, Estadinho, página 77.

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