MAI. 01, 2021
Conheça essa história através de Ivo Guiotti, o homem que recepcionou Ayrton Senna em sua residência meses antes do acidente que tirou sua vida
Para muitas pessoas ter acesso a um ídolo é algo muito difícil, devido a todo assédio da mídia que busca uma entrevista exclusiva, a legião de fãs que o seguem e sua equipe de seguranças. Porém, e quando essa estrela mundial vem até você?! Parece uma situação hipotética ou então uma vitória na loteria. O fato é que um morador de Cândido Mota viveu esse momento quando recebeu em sua casa o piloto tri-mundial Ayrton Senna para um dia inteiro dedicado à pesca.A história começa em meados do final dos anos 80 e início dos 90 na piscicultura do candidomotense Ivo Guiotti, após algumas entrevistas para a revista Globo Rural, uma das mais conceituadas da época no ramo e com distribuição nacional. Em entrevista exclusiva ao Portal AssisCity, ele disse que em um certo dia recebeu uma ligação para negociar peixes e do outro lado da linha estava Milton Da Silva, pai de Ayrton.
"As pessoas da época se interessavam pela criação de peixes. Além do Ayrton tive diversos outros clientes que eram personalidades. Acredito que o Milton me encontrou nessas revistas da Globo Rural. Ele nem se identificou direito e fui pessoalmente entregar na fazenda de Tatuí", disse Ivo Guiotti
A intenção de Milton era conhecer a produção de um dos principais profissionais da piscicultura no país para poder montar um tanque no sítio da família em Tatuí, interior de São Paulo. Segundo Ivo, o principal hobby do piloto em seus dias de folga no Brasil era a pesca.
"Sempre que o Ayrton chegava em Tatuí já pedia para deixarem todos os itens de pesca prontos para ele. Era chegar em casa e ir pro tanque com a vara e a isca. Ele gostava muito", relembrou Ivo, que viveu algumas cenas inusitadas nesses encontros com a família Senna.
Em algumas idas à fazenda da família Senna para entregar peixes, o candidomotense se recorda de momentos que viveu em um local de acesso restrito, como o encontro com japoneses da Honda, parceira de Ayrton durante sua carreira, e também com a então namorada Adriane Galisteu.
Além disso, Ivo também viu alguns dos principais troféus conquistados pelo brasileiro, que ali estavam, além das tradicionais garrafas de champagne, presente dado aos vencedores das corridas. Para os fãs do piloto, entrar ali seria um sonho, mas para o piscicultor foi algo normal.
"Eu sou muito estranho, nunca tive esse vislumbre, acho que por criação ou por ter contato com muitas pessoas. Eu almocei com a família dele, vi a Galisteu, pessoas da Honda, mas para mim era algo normal, estava a trabalho", brincou o candidomotense
Senna sempre falava que queria conhecer a produção de alevinos de Ivo Guiotti e a visita deveria ter acontecido em janeiro de 1993, porém, por divergências de agenda, só ocorreu no ano seguinte, dias antes do brasileiro se apresentar na equipe Williams e meses antes do trágico acidente no Grande Prêmio de Ímola, Itália, quando o piloto bateu na Curva Tamburello há exatos 27 anos.
Janeiro de 1994
Ayrton curtia os últimos dias de férias em Angra dos Reis, litoral do Rio de Janeiro. Milton ligou para Ivo para perguntar se poderiam ir até a sua residência no interior de São Paulo para passar o dia, e como todo brasileiro da época faria, o candidomotense disse sim.
"Foi muito engraçado, pois eu estava assistindo ao Fantástico no domingo anterior e apareceu Ayrton em Angra entrando no avião. Nisso eu ria e falava que amanhã esse mesmo avião pousaria aqui em Assis", relembra o piscicultor que no dia seguinte foi recepcionar o tricampeão.
Na manhã do dia 10 de janeiro, Ivo foi até o Aeroporto de Assis para recepcionar Ayrton Senna e seu pai, além dos dois pilotos de seu avião particular. Como prometido em conversa com Milton, ninguém da cidade ou região foram informados, nem mesmo familiares próximos. Todos seguiram até a casa do piscicultor quando o piloto surpreendeu a todos quando perguntado qual prato gostaria de comer no almoço.
"Eu ia preparar um banquete e ele negou. Perguntei se ele tinha alguma dieta especial e ele riu e disse que queria arroz, feijão e ovo. Foi aí que vi que ele era um cara humilde", relembra Ivo.
Para esse dia especial, Ivo preparou uma série de atividades que envolviam o setor com Senna e Milton, que andava com apoio de muletas após fraturar o pé. Primeiro, foram acompanhar uma pesca em rede, a parte laboratorial e por fim a pescaria e um almoço.
"Contratei até garçom, mas o Ayrton fez questão de se servir sozinho, disse que não precisava de alguém para servi-lo. O cara era de uma simpatia e gente como a gente. Muito por isso era o ídolo que conhecemos", afirma o piscicultor.
Senna, que não estava acostumado a perder, conheceu a derrota naquela tarde para um peixe. Após fisgá-lo e ver que seria uma dura briga para tirá-lo da água, o piloto gritava "pega o peixe, segura o peixe, não deixa o peixe escapar", mas, o peixe conseguiu sair do anzol. Um fato curioso que envolveu esse momento foi citado por Adriane Galisteu, ex-namorada do Piloto em seu livro "Caminho das Borboletas: Meus 405 dias ao lado de Ayrton Senna".
"A Galisteu fala em seu livro que o Ayrton acordou durante a noite assustado e gritava para pegar o peixe, não deixá-lo escapar. Ela não sabe, mas foi isso que ele disse aqui no sítio. Ele foi treinado para não perder e aquele dia enfrentou a derrota para um peixe", recorda Ivo, que possui essa imagem em arquivos pessoais até hoje.
O que mais agradou Ivo foi a simplicidade de alguém que tinha o mundo a seus pés. Segundo ele, sempre houve muita desconfiança sobre como era o piloto em seu dia a dia, se mostrava-se uma pessoa arrogante. Porém, foi totalmente ao contrário.
Como Ivo vende peixes em sua residência, algumas pessoas, sem saberem da presença do piloto, foram até lá fazer compras e se surpreenderam com a presença do piloto. O boato tomou conta da cidade, porém, muitos imaginavam ser outro Senna, um conhecido radialista da cidade.
"O prefeito de Cândido Mota apareceu para comprar peixe aquele dia e quando ele falou na cidade, todos achavam que era o Senna repórter de rádio. Ninguém imaginou que o maior ídolo do Brasil naquele momento estaria na minha casa", brinca Ivo, que recorda dessa situação com muito bom humor.
Durante todo o dia, Senna usou aquela segunda-feira de janeiro para descansar e se divertir e em momento algum foi perguntado ou citou sobre sua carreira ou projeções para a temporada de 1994. A única referência feita por Ayrton sobre Fórmula 1 era a de que traria para Cândido Mota o ex-companheiro de McLaren de 90 a 92, o austríaco Gerhard Berger.
"A única coisa que ele falou de Fórmula 1 durante todo aquele dia era que traria o Berger para pescar aqui em uma próxima vinda. Apenas isso, mais nada", relembra Ivo.
Ayrton liberou que repórteres fossem até o aeroporto na hora de ir embora, porém todos achavam ser um trote, menos o radialista Chico de Assis, que conseguiu uma exclusiva com o piloto. Ayrton foi embora no fim da tarde daquele dia, levando em sua bagagem um peixe pintado dado por Ivo para o piloto colocar em seu tanque.
No dia primeiro de maio de 1994, quase quatro meses após receber o principal piloto do mundo em sua casa, Ivo trabalhava em um dos tanques, quando foi informado pela esposa, desesperada, que Senna havia batido o carro e estava desacordado. A reação dela foi colocar uma foto daquela tarde de janeiro em uma bíblia para que ele saísse daquela situação.
Na quarta-feira, 4 de maio, o Brasil parou para acompanhar o cortejo do piloto. Em Assis, os sinos da Igreja Catedral começaram a badalar no momento em que o avião pousou na pista do Aeroporto de Cumbíca, em Guarulhos. Ivo Guiotti resolveu ir até o velório, pois sentia que aquilo era necessário, não apenas pelo ídolo Ayrton, mas também por ser um conhecido da família e grato por aquela tarde que tiveram meses antes.
"Fiz questão de ir para São Paulo e comparecer ao velório, entrei e vi a família, os abracei e ver o caixão lacrado e todos os fãs chorando foi muito triste. Eu tinha algo comigo que eu precisava ir até lá" , confessa Ivo.
Atualmente, Ivo continua no ramo da piscicultura, mas há muito tempo não tem mais contato com a família Senna. As memórias daquele dia ficarão para sempre eternizadas e ele, um historiador de formação, fez questão de registrar em vídeo cenas dos momentos agradáveis que passaram juntos.
"Comprei uma câmera para filmar meus filhos pequenos e eles usaram para filmar o Senna. Tanto que não é nada profissional, e sim jovens que passam o dia com um ídolo e querem registrar aquele momento", finaliza o Ivo, que mesmo após 27 anos, ainda se recorda perfeitamente dos detalhes daquele dia.
Confira a entrevista que Ivo concedeu ao Portal AssisCity:
FONTE PESQUISADA
PARAGUA CITY - O dia em que o tricampeão mundial de Fórmula 1 foi para Cândido Mota pescar. Disponível em: <https://www.paraguacity.com/regiao/o-dia-em-que-o-tricampeao-mundial-de-formula-1-foi-para-candido-mota-pescar-109483.html>. Acesso em: 12 de junho 2021.
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