segunda-feira, 28 de março de 2022

Como Senna venceu o GP do Brasil apenas com a 6° marcha?

Felipe Meira

28 mar202212h02

Terra - terra.com.br

Uma das mais famosas corridas de Senna foi em Interlagos 1991, quando venceu com apenas uma marcha

Senna erguendo a bandeira do Brasil no pódio após uma atuação heroica

Foto: McLaren / Twitter

O GP do Brasil de 1991 foi uma corrida histórica para Ayrton Senna, que finalmente venceu em seu país natal. Mas foi uma corrida que acabou sendo mais difícil do que o esperado. Para entender a história, é preciso entender o contexto. 

Ayrton Senna era bicampeão do mundo, mas nunca tinha vencido em casa. O histórico era: 2° lugar (1986), 3° lugar (1990), 11° lugar (1989), desclassificação (1988) e abandonos (1984, 1985 e 1987). O caso de 1990 foi bem emblemático:  Senna estava liderando até bater com um retardatário, Satoru Nakajima, da Tyrrell. Teve que ir para os boxes e deixou a vitória para seu maior rival, Alain Prost, que foi o maior adversário ao título do brasileiro naquele ano. 

Em 1991, o cenário era diferente. O GP que abriu o campeonato foi em Phoenix (EUA). Senna venceu, com Prost (Ferrari) em segundo. Mas o francês não seria adversário naquele ano pois a equipe italiana errou no conceito do carro. Porém, a McLaren tinha uma nova rival: a Williams, de Nigel Mansell e Riccardo Patrese, mas, até ali, nenhum dos dois carros tinha completado na primeira etapa. 

Após algum tempo, a Williams seria uma rival forte naquele ano por alguns motivos: o primeiro deles era o motor Renault V10 que, depois de dois anos de desenvolvimento pela própria equipe, se mostraria melhor do que os Honda V12, que no ano anterior era V10. Diante das preocupações do próprio Ayrton com a Ferrari, que usava V12, os japoneses tinham mudado o motor, o que se mostraria mais tarde um grande erro, principalmente a partir de 1992. 

Mas voltando à corrida. Durante a qualificação, Senna mostrou uma de suas melhores habilidades, conquistando a pole, com 0s383 para Patrese e 0s451 para Mansell. Na largada para as 71 voltas, Senna manteve a ponta, com Mansell tomou a segunda posição em um ritmo muito forte. 

Senna fez o melhor tempo em uma grande volta

Foto: McLaren / Twitter

A vantagem de Senna era nas retas, onde a McLaren se mostrava melhor, dando fôlego ao brasileiro. A perseguição durou até a volta 25, quando Mansell entrou no pit para fazer a parada, na tentativa de fazer um undercut (quando o piloto para antes, para roubar a posição). Mas acabou sendo mal sucedida por causa do trabalho ruim da equipe, que perdeu cerca de 12 segundos a mais do que devia para trocar os pneus. 

Senna pode se dar ao luxo de parar na volta 27, voltando à frente com 8s047 de vantagem. Mansell foi tirando a diferença aos poucos para tentar voltar atacar, até ela chegar aos 2s790 na volta 42. A partir deste ponto, a diferença voltou a subir. A Williams suspeitou que o britânico estava com pneus furados e o fez parar novamente na volta 50, voltando 34s010 atrás do brasileiro. 

Na volta 59, a diferença já havia caído para 18s984. A esta altura, Senna tinha perdido a quarta marcha na volta 52, terceira e a quinta na volta 59. Isso começou a atrapalhar seu desempenho. Mas durante a volta 60, Mansell rodou e o câmbio acabou quebrando. Agora o brasileiro estaria mais perto da vitória? Não, ainda tinha outra Williams, a de Patrese, com uma diferença de 40s496. Parecia tranquilo, mas caiu para 31s661 em duas voltas, na volta 65, era de apenas 20s381. 

Patrese na verdade não estava correndo para passar Senna. O piloto e a Williams acreditavam que o brasileiro só estava controlando o ritmo. Essa teoria veio até pela calma da McLaren, que não deixava transparecer que Senna estava com problemas. 

Patrese só soube do problema de Senna na volta 65 e começou a acelerar. A diferença faltando três voltas só estava em 5s446. Não se sabe muito bem quando Senna perdeu a primeira e a segunda marcha, mas só estava com a sexta nas últimas voltas, andando na casa de 1m28s. Mas faltando apenas três voltas, duas coisas aconteceram:

- Senna, mesmo com todas as dificuldades, conseguiu fazer duas voltas na casa de 1m25s. O brasileiro começou a forçar a embreagem nas saídas de curva, para forçar a rotação a ficar mais alta, ajudando a administrar o carro apenas com a marcha mais pesada. 

- Patrese também teve problemas de câmbio nas duas últimas voltas, passando a fazer voltas em 1m24s (estava andando na casa de 1m21s).

Na última volta, para aumentar o drama, uma garoa fina que estava no circuito se transformou em uma chuva forte. 

Mas Senna conseguiu vencer, berrando no rádio em uma mistura de felicidade e cansaço. Um fiscal levou a bandeira do Brasil, uma cena que ficaria famosa, sendo repetida por Lewis Hamilton no GP de São Paulo de 2021. Senna a segurou por alguns segundos, mas devolveu a bandeira. Alguns fiscais então empurraram o carro para ver se ele voltava no tranco, mas Senna estava muito exausto, quase desmaiou no carro e foi retirado por uma equipe médica. Ainda assim, subiu ao pódio e teve dificuldades para levantar o troféu, mas se manteve lá.

Senna erguendo o troféu com dificuldades após a exaustão física causada pelo GP

Foto: F1 / Twitter

É válido lembrar que Senna era muito focado, sendo o primeiro piloto a realmente focar na parte física, mudando os parâmetros da época. Isso também ajudou ele a conseguir resistir. É bem possível falar que outro piloto naquela temporada não iria conseguir fazer o que o brasileiro fez.


FONTE PESQUISADA

MEIRA, Felipe. Como Senna venceu o GP do Brasil apenas com a 6° marcha?. Disponível em:<https://www.terra.com.br/parceiros/parabolica/como-senna-venceu-o-gp-do-brasil-apenas-com-a-6-marcha,220394f4813b553157aa301a40ef2725r5s14mxk.html>. Acesso em: 28 de março 2022.


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