Corrida número 18: GP de
Portugal: Estoril, 21 de Abril
A primeira vitória de Ayrton Senna na Fórmula 1 não poderia ser mais completa. Fez uma pole position espetacular, meio segundo à frente de Alain Prost (McLaren-Porsche), liderou o GP de ponta a ponta e marcou a volta mais rápida. Só faltou colocar uma volta em Michele Alboreto (Ferrari), o segundo colocado. Tudo isso sob um temporal que levou ao naufrágio 13 dos 26 pilotos que largaram.
Foram 2 horas e 28 segundos de um estranho balé em 291km, a 159km/h de média, sob um dilúvio que marcou o primeiro triunfo de Ayrton Senna na Fórmula 1. Naquele 21 de Abril de 1985, no GP de Portugal, Senna descobria o caminho da vitoria e o mundo conhecia o Ayrton Senna da Chuva.
Patrick Tambay, piloto frances da Renault, terceiro no pódio, garantiu que viu o diabo pelo menos três vezes, durante a corrida.
Milton da Silva, pai de Ayrton, jamais esqueceu a tarde em que levou o filho para o kartódromo de Interlagos.
“Chovia quando chegamos lá e eu resolvi que não dava para o moleque “brincar” naquela pista encharcada. Ele insistiu tanto, ia chorar, então, deixei ele dar algumas voltas.”
“O Ayrton, como todos os meus filhos, era muito teimoso. Eles herdaram isso de nós, os pais. Uma das suas teimosias era pilotar no molhado. Divertia-se em atravessar o kart sobre os lençóis de água. Para convence-lo a sair da chuva, usei a minha teimosia de pai para evitar que ele se machucasse. Mas quanto mais eu temia, melhor ele pilotava. O Beco gostava de testar-se e acho que via na pista molhada um desafio novo e comprazia-se com aquela situação. Pelo menos no meu olho de pai teimoso, estava nascendo um especialista na pilotagem da chuva.”
A performance em Estoril foi tão convincente que mereceu este comentário do comedido semanário inglês Motoring News: “Ayrton deslizava, navegando seguro como um experiente timoneiro numa pista cheia de armadilhas, enquanto outros pilotos veteranos naufragaram no acquaplaning”.
Acquaplaning (aquaplanagem): fenômeno perigoso que o excesso de água cria sobre a pista, dificultando a aderência dos pneus ao solo.
FONTE: Livro: "Uma Estrela Chamada Ayrton" de Lemyr Martins
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No
dia 21 de abril de 1985, o mundo da Fórmula 1 assistiu, escandalizado, ao show
de um jovem piloto da Lotus que fez uma das mais memoráveis corridas da
história da categoria. Ayrton Senna, então com 25 anos, estava na sua
segunda temporada na Fórmula 1, após um ano de estreia em que “tirou leite de
pedra” de uma Toleman. O palco era o Grande Prêmio de Estoril, em Portugal, um
circuito precário que se mostrava ainda mais deficiente após receber toda a
água que caiu dos céus naquele domingo. Era apenas o 16º GP de Senna na F1. O
resultado? Primeiro nos treinos e pole com pista seca, vitória e volta mais
rápida no molhado.
Duas
semanas antes, Senna havia dado sinais de que com a Lotus iria lutar pelas
primeiras posições na temporada. No Brasil, primeiro GP de 1985, ele empolgou a
torcida em Jacarepaguá ao largar em 4º e andar entre os líderes. A 13 voltas do
fim, quando estava em 3º lugar, foi forçado a abandonar, com problemas
elétricos. O GP terminou em decepção, mas Senna não se abalou. Ele sabia que tinha
algo inédito na carreira: um carro capaz de brigar pela ponta. E foi exatamente
isso o que se viu na próxima corrida, em Portugal.
Senna empolgou
torcida em Jacarepaguá, mas abandonou prova com problemas elétricos
Senna já havia sido o mais
rápido nos treinos de sexta-feira e provou a sua superioridade no sábado. Entre
as muitas “primeiras vezes” daquele final de semana em Portugal, estava a
façanha de conquistar a inédita pole na carreira. Com um tempo de 1min21seg007,
na pista seca, Senna não deu chances para Prost – que viria a ser
campeão naquela temporada com sua McLaren. O francês conseguiu apenas
1min21seg420 na sua melhor volta, que o colocou na 2ª posição do grid. O
companheiro de Senna na Lotus, Elio de Angelis, foi 1 segundo mais lento
que o brasileiro: 1min22seg159, na 4ª posição.
Circuito de Estoril tinha bom traçado para a Fórmula 1, mas
estrutura deixava a desejar
Foi então que surgiu o último
ingrediente que fez com que a corrida se transformasse em um show de pilotagem:
a chuva. Após o warm-up, uma tempestade lavou o circuito de Estoril. A pista,
já muito emborrachada pelos treinos de todo o final de semana, virou um sabão.
Os carros não tinham testado ajustes para aquelas condições e estavam ainda
mais instáveis, fazendo com que frear após vir de uma aceleração máxima na
longa reta do circuito fosse tarefa para poucos.
A expectativa era de que a
corrida fosse altamente imprevisível, com muitos acidentes, quebras, como
geralmente acontecia nos caóticos GPs com pista molhada na década de 80 e 90.
Geralmente, sob estas condições, não é incomum ver um piloto herdar muitas
posições e vencer uma prova, pelo “simples” mérito de manter o carro na pista e
chegar ao final. Parece esta ter sido a aposta dos outros 25 pilotos, mas
certamente não foi a estratégia de Senna.
A corrida: vitória incontestável de ponta a ponta
A largada foi tranquila para
Senna. Na primeira posição, no lado de fora da pista, tracionou melhor que
Prost e pulou na frente sem sofrer ameaças. Elio de Angelis aproveitou uma
pequena patinada de francês para fazer a primeira curva logo atrás do brasileiro,
na 2ª colocação. Senna curtia a primeira das 2 931 voltas que fez na liderança
de uma corrida de Fórmula 1.
De forma consistente e sem
cometer erros, Senna abria a diferença para quem vinha atrás. Na volta 15, já
eram mais de 17 segundos de vantagem para o 2º lugar. A Lotus do brasileiro
reinava absoluta na ponta e tornou a corrida “monótona” para a transmissão da
televisão. Os editores de imagem praticamente esqueceram de Senna, mostrando os
vários abandonos que aconteciam no pelotão de trás. Os pilotos lutavam para
manter o carro na pista, frequentemente perdendo a traseira na saída das
curvas, sem conseguir tracionar direito no asfalto escorregadio.
Na volta 25, 30 segundos
separavam Senna e De Angelis, que estava sendo severamente pressionado por Prost,
que mudava o traçado para atacar o rival nas saídas das curvas. O pega durou
até a volta 30, quando a chuva aumentou e causou um dos acidente mais bizarros
já vistos na Fórmula 1. Prost vinha colado em De Angelis na grande reta,
completamente encoberto pelo spray de água. Ele perdeu o controle do carro, que
chicoteou para a esquerda, depois para a direta, para finalmente rodar na pista
e se chocar contra o guard rail à esquerda. Fim de prova para o francês.
Naquela altura, apenas 12 dos 26 carros seguiam na prova.
A supremacia do brasileiro
era imensa. Com 35 voltas, o top 6 – naquela época apenas os seis primeiros
marcavam pontos – era: Senna, De Angelis (47s atrás), Alboreto (53s), Tambay (1min25s), Lauda (1
volta) e Mansell (1 volta). O atual campeão e lenda viva da Fórmula
1, Niki Lauda, que guiava uma McLaren em sua última temporada na categoria, já
era retardatário de Senna, na metade da corrida.
O final de semana poderia ter
acabado de modo perfeito para a Lotus, se não fosse o fato de De Angelis não
conseguir suportar a pressão da Ferrari de Alboreto como sustentou a anterior
de Prost. Na volta 42, com a pista muito molhada em todos os trechos, o
companheiro de Senna errou na entrada da reta e perdeu a posição. Na curva
seguinte, tomando um “banho” de spray de água de Alboreto ao tentar recuperar a
posição, perdeu o controle do carro e quase ficou na caixa de brita. De Angelis
ainda viria a perder o 3º lugar para Patrick Tambay, da Renault.
A corrida estava programada
para ter 69 voltas, mas com o ritmo lento que os pilotos eram obrigados a
seguir, havia suspeitas de que o GP terminaria antes disso, pela regra do
limite de tempo máximo de 2 horas. Foi o que aconteceu. Estourado o cronômetro
com 66 voltas, Senna recebeu o sinal do diretor de prova de que aquela seria a
última. O brasileiro contornou com o maior cuidado do mundo os 4.350 metros do
circuito de Estoril.
Com o punho erguido, recebeu
a bandeirada sob festa da Lotus, que já havia invadido a pista para comemorar a
primeira vitória do time desde 1982. Ali nascia uma estrela. Senna não cabia
dentro do cockpit de tanta felicidade. Ele soltou o cinto de segurança, ficou
quase de pé no carro ainda em movimento e soltou as duas mãos do volante,
vibrando e acenando para o público português. Foi uma das maiores festas já
vistas na história da categoria por uma vitória.
Em 1985, Senna tinha
cara de garoto, mas já guiava com a experiência de um campeão
Senna foi o mais rápido na sexta, no treino de classificação, vencedor da
corrida e dono da volta mais rápida. Ele desbancou os rivais com pista seca e
destroçou no molhado. Apesar disso, soube valorizar os companheiros de pódio e
levantou as mãos de Alboreto, o 2º colocado, e Tambay, o 3º. Os rivais,
visivelmente exaustos após guiarem por 2 horas sob a tensão de uma pista
molhada, tendo de manter o carro na pista “no braço”, pareciam buscar
explicações sobre como aquele jovem brasileiro havia conseguido fazer uma
corrida tão brilhante. Senna terminou 1min02s à frente de Alboreto. Tambay e De
Angelis (o 4º colocado), chegaram 1 volta atrás. O 5º, Mansell, com uma
Willians, e Bellof, com a Tyrrell, em 6º, terminaram a prova com
impressionantes com duas voltas de desvantagem para Senna.
Esta foi a única vitória de
Ayrton Senna no GP de Portugal. O circuito permaneceu no calendário da Fórmula
1 até 1996.
FONTE: terra.com.br
FONTES PESQUISADAS
MARTINS, Lemyr.
Uma estrela chamada Ayrton Senna. São
Paulo: Editora Panda, 2001.
Há 28 anos, Senna vencia sua 1ª corrida e
“assombrava” a F1. Disponível em: <http://esportes.terra.com.br/automobilismo/formula1/f1-onboard/blog/2013/04/19/ha-28-anos-senna-vencia-sua-1%C2%AA-corrida-e-assombrava-a-f1/>.
Acesso em: 21 de abril 2013.
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