domingo, 21 de abril de 2013

A Primeira Vitoria de Ayrton Senna na F1 - GP Portugal 1985 - Pista de Estoril



Corrida número 18: GP de Portugal: Estoril, 21 de Abril

A primeira vitória de Ayrton Senna na Fórmula 1 não poderia ser mais completa. Fez uma pole position espetacular, meio segundo à frente de Alain Prost (McLaren-Porsche), liderou o GP de ponta a ponta e marcou a volta mais rápida. Só faltou colocar uma volta em Michele Alboreto (Ferrari), o segundo colocado. Tudo isso sob um temporal que levou ao naufrágio 13 dos 26 pilotos que largaram.
Foram 2 horas e 28 segundos de um estranho balé em 291km, a 159km/h de média, sob um dilúvio que marcou o primeiro triunfo de Ayrton Senna na Fórmula 1. Naquele 21 de Abril de 1985, no GP de Portugal, Senna descobria o caminho da vitoria e o mundo conhecia o Ayrton Senna da Chuva.
Patrick Tambay, piloto frances da Renault, terceiro no pódio, garantiu que viu o diabo pelo menos três vezes, durante a corrida.
Milton da Silva, pai de Ayrton, jamais esqueceu a tarde em que levou o filho para o kartódromo de Interlagos.
“Chovia quando chegamos lá e eu resolvi que não dava para o moleque “brincar” naquela pista encharcada. Ele insistiu tanto, ia chorar, então, deixei ele dar algumas voltas.”
“O Ayrton, como todos os meus filhos, era muito teimoso. Eles herdaram isso de nós, os pais. Uma das suas teimosias era pilotar no molhado. Divertia-se em atravessar o kart sobre os lençóis de água. Para convence-lo a sair da chuva, usei a minha teimosia de pai para evitar que ele se machucasse. Mas quanto mais eu temia, melhor ele pilotava. O Beco gostava de testar-se e acho que via na pista molhada um desafio novo e comprazia-se com aquela situação. Pelo menos no meu olho de pai teimoso, estava nascendo um especialista na pilotagem da chuva.”
A performance em Estoril foi tão convincente que mereceu este comentário do comedido semanário inglês Motoring News: “Ayrton deslizava, navegando seguro como um experiente timoneiro numa pista cheia de armadilhas, enquanto outros pilotos veteranos naufragaram no acquaplaning”.

Acquaplaning (aquaplanagem): fenômeno perigoso que o excesso de água cria sobre a pista, dificultando a aderência dos pneus ao solo.

FONTE: Livro: "Uma Estrela Chamada Ayrton" de Lemyr Martins





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No dia 21 de abril de 1985, o mundo da Fórmula 1 assistiu, escandalizado, ao show de um jovem piloto da Lotus que fez uma das mais memoráveis corridas da história da categoria. Ayrton Senna, então com 25 anos, estava na sua segunda temporada na Fórmula 1, após um ano de estreia em que “tirou leite de pedra” de uma Toleman. O palco era o Grande Prêmio de Estoril, em Portugal, um circuito precário que se mostrava ainda mais deficiente após receber toda a água que caiu dos céus naquele domingo. Era apenas o 16º GP de Senna na F1. O resultado? Primeiro nos treinos e pole com pista seca, vitória e volta mais rápida no molhado.

Duas semanas antes, Senna havia dado sinais de que com a Lotus iria lutar pelas primeiras posições na temporada. No Brasil, primeiro GP de 1985, ele empolgou a torcida em Jacarepaguá ao largar em 4º e andar entre os líderes. A 13 voltas do fim, quando estava em 3º lugar, foi forçado a abandonar, com problemas elétricos. O GP terminou em decepção, mas Senna não se abalou. Ele sabia que tinha algo inédito na carreira: um carro capaz de brigar pela ponta. E foi exatamente isso o que se viu na próxima corrida, em Portugal.


Senna empolgou torcida em Jacarepaguá, mas abandonou prova com problemas elétricos

Senna já havia sido o mais rápido nos treinos de sexta-feira e provou a sua superioridade no sábado. Entre as muitas “primeiras vezes” daquele final de semana em Portugal, estava a façanha de conquistar a inédita pole na carreira. Com um tempo de 1min21seg007, na pista seca, Senna não deu chances para Prost – que viria a ser campeão naquela temporada com sua McLaren. O francês conseguiu apenas 1min21seg420 na sua melhor volta, que o colocou na 2ª posição do grid. O companheiro de Senna na Lotus, Elio de Angelis, foi 1 segundo mais lento que o brasileiro: 1min22seg159, na 4ª posição.
Circuito de Estoril tinha bom traçado para a Fórmula 1, mas estrutura deixava a desejar

Foi então que surgiu o último ingrediente que fez com que a corrida se transformasse em um show de pilotagem: a chuva. Após o warm-up, uma tempestade lavou o circuito de Estoril. A pista, já muito emborrachada pelos treinos de todo o final de semana, virou um sabão. Os carros não tinham testado ajustes para aquelas condições e estavam ainda mais instáveis, fazendo com que frear após vir de uma aceleração máxima na longa reta do circuito fosse tarefa para poucos.


A expectativa era de que a corrida fosse altamente imprevisível, com muitos acidentes, quebras, como geralmente acontecia nos caóticos GPs com pista molhada na década de 80 e 90. Geralmente, sob estas condições, não é incomum ver um piloto herdar muitas posições e vencer uma prova, pelo “simples” mérito de manter o carro na pista e chegar ao final. Parece esta ter sido a aposta dos outros 25 pilotos, mas certamente não foi a estratégia de Senna.
A corrida: vitória incontestável de ponta a ponta
A largada foi tranquila para Senna. Na primeira posição, no lado de fora da pista, tracionou melhor que Prost e pulou na frente sem sofrer ameaças. Elio de Angelis aproveitou uma pequena patinada de francês para fazer a primeira curva logo atrás do brasileiro, na 2ª colocação. Senna curtia a primeira das 2 931 voltas que fez na liderança de uma corrida de Fórmula 1.

De forma consistente e sem cometer erros, Senna abria a diferença para quem vinha atrás. Na volta 15, já eram mais de 17 segundos de vantagem para o 2º lugar. A Lotus do brasileiro reinava absoluta na ponta e tornou a corrida “monótona” para a transmissão da televisão. Os editores de imagem praticamente esqueceram de Senna, mostrando os vários abandonos que aconteciam no pelotão de trás. Os pilotos lutavam para manter o carro na pista, frequentemente perdendo a traseira na saída das curvas, sem conseguir tracionar direito no asfalto escorregadio.

Na volta 25, 30 segundos separavam Senna e De Angelis, que estava sendo severamente pressionado por Prost, que mudava o traçado para atacar o rival nas saídas das curvas. O pega durou até a volta 30, quando a chuva aumentou e causou um dos acidente mais bizarros já vistos na Fórmula 1. Prost vinha colado em De Angelis na grande reta, completamente encoberto pelo spray de água. Ele perdeu o controle do carro, que chicoteou para a esquerda, depois para a direta, para finalmente rodar na pista e se chocar contra o guard rail à esquerda. Fim de prova para o francês. Naquela altura, apenas 12 dos 26 carros seguiam na prova.

A supremacia do brasileiro era imensa. Com 35 voltas, o top 6 – naquela época apenas os seis primeiros marcavam pontos – era: Senna, De Angelis (47s atrás), Alboreto (53s), Tambay (1min25s), Lauda (1 volta) e Mansell (1 volta). O atual campeão e lenda viva da Fórmula 1, Niki Lauda, que guiava uma McLaren em sua última temporada na categoria, já era retardatário de Senna, na metade da corrida.

O final de semana poderia ter acabado de modo perfeito para a Lotus, se não fosse o fato de De Angelis não conseguir suportar a pressão da Ferrari de Alboreto como sustentou a anterior de Prost. Na volta 42, com a pista muito molhada em todos os trechos, o companheiro de Senna errou na entrada da reta e perdeu a posição. Na curva seguinte, tomando um “banho” de spray de água de Alboreto ao tentar recuperar a posição, perdeu o controle do carro e quase ficou na caixa de brita. De Angelis ainda viria a perder o 3º lugar para Patrick Tambay, da Renault.

A corrida estava programada para ter 69 voltas, mas com o ritmo lento que os pilotos eram obrigados a seguir, havia suspeitas de que o GP terminaria antes disso, pela regra do limite de tempo máximo de 2 horas. Foi o que aconteceu. Estourado o cronômetro com 66 voltas, Senna recebeu o sinal do diretor de prova de que aquela seria a última. O brasileiro contornou com o maior cuidado do mundo os 4.350 metros do circuito de Estoril.

Com o punho erguido, recebeu a bandeirada sob festa da Lotus, que já havia invadido a pista para comemorar a primeira vitória do time desde 1982. Ali nascia uma estrela. Senna não cabia dentro do cockpit de tanta felicidade. Ele soltou o cinto de segurança, ficou quase de pé no carro ainda em movimento e soltou as duas mãos do volante, vibrando e acenando para o público português. Foi uma das maiores festas já vistas na história da categoria por uma vitória.


Em 1985, Senna tinha cara de garoto, mas já guiava com a experiência de um campeão

Senna foi o mais rápido na sexta, no treino de classificação, vencedor da corrida e dono da volta mais rápida. Ele desbancou os rivais com pista seca e destroçou no molhado. Apesar disso, soube valorizar os companheiros de pódio e levantou as mãos de Alboreto, o 2º colocado, e Tambay, o 3º. Os rivais, visivelmente exaustos após guiarem por 2 horas sob a tensão de uma pista molhada, tendo de manter o carro na pista “no braço”, pareciam buscar explicações sobre como aquele jovem brasileiro havia conseguido fazer uma corrida tão brilhante. Senna terminou 1min02s à frente de Alboreto. Tambay e De Angelis (o 4º colocado), chegaram 1 volta atrás. O 5º, Mansell, com uma Willians, e Bellof, com a Tyrrell, em 6º, terminaram a prova com impressionantes com duas voltas de desvantagem para Senna.


Esta foi a única vitória de Ayrton Senna no GP de Portugal. O circuito permaneceu no calendário da Fórmula 1 até 1996.


FONTE: terra.com.br



FONTES PESQUISADAS


MARTINS, Lemyr. Uma estrela chamada Ayrton Senna. São Paulo: Editora Panda, 2001.


Há 28 anos, Senna vencia sua 1ª corrida e “assombrava” a F1. Disponível em: <http://esportes.terra.com.br/automobilismo/formula1/f1-onboard/blog/2013/04/19/ha-28-anos-senna-vencia-sua-1%C2%AA-corrida-e-assombrava-a-f1/>. Acesso em: 21 de abril 2013.

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