Reginaldo Leme entrevistando Ayrton Senna na década de 80
FR -- Há alguma que o senhor sempre se lembra?
Leme -- São tantas. Por exemplo, pouca gente sabe dos reais motivos da briga do Senna com o Piquet, que acabou motivando uma futura briga do Senna comigo. Há muitas coisas de bastidores. Nunca transferi para o papel o que tenho na memória, mas acho que terei grande prazer em escrever.
FR -- Por que o Senna e Piquet realmente brigaram?
Leme -- A briga entre eles tem fundamento em ciúme que um sentia do outro. Eles eram dois pilotos de ponta de um mesmo país. O que chegava a eles era a reação do público. Na verdade, o ciúme partiu primeiramente do Piquet. O Senna entrou no circo muito ingênuo e quando começou a ganhar um pouco de "maldade", perdeu a dose, passou do limite. Já minha briga com o Senna partiu de uma série de mal-entendidos provocada por pessoas que o cercavam. E um mal-entendido, quando não é corrigido imediatamente, vira uma bola de neve, que só cresce.
FR -- Quais foram esses mal-entendidos?
Leme -- Não quero esconder nada, mas para contá-los teria que lembrar histórias inteiras, cronologicamente. No momento em que parar para escrever, as coisas serão lembradas com mais clareza.
FR -- Mas depois o senhor se reconciliou com o Ayrton.
Leme -- Ficamos dois anos e meio sem nos falar. Depois reatamos a amizade de uma maneira muito forte. Ele começou a enxergar quem eram realmente seus amigos e saber que tudo entre nós surgiu de um mal-entendido. Quando a nossa amizade estava voltando de uma forma muito consistente, ele morreu. Infelizmente, a vida não deu tempo a ele de ver uma porção de coisas. Tudo passou rápido demais para ele. Ele se tornou tão grandioso a ponto de realmente ter se considerado um deus. Chegou um momento em que ele se considerava um deus, um imortal, um infalível. Ele perdeu o pé do chão. Acho que ninguém teria estrutura para absorver tudo o que acontecia em volta dele. Ele passou a ver como fantasma todo mundo que o cercava. Ficou muito intranqüilo, perdeu totalmente a paz. Curiosamente, no momento em que ele estava readquirindo a paz, acabou morrendo. Além da idade e da experiência, uma coisa estava lhe devolvendo a paz: Adriane Galisteu. Apesar de muita gente duvidar, o relacionamento foi importantíssimo para ele. Pela primeira vez, ele se libertou da família. Ela representou algo diferente na vida dele, na mente dele.
Ayrton Senna e Adriane Galisteu namoraram um ano e meio. Os dois moravam juntos quando o piloto sofreu o acidente que o matou, em 1994.
Nenhum comentário:
Postar um comentário