Zaza me disse que, naquele último instante do filho no boxe,
aquela longa preparação antes da tragédia, foi uma forma de oração. Ela me
disse isso e outras coisas no dia seguinte ao enterro, quando foi à fazenda do
Braga para conversar. Na véspera, depois do último adeus, eu também entrei na
fila dos cumprimentos. A família enfileirada. Abracei a Viviane, que guardava o
capacete do Béco debaixo do braço. Muitas vezes ela tinha repetido, em voz
alta, abraçada àquele objeto que tanto lembrava o irmão chorado: "Valeu,
Becão! Valeu!" Com o Leonardo, foi um abraço forte, muito forte, e um
beijo. "Nada do que a gente fez foi por acaso" - lembro de ele
me dizer. O pai se retirou, mas Zaza estava firme, beijei-a e ouvi dela: "Quero
muito falar com você". Respondi: "Eu também". Mas não
imaginei que no dia seguinte ela já batesse à minha porta. Depois, achei que
nunca mais nos veríamos. Estava enganada.
Quando olhei pela última vez para a cova do Béco, eu lhe
disse em silêncio:
- Eu o amo, mas você me deixou, você me faz falta. Daqui para
a frente, minha vida será um tormento.
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