Ele era um viajante capaz de ganhar em milhagem do executivo
de uma grande multinacional. No entanto, chegou a me dizer, certa vez, com
alguma amargura, que não conhecia nada do mundo:
- No fundo, sou um homem caseiro.
Conhecia pouco de Londres. Mas sabia de cada curva de
Silverstone e Brands Hatch. Frankfurt, só de passagem. Hockenheim, em detalhes.
Era capaz de se perder em Milão, mesmo se o deixassem ali perto do Duomo. Mas
de Monza tinha um mapa completíssimo em sua cabeça.
Seu universo era circunscrito dentro das milhas onde
máquinas voavam desafiando os limites da velocidade. Ayrton Senna, desde
pequenininho, não veio ao mundo a passeio. Sua rotina era chegar sempre quatro
ou cinco dias antes da prova, mergulhar numa saraivada de reuniões, meter-se
debaixo do carro, como se fosse um mecânico iniciante e não uma estrela, e
buscar, nos testes, na pista, sua própria superação. Por isso, ele foi o
melhor. Mas, aí, de repente, ele era capaz de surpreender:
- Que lugar você gostaria de conhecer agora? - me perguntou
ele, de volta da Hungria.
Tive uma certa vergonha de confessar:
- A Disneyworld.
- Puxa, você sabe que eu também?
Que uma meninona de 20 anos que se amarrava em Coca-Cola e
Big Mac tivesse uma fantasia juvenil, era compreensível. Mas não pude deixar de
rir da imagem de um tricampeão do mundo de automobilismo caindo nos braços da Minnie
e do Pateta. Combinamos de ir, este ano de 1994. Infelizmente, a Minnie e o
Pateta não terão a chance de conhecer o homem mais adorável do mundo.
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