Nirlando Beirão a esquerda e Adriane Galisteu
PREFÁCIO
Este livro é resultado de trinta horas de depoimentos,
gravados em Sintra, Portugal. E de um mergulho num baú repleto de cartas,
bilhetes, papéis rascunhados, agendas profusamente anotadas - sim, Adriane
Galisteu ainda conserva aquela doce mania de transformar suas agendas em
diários teen, engordados com recortes e fotografias e recheados de divagações.
Como editor, tentei ser
absolutamente fiel a sua narrativa. As mesmas palavras. O mesmo tom de voz -
dolorido e emocionado, como vocês irão ver. Conservar o olhar diante do mundo
que se abriu para aquela menina que saiu de uma tarde de trabalho num
autódromo - a propósito, ela não gostava de automobilismo - para uma vida de
princesa ao lado do príncipe das pistas.
Duas ou três coisas me emocionam
particularmente neste livro. Primeiro, a candura juvenil de quem, nos melhores
e nos piores momentos desta love story, sempre se perguntava, perplexa: por que
eu? Creio que até hoje Adriane Galisteu não sabe responder a essa pergunta.
Há, depois, um detalhezinho que
pode parecer superficial, mas que me deu a verdadeira dimensão do que ela viveu
nesses últimos meses vertiginosos de sua vida. Repassando as fitas das
entrevistas, percebi que muitas vezes Adriane Galisteu se refere a seu namorado
no presente. Ayrton é, Ayrton faz, Ayrton quer. Inconscientemente, ela continua
a se debater contra a realidade injusta, cruel e dramática da morte do amado.
Essa resistência se manifestou de
outra forma, mais explícita. Adriane Galisteu foi deixando o final para o final
- quero dizer, a morte, o desfecho inesperado, a tragédia, o funeral, a perda
definitiva, a incerteza sobre o futuro. Quando, enfim, se decidiu a falar,
pediu para gravar sozinha, sem a presença do entrevistador. Com certeza, por
pudor - o pudor de ter um espectador para as suas lágrimas.
Conhecia Adriane Galisteu tanto quanto
vocês a conhecem antes de ingressar nestas páginas. De fotos, das imagens de
seu sentido luto no velório e no enterro do herói de todos nós. Agora, posso
dizer que a conheço. Por isso, eu a respeito. Por isso, admiro seu caráter e
sua força e respeito sua dor.
NIRLANDO BEIRÃO
FONTE PESQUISADA
FONTE PESQUISADA
GALISTEU, Adriane. Caminho das Borboletas. Edição 1. São Paulo: Editora Caras S.A.,
novembro de 1994.

Nenhum comentário:
Postar um comentário