sábado, 7 de setembro de 2013

Ayrton Senna é Recebido na Equipe Lotus


Senna e a famosa Lotus Preta


A CONQUISTA DE KETTERINGHAM


Ayrton chegou ao castelo de Ketteringham, sede da equipe Lotus, em Norfolk, dirigindo a Mercedes 190E que ganhara como prêmio pelo primeiro lugar na celebrity race de Hockenheim. Recebido gentilmente por mecânicos e engenheiros, foi levado a uma das salas do castelo onde estava sendo comemorado um aniversário.

Ayrton Senna com sua Mercedes 190E 

Ayrton Senna com sua Mercedes 190E 


O veterano mecânico Bob Dance, um brincalhão descrito pelos colegas como "aquele sujeito que está sempre perto quando acontece a encrenca e longe quando a polícia chega", se aproximou com um pedaço de bolo num prato de papelão e pediu que Ayrton cheirasse para checar se o creme branco de cobertura, supostamente guardado havia dias, estava bom. Quando Senna inclinou a cabeça para cheirar, Bob espalhou o bolo inteiro no seu rosto. Ayrton reagiu bem, resignado, mas o teste da simpatia dos mecânicos teria outra prova, marcada ainda para aquele dia, depois das conversas sérias que ele teria com Peter Warr e a direção da Lotus.

Ayrton Senna assina contrato com a Lotus, a sua esquerda está Per Warr


Ayrton chegava à equipe num momento em que ela ainda procurava se recuperar da perda do carisma, da liderança e do poder político do fundador Colin Chapman. A contratação de PeterWarr, que conseguira os motores Renault, de Fred Bushell, que passara a cuidar das finanças, e de Gerard Ducarouge, um brilhante projetista, dera esperança para a família Chapman de que a equipe e a fábrica de carros esportivos se mantivessem como ícones do automobilismo inglês.
Colin Chapman entrara para a história da Fórmula 1 com um conceito surpreendentemente simples: se um projeto de carro de corrida é baseado em motores cada vez mais potentes, o resultado serão carros cada vez mais pesados. O que, é claro, dificultará ainda mais o controle do carro nas curvas, nas largadas e nas freadas de alta velocidade. A partir desta premissa, a Lotus passou a fazer a diferença com carros leves. Uma leveza revolucionária no design, na aerodinâmica e na geometria de suspensão e que também tornou os carros perigosamente velozes em algumas ocasiões. Essa era a herança de Ducarouge.
Para Ayrton, a missão foi dupla: conseguir um desempenho à altura das ótimas lembranças que aqueles carros pretos tinham deixado no coração de milhões de brasileiros, quando pilotados por Emerson Fittipaldi, e obter triunfos que não destoassem muito dos mitos que o precederam naquele cockpit: Jim Clark, Graham Hill, Jochen Rindt, Ronnie Peterson e Mario Andretti.
Ducarouge estava trabalhando em sua sala no castelo e começou a ouvir, sem querer, a conversa do outro lado da parede. A voz do interlocutor de Peter Warr lhe era familiar, tinha a mesma determinação da conversa do primeiro encontro, na piscina do hotel Copacabana Palace, às vésperas do GP do Brasil, quando aquele jovem piloto fora apresentado a ele por Reginaldo Leme e Galvão Bueno:
- Eu não viria para a Lotus se o Gerard Ducarouge não estivesse na equipe.
Peter Warr aproveitou a frase para entrar com Ayrton na sala de Ducarouge e dizer:
- Pois não. Aqui está ele.

Gerard Ducarouge e Ayrton Senna


Em outro momento, ao ser apresentado ao mecânico responsável pelas caixas de câmbio, Ayrton ofereceu uma prévia do tipo de cliente que eles teriam:
-Você sabe que se vocês errarem demais e eu não terminar as corridas existe uma cláusula no meu contrato que me deixa livre para sair da equipe?
Ao deixar o castelo, acompanhado por um grupo de futuros companheiros de equipe, Senna percebeu que todos queriam assistir a uma bela arrancada na Mercedes 190E. Entrou no carro, ligou o motor, engatou a primeira marcha e acelerou forte. Inutilmente. O carro tinha o eixo traseiro suspenso por um toco. A reação de Ayrton foi um sorriso.
Ele acabara de passar no segundo teste de simpatia da nova equipe.
- Sid, quando vi o carro, minhas pernas até tremeram. É lindo demais. O designer Sid Mosca, criador do desenho do capacete de Senna, foi um dos amigos para quem ele ligou, depois do primeiro contato com a Lotus-Renault que guiou a partir de 1985. E Sid, já pensando no efeito visual daqueles carros pretos, também tinha uma novidade:
- Ayrton, eu estou com um amarelo aqui que só vai dar você no carro. É uma bola luminosa muito bonita.
Senna adorou na hora a nova cor, um amarelo quase limão que só foi abandonado quando o patrocínio passou dos cigarros John Player Special para a marca Camel. Sid costumava dizer que seu ofício era tirar a frieza dos capacetes. Aquele amarelo-limão foi uma prova emocionante do seu êxito.
E a causa do frio na espinha quando os adversários de Senna olhavam para o retrovisor.



FONTE


Livro Ayrton, o herói revelado

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